terça-feira, 31 de julho de 2012

PERGAMINHO DE MEMÓRIAS

Meu filho Guga que voltará para o Brasil em setembro depois de oito anos vivendo na Espanha, me telefona hoje de manhã: _Mãe, achei a escola pro Luis. A família viverá em Resende onde Guga fará uma Escola de Música. A escola se chama Artes e Manhas e fica ao lado de onde vai morar. Tem capoeira, judô, aula de espanhol, belo espaço físico,e, milagres da tecnologia, ele conversou com a diretora enquanto falava comigo pelo skype e foi muito bem recebido. Luis começa as aulas dia 24 de setembro e entrará na escola sem falar português. Mas certamente aprenderá em uma semana, já que entende tudo.Patrícia, minha nora, oferecerá aulas de flamenco para as crianças. Não parece verdade que terei meu neto perto de mim. E a escola tem todo mês o Dia das Avós que deveria ser matéria obrigatória em todas as escolas. As avós são um pergaminho de memórias e já me vejo contando histórias para a turma do Luis.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

MOMENTO

Uma fotografia do momento: Da minha mesa que dá para as montanhas ouço o mar rugir atrás de mim. A casa vibra, quase balança, me sinto em alto-mar. Bastaria um par de velas e a casa se transformaria em barco. Um sudoeste envolve o cenário. Nana, minha gata, dorme em cima de uma cadeira dourada, herança da minha mãe, é a sua última paixão. Escuto Cazuza e cachorros latem na casa ao lado.

domingo, 29 de julho de 2012

JORGE AMADO EM PRAGA

Hoje o jornal O GLOBO publica um lindo caderno sobre Jorge Amado que faria 100 anos dia 10 de agosto. É impressionante como antes da internet, antes da globalização, Jorge Amado já levava o Brasil para o mundo. Em 2001 fui a Praga. Fiquei hospedada num apartamento num prédio incrível, na frente da Ponte Carlos. A dona do apartamento se chamava Zdena e ficamos amigas. Ela alugava o apartamento e nós o encontramos por acaso. Era aconchegante, maravilhoso, queria ter ficado aí por alguns meses, mas infelizmente só tinhamos uma semana. Zdena falava um inglês horroroso, como o meu, mas nos entendemos maravilhosamente. Ela me contou que o prédio era muito antigo, talvez do ano 1200 e tinha uma passagem subterrânea que levava ao Castelo. Ela me contou que o prédio era da sua sogra e que o devolveram quando mudou o regime. No dia da nossa partida finalmente ela me convidou para ir até a sua casa e ela já tinha internet, pude mostrar meu site. O seu escritório tinha uma estante cheia de livros e ela foi até a estante , retirou um volume e me mostrou: Jorge Amado. Era um livro bem antigo e gasto. Ela também me presenteou com um livro de um amado poeta tcheco de nome impronunciável. Logo depois Roger Mello iria a Praga, acho que era no ano seguinte. Então consegui uma tradutora através do Consulado, paguei a tradução do meu livro Tantos Medos e Outras Coragens e Roger levou para Zdena. Depois nos perdemos. Que pena.Tentei muitas vezes encontrá-la. Em vão.

sábado, 28 de julho de 2012

UM DIA ESPECIAL

Hoje eu e Juan fazemos 12 anos de casamento. Em 1994, ao ir para a Europa para receber meu prêmio, entrar na lista de honra do I.B.B.Y, no aeroporto Tom Jobim sentei ao lado de um homem. Começamos a conversar. Ele era jornalista , o fundador do caderno Babelia, do El País. Falei que era poeta e que ia a Sevilha. Ele me perguntou se eu passaria por Madrid. Respondi que sim, ficaria 3 dias em Madrid. Ele me convidou para conhecer o seu jornal e levar algum livro de poesia, quem sabe ele pudesse publicar algum poema . Fui ao seu jornal com uma amiga. Fiquei muito impactada com a sua cultura, a sua força. De lá fui para Paris e lhe mandei um cartão agradecendo a acolhida. Recebi um exemplar do jornal, em um atigo ele havia publicado um pedaço de um poema do livro Classificados Poéticos. Começamos a trocar poemas , numa longa correspondência . Ele se apaixonou pela minha poesia. Em 1997 ele veio ao Brasil para me ver. Em 1998 fui morar com ele em Madrid. Em 1999 viemos para o Brasil, ele já como correspondente. Em 2000, no dia 28 de julho, nos casamos num cartório no Estácio, no Rio de Janeiro. Chegamos no cartório e havia uma fila de gente bem simples esparramada pela rua. Com suas melhores roupas. Os meus filhos foram nossos padrinhos. O Juiz nos casou em segundos, não fez nenhum discurso , acho que ele estava com muita pressa. Nunca nestes 12 anos comemoramos a data, quase nunca nos lembrávamos. Mas este ano tenho vontade de comemorar. De relembrar as 1001 viagens que fizemos juntos, os livros que publicamos, as árvores que plantamos, só não fizemos filhos porque eu já não podia mais.Passamos o dia inteiro juntos, trabalhamos no mesmo espaço, eu leio o que ele escreve, ele também lê o que escrevo. Um almoço só para nós dois, uma bela pasta italiana,pão fresco feito em casa, vinho espanhol.Comemorar o milagre de estarmos vivos e apaixonados.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A AVENTURA DO CONTO PERDIDO

Estou escrevendo um livro de contos. Já tenho 50 páginas. Assim como escrever poesia para mim é simples como respirar, a poesia é o sangue que corre em minhas veias, escrever ficção é outra história. Primeiro preciso inventar uma história e as pessoas precisam acreditar nela. Depois tenho que encontrar a escrita para a história. É bastante complicado quando não nascemos com este talento. Mas vou mastigando pedras e acabo conseguindo. Pois bem, estava rearrumando os contos, mudando alguns de lugar, quando o conto que eu estava querendo trocar de lugar, simplesmente desapareceu, ficou invisível. Sumiu. Eu não tinha cópia. Isso aconteceu quando estava em Mauá.Revirei o computador pelo lado do avesso e não encontrei meu conto. Voltei para Saquarema com o conto desaparecido ocupando um lugar imenso dentro de mim. Ele assumiu a forma de uma tristeza difusa. O Valdinei, o menino que me ajuda nas horas cruciais estava viajando e só voltou ontem. Ele também virou e revirou o computador, espremeu, quase fez um suco de letras e ... achou o conto bem escondidinho num desvão , atrás de alguma escada. O alívio, a felicidade, eu jamais conseguiria escrever meu conto outra vez! Ah, diria a minha avó, habitante das estrelas, isso não aconteceria se você fizesse cópias...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

NA CASA DO MEU IRMÃO

Ontem fui ao Rio e dormi na casa do meu irmão. Somos meio-irmãos, já que ele é filho de outra mãe, que morreu muito antes do meu nascimento. Mas nosso amor é antigo, quando eu nasci ele já estava lá e nosso amor não é um meio-amor, é um amor inteiro. Ele sempre se engana e me chama pelo nome da sua filha. Quando nos juntamos sempre falamos do nosso pai. Meu filho André se parece com meu pai e com ele. Ontem ele não estava, mas minha cunhada me recebeu com um banquete, como faz sempre e tomamos um proseco juntas, só nós duas, para celebrar a vida, a saudade. Falamos do passado, dos filhos, dos netos. Sempre me lembro dela cozinhando e meu irmão sempre me diz: _ Ela gosta muito de você, ela só cozinha para quem gosta. Voltei bem cedo. Gosto de passar pelas fazendas que margeiam a estrada. A luz era linda e há um túnel verde de árvores entrelaçadas em certo trecho da estrada que produz uma emoção intensa.Juan me esperava na esquina. Pequenas felicidades tecem a vida.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

EMBARQUE E DESEMBARQUE

Recebi muitas mensagens pelo meu texto de ontem aqui no blog. Todos me pedem que eu não desembarque. Eunice da Silva Rosado me escreve: "Roseana, li o texto de hoje no seu blog e queria te dizer que não desembarque não! As escolas precisam e devem oferecer momentos de sensibilidade, emoção, solidariedade, beleza aos alunos, porque violência eles já têm de sobra, às vezes até em casa. Seus poemas são verdadeiros oásis! Não desanime!!!!" Claro que não vou desembarcar nem vou desistir. Era só um desabafo diante de uma carnificina. Pelo contrário, embarco todos os dias num barco iluminado que é a vida. Escrevo todos os dias e acredito fervorosamente que a violência pode ser neutralizada com beleza, eu ia escrever combatida, mas combate vem de guerra e se repararmos bem a nossa linguagem está cheia de palavras que nos remetem à guerra! Acredito na bondade, solidariedade, delicadeza, poesia, beleza. Acredito que podemos transformar o lugar em que vivemos com gestos simples.Com amor. Acredito no amor e na compaixão.

terça-feira, 24 de julho de 2012

NO ESCURINHO DO CINEMA

Jabor escreve hoje no O Globo uma crônica maravilhosa, imperdível, sobre o massacre no cinema, na estréia do filme Batman, nos Estados Unidos. Os jovens replicam na realidade o que lhes é oferecido em doses cavalares em seu cotidiano: violência gratuita. Nos filmes, nos jogos, nas relações interpessoais. A sociedade é absolutamente responsável pelos monstros que alimenta. O escurinho do cinema foi construido para sonhar e namorar, para refletir,para voar de olhos bem abertos. Banalizar a violência é perigoso e desemboca em toneladas de insensibilidade, frieza, sadismo, ruelas cheias de cadáveres, a eliminação do diferente, campos de extermínio. Não dá para desembarcar do mundo, mas algumas atitudes simples melhorariam o mundo: a eliminação das armas, a eliminação dos filmes e jogos com violência gratuita.Sabemos que o cérebro é plástico e pode ser modificado com simples pensamentos, imaginem com toda esta exposição à violência. Claro que estes desejos são irrealizáveis , são utopia. Então , por favor, parem o mundo. Eu quero desembarcar.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

MINHA VIDA COM MAMÃE

Angela, leitora do nosso Clube de Leitura, me trouxe de presente o livro "Minha Vida com Mamãe" de Bety Orsini. Ela me disse : "você vai adorar". Ontem meu filho André me ligou e disse :"Mãe, você está fazendo muita falta". Estive sete dias na minha casinha em Visconde de Mauá e todos os dias passávamos algumas horas juntos em sua casa, no Babel Restaurante. Ontem falei pelo skype com meu filho Guga , que mora em Granada. Todos os dias preciso falar com meus filhos. Todos os meus pensamentos são para eles. Bety Orsini escreve crônicas deliciosas do seu cotidiano com a mãe. E me traz a minha mãe de volta e também a mãe que eu sou. Ela nos diz algo tão simples: as mães não são eternas, elas são mortais e enquanto existem devemos todos os dias falar com elas do nosso amor por elas, já que o amor delas é como o universo, não dá para medir. A imagem mais forte que o livro me traz, é a imagem da minha própria mãe, é dela me esperando em seu apartamento em Teresópolis, já terminal, toda vestidinha no sofá, com a sua melhor roupa, me esperando feliz, com seus 40 quilos , e a primeira coisa que ela me dizia: "Roseana,que saudade, você está tão bonita". E de súbito eu a vejo na minha infância trabalhando todos os dias e horas e minutos para que nós pudessemos estudar, para que tivessemos uma vida digna, ela comia em pé muitas vezes para não perder nem um segundo do seu precioso tempo. Eu me sentia abandonada, triste, cuidada por mãos estranhas, mas hoje entendo que ela só queria que estudassemos numa boa escola, que pudessemos comprar livros, fazer um curso de dança ou de música e o dinheiro da casa era tão pouco, ela fazia verdadeiros milagres. Porque não falei mais vezes que a amava? Quem ainda tem a sua mãe bem viva, que corra hoje para abraçá-la.Pois as mães , por um erro terrível da natureza, embora imortais dentro da gente, são mortais .

domingo, 22 de julho de 2012

LUZ

A luz de Saquarema nesta época do ano é quase líquida, se mistura com o mar e a lagoa e transtorna nossos sentidos. Da minha janela vejo as montanhas distantes com uma nitidez imensa como se pudesse alcançá-las com a mão. Todos sairam para caminhar,o barulho do mar embrulha a casa. Já alimentei os jabutis e coloquei frutas nas árvores para os passarinhos. Minhas primeiras tarefas. Hoje começo a colocar a correspondência em dia, sete dias sem internet e é uma avalanche prestes a despencar em cima de mim, mensagens e mais mensagens. Hoje vivemos em uma teia, a rede que mergulhamos no mundo nunca volta vazia e é como colocar frutas para os pássaros, há que alimentar os que estão em nossa rede com palavras.

sábado, 21 de julho de 2012

CLUBE DE LEITURA DA CASA AMARELA

Cheguei de Visconde de Mauá ontem para o almoço . Passei sete dias na minha casinha dentro da mata, como todos sabem, sem nenhuma tecnologia. Havia convidados na casa aqui em Saquarema, nem pude abrir a internet. E hoje já seria o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Salvador, meu amigo ermitão, que mora bem acima do nosso sítio, veio comigo pois ontem foi o aniversário do Juan. Eles são muito amigos. E o nosso encontro de hoje foi na casa rural de um dos membros do clube. Lugar magnífico com anfitriões magníficos. Nosso encontro foi debaixo de uma mangueira imensa, na beira da lagoa, entre pavões e galinhas d'angola. Estavam todos, menos a Cris que não conseguiu vir do Rio.Mas outros vieram , Dr. Messias, Kátia, Angela, Leila, Felipe e a namorada, Andrea. Vieram do Rio para o nosso encontro e isso me comove muito.E o pessoal daqui de Saquarema, Flora, Hector, Francisco, Maria Clara, Gil. O Amante da Marguerite Duras, foi tema de muitos temas paralelos. Falamos da estrutura do livro, do texto como fotografias, falamos do interdito, do amor, da paixão, da simplicidade beleza e densidade da escrita. Falamos sobre a memória. Francisco disse que o verdadeiro amor, o que nunca se apaga é o amor dos amantes, o que não cai na rotina. E isso foi muito discutido. E no livro o amor de um chinês por uma jovem "branca" de quinze anos está cercado de proibições por todos os lados. Falamos dos segredos, de como a casa onde se encontravam era ao mesmo tempo escondida e exposta , num equilíbrio precário. Falamos de como a família da jovem nos lembrava o romance Dois Irmãos do Milton Hatoum. De toda a ambiguidade que reinava nas relações daquela família. Falamos de incesto. Da fragilidade do amante, do seu pai opressor em contraponto com a mãe louca da jovem. Falamos de amor.Das muitas formas de amor, no passado e hoje. Muitos acharam o livro difícil. Felipe e a namorada passaram dois dias lendo o livro em voz alta um para o outro e ele reclamou das lacunas do livro e das oscilações do texto. Mas depois da nossa discussão todos gostaram do livro. Hector nos chamou a atenção para a fluidez das relações hoje, do ser humano como objeto descartável. Messias disse que caminhamos para algo novo. Encontraremos um equiliíbrio entre razão e desejo.Juan falou da hipocrisia das relações antigamente e de como estamos indo em direção a algo muito melhor. O conto do James Joyce OS MORTOS foi lido por poucos e não pode ser muito discutido. Quem leu ficou comovido com a beleza do conto. Cada um levou um poema do Drummond e foi maravilhoso ouvir a sua poesia naquele cenário estonteante. Fernando esqueceu os óculos, mas o Hélio leu para ele. O almoço era tão espetacular, uma mesa tão farta de iguarias, que nem sabíamos por onde começar. Hélio fez um discurso lindíssimo pelo aniversário do Juan e o bolo e a sobremesa mereciam um tratado . Depois do almoço cada membro do clube plantou uma árvore. Eu escolhi um cajá manga, mas na verdade quem plantou para mim foi meu amigo Salvador, pois a árvore era pesada, a pá nem se fala e a minha coluna complicada como sempre. O próximo encontro será dia 15 de setembro. O livro: A DAMA DO CACHORRINHO de Anton Tchekov da ed.LPM, livro de bolso. E um poema do Quintana. Cada um escolha o seu.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

BARRA DE SÃO JOÃO

Lá vou eu com a minha sacola de livros para Barra de São João. Qual livro escolho, o que levarei na bagagem? Gosto de fazer dinâmicas com as crianças a partir dos poemas, brincadeiras com os versos, o conteúdo, as palavras. Faço a platéia interagir. E hoje também conversarei com os pais. E isso é uma boa idéia. Um encontro com os filhos e outro com a família. Antes preparo um almoço para Gisela e Arnaldo, o casal de taxistas que me leva para cima e para baixo. Eles são adoráveis e já fazem parte da família. Teremos que almoçar como os camponeses, pois terei que chegar na escola às 13.30hs e são duas horas de viagem até lá. Mas o caminho é lindo, vamos seguindo a imensa lagoa de Araruama. É um privilégio viver nesta região.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

CARTA DE UMA LEITORA

Angela, nossa companheira do Clube de Leitura da Casa Amarela, pessoa de extraordinária sensibilidade, não conseguiu ir ao lançamento do meu livro em Mauá. E ficou muito triste, pois já estava tudo arquitetado .Então me fez uma surpresa : semana passada ela foi a Mauá, foi ao atelier de cerâmica da minha irmã Evelyn Kligerman e foi almoçar no Babel. Ela queria ver os lugares por onde o livro Diário da Montanha passou. E hoje ela deixou um comentário tão emocionante aqui no blog que eu reproduzo no post. Agradecida, orgulhosa, vaidosa: Roseana! No dia 07 de julho conheci e almocei com a minha sobrinha Clarissa, talvez, no mais belo restaurante da cidade de Visconde Mauá. Tudo nele me surpreendeu e me fez acreditar ainda mais no que o amor é capaz de fazer, pois só com muito amor e respeito pelo próximo se é capaz de criar algo assim tão acolhedor. Fiquei impactada com tanta criatividade e bom gosto. Enquanto esperava os nossos pratos que estavam sendo preparados, fiquei olhando atentamente a natureza a nossa volta procurando, não sei a razão, para o sucesso do restaurante. Diante daquela vista maravilhosa pensei: _ Meu DEUS, só pode ser isso, eu encontrei a razão maior: A NATUREZA REVERENCIOU ESSE LUGAR. Ela aceitou muito bem o seu mais novo habitante. Dá para entender perfeitamente, agora, o sucesso dessa casa que alimenta não só o nosso corpo, mas, sobretudo a nossa a alma. É como se a natureza e os habitantes da belíssima floreta quisessem todo o tempo lhe dizer: _ Obrigada, querido restaurante. Nós os habitantes da floresta agradecemos a sua presença entre nós, pois você recebe com amor os alimentos que lhe oferecemos e com o esse mesmo amor, sabedoria e habilidade artística retribui com uma verdadeira dádiva, uma obra prima que DEUS reconhece. Nossa eu pensei: Tudo nesse restaurante foi construído com o coração nos mínimos detalhes, desde onde se lava as mãos com sabonetes de diferentes aromas (eu amo sabonete), as toalhas da mesa com algumas barras bordadas e trocadas a todo o momento que sai um cliente, os utensílios usados e o prato maravilhoso que nos é servido. É para se comer em silêncio e agradecendo o momento. Tudo ali tem um toque de elegância, de sofisticação, de requinte e, sobretudo de família, pois para mim, família é tudo. Parece que em cada pedacinho daquele lugar está gravado o amor e um desejo: da mãe, do pai, da tia, (percebi o toque artístico da tia Evelyn Kligerman), da gatinha BABEL que foi homenageada com o nome do restaurante. Está gravado no comentário do escritor Juan Arias na contracapa do cardápio, nas frases da mãe Roseana Murray e no carinho de amigos para que tudo dê muito certo, e já está acontecendo. A natureza aprovou e se ela aprovou não há como contestar. Saí de lá muito feliz e agradecida. A lareira ainda não estava acesa, mas certamente mais tarde seria a testemunha mais viva do calor que ali se renova a cada dia. Voltei orgulhosa, pois estive diante de dois grandes Chefs de cozinha (marido e mulher) e professores de gastronomia que são os proprietários do restaurante. Os dois nos acolheram com carinho, bem como a todos que estavam ali almoçando. Eu gostaria, então de aproveitar esse espaço no BLOG da escritora Roseana Murray e agradecer a você André Murray e Dani Keiko a acolhida carinhosa e a comida maravilhosa que nos foi servida com capricho e refinamento e idealizada com criatividade. Quando constatei todo respeito de vocês pelos seus clientes, me veio a palavra africana SAWABONA que quer dizer: _“Eu te respeito, eu te Valorizo você é importante pra mim” Eu acho André, Dani, Paula, e outros funcionários que aí trabalham que essa é a razão maior para o êxito do restaurante. É muito bom a outra pessoa se sentir assim, e em retribuição dizemos: SHIKOBA que quer dizer: “Então eu existo para você”. Vocês, André e Dani merecem tudo de bom e tenho certeza que ainda verei os seus nomes dentre os maiores Chefs de cozinha. Eu agradeço a você também Roseana pela preocupação comigo e com a minha sobrinha desejando que ficássemos muito bem. Pois é, leitores do BLOG eu falei muito, mas acabei de falar do belíssimo restaurante BABEL no VALE DO PAVÃO. Se alguém pensa que estou exagerando por estar falando do filho da escritora Roseana Murray, é só dar uma chegadinha em Visconde Mauá (uma cidade mágica) e conferir. Ninguém vai se arrepender, eu tenho certeza. Com carinho, Angela Quintieri

DE MALAS PRONTAS

Sexta-feira volto para Visconde de Mauá. Hoje encontrei a Maria Clara, do nosso Clube de Leitura , e ela me perguntou:
- De novo? Agora você mora lá?
Não, eu moro em Saquarema! Mas aproveito a presença do meu filho André em todos os dias de julho com seu restaurante aberto para ficar be perto dele, pois saudades de mãe nunca acaba. E levo trabalho, pois em Mauá nada me distrai. Tenho que refazer meus contos e pensar em outros.

Tenho acompanhado a série que está saindo no O Globo sobre as escolas públicas que dão certo. A receita é simples: dedicação, aulas de reforço, afeto, mais horas na escola, a família na escola. O fracasso do aluno é o fracasso do professor. E muita leitura.

terça-feira, 10 de julho de 2012

EM QUE LIVRO?

Gustavo Garzo, escritor espanhol, faz a seguinte pergunta:
" Em que livro você gostaria de morar" ?
Imagino que a pergunta tenha uma longa curvatura e retroceda até a infância. Pois eu não tenho nenhuma dúvida: queria morar no Sítio do Pica-Pau-Amarelo para sempre. Aliás, quando compramos o sítio em Visconde de Mauá em 1976 o meu modelo era o Pica-Pau Amarelo. E as tardes tinham cheiro de bolo de fubá e bolinho de chuva que eu fazia para meus filhos pequenos.
Alguns livros sao magníficos mas não gostaríamos de morar dentro deles.
Quando era jovem li "Como era verde o meu vale"  do escritor Richard Llevellyn e a imagem que ficou fortissima dentro de mim foi a de um vale inundado por música, a imagem me acompanha até hoje, no entanto, não gostaria de viver aí ,nesta época, numa região mineira. Adoro Madame Bovary, mas não viveria aí. Amo Cartas a Milena , já li tantas vezes que gastei as páginas do livro, mas não quereria viver aí , em Praga, nos anos vinte, com todo o frio e o antissemitismo.
Que cada um faça a sua lista e escolha um livro para morar!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O AMANTE

Releio O AMANTE de Marguerite Duras para o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela dia 21. Sua escrita dura, precisa, cortante. A história é terrível. Acho que será um grande encontro.

Conto os dias para a chegada do meu filho da Espanha. Ele chega em setembro. Com meu neto na algibeira. Guga fará uma Escola de Música em Resende que irá funcionar dentro da Escola de Cozinha do André, meu filho mais velho. Patrícia, minha nora, dará aulas de Flamenco em alguma escola de dança. Gosto muito da idéia de misturar atividades diferentes no mesmo espaço. O nome Babel , que é como se chama a Escola de Cozinha, será também o nome da Escola de Música e cai como uma luva, linguas diferentes na mesma Torre de poesia.   E Babel era a nossa gata siamesa que se desdobrou em livros , restaurante e etc. Gosto de pensar que Babel, nossa gatinha amada está viva em todos estes lugares.

Quinta-feira vou a Barra de São João falar numa escola. A cidade é linda com seu rio, a ruazinha de casas coloniais, o Museu Casemiro de Abreu, a Igreja antiga que precisa de uma reforma urgente. Todas as escolas deveriam ter uma disciplina que se chamasse OLHAR. Eu me alimento de olhares.

domingo, 8 de julho de 2012

CHUVA

Chove torrencialmente. O mar está negro. As ondas altas. Gosto do tempo assim. Parece que o tempo fica mais lento, quase anda para trás. A casa, mais do que nunca, assume a sua função primordial de abrigo. E range e oscila como se fosse um barco.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

CONTOS

Ontem fui ao encontro de uma editora que publicará meu livro de contos, o que estou escrevendo. Conversamos sobre o que falta ao livro, sobre o que sobra no livro. Assim como a poesia flui em mim como um rio, a ficção é dura e não me obedece, me dá muito trabalho escrever um pequeno conto. Mas ao ler um conto novo, que ainda não tinha lido, a minha editora se emocionou e sua emoção foi o meu presente.

Enquanto não compro o livro do poeta Adonis que a Cia das Letras publicou, o que farei hoje, busco alguma coisa na rede e só encontro em espanhol:

Canción al significado


No es este tiempo inicial ni el final de los tiempos,


es el río de la herida que fluye del pecho de Adán.


Su significado penetra en la tierra


y el sol es su imagen premonitoria.

Acho linda a imagem do rio do tempo que escorre desde o primeiro homem e que ao mesmo tempo que é imóvel, flui .









quinta-feira, 5 de julho de 2012

MÃOS E PÉS

Ainda jovem eu pulava
as pedras do rio, sentia
sua dureza em meus pés,
as nuvens corriam junto
comigo, céu e terra
me esmagavam em seu abraço
e meu corpo latejava
com os dias que ainda existiriam.

Aquelas pedras se inscreveram
profundamente em minha pele,
são as minhas consoantes em dias de espera.

Mergulhava as mãos na água fria
e minhas linhas da mão se desfaziam,
corriam junto com o rio,
quando ainda era jovem.

Hoje meus pés gostam de caminhar
sobre a névoa, a fina película
de irrealidade que cobre a vida,
e minhas mãos tentam apreender
o voo das borboletas.

in DIÁRIO DA MONTANHA, ed. Manati

quarta-feira, 4 de julho de 2012

AMIGOS JAPONESES

Recebo uma carta dos nossos amigos (virtuais) japoneses, Kats e Yuki, que traduziram um livro do Juan Arias, meu marido.
Eles são delicadíssimos. E nos contam um pouco da sua trajetória super cheia de aventuras.
Kats se apaixonou pelo meu livro Carteira de Identidade e está tentando publicá-lo. Não é tarefa fácil, mas saber que alguém do outro lado do mundo passeia às margens de um rio mastigando meus poemas é maravilhoso. Yuki, sua esposa, me conta: ele anda triste e meus versos o acalmam.
]
Enquanto escrevo o Hospital Pedro Ernesto no Rio de Janeiro pega fogo num incêndio que , parece, começou no almoxarifado. . Messias, meu grande amigo, Diretor da Nesa, me manda um torpedo: o prejuízo será enorme , mas não há vítimas.
Talvez, quem sabe, aproveitem para refazer o Hospital que abriga projetos maravilhosos e que literalmente caia aos pedaços.  Havia o desejo de fazer uma biblioteca para os adolescentes e eu seria a madrinha, pelas mãos da Dra. Heloisa Groissman, a Loló.

terça-feira, 3 de julho de 2012

O MAR OUTRA VEZ

Cheguei em Saquarema ontem na hora do almoço, exausta, como se tivesse feito uma viagem interplanetária. Havia acordado às 5hs da manhã e ver o sol iluminando as montanhas na hora da partida foi um espetáculo único, deslumbrante.
Toneladas de trabalho me esperavam e ainda me esperam. Não consegui fazer quase nada. Sempre que volto de Mauá sinto um cansaço imenso, paralisante, que não sei explicar.
Agora é colocar o trabalho em dia, continuar com meu livro de contos , e deixar que o mar novamente corra em minhas veias.