sexta-feira, 30 de novembro de 2012

NETO NA CASA

Meu neto já está na estrada. Chegará junto com o final da tarde. Agradeço. Neto é dádiva.
Amanhã , às 9hs da manhã um carro virá de Campos nos buscar, eu e Guga Murray, meu filho, participaremos da Bienal. Guga com seu Concerto Didático Caixinha de Música, eu com minha sacola de livros.
É tão bonito trabalhar junto com meu filho, uma experiência única.
Este ano tem sido muito bom, cheio de viagens, trabalho, novos livros. Agradeço.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PARA TOCAR NO RÁDIO

Hoje uma pequena imensa notícia no O Globo, enquanto tomava café da manhã, me enlouqueceu de alegria. Fico sabendo que : "Aos 97 anos, Maruja Venegas, entrou para o Guiness: está há 77 anos como locutora, 60 à frente de um programa de rádio para crianças."
Não sei se no Brasil as crianças ouvem rádio, não tenho esta informação. Na minha infância, sim, ouvíamos muito rádio. Esperávamos os programas com enorme impaciência. A idéia de programas pelo rádio para crianças é absolutamente linda e com uma  vovó de 97 anos, o programa fica então muito mais saboroso. Que Maruja viva ainda mais cem para alegrar as crianças.
Aqui em Saquarema houve uma época em que a E.M.Gustavo Campos tinha uma rádio e a Sala de Leitura inventou um programa maravilhoso: Um Minuto de Poesia Todo Dia.
Cláudia, professora responsável pela sala, a inventora, lia os poemas e criava a maior expectativa entre todos. Já pela manhã os alunos passavam pela Sala de Leitura para saber qual seria o poema. Infelizmente a rádio acabou , mas deixo aqui a idéia para ser copiada.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

PROCESSO DE CRIAÇÃO

Nunca planejo meus livros. Eles chegam como os gatos. Entre um suspiro e outro, quando me dou conta, a idéia do livro já germina dentro de mim.
O Diário da Montanha nasceu assim. Eu estava lá, na minha casinha do bosque e de repente escrevi um poema e depois outro, então pensei: vou fazer um diário,  com tudo o que for me acontecendo. Escrevia a mão, como já não faço desde muito tempo, num caderno lindo de papel vegetal. E o diário foi crescendo e às vezes, quando já não estava lá e sim aqui em Saquarema, eu pensava na casinha , no Diário e queria escrever, então pegava o caderno na gaveta, pois sempre o trazia de volta e escrevia algum poema que não se passava lá, mas falava sobre isso, a ausência, a vontade de estar lá. Ás vezes era algum pensamento que me vinha, alguma reflexão, como nos dois poemas abaixo:

OS PRIMEIROS


O que me separa do primeiro homem,

da primeira mulher do mundo,

dos seus medos, pavores, desejos,

anseios?


O que me separa quando o último

fio de lua ilumina a última

folha da mata

e em silêncio a manhã já se desgarra?


Uma fina película de tempo,

um grão de poeira de tempo.


03.12.2011



BASTAM SEIS


Dizem que bastam seis,

seis homens ou mulheres

para que se alcance

qualquer pessoa perdida

em qualquer lugar

sobre a face da Terra.


E os que se mudaram para as estrelas,

os que já se foram e apagaram o cnério,

os que perdemos para sempre,

como alcançá-los, como atravessar

seu silêncio espesso, a sua falta

de substância, a sua dolorosa luz?


06.12.2011


in Diário da Montanha, ed. Manati

Agora trabalho com três livros ao mesmo tempo. Um já está navegando, já pegou um bom vento, o outro nem começou, mas sinto sua vida se formando dentro de mim e o terceiro é um livro de contos de amor que está quase pronto. Leio mais do que escrevo, mas preciso estar sempre envolvida com algum livro que está começando ou que ainda vai começar.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

HAICAIS

Tenho dois livros de haicais. Um deles amo especialmente, O XALE AZUL DA SEREIA, da ed. Larousse Junior.
O poema que dá título ao livro já publiquei num outro post e é assim:

Sereias costuram
com fios de horizonte
seus xales azuis

****************

Sinos na varanda
o rumor azul do mar,
música de vento.

Fazer haicais me acalma. Tenho que contar as sílabas, é um brinquedo. Tenho que fazer uma pintura .E não sou pintora. Tenho que fazer música com três versos e não sei fazer música. Mas tenho as palavras e com elas pinto, faço música.

Como se tecesse uma teia de aranha com palavras, cuidadosamente:

Teia de aranha
fios de seda e luz
amarram o sol.

Hoje por alguns momentos tivemos sol no jardim. As flores explodiam em todas as cores. Passarinhos transportavam alegria para lá e para cá. E isso merece um haicai que costuro agora mesmo:

Passarinhos voam
alegria em suas asas
num raio de sol

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

AUSTERIDADE

Terminei de ler o livro O CHALÉ DA MEMÓRIA de Tony Judt e me impactou muito. Ele nasceu em 1948 na Inglaterra de pais judeus. Eu nasci em 1950 no Brasil também de pais judeus e como em sua família, na minha casa não respeitávamos os feriados e nem os rituais judaicos. Minha mãe não acendia as velas em memória dos antepassados no shabat, nem tínhamos shabat. Mas havia a casa da minha avó com o shabat e os feriados e principalmente as comidas. O judaísmo para mim são os cânticos e as comidas da minha infância. E as histórias da Bíblia que minha avó me contava. Eu achava a Arca de Noé uma maravilha.
Mas as semelhanças da sua infância com a minha não terminam aí. Naquela época vivíamos em completa austeridade. Eu praticamente não tinha brinquedos e então inventávamos nossos brinquedos. O que eu mais amava eram umas revistas que vinham com bonequinhas para recortar e as suas roupas. Brincávamos de loja, recortávamos objetos das revistas e desenhávamos dinheiro e fazíamos uma loja. Brincávamos de Sítio do Pica Pau Amarelo e de Contos de Fadas. Para que brinquedos se tinhamos a nossa imaginação? A época de austeridade nos obrigava a usar a mente e isso era maravilhoso.Hoje o mundo ocidental e "rico" é um entulho só. Uma criança apenas possui mais brinquedos do que uma multidão. Brinquedos que brincam sozinhos e qual é a graça? Os livros são o maior brinquedo. Tony Judt nos fala com muito carinho da austeridade da sua infância. E eu me identifiquei completamente.

domingo, 25 de novembro de 2012

ENCONTRO NA CASA AMARELA

Ontem o Clube de Leitura da Casa Amarela se reuniu e recebeu novos habitantes: três professoras de Saquarema trazidas pela mão do Prof.Ivo.
Discutimos os livros "Madalena, O Último Tabú do Cristianismo" do Juan Arias, com ele presente. (Era surpresa. Foi idéia do Fernando , que não pode vir. Combinamos a leitura do livro em segredo total.) e "O Carteiro e o Poeta" do Antonio Skármeta. Também tinhamos que trazer para o nosso encontro a poeta chilena , Prêmio Nobel de literatura, Gabriela Mistral e quem lesse um poema da Gabriela o dedicaria a alguém.
O dia estava lindo e a temperatura amena. Chico Perez, nosso único vereador poeta, Flora, Héctor, Maria Clara, Gil, Ivo, Leila, duas Ângelas, o filho da Gil de 12 anos , Felipe, as três novas professoras, eu e Juan, nos entrelaçamos na sala para discutir a Madalena. Depois da surpresa inicial do Juan, Gil começou falando que o livro para ela havia sido um terremoto, pois destruia o seu castelo encantado onde Madalena era uma prostituta arrependida. Mas, pouco a pouco , ela ia voltando ao livro e reconstruindo a figura desta belíssima mulher que não era prostituta e nem arrependida, mas uma mulher culta , interlocutora de Jesus. Foi uma discussão acalorada e apaixonada, maravilhosa. Todos participaram, menos Felipe, que disse que se recusava a discutir um assunto ausente da sua vida.
Juan, que estuda teologia desde muito jovem e se formou em teologia e linguas semíticas em Roma, nos trazia a segurança do seu conhecimento, ele nos oferecia uma nova Madalena e seu tempo e ela na frente do seu tempo, uma mulher maravilhosa.
O Carteiro e o poeta também gerou paixões.Leila falou da torrrente de emoções que o livro desatou dentro dela, a partir da amizade entre o carteiro e Neruda e ela chorou muito quando leu o livro e chorou muito enquanto falava. Gil disse que foi o livro mais bonito que leu até agora desde que entrou para o Clube: um livro completo, amor, amizade e poesia. Todos falaram da maravilha que foi o encontro do carteiro com a poesia, como este encontro iluminou e mudou a sua vida. Juan disse que não era um livro sobre a amizade, mas sim sobre a poesia, que o carteiro se apaixonou pela poesia e não pelo Neruda como pessoa. Claro que ficaram amigos e também é um livro sobre a amizade, mas é o encontro de uma pessoa qualquer, simples, com a poesia.  Héctor achou que era um livro político, que a história era apenas um pretexto, mas quase ninguém concordou. Todos concordaram em que saber a história recente do Chile ampliava a leitura do livro.
E vieram os poemas da Gabriela Mistral. Foi um momento luminoso. Cada um trouxe um poema mais belo do que o outro e dedicava a alguém presente.
Angela e Maria Clara trouxeram livros para sortear, o "Confesso que vivi" do Neruda e "A Maior Flor do Mundo" do Saramago., Felipe também trouxe um livro do Quintana, e ele ofereceu a  alguém que verdadeiramente quisesse o livro. E o poema que falou da Gabriela Mistral era para falar da sua dor, da sua decepção amorosa.
E então fomos para a mesa do almoço , na varanda . Espalhei flores sobre a mesa. A feijoada no fogão de lenha. Pão e Vinho, literatura e amizade. Verdadeira celebração.
Próximo encontro: dia 23 de fevereiro.
Livros: Sagarana, João Guimarães Rosa e Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CLUBE DE LEITURA

Amanhã é o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. É um Clube flutuante como se fosse uma balsa navegando sobre um mar de ficções. Algumas pessoas faltam , outras novas chegam.
Amanhã discutiremos O Carteiro e o Poeta , um livro pequeno, alegre e triste, denso e leve. Há umpacto com o leitor: o autor não conta o final, mas como o leitor conhece a recente história do Chile, ele pode imaginar.
Desde o começo do mundo precisamos de histórias, nos alimentamos com elas, nos projetamos em personagens, vivemos em outras épocas, outras cidades, outros países, outros mundos. Com isso alargamos nossas experiências, resolvemos conflitos, crescemos, aprendemos a nos conhecer e aceitar o outro, o diferente, o estrangeiro. Aprendemos a lidar com nossas emoções. As histórias curam. Não se pode viver sem elas, como não se pode dormir sem sonhar. Pode ser a vida do vizinho, por isso os mexericos, porque precisamos de histórias. Por isso as telenovelas.
Quando passamos por algum momento difícil, quando ficamos aprisionados em alguma limitação física, nossa mente tem seu acervo de histórias pessoais e lidas e elas se misturam! então podemos suportar a imobilidade , a dificuldade. Um leitor usa a sua mente como ferramenta de exploração do mundo. 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

QUATRO JABUTIS

Recebo o livro Quatro Jabutis da ed. LÊ.Ás ilustrações , lindas, delicadas, são de Regina Rennó. O livro, para criança bem pequena, ficou uma jóia.
Os jabutis do jardim são uma grande inspiração e agora são cinco com a chegada do Godofredo, presente da Bia Hetzel.
Convivem pacificamente com as gatas e os passarinhos e são uma lição de calma e paciência.
Amo os jabutis.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PEDIDO DE DESCULPAS

Peço desculpas publicamente. Sem nenhuma intenção ofendi a Diretora Janet da Cruz Carvalho , Diretora do Ciep de Porto Real que visitei em outubro.
Na ocasião os alunos da manhã estavam muito agressivos entre eles. Comentei o meu encontro, como faço com todos os encontros, mas a Diretora com toda a razão, ficou triste com a minha  crítica e explica que o Ciep estava invadido por uma epidemia de piolhos de pombo , o que estava deixando os alunos nervosos e também a família.
Entendo que um problema assim tão grave ,que levou a escola a ser interditada, é um fator de grande desequilíbrio para toda a vida escolar e tenho certeza que tudo voltará ao normal e que a Diretora Janet poderá outra vez, na plena função do seu cargo, levar para as crianças outra vez um ambiente de paz e cordialidade, leitura e arte . Diretora Janet, conte comigo para enriquecer a sua Sala de Leitura e acredito que com o seu amor e dedicação tudo na escola voltará a fluir.

CONCERTO DE POESIA

O Concerto de Poesia ontem, na Biblioteca de Botafogo foi muito bom. Era um público pequeno mas  amoroso. Suzana Vargas, que eu não via desde muito tempo. Amigos e amigas do facebook. Bia Hetlzel e Silvia Negreiros, minha editora, Miriam e José Luiz da ed. Rovelle. Revi tanta gente querida, foi um presente.

Cheguei em casa. Foram muitos dias longe e gostaria de trazer da minha viagem o encontro que tive em Barra Mansa com as crianças da E.M Professor Moacyr Arthur Chiesse. É uma escola bem sucedida. Todas as salas lindas, tudo bem cuidado como se fosse a casa da gente. Uma escola leitora. E num lugar de Barra Mansa bastante complicado. Mas a Diretora Monica Gonçalves é uma apaixonada e todos os professores também. São amigos e trabalham em uníssono. Ela busca parcerias, por exemplo a Viação Resendense é parceira e leva as crianças para os passeios em seus ônbus. Ela leva os alunos para os programas culturais do SESC. A escola tem aula de música e 20 alunos participam do Coral 1000 vozes que faz parte do Projeto Música nas Escolas. 40 crianças participam da orquestra. Para uma escola de 306 alunos é uma bela proporção. A Sala de Leitura é lindíssima com espelhos, araras com fantasias e um ambiente super acolhedor. A escola é uma boa notícia.

Agora consigo ficar alguns dias em casa e estou feliz . Estava com muitas saudades.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MARINGÁ-MINAS

Estou em Maringá-Minas-Visconde de Mauá, no atelier de cerâmica da minha irmã Evelyn Kligerman e meu cunhado Luis Mérigo. Passei 4 dias na minha casinha no Vale do Pavão, sem internet. Recebi sábado a visita da Angela Carneiro que veio de táxi de Itamonte com sua fã e minha leitora Gisele para almoçarmos juntas. Foi um encontro maravilhoso. Almoçamos no Babel uma "festa de Babette" e eu estava comemorando a resenha que saiu no Prosa e Verso sobre meu livro Diário da Montanha, ed. Manati. Juan havia enviado uma mensagem pelo meu celular avisando e só consigo ver no restaurante, na minha casinha também não pega celular! Pedi ao caseiro que fosse de moto comprar o jornal no mercado (a 7km de distância) e quase surtei de alegria! Uma resenha de páginta inteira e com a minha foto.
Amanhã vou para o Rio muito cedo e estarei na Biblioteca de Botafogo às 19hs, na Rua Farani 53.
No próximo post, quando chegar em casa no dia 21, conto meus encontros nas escolas de Barra Mansa.
E gostaria de juntar a minha voz aos que pedem paz
 entre Israel e Palestina. Não há nada mais horrível do que a guerra.  

terça-feira, 13 de novembro de 2012

PÉ NA ESTRADA

Já estou eu de novo com o pé na estrada. Amanhã é a minha última apresentação com o Sesc Barra Mansa e vou hoje para Resende. Depois só o ato final do projeto que será uma festa , no dia 5 de dezembro na sede do Sesc Barra Mansa, quando me apresentarei com meu filho Guga Murray e nossa Caixinha de Música.
Mas como efeito colateral do trabalho, vou passar todo o feriado em Mauá e só volto no dia 20 direto para a apresentação da minha poesia  , às 19hs, Biblioteca de Botafogo, na Rua Farani 53. O projeto se chama Estação Pensamento & Arte.
Em Visconde de Mauá não tenho internet. Ficarei ausente do mundo paralelo virtual e retorno no dia 21.
Desejo a todos dias maravilhosos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

PAIS NA ESCOLA

Na sexta-feira passada, meu último dia em Ubatuba, a E.M.Marina Salete marcou um encontro com os pais às 19:30hs. São quinhentas crianças. Foram no máximo uns quinze pais. Carmem, a diretora, já havia me falado da dificuldade de trazer os pais para a escola.
Hoje há uma matéria belíssima no O Globo sobre a família na escola, como este envolvimento faz toda a diferença na aprendizagem da criança.
É uma entrevista com Beatriz Pont, analista da OCDE. Ela sugere que "os sistemas priorizem a criação de políticas públicas a fim de incentivar, especialmente em áreas pobres, uma maior aproximação entre famílias e equipes pedagógicas."
A escola Marina Salete , em Ubatuba, onde estive, tem uma área externa muito grande. Eu sugeri a criação de uma horta coletiva com a comunidade de pais ajudando e todos poderiam colher verduras da horta. E também um pequeno jardim. Como na E.M.Hermann Müller, em Joinville no jardim, além de flores, as crianças poderiam plantar poemas em placas de madeiras que fabricariam com a ajuda dos pais.
Sugeri também que as diretoras Carmem e Tania Rita visitassem a casa dos alunos para tentar trazer os pais para a escola e vejo que esta é uma estratégia já adotada em muitos países. Sugeri  que pais e mães que tenham alguma habilidade, costura, artesanato, cozinha, marcenaria, venham até a escola para dar oficinas.
Beatriz diz que é muito importante dar boas notícias aos pais. A Sala de Leitura reinaugurada na E.M Marina Salete é uma excelente notícia e eu sugiro que as mães ajudem a confeccionar almofadas coloridas e que se tente fazer uma Roda de Leitura com os pais e as crianças na Sala de Leitura uma vez por mês, seria um grupo pequeno de cada vez e isso criaria fortes laços entre todos.
Há que criar laços de afeto entre os pais e a escola.

domingo, 11 de novembro de 2012

LONGA VIAGEM

Foi uma longa viagem de Ubatuba até Saquarema. Mas a estrada era linda e a vista impressionante. Infelizmente não consigo ler no ônibus, fico enjoada, então fui contamplando e pensando e afinal as seis horas passaram muito bem. Mas mesmo assim comprei um livro do Carl Sagan para ler nos intervalos. Cheguei em Saquarema às 21hs e Nana, minha gata, que está se tratando de um fungo, havia piorado e está muito mal, cheia de feridas horríveis e estou com muito medo. A médica só poderá vir amanhã. Quando fui para Ubatuba ela estava quase boa. Meu coração está por um fio, ela já tomou toneladas de remédio, banho com sabonete de enxofre, e agora a médica diz que vou ter que colocar um colar nela para que pare de se lamber. Não imagino a Nana com um colar. Estamos todos tristes com a situação.
A despedida em Ubatuba foi emocionante, Carmem e Rita foram comigo até a Rodoviária e virão um dia participar do nosso Clube de Leitura. Elas foram maravilhosas, não mediram esforços para me proporcionar o máximo de bem estar.
Agora pela manhã meu filho Guga Murray está fazendo o seu Concerto Didático em Santa Tereza no Projeto Paixão de Ler.
E terça-feira já volto para Resende pois dia 14 é minha última apresentação com o Sesc Barra Mansa, depois só no dia 5 de dezembro na culminância do Projeto.
Infelizmente amanhã não teremos a nossa feijoada para os alunos de Duque de Caxias, pois a Secretaria de Educação de lá cortou o ônibus prometido. Vai para a minha caixinha de tristezas. Ainda bem que não perdemos a esperança e ano que vem tentaremos este encontro outra vez.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

UBATUBA 2

Ontem pela tarde, no meu encontro com as crianças, havia um grupo de adolescentes lá no fundo da quadra. Eles eram de outra escola, a E.M Dionísia e este intercâmbio é muito bonito.
Quando as crianças foram embora, me sentei com eles numa roda para conversar. E fiquei sabendo que a escola deles está em obras e inúmeros transtornos atrapalham a vida da escola. Os livros estao encaixotados e eles trabalham apenas com uma apostila didática. Como estavam sentados num belo tapete, eu contei a história das Mil e Uma Noites. E fizemos um exercício lindo, tecemos um tapete imaginário com algum acontecimento maravilhoso da vida deles. Todos falaram de nascimento. Uma menina falou da recuperaçao da mae que ficou em coma por um ano. Falamos de profissoes, uma menina quer estudar gastronomia. Li alguns poemas, contei do meu processo de criaçao. Foi um belo encontro. Eles me ouviam em profunda sintonia e silêncio. Depois o professor me disse que aquilo foi um milagre, pois eles sao muito dificeis. Nao é um milagre, absolutamente. De uma maneira simples cheguei até eles. E os livros deveriam ser desencaixotados com a maior urgência possível. A gente faz uma leitura compartilhada até debaixo de uma árvore. Quando o nosso encontro acabou, uma menina veio me contar que ela escrevia poemas.
Decidi voltar amanha de ônibus, acho que é o caminho mais curto.
Hoje tenho a manha livre. Carmem e Tânia Rita me levarao até alguma praia deslumbrante.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

UBATUBA

Ontem saí de casa de madrugada e cheguei aqui em Ubatuba quase no final da tarde. Fiz o caminho mais complicado, pois fui de aviao até Sao Paulo e de Guarulhos até aqui gastamos quase 4 horas de carro. Mas subimos uma serra magnífica e entramos em Sao Luis do Paraitinga, cidade belíssima que quase foi totalmente destruída por uma cheia do rio em 2010. É uma cidade histórica realmente linda de morrer com seu casario antigo. por lá eles cultuam o Saci e quem ia gostar era meu neto Luis que anda apaixonado pelo Saci. Fiquei sabendo que por lá as festas folcóricas sao realmente imperdíveis. Nao encontro o til do teclado do computador que nao é meu, perdao!
A E.M Marina Salete foi quem me trouxe junto com a Secretaria de Educacao e ontem falei num teatro lindo para os professores e foi muito bom. Carmem , a diretora da escola e Tânia Rita, a cordenadora, sao sonhadoras, acreditam em amor na escola, em arte na escola, em fala e escuta. Os alunos hoje fizeram lindíssimas apresentaçoes e foi tudo muito bom. A escola recebeu a visita de um coral de outra escola e as crianças cantaram junto com o coral, dançaram, eram pura felicidade.
Agora estou no restaurante do hotel, estou sozinha, um pianista tocando jazz só para mim e vejam só onde a minha sacola de livros me trouxe: a esta cidade magnífica, cheia de florestas, me trouxe até estas lindas pessoas.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

AMIGOS

Amigos são a família escolhida e a felicidade do amigo nos inunda como se fosse nossa: Este é o selo da amizade. Não há limite para o tamanho do sentimento. Um amigo entende, aceita, acolhe.

AMIGO

que um amigo se reconheça
sempre
na face de outro amigo
e nesse espelho descanse
seus olhos
e derrame sua alma
como a crina de um cavalo
levemente pousada no vento

in Poesia Essencial, ed. Manati

Acordo e ainda é noite. Levanto e faço o café. A música do mar, soberana, invade a casa. Preparo a mala para Ubatuba. Meus leitores me esperam.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

LIÇÕES DA COLÔMBIA

Leio que a Colômbia tem muito mais bibliotecas escolares que o Brasil. Uma biblioteca não é uma Sala de Leitura, que é informal , com tapetes, almofadas, um clima descontraído e não está regida pelas regras da biblioteca. A frequencia a uma biblioteca desde cedo ensina exatamente isso: a usá-la , a saber buscar a informação. E a Colômbia faz um trabalho interessante na área de formação de leitores. Faz Rodas de Leitura com professores e pais. E estimula as mães a ler para os seus bebês. A leitura compartilhada , creio, é a melhor ferramenta para a formaçao de leitores. Ou a discussão de um livro em conjunto, como fazemos no nosso Clube de Leitura. Cada escola deveria ter um Clube de Leitura que juntasse professores de todas as disciplinas., Há um clichê horrível que perpetua a idéia de que leitura é com a professora ou o professor de português, como se a professora  ou professor de história ou de matemática, ao escolher as suas disciplinas, tivessem banido a leitura de suas vidas, que absurdo!!!
Pensei o Clube de Leitura  para professores e para minha surpresa temos gente de muitas áreas. E recebemos gente que nunca havia lido e que já se tornou leitor.
Uma escola que não é leitora está destinada ao fracasso. E com todas as dificuldades há que envolver a família.
Uma vez fiz uma experiência. Duas adolescentes passavam a semana aqui em casa. Dei a elas o livro O Menino do Pijama Listrado de John Boyne e pedi a elas que antes de dormir, cada noite, uma lesse um capítulo em voz alta . No final da semana elas já tinham acabado de ler o livro e amaram e ficaram muito curiosas com o tema da Segunda Guerra. Cada livro se multiplica em mil temas e vai aguçando a curiosidade do jovem leitor.
No meu livro Território de Sonhos, ed. Rocco, criei cada conto com um personagem leitor. Em um dos contos uma menina está esperando a visita de um menino por quem já está apaixonada, tecendo mil fantasias e ao mesmo tempo está lendo o Diário da Anne Frank. O leitor do conto que não leu o Diário pode ter o desejo de buscá-lo . Quando escrevi o livro, nunca tive este retorno, pensei em jogar esta isca. Uma citação pode ser o canto da sereia.

domingo, 4 de novembro de 2012

FICÇÃO

Nos diz Antonio Muñoz Molina, maravilhoso escritor espanhol, autor de SEFARAD:

"Necesitamos relatos para que el flujo de la realidad se nos vuelva inteligible. Unos más y otros menos, todos necesitamos relatos de ficción y de no ficción, fábulas y crónicas, retratos de personas que existen o han existido o que son imaginarias, documentales e historias interpretadas por actores. Necesitamos mirar de cerca la realidad y necesitamos escapar temporalmente de ella, y encontrar en las ficciones donde satisfacemos esa huida claves simbólicas que nos ayuden a entender lo que vemos al abrir los ojos, al apartarlos del libro, al salir de la sala de cine."

Uma vida não basta. E a ficção nos permite viver mil vidas. A literatura nos ajuda a viver a nossa única vida, tão pouca.

Enquanto releio O Carteiro e o Poeta, de Antonio Skármeta, para o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela , no dia 24 de novembro, além de viver intensamente a relação do carteiro Mário com Neruda, o livro me traz de volta o tempo da sua primeira leitura na década de 80 e me traz também de volta o início dos anos 70 , quando hospedei duas chilenas que fugiam do terror no Chile. Muitos tempos se misturam, muitas Roseanas dentro de mim, algumas sobreviveram, outras já não existem mais. Muitos amigos da época em que pela primeira vez li o livro, desapareceram na fumaça do tempo. Este um dos milagres da ficção, ela nos aduba e ao mesmo tempo revira dentro de nós várias camadas de tempo.

sábado, 3 de novembro de 2012

AS SEREIAS

Hoje o tempo está escuro , meio cinza e o mar também. É o meu tempo predileto. Não faz calor e posso respirar.
Entre todas as notícias da semana , fiquei comovida com a do elefante que fala algumas palavras em coreano. Palavras de delicadeza: "bom dia! Como vai? Obrigado!" Ele é a sensação do seu zoológico.
Abomino desde sempre os zoológicos do mundo inteiro. E amo os elefantes. melhor seria se ele pedisse "liberdade, por favor!".
Não sei se as sereias preferem os dias azuis e ensolarados ou se, como eu, mergulham dentro de suas almas nos dias nublados. E dormem.

AS SEREIAS

Navegar, navegar
pelos sete mares,
atravessar
montanhas de água,
florestas de água,
para encontrar
a pedra azul
onde dormem as sereias.

in O Mar e os Sonhos, ed . Lê, selecionado para o PNBE 2013

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CAIXA DE PANDORA

Conheci Jorge Vale em 2002 quando cheguei em Saquarema para morar. Ele dava aulas de teatro e pintura numa casa muito simpática. Os anos se passaram. Uma vez ele montou um espetáculo lindíssimo com meu livro Classificados Poéticos. Em setembro ele me chamou para ir até a ONG Educandário do Bem ,que é um Ponto de Cultura, para conversar com as crianças. Lá fui eu sem saber o que me esperava. A casa do Educandário é um encanto total. Lá, 60 crianças fazem aulas de teatro, arte, dança e reforço escolar em dois turnos, manhã e tarde. Ganham um lanche maravilhoso preparado na cozinha sempre perfumada, com cheiro de bolo assando.
Nos sentamos em roda no quintal, com vários dos meus livros espalhados pelo chão e Jorge me explicou : as crianças escolhiam os poemas, os livros estavam todos misturados, para crianças, jovens e adultos. Depois eles costurariam os poemas, tentando dar um sentido. A ONG ganhou dezenas de caixas de sapato vazias, então, o cenário seria feito com as caixas. Das caixas saiu a idéia: CAIXA DE PANDORA.
O espetáculo foi costurado em torno das idéias de esperança, sonho, paz. Os pássaros e o mar percorriam todo o espetáculo. As crianças pintaram as caixas na aula de arte e fabricaram pássaros de origami, que pendiam do teto junto com meus livros. Dentro do espetáculo as crianças estavam quase sempre lendo, ou com um livro nas mãos.A idéia de que a leitura move o mundo. O figurino era belíssimo. E as crianças , de 9 a 12 anos, pareciam atores profissionais. Os efeitos visuais no palco eram magníficos e isso sem tecnologia, tudo com panos e elásticos. As músicas perfeitas , se encaixavam nos poemas.
Caixa de Pandora é um espetáculo que faz a gente chorar de emoção. Tomara que a Secretaria de Educação de Saquarema consiga aproveitá-lo e leve a Caixa de Pandora para uma apresentação nas escolas.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CHEIRO DE ALGAS

Ontem ao chegar em Saquarema fui envolvida por um cheiro de algas, era quase uma teia que me cobria da cabeça aos pés. Era bom. Estava tão exausta , da viagem, do calor, que nem consegui desfazer a mala.
Mas o trabalho de ontem no C.M Antonio Pereira Bruno em Barra Mansa foi maravilhoso. Queria ressaltar o descaso com que a Prefeitura de Barra Mansa trata as suas escolas. É uma vergonha. A escola onde passei a manhã ontem, já não se aguenta em pé, o chão destruído, infiltrações por todos os lados, chove dentro, etc. Mas os professores vão tecendo os seus milagres. A Diretora Rose pediu ao Sesc que eu chegasse uma hora antes para um encontro com os professores. Já ao entrar na escola senti uma lufada de afeto, é uma energia difícil de explicar. Nos sentamos numa roda e fui já falando que não estudei pedagogia e não sou educadora, sou poeta. Mas ao visitar tantas e tantas escolas por todo o Brasil tenho um mapa do que funciona; amor, leitura, arte, esporte. E escuta. E os professores me contaram o que fazem: se a professora de história está ensinando a segunda guerra e lendo trechos do Diário de Anne Frank, a professora de português indica o livro A Menina que Roubava Livros. Uma outra professora trabalha com o conto O Espelho do Machado de Assis junto com um filme cujo nome não consigo lembrar, mas que trata do problema do capitalismo selvagem, de como rouba a nossa verdadeira identidade . O entendimento entre os professores, a camaradagem, carinho, amizade , era visível, palpável. Ficaram maravilhados com o Clube de Leitura da Casa Amarela e vão fazer um Clube de Leitura na escola para os professores.
Depois de um lanche magnífico, com bolos e pães de queijo, o meu encontro com os alunos foi tão bom que nem sei como contar. Fizemos brincadeiras, dançamos! e falamos de coisas muito sérias. Li muitos poemas, contei um pouco do meu jeito de criar e então eles ganharam o livro Caixinha de Música, ed. Manati e depois de autografar todos os livros eu estava plena, cheia de uma felicidade luminosa. Ainda por cima soube que meus livros Carteira de Identidade e O Mar e os Sonhos, ed. Lê, entraram no PNBE.
Hoje é dia de colocar a vida virtual em dia outra vez.