segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

PARA VIAJAR

Como é que se vai para a Atlândida?
De cavalo marinho?
E de unicórnio,
dá para chegar nas montanhas da lua?
Para o centro da Terra
vamos de dragão dourado?
De maria-fumaça a gente atravessa
o tempo?

in Pêra, Uva ou Maça? , ed. Scipione

Desejo que para subir a bordo dos 365 dias de 2013, todos afiem seus sonhos .

domingo, 30 de dezembro de 2012

POEMAS E COMIDINHAS

Recebo a quinta edição do meu livro Poemas e Comidinhas da ed. Paulus. O livro é uma delícia em todos os sentidos : a partir de um poema sempre uma receita gostosa testada pelo meu filho, o Chef André Murray.
Deixo aqui então uma sugestão para um dos pratos da ceia do final de ano: um risoto de flores. Mas antes o poema com a sugestão de que comer beleza é a melhor coisa do mundo:

ELFOS

Elfos comem o perfume
das flores trazido pelo
vento,
comem os mais belos pensamentos,
e as cores do dia
que o galo faz.
Comem o canto do galo,
as melodias dos pássaros
]azuis,
comem a luz que cintila
na folha cheia de orvalho.
Elfos comem a sombra da lua,
o brilho da estrela
que já não existe mais.


RISOTO DE FLORES
Ingredientes:

1 xícara de arroz (de preferência tipo arbório, especial para risoto)
Meia cebola picada
2 colheres de (sopa) de água de rosas (pode ser encontrada em casas de produtos árabes)
3 xícaras de caldo de frango
1 pitada de açafrão em pó
Um quarto de xícara de queijo parmesão ralado
Um oitavo de tablete de manteiga
pétalas de rosas de cores variadas.

Preparo:

Refogue a cebola sem deixar dourar. Junte o arroz, a água de rosas e 1 xícara de caldo de frango.
Mexa sem parar até quase secar. Junte mais 1 xícara do caldo, junte o açafrão e mexa sem parar até quase secar.
Nesta última adição pode não ser necessário usar todo o caldo, então experimente a textura do risoto.
Acrescente o queijo, a manteiga e as pétalas de flores. Prove para saber se está bom de sal. Caminhe até a floresta mais próxima e convide um elfo para dividir este delicioso risoto.

sábado, 29 de dezembro de 2012

REAJA

Recebemos aqui em casa o livro REAJA do Cristovam Buarque, ed. Garamond. O livro é inspirado no manifesto "INDIGNEZ-VOUS" (Indignem-se) de Stéphane Hessel, filósofo francês de 95 anos, texto que varreu a Europa como um vendaval. Cristovam, que se inspirou então no belo texto de Stéphanie , faz uma proposta ao leitor no final do livro:
"Ao fechar um livro que leu até o final, reaja ao que leu. E não reaja apenas por reagir. Aja. Para isto, escreva seu próprio livro, com suas idéias e ações. Esta será uma forma de reagir."

Transcrevo um pequeno trecho já que além de poeta luto com as poucas armas que tenho, a minha voz, por uma educação mais justa e criativa aqui no Brasil e me identifico com o que escreve meu querido Cristovam:

"Reaja contra as desigualdades; mas, sobretudo, contra a mãe de todas elas: a educação desigual.
Veja com horror a cara do futuro do país retratada nas decrépitas escolas de hoje. Veja e reaja. Seja um educacionista: no lugar de querer um país rico para só então fazer a boa escola para todos como o caminho de fazer o país rico. Lute para que os filhos dos trabalhadores estudem nas mesmas escolas dos filhos dos patrões. E cada um evolua conforme seu talento, vocação e persistência - não pela sorte lotérica da genética e da renda dos pais. Lute pelo direito democrático de funcionamento das escolas privadas, e para que um dia elas se tornem desnecessárias, graças à qualidade de toda escola pública".

in Reaja, Cristovam Buarque, ed. Garamond , página 13.

Indico pois o livro como leitura obrigatória para os últimos dias de dezembro. E que no dia 1 de janeiro cada um escreva seu próprio manifesto.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

VOLTA

Ainda é dezembro com o fogo das flores do flamboiã do jardim e o calor e o mar me recebem de volta aqui em Saquarema. Ainda é dezembro de 2012, ontem passei meu aniversário em Visconde de Mauá num almoço esplêndido preparado pelo André, meu filho e Dani Keiko, minha nora, no Babel Restaurante, rodeada de amor:  Juan, filhos, noras, minha irmã Evelyn Kligerman , meus grandes amigos-irmãos Messias e Kátia , seu filho Gustavo e Fabiana que vieram da Itália onde moram, Salvador, meu grande amigo ermitão que saiu da sua toca no mais alto da montanha e Vanda, nossa caseira que viajou para estar comigo. E... meu neto Luis que apanhava flores no jardim e nos presentava durante o almoço.
Ainda é dezembro e pude estar , antes de ir para Mauá, com o Clube de Leitura da Edith Lacerda, e presenciar a discussão amorosa do meu livro Diário da Montanha. Foi uma experiência impactante.
Ainda é dezembro e passamos um dia , toda a família, num Hotel Fazenda em Bananal, indicação preciosa da Ione Duque e do André, que foi meu taxista no Projeto Fala Autor, do Sesc! A casa de mais de duzentos anos nos abriu as portas e aguçou a nossa curiosidade, queríamos saber tudo! Onde ficava a senzala, o que guardavam no porão onde fazíamos as refeições?
Ainda é dezembro e recebo hoje um exemplar da Revista Poesia Sempre da Biblioteca.Nacional, (com três anos de atraso) trazendo um artigo maravilhoso sobre a minha obra. E também um ensaio que me fez chorar, da Vera Tiezman sobre meu livro Poemas para Ler na Escola.
Ainda é dezembro e o mundo não acabou, mas acaba todos os dias, recomeça todos os dias e estamos vivos, eu, você que está me lendo e tanta gente que amo e isso é simplesmente fantástico.

domingo, 16 de dezembro de 2012

SUPERAÇÃO

Ontem vi um documentário emocionante no TV 5: Thalassa.
A história de um homem que perdeu metade das duas pernas e dos dois braços num acidente e que é um oos maiores nadadores do mundo. Com uma prótese e pés de pato para as pernas e uma prótese para ps braços, ele atravessou a nado os cinco continentes: Canal da Mancha, Estreito de Gibraltar, Canal de Bhering, etc. Com um companheiro ao seu lado, com barcos monitorando a travessia, a história deste homem , sua alegria, é uma grande lição de vida.
No documentário há um momento em que ele se encontra com um sobrevivente de um Campo de Concentração que também é um mergulhador. O número tatuado em seu braço e todos os anos de vida, não o impedem de mergulhar e ter uma relação belíssima com a vida.
Alegria: eis a palavra chave, a palavra mágica, a que abre todas as portas.

Amanhã vou para o Rio e de lá para Visconde de Mauá , onde mergulho num mundo com outra medida de tempo. Volto dia 28.

 

sábado, 15 de dezembro de 2012

SEM PALAVRAS

Os Maias erraram. O fim do mundo foi ontem, dia 14 de dezembro de 2012, quando crianças pequenas foram brutalmente assassinadas dentro de uma escola nos Estados Unidos, onde se pode comprar qualquer arma como se fosse aspirina e onde prevalece a cultura da violência, onde os fracos são abandonados e o sucesso é buscado a qualquer preço. A sociedade americana de consumo é brutal. E ama a guerra. É a cultura do desperdício. Nada vale nada. A vida humana nada vale.
Nem todas as palavras de todas as linguas podem dizer o horror de ter um filho assassinado dentro de uma escola.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

DESTINO

Será que você acredita em destino? Algo tem que acontecer ou não tem que acontecer? Destino é diferente de acaso ? O dicionário me diz que não. Se busco a palavra acaso, encontro dentro de várias possibilidades: destino.

EXISTÊNCIA

Será que o destino
é um mapa
e se conseguir decifrar
o que está oculto,
os rios subterrâneos,
as pegadas no chão
de terra,
poderei responder ao poeta
"existirmos, a que será
que se destina?"

Será que o destino
é uma teia
e somos nós as aranhas
e fabricamos as esquinas,
as bifurcações
com nossa saliva?

Basta seguir a seta
onde se lê a palavra
vida?

in Diário da Montanha, ed. Manati

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

UM SOPRO

Sonhei com a minha mãe que morreu em 2009. Ela estava bem viva aqui em casa, com toda a família e fazia suco de laranja na cozinha para todos. Um sonho bem simples e prosaico. Mas está chegando o meu aniversário. Será que é uma mensagem de que mãe é alimento sempre? E de que mesmo tendo partido ela ainda me alimenta?

UM SOPRO

Como chegar ao coração
dos mortos
esse duro coração de hera
perdido entre as águas da memória
como um barco de outros tempos?

Um sopro ainda vive
como uma flauta longínqua.

in Pássaros do Absurdo, ed, Tchê, esgotado.

 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FIM

Já que no dia 21 de dezembro o mundo vai acabar, convém sorver toda a beleza possível com sofreguidão, acreditar com muita força que todos os problemas insolúveis do planeta serão resolvidos a tempo, que não haverá mais fome, que a poesia, como a flor que brota entre as frestas do cimento , estará ao alcance de todos, basta parar e soprar as suas pétalas . Já que no dia 21 de dezembro o mundo vai acabar, convém dizer eu te amo a todas as pessoas que amamos e trocar corações com os amigos. Convém avivar a nossa chama .
E para o fim do mundo o poema FIM de Murilo Mendes:

Eu existo para assistir ao fim do mundo.
Não há outro espetáculo que me invoque.
Será uma festa prodigiosa, a única festa.
Ó meus amigos e comunicantes,
tudo o que acontece desde o princípio é a sua preparação.

Eu preciso assistir ao fim do mundo
para saber o que Deus quer comigo e com todos
a para saciar minha sede de teatro.
Preciso assistir ao julgamento universal,
ouvir os coros imensos,
as lamentações e as queixas de todos,
desde Adão até o último homem.

Eu existo para assistir ao fim do mundo,
eu existo para a visão beatífica.

Murilo Mendes, in Os Melhores Poemas e Canções Contra o Tédio, ed. Objetiva

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

FAIXA ETÁRIA

É comum chegar numa escola e as crianças apresentarem um poema dramatizado. Na minha última visita a uma escola aqui em Saquarema, pequenos leitores declamavam poemas dos meus livros infantis e alguns poemas do meu livro Poesia Essencial que eu pensava ter escrito para adultos. Adoro isso, a mistura. Para qual faixa etária? Acho que a frointeira nós inventamos, vejo que as crianças trafegam bem entre as duas margens.

O tempo virou e o mar também. As ondas estão grandes e não há sol. Mas olho pela janela e vejo meu filho, minha nora e meu neto na praia. Meu neto: pequenininho lá na areia , naquele espaço imenso e meu coração quase explode de amor.

domingo, 9 de dezembro de 2012

PARTICIPAÇÃO

Leio sobre o movimento de alunos de escolas municipais e estaduais nas redes sociais para revelar publicamente as mazelas de suas escolas, o descaso dos Estados e Municípios com o espaço físico das escolas. Claro que existem escolas públicas maravilhosas e aqui em Saquarema todas são lindíssimas. mas já vi escolas depredadas e denunciar nas redes é uma ferramenta maravilhosa de participação do aluno na defesa do seu patrimônio físico e afetivo, afinal estar num espaço limpo, bonito e bem cuidado aumenta a auto estima de qualquer um.  Leio também que a denúncia funciona, logo consertam um buraco, um vazamento e retiram entulhos. Uma pena que seja preciso denunciar e fazer pressão. Escola pública limpa, bonita, bem cuidada deveria ser matéria obrigatória .

Hoje é um domingo raro: terei os filhos reunidos para o almoço. Para um domingo especial, a flor-estrela que abriu esta manhã:

sábado, 8 de dezembro de 2012

A LEBRE COM OLHOS DE ÂMBAR

Estou nas últimas páginas de um livro maravilhoso que comecei a ler com muita dificuldade, o livro era pedregoso, complicado. Mas de repente A LEBRE COM OLHOS DE ÂMBAR de Edmund de Waal, ed. Intrínseca, se revelou uma imensa tapeçaria e diante dos meus olhos que não são de âmbar, o século XIX parecia um jogo de montar finalmente todo montado. A partir de pequenas miniaturas japonesas entalhadas em madeira e marfim , o autor reconstrói o esplendor e queda de uma família e de todo o Império Austro-Húngaro. Além disso, como há ramificações da família em Paris, passeamos por seus salões, visitamos os impressionistas e Proust. A partir destes netsuquês, coleção que sobreviveu ao saque dos nazistas, o autor rastreia, através de documentos, o dia a dia de seus ancestrais. Finalmente os netsuquês voltam ao Japão pelas mãos do seu herdeiro, um tio-avô do autor. O livro é uma mistura de memória com ensaio e umas pinceladas de ficção ou imaginação, porque a partir de uma simples fotografia ou documento, como se girasse a manivela do tempo para trás e desse corda aos personagens estáticos da foto ou desse vida às palavras, temos de volta uma cena com todos os cheiros e cores da época. Belíssimo livro.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

ACELERA BRASIL

Hoje passei boa parte da manhã conversando com os alunos da E.M João Laureano. É uma escola rural aqui em Saquarema, perto de Sampaio Correia e foi muito agradável o nosso encontro. A Diretora Andrea é empenhadíssima em oferecer o melhor para as crianças. Hoje algumas turmas tinham um passeio e o ônibus não foi buscá-los! Ela conseguiu três carros e eles puderam ir. Mas realmente o meu transbordamento veio por acaso. Eu já estava indo embora quando uma professora me chamou para conhecer a sua turma que está trabalhando com o Projeto Acelera Brasil do Instituto Ayrton Senna. E fiquei em estado de choque. A turma inteira me contava sobre o trabalho. O entusiasmo deles era imenso. Tudo o que eu penso sobre uma nova educação está ali: os temas são trabalhados a partir de textos. A leitura ocupa o primeiro lugar. Trabalham juntos numa roda, não existe uma carteira atrás da outra, muitas aulas de leitura fora da sala, muitos livros são lidos por todos, aprendem a pensar e a trabalhar a auto-estima. Mas, infelizmente, só uma turma trabalha desta maneira. A minha pergunta é : se o resultado é tão esplêndido, por que a escola inteira não pode fazer uma educação assim? E por que todas as escolas não fazem uma educação assim criativa se todos sabemos como os resultados são incríveis?
Li com eles o meu livro Quatro Jabutis, ed. Lê e a partir de um texto tão simples falamos de muitas coisas. Eles representaram meu poema Galinha D"Angola que foi usado no Projeto África. Contei para êles que quando fui visitar minha irmã na Costa do Marfim vi num casamento um griot de verdade!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

LIVRO-CONCERTO

Estou de férias!!! Embora amanhã tenha algumas horas com pequenos leitores numa escola rural aqui em Saquarema. A casa se encherá de filhos e novos barulhos, Luis, meu neto para lá e para cá, André, meu filho-Chef cozinhando maravilhas... E é verão e o mar está latejando de azul.
O Livro-Concerto Caixinha de Música com Guga Murray , ontem à noite no Sesc Barra Mansa foi emocionante, pois era num teatro e não havia nenhuma interferência externa. A platéia participou em ondas de felicidade.  É um trabalho tão bonito que gostaria de levá-lo para onde pudesse!!! E quando se tem um teatro... é a perfeição.
Este ano foi magnífico,cheio de viagens e acontecimentos. Agora finalmente passarei algum tempo em casa .Ou entre as casas, pois passarei o Natal em Mauá.
Aprendi com os astrofísicos que somos feitos com a mesma matéria das estrelas. Niemeyer voltou então ao estado original: agora é novamente estrela pura. Fiquem atentos, esta noite já estará brilhando na Via Láctea.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ESTRADA

Amanhã irei às 5hs da manhã para Resende e dia 5 estarei às 19hs no SESC BARRA MANSA para o encerramento do Projeto FALA AUTOR!
Vou escrevendo...

ENCONTROS EM CAMPOS

Tivemos grandes encontros em Campos. Chegamos , eu e meu filho Guga Murray, depois de 4 horas de viagem com uma parada num lugar encantador, bastante bucólico, já perto de Macaé, almoçamos correndo pois já era a nossa hora na Caverna da Bienal. A caverna era um espaço bem interessante, meio verde, o público, pais, mães, crianças, avós, alguns adolescentes, se sentavam no chão. Apresentei alguns dos meus livros e Guga fez o seu Concerto Didático com o livro Caixinha de Música projetado na parede, pois era um cinelivro, idéia maravilhosa da Suzana Vargas. De poema em poema, Guga foi envolvendo a platéia. Teve até um concurso de quem lia o poema "Unidunitê"  mais rápido! Os pequenos leitores, com 7 anos, se sairam muito bem. Para o poema "Tempo" Guga preparou uma instalação musical. Ficou belíssimo! A platéia toda fazendo tic-tac e um sonzinho com os dedos na palma da mão , além de um som com conduites que ele distribuiu pela platéia. Pura música contemporânea! A platéia cantou um rap e 2 canções belíssimas com os poemas.
À noite Tino Freitas, meu amigo querido chegou para o jantar. Ficamos 3 horas inteiras conversando junto com a poeta Lila, braço direito da Suzana Vargas, que acaba de ganhar um concurso de poesia importantíssimo no Paraná. Guga e Tino, dois músicos, se entenderam e ficaram amigos de infância. Tino estava vestido de Chef de Cozinha, o seu desejo secreto.
Repetimos a dose no dia seguinte pela manhã, ontem, e foi ótimo. No camarim, antes do encontro na Caverna, Mano Melo começou a ler meu livro Diário da Montanha e não largava mais e fiquei tão feliz e lisonjeada que quase explodi. Pode acontecer.
Tino Freias também nos mostrou no camarim suas canções maravilhosas para um disco para crianças e ganhei um livro de poesia belo e premiado da poeta campista Amélia Alves.
Na volta paramos para almoçar num lugar fantástico chamado Panela de Barro, muito coisa da roça, e comemos tanto por causada nossa felicidade, comi até doce de abóbora cristalizado, como os da minha infância e tabletinhos de doce de leite, eu que não como doces!

sábado, 1 de dezembro de 2012

CAMPOS

Hoje vou a Campos. Minha avó que hoje teria uns 130 anos se fosse viva, não reconheceria a cidade. Nada deve ter sobrado do casarão onde morava, da cidade pequena e pacata onde chegou, jovem, com seus filhos, da Polonia. Havia uma comunidade judaica na cidade. Tenho vagas lembranças, quase uma fumaça. Lembro de mim na cozinha com minha avó, ela limpava carne e dava pedaços para o seu gato e eu achava a cena lindíssima. Lembro de um quintal com árvore de carambola e me sentavam debaixo da árvore e meu primo, muito mais velho, subia na árvore e me jogava as frutas. Minha mãe me contava da sua juventude em Campos, dos bailes, das amigas, dos namoros antes do meu pai. Antes de morrer minha mãe gostava de visitar Campos em pensamento, com seus dezoito anos, e me falava : _"eu era tão namoradeira"!
A última vez que fui a Campos fiquei chocada. O que o petróleo conseguiu fazer com a cidade! Mas há uma notícia maravilhosa, os próximos contratos do pré sal deverão destinar os royalties para a educação. Há que investir em conhecimento , literatura e arte e não em calçadas de mármore ou inchar a lista de funcionários públicos pagando com o dinheiro do petróleo. Ou deixar que os royalties escorram como esgoto para os ralos da corrupção. Dinheiro dos royalties para a educação. Comemoremos. Pois até aqui não temos muito o que comemorar.