sexta-feira, 27 de junho de 2014

PESSOAS NÃO HUMANAS

Quando vou acender o fogo aqui na montanha, uso jornal antigo. Tenho a mania de separar as notícias interessantes para ler. Ontem li uma matéria sobre as orcas e os golfinhos que trabalham em regime de escravidão em Parques Aquáticos da cadeia Sea World. Golfinhos e baleias são inteligentíssimos e é insuportável para qualquer pessoa de bom senso e sensibilidade participar desta crueldade. Ficam confinados num espaço exíguo fazendo sempre e sempre os mesmos movimentos para nossa diversão. Assim como os zoológicos e os aquários gigantes, deveriam ser proibidos , mas movimentam muito dinheiro, dinheiro de verdade e se não forem proibidos por lei nunca irão fechar.
Ao contrário dos japoneses, tão refinados em tantas coisas, tão delicados na sua poesia, mas que caçam e matam sem nenhum pudor estes animais, os indianos criaram um termo lindo : golfinhos e baleias são PESSOAS NÃO HUMANAS e não podem matá-los. Nossas gatas também são pessoas não humanas, entendo tudo o que falam e todas as suas expressões e quem tem cachorro sabe muito bem que eles falam claramente, há apenas que apurar o ouvido para entender as nuances. Minha gata Nana tem um miado diferente para cada coisa que deseja e a Luna, a nossa gata persa , já senhora, não mia, ela fala mesmo, felinês.
Baleias cantam, golfinhos dançam, todas as vidas não humanas se expressam (só não consigo entender os insetos, mesmo assim, quando encaro uma aranha grande e aqui há muitas, sinto que ela tem inteligência, ela me olha e arquiteta a sua fuga, tenho pavor de aranhas!)
A matéria era de fevereiro e me deixou um pouco abalada, pois não estava pensando na dor física e psicológica dos golfinhos e baleias enquanto acendia o fogo. E agora nadam na minha mente.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

APELO POÉTICO

A E.M HERMANN MULLER, na zona rural de Joinville é a escola mais emocionante que já conheci, mostrando no pequeno como se pode transformar seres humanos e toda uma comunidade com poesia.Quando fui convidada a ir pela primeira vez até a escola, num evento maravilhoso chamado "Café, Flor e Poesia" fiquei tão impactada, parecia que todos os meus sonhos de educação estavam se concretizando ali, bem na minha frente. O mesmo sentiu Leonardo Boff quando foi visitar a escola, que aliás recebe visitas de todos os lugares e já ganhou muitos prêmios.
Silvane Silva, a Diretora, recebeu uma escola sem vida e ao longo de uns 10 anos transformou a escola, transformou seres humanos, transformou a comunidade inteira. Com poesia.
Agora recebo a notícia aterradora para quem ama educação e poesia de que Silvane será destituída do cargo.Irá para um ônibus itinerante de livros. O ônibus não precisa da Silvane, mas a Escola sim. É referência para o Brasil.   E, infelizmente, o motivo deve ser político, não vejo outro motivo.
Que os Deuses da Poesia me ajudem e quem possa ajudar , por favor, ajude.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

ARIRANHA

Outro dia vi uma ariranha cruzar a estradinha da minha casa.Parecia um gato imenso, era linda. Hoje bem cedo, tomava café dentro de casa, as primeiras luzes começavam a acender a manhã, vi como um gato preto grande. Quando fui lá fora, havia um abacate meio comido no chão da varanda, mas o abacateiro fica longe. Perguntei ao Milton, nosso caseiro, sobre este mistério e ele disse que era coisa de ariranha. Achei que elas comiam peixe no rio, não sabia que comiam frutas.
A minha casinha só recebe o sol lá pelas 9:30h. Vim para a varanda do Babel Restaurante olhar as coisas na internet e receber o sol que aqui chega primeiro. Meu pai me contava que em sua aldeia na Polônia  o frio era terrível, a maior felicidade era um raio de sol. Vivemos num país de clima tão esplêndido e muitas vezes nem nos damos conta. Que tristeza passar frio de verdade.
Temos uma única palavra para a cor verde. E falamos suas nuances com um verde composto: verde-claro- escuro-alface-musgo verde-perto-verde-longe.  Gostaria de derramar no texto todos estes verdes que enchem meus olhos.

terça-feira, 24 de junho de 2014

FRIO

Amo o frio, mas tenho a mania, aqui em Visconde de Mauá, de acender o fogão, ficar sentada em frente ao fogo e dar um pulinho lá fora para ver a vista. Peguei então uma gripe bem forte. Preciso ficar boa, pois hoje volto para a minha casinha e lá é mais frio ainda. Estou no  Ateliê de Cerâmica da minha irmã. Soube que ontem fez 9 graus lá pra cima. Tenho dois livros imensos para ler, de uma romancista espanhola contemporânea chamada Almudena Grandes. É uma boa romancista. Literatura e fogo, não para queimar os livros!!! mas para dar um aconchego... isso é o paraíso.
Estou tão fora das atrocidades do mundo aqui na montanha... Passei dois dias com meu neto Luis em Resende e ele perguntou no café da manhã: _ Mamãe, onde eu estava antes de entrar na tua barriga? Eu o levei para brincar na pracinha em frente da Igreja do Rosário de 1825, construída pelos escravos. Eu e meu neto fomos visitar a Igreja, simples e emocionante, saber do esforço que foi despendido para levantá-la, por mãos sofridas, por corações massacrados.  Sou judia, mas Igrejas simples tocam minha alma. Um velhinho varria e logo começamos a conversar. Seu nome é Seu João e logo ficou amigo do Luis e nos mostrou as coisas dentro da Igreja que ainda eram originais.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

INÉDITOS DE NERUDA

O jornal EL PAÍS conta que foi encontrada uma caixa com inéditos de Neruda:


“Reposa tu pura cadera y el arco de flechas mojadas
extiende en la noche los pétalos que forman tu forma"...
Ni en su madurez Pablo Neruda se olvidó del amor como refugio poético.
..."que suban tus piernas de arcilla el silencio y su clara escalera
peldaño a peldaño volando conmigo en el sueño
yo siento que asciendes entonces al árbol sombrío que canta en la sombra
Oscura es la noche del mundo sin ti amada mía,
y apenas diviso el origen, apenas comprendo el idioma,
con dificultades descifro las hojas de los eucaliptos”.
Son ocho del botín de más de mil versos de la veintena de poemas inéditos de Neruda (1904- 1973) recién descubiertos. Van 21. Y podrían ser más. Y no solo poemas, sino también algo de prosa, discursos o conferencias escritas entre 1956 y finales de los años sesenta. El hallazgo literario más importante del Nobel chileno con una gran presencia del tema amoroso y erótico. A su lado, versos sobre la naturaleza o Chile que aguardaban ser encontrados en el archivo de la Fundación Pablo Neruda, en Santiago de Chile.
Escritos muchos en el modesto y amarillento papel roneo, son poemas cortos algunos, y otros tan largos que ocupan hasta siete y nueve páginas.
Originales inéditos de Neruda, en su Fundación en Santiago de Chile.
Poemas dispersos a lo largo de más de una década que aún no se sabe por qué no entraron en los libros de la época. El anuncio lo ha hecho la editorial Seix Barral, en Barcelona, que los publicará a finales de 2014 en Latinoamérica y principios de 2015 en España bajo el título de Poemas inéditos. Pablo Neruda.
En los poemas se ve el poderío imaginativo, la desbordante plenitud expresiva y el mismo don, el apasionamiento erótico o amatorio
Versos que alumbran más zonas del universo nerudiano y lo expanden. “No son poemas cualesquiera”, afirma Pere Gimferrer, poeta y experto de Seix Barral, que ha quedado impresionado tras su lectura. Un asombro que le ha hecho decir que muestran un Neruda con “el poderío imaginativo, la desbordante plenitud expresiva y el mismo don, el apasionamiento erótico o amatorio que para la invectiva, la sátira o el mínimo detalle cotidiano convertido en poema. Es decir, por igual el Neruda de Odas elementales y el Neruda de La Barcalora, el de Memorial de Isla Negra e incluso el de Estravagario”.
Nunca dejó de lado el amor y sus laberintos ya andados, pero siempre desconocidos; como estos poemas escritos tres y cuatro décadas después de que se hiciera popular, en 1924, con Veinte poemas de amor y una canción desesperada.
El amor como compañía, refugio e inspiración tras los tiempos del exilio, del reencuentro con Chile y de su veta política. Son los años en los que ya separado de su segunda esposa conoce a Matilde Urrutia, la pasión de su vida.
El botín de inéditos estaba a una temperatura controlada en varias cajas de conservación especiales llenas de carpetas con páginas manuscritas y mecanografiadas de toda su obra. La Fundación, recuerda su director Fernando Sáez, las recibió hacia el año 1987 tras la muerte de Matilde Urrutia. Durante varios años, el material fue ordenado, clasificado, fotocopiado, escaneado y desde hace tres años revisado exhaustivamente, página a página, para cotejar qué había sido publicado y qué no.
Eso ha hecho Darío Oses, encargado de la Biblioteca de la Fundación, desde julio de 2011. Leer y expurgar hojas y hojas y hojas escritas con la letra grande y clara de Neruda, o mecanografiadas, pero corregidas con su puño y letra, hasta ir dando forma y brillo, sin buscarlo, al nuevo tesoro nerudiano. Lo que prueba, según Oses, es que “Neruda sigue siendo un poeta inagotable que siempre permite nuevas lecturas, como los clásicos”.
Fragmento inédito de neruda
"Reposa tu pura cadera y el arco de flechas mojadas
extiende en la noche los pétalos que forman tu forma
que suban tus piernas de arcilla el silencio y su clara escalera/peldaño a peldaño volando conmigo en el sueño
yo siento que asciendes entonces al árbol sombrío que canta en la sombra
Oscura es la noche del mundo sin ti amada mía,
y apenas diviso el origen, apenas comprendo el idioma,
con dificultades descifro las hojas de los eucaliptos".
El trabajo de investigación y auditoría ahora se ha repartido entre la Fundación y Seix Barral para fijar el número total de poemas y textos que el Nobel escribió y que merecen la pena publicarse. “Es un gran descubrimiento no solo por su condición de inéditos, sino también por la extrema calidad de varios poemas”, asegura Elena Ramírez, directora editorial de Seix Barral. La edición, agrega, irá acompañada de anotaciones y todas las explicaciones necesarias.
Son sus terceros inéditos que aparecen. Previamente están El río invisible (1980), que incluye poesía y prosa de juventud, y Cuadernos de Temuco (1996), poemas de adolescencia, ambos publicados por Seix Barral.
El nuevo libro coincidirá con el 110º aniversario del nacimiento de Neruda, este 12 de julio, y los 90 años de la publicación de Veinte poemas de amor y una canción desesperada.
“Con dificultades descifro las hojas de los eucaliptos”, escribió Pablo Neruda en uno de los versos que ahora ha visto la luz. Y con asombro y dificultad todos los que han leído estos 21 poemas se preguntan qué habrá sucedido para que esos mil versos se quedaran en la orilla del camino"


quarta-feira, 18 de junho de 2014

BABEL E ATRIUM

Para escrever o blog , olhar o facebook, responder minhas mensagens, fazer minha aula de italiano, tenho que vir até a varanda do Babel, um restaurante mágico e improvável, pois quando meu filho fez o restaurante na varanda da que era a minha casa de tijolinho, eu pensava: quem virá até aqui, pois já é difícil chegar a Visconde de Mauá, mas no alto do Vale do Pavão, onde a estrada é muito ruim... meu coração de mãe ficou muito assustado com um empreendimento tão louco. Mas o Babel , por sua magia, pela arte do André e da Daniela Keiko, é um grande sucesso, com pessoas que às vezes chegam de muito longe só para comer aqui com a vista estonteante do  nosso parque, da nossa mata. Agora o Babel vai abrir suas portas também em Resende, na linda casa do André, numa versão Bistrô Francês, só para almoço. Novamente meu coração de mãe bate as asas assustado, mas Resende é mais fácil do que Mauá e com suas mãos mágicas André vai encher a casa.
E meu filho músico já está com sua Escola de Música Atrium na casa nova, a casa mais bonita de Resende. Um casarão de 1910 totalmente preservado, na frente da Igreja do Rosário de 1826. A Atrium está abençoada e será uma grande aquisição para Resende, uma cidade bem pouco cultural. Também ao lado da Igreja fica a Biblioteca Municipal de Resende. Ou seja, música e livros e um Bistrô Francês.  Vibro com meus filhos artistas , torço tanto por eles!
Este sábado vou dormir com meu neto em Resende que ontem quando fui embora chorava em silêncio, os olhos vermelhos, as lágrimas escorrendo... que avó aguenta isso?   

sábado, 14 de junho de 2014

PENSAMENTOS

Aqui na montanha parece que o tempo interno e externo fluem juntos no mesmo rio. Aqui fica claro que de nada adianta querer controlar os acontecimentos que não dependem de nós. Eles acontecem, irão interferir em nossas vidas, mas temos que relaxar o corpo e navegar junto com eles.

Penso: o século XX foi terrível com duas grandes guerras. No século XXI pequenas guerras aqui e ali ,mas muitas muitas mortes e tragédias pessoais, muita fome, abandono de países inteiros. Parece que o homem precisa matar. E o advento do homem-máquina. As máquinas são agora parte de nosso corpo, uma extensão.Essa novidade deslocou os sentimentos. Parece que agora vivem na periferia do ser. Há que resgatar os sentimentos. Trazê-los novamente para o centro de nossas vidas. Não existe nada mais curativo que o amor.  

sexta-feira, 13 de junho de 2014

NA MONTANHA

Estou aqui, na varanda do Babel Restaurante do meu filho André, onde tem wi-fi.
Chegar na minha casinha em Visconde de Mauá é uma emoção tão intensa que não consigo descrever.
Tudo me acolhe. A mata me abraça e vou me dissolvendo. Faz frio e o fogo deixa a casa aquecida e perfumada. Aqui, onde não há ruas ou carros , nenhum barulho , apenas a música sem partitura da natureza, apenas existo, apenas isso. O prazer de simplesmente existir.

terça-feira, 10 de junho de 2014

MADRUGADINHA

Gosto de acordar cedo , mas hoje exagerei um pouco. Levantei às 3 horas. Não gosto de ficar na cama tentando dormir, então me levanto, faço um café dentro do silêncio espesso da casa, só a música do mar.
Hoje vou para a montanha. Lá na mata o silêncio é outro e também a escuridão.
Metade de mim é mar, metade é montanha. Vou envelhecendo devagarinho, cheia de águias e águas. E também conchas e árvores. Dá para notar na pele as camadas do que já foi vivido, as travessias. O corpo é pesado, tem raízes profundas, mas a alma é inquieta e voa, pássaro, borboleta, gaivota...

segunda-feira, 9 de junho de 2014

CAFÉ PARIS

Ontem estive com a Patricia de Arias no Salão de Leitura de Niterói, um bate-papo no Café Paris. As obras do Niemeyer são lindíssimas por fora e para mim, nada acolhedoras por dentro. O Café Paris era um espaço imenso, com uma vista espetacular, mas era frio. Não lembrava em nada um Café parisiense, hélas! O público era pequeno, pois outros eventos aconteciam no mesmo horário, mas , ao contrário da frieza do café, era um público quente. Falamos sobre a poesia dos encontros e do acaso. Patricia fez a leitura do seu novo livro Fica Comigo, da ed. Rovelle, que fala de adoção. Uma mulher deu seu testemunho como criança adotada.. Contei, não fiz a leitura, o meu conto Bertha, o encontro de uma avó com a sua neta. Lemos poemas do nosso livro Fio de Lua & Raio de Sol. Li alguns poemas do Abecedário (Poético) de Frutas. Nossa editora Carolina estava presente. Uma professora aqui de Saquarema, que amo de paixão, a Rosiléia, que faz um esplêndido trabalho de leitura, estava presente e meus amigos taxistas Arnaldo e Gisele. Meu neto fazia palhaçadas na frente do palco e subiu várias vezes para se esconder debaixo da cadeira da mãe. Criamos um clima bem informal. Depois, tudo acabado , fomos almoçar no Jambeiro. O Bruno, filho da Rosiléia, que nos ensinou o caminho, nos disse que era caro e o serviço não era bom. Mas como eu tinha uma ótima lembrança daquele lugar, fomos assim mesmo. Deveríamos ter ouvido o Bruno!  O lugar é lindo, mas a comida é caríssima e o serviço parece um filme dos Trapalhões: nada dá certo. Veio tudo errado depois de uma hora e meia de espera! Desaconselho solenemente!
E amanhã faço a minha rota Resende-Mauá. Como seria maravilhoso se houvesse um trem e se pudesse ir no vagão restaurante tomando um café e lendo. Nada de trem-bala. Um trem bem simples com um apito daqueles de mexer com o coração, um apito que falasse de encontros e saudade.
 

domingo, 8 de junho de 2014

POR ONDE ANDAMOS

Ontem havia uma pergunta maravilhosa no facebook. Dizia mais ou menos assim: Se você é leitor-a, onde estava em seu último livro?

Estive em muitos tempos e lugares desde o dia 15 de maio quando fisicamente fui para Veneza. Vejamos:
Comecei no avião com Traduzindo Hannah de Ronaldo Wrobel - é um livro muito bom sobre as "polacas". Estive na Praça Onze do Rio de Janeiro, no governo Vargas, quando ele flertava com o nazismo. Ali foi o primeiro núcleo de imigrantes judeus.
No aeroporto em Madrid comprei vários livros: Las Hijas de Zalman, de Anouk Markovits, estive na Polônia e na França, acompanhando uma família de judeus extremamente religiosos , fanáticos e a luta de uma das filhas para se libertar.  É uma história terrível e verídica. Los Bienes de Este Mundo de Irene Nemirovsky , de quem havia lido a Suíte Francesa. Ela era uma grande promessa para a literatura francesa quando a França se rendeu aos alemães no Governo de Vichy. A Suíte Francesa narra a fuga dos habitantes de Paris quando os alemães iam chegando. Ela escreve escondida, nas piores circunstâncias. Acabou morrendo em 1940 em Auschwitz. Suas filhas encontraram os manuscritos. O livro que li agora foi publicado em capítulos numa revista sob pseudônimo e começa no interior da França antes da Primeira Guerra e vai justamente até a entrada dos alemães na Segunda Guerra. É um grande, imenso romance e uma belíssima história de amor. Portanto, estive várias vezes na França em tempos diferentes.
Com El Héroe Discreto do Mario Vargas LLosa, estive no interior do Peru e nunca ri tanto.
Agora estou num Kibutz, no começo ou antes da criação do Estado de Israel, não consegui perceber, pelas mãos do Amós Oz no livro Entre Amigos. O livro é muito bom, mas Amós Oz não é bonzinho. É um livro triste sem nenhuma tragédia, apenas a dificuldade dos encontros humanos.  

E lá vou eu agora, no meu tempo físico para o Salão de Leitura de Niterói.

sábado, 7 de junho de 2014

DATAS

Acho todas as datas, disso ou daquilo bastante problemáticas. Está chegando o Dia dos Namorados e quem acabou uma relação, quem não tem namorado ou namorada fica triste demais, é injusto. Mas a gente pode ter vários tipos de namorado-a. Podemos namorar uma árvore, um livro, um momento.
De qualquer maneira para quem tem namorado ou namorada deixo um haicai que deve ser sussurrado :

                    Um beijo dourado
                    varre o corpo com luz,
                    ilumina o céu.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

VOZES DE SAQUAREMA

Os senhores e senhoras chegaram magnificamente vestidos. De preto. A mesa já estava posta na varanda e a temperatura agradável. Eram 19.30h. A sala também estava arrumada para a Roda de Leitura.
Todos trouxeram quitutes. Eu fiz os pães, quatro. O Maestro Moisés ligava o som com o tecladista enquanto todos entraram para a leitura. Apresentei Samuel e Vanda, meus anjos da guarda, incansáveis nos meus encontros. Eles também entraram na Roda para ouvir o conto. Fui aplaudida no final da leitura. Disse  para eles que o conto foi totalmente inventado, nenhum gancho com algo que tenha acontecido na minha vida. Apenas a velha senhora, que se chama Bertha, foi inspirada na linda figura da minha mãe, doce e sensível, sempre arrumada e muito vaidosa, pois era modista.Eles haviam pedido um texto sobre memória e destino e no final da leitura todos concordamos que o destino nunca para o seu moinho e pode chegar e fazer uma reviravolta com a gente até o final da nossa vida. Li alguns poemas do meu livro Cinco Sentidos.
Então fomos para a varanda. E aí eu entrei num filme. Foi um dos acontecimentos mais esplêndidos que já vivi. O Coral Vozes de Saquarema, é um Coral da Diversidade. Gente com mais de setenta anos, uma menina bem jovem, uma travesti lindíssima, é vida borbulhando, explodindo, transformando o ar, enchendo o ar de partículas douradas. Puro sonho. O Maestro Moisés é um ILUMINADO! Vem de Cabo Frio duas vezes por semana para os ensaios, que , ele me conta, são muito mais do que ensaios, são vivências. Como perderam o espaço que tinham, agora cada vez é na casa de alguém e sempre com vinho, quitutes, festa! É a versão musical do meu Clube de Leitura da Casa Amarela. O Coral não fica quieto, todos dançam enquanto cantam,  muitos fazem lindos solos.
O Maestro me disse que a nossa casa, já era mais do que uma casa, era a CASA AMARELA , onde se faz arte.
Minha casa está aberta para os ensaios do Coral Vozes de Saquarema . E este encontro na versão adulta do Café, Pão e Texto (ao invés de café, vinho) foi para mim um momento de tanta magia, que jamais esquecerei. Minha casa ficará para sempre vibrando com a alegria dos meninos e meninas que dão uma lição ao tempo: Estamos vivos, fazemos artes, estamos aqui!    

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ATRIUM

A Atrium, Escola de Música do meu filho Guga, se prepara para mudar de casa, pois onde está já não cabem mais alunos, instrumentos e professores. Guga conseguiu um casarão do começo do século XX no Centro Histórico de Resende e estamos todos cheios de partituras loucas no coração.
A festa de inauguração da escola será no dia 28 e claro, estarei lá . O sonho do Guga desde adolescente era ter uma Escola de Música, algo feérico e diferente. E conseguiu. Minha nora trabalha com ele e meu neto também. Com quatro anos já trabalha na aula de musicalização, ajuda a professora. Se ele não entrar na sala, ninguém quer fazer nada.

Hoje preparo a casa para receber 20 participantes do Coral Vozes de Saquarema, para o meu Projeto, Café, Pão e Poesia. Faremos uma Roda de Leitura com meu conto "Bertha" do novo livro Exercícios de Amor. Bertha era o nome da minha mãe e este conto é realmente lindo, fala sobre memória e destino, como eles pediram. Ontem, quando fui na papelaria Angel tirar as cópias, o dono, que nunca fala comigo, leu o título e me disse:
_ Bertha. Era a sua mãe. Conheci muito a sua mãe.
Uma onda de saudade me carregou para muito longe, para uma Saquarema que não existe mais, mas dentro de mim existe, agente vai envelhecendo e ficando com saudades.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

FELICIDADE CONQUISTADA

Em sua última coluna para o seu jornal El País, Juan Arias trouxe um tema interessante. Ele diz que a felicidade é algo que temos que conquistar. E eu digo que também a alegria. Felicidade e alegria não dependem de bens materiais. Muitos ricos, muitos milionários, são extremamente infelizes. A felicidade cabe até mesmo dentro do sofrimento. Ela brota em algum recôndito lugar dentro da gente, é uma fonte invisível e quase inaudível. Nossa vocação é o sofrimento. Nascemos chorando e não rindo. Temos uma tendência horrorosa para a auto piedade . A felicidade não quer dizer alienação. Posso saber de todos os horrores do mundo, ficar aniquilada e no entanto, dentro de mim a felicidade existe e brilha porque estou viva e posso fazer alguma coisa por alguém, posso salvar até mesmo uma vida. A vida que tenho para viver é esta, o meu palco, meu camarim. É quase uma escolha. Escolho e conquisto a felicidade a cada dia e este caminho passa pelo auto conhecimento , pela expansão do olhar, pela compaixão, pelo exercício da generosidade e do desprendimento. Pelo exercício diário da poesia que existe em todas as coisas e habita o ar.

terça-feira, 3 de junho de 2014

TRINTA PROFESSORAS

Hoje, às 8.45 recebi 30 professoras e 1 professor para um encontro de leitura aqui em casa pelas mãos do Valdinei da Secretaria de Educação de Saquarema. Eu não queria fazer uma Roda de Leitura, queria algo diferente. Então, por milagre, ao abrir o facebook antes do encontro, dei de cara com um texto do escritor Jura Arruda sobre uma visita que fez à E.M Hermann Muller. Era o que eu precisava.
Foi um encontro de trocas de experiências com leitura, algumas histórias tão emocionantes, que muita gente chorou.
A Professora Angela, da E.M Ozires criou um Clube de Leitura com os alunos, o Cleo, um sucesso absoluto já em seu terceiro ano.Outra escola cujo nome, infelizmente agora não lembro, inspirada no Cleo também criou seu próprio Clube e as escolas se visitam!!!
Combinei com a Secretaria que este seria o nosso grupo até o final do ano, sempre o mesmo . O nosso espaço será um espaço de construção com leitura: de ousadia, liberdade , desobediência , criação.
A Secretaria trouxe pão, manteiga, bolos, sucos. Eu dei o café com leite.
Na hora da despedida, abraços , beijos e um gosto imenso de "que bom!"  "quero mais!" 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

UM GALO

Acordei muito cedo, às 4h. Um galo invisível já preparava a garganta e dentro de pouco começaria a cantar. Fiz o café, um silêncio bom e espesso me acolhia e uma chuva fina lá fora. Fiz arroz e feijão. Li um pouco. Pensei nos muitos afazeres de uma segunda-feira que traz de volta o moinho da minha vida. As viagens são um intervalo entre as notas musicais do nosso cotidiano.
Amanhã recebo as 40 professoras. Quinta-feira o Coral do Maestro Moisés. Domingo falo em Niterói. E depois vou para a minha casinha da montanha para estar com os filhos e os netos. Respiro a primeira luz.O galo canta. A manhã se faz.

domingo, 1 de junho de 2014

O QUE TROUXE DE VENEZA

O som dos sinos, de hora em hora,
partindo o tempo
como as gôndolas partem a água,
e as gaivotas o céu .
Os gritos dos gondoleiros.
Os passos pelas ruas, ruelas, praças,
masculino-feminino-masculino-feminino,
os cheiros que sobem pelas
 paredes descascadas,
os cheiros acumulados pelo tempo,
a babel de linguas, as palavras
estrangeiras
se engancham em nosso corpo,
a língua mais cantada que falada.
As pontes onde tantos se debruçam
para abraçar o sol e as sombras.