terça-feira, 31 de janeiro de 2017

MAPA

Quando o ano começa, não sei nem faço ideia do mapa das minhas viagens, se é que acontecerão.
Existem algumas promessas, como velas brancas no horizonte, mas nenhum visto ou carimbo em meu passaporte feito de ar.
Talvez eu vá . Talvez eu vá para lá, não sei.
Mas ao mesmo tempo em que não sei, em que viajo a bordo dessa nebulosa , vejo tanto beleza no que pode ou não acontecer.
Como se houvesse uma caixa mágica, abro a caixa e não sei o que sairá de dentro, qual mapa será assinalado.
E é sempre a minha poesia que me leva , é a minha lamparina , é a palavra que abre todos os meus caminhos.
Sei que o caminho é sinuoso, nunca em linha reta.

LINHA RETA

Não busque
a linha reta,
o começo,
meio e fim,
a métrica.
Mas sim a desordem
da floresta,
dos fluxos,
a sede,
a falta.
E assim,
com as mãos molhadas
de vida
(porque são secas
as mãos dos mortos),
mergulhe
na voragem
do tempo.

In MIRAGENS, ebook

 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

ALGUMAS HORAS

Algumas horas do dia são especialmente mágicas. As primeiras, é maravilhoso ver amanhecer.
As últimas, é maravilhoso ver o dia se apagar.
O verão é duro, altas temperaturas, a cidade cheia, vizinhos que escutam música a toda altura ou queimam lixo junto com plástico esparramando fumaça tóxica por toda a casa.
Mas cedinho de manhã, tudo é perfeito. Como um presente antes de abrir. Ou um buquê de flores que recebemos sem esperar no dia do aniversário.
E ao entardecer quando as últimas luzes formam um belo acorde e as estrelas e o vento roçam a nossa pele.
Entre uma ponta e outra, a vida, o linho do cotidiano,as notícias, o mundo que entra pela janela. Mas por estes dias estou vivendo entre muitos países, Bulgária, Inglaterra, Viena, Zurique, andando pelas ruas da infância e juventude de Elias Canetti, no começo do século XX. Estou tão apaixonada pelo livro A Língua Absolvida, que não queria terminá-lo, mas aliviada descubro que é uma trilogia e não preciso me entristecer quando acabar. Terei mais dois. E sempre poderei ler de novo, pois adoro reler. Enquanto caminho e vivo com Elias a sua infância, consigo suportar o calor, nesse milagre que é poder viver tantas vidas ao mesmo tempo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

UMA GATA EM JERUSALÉM

Tenho uma leitora brasileira em Jerusalém, Eliane Magal, que sabendo que gosto de gatos, me contou:
Que nunca havia tido um gato, sempre cachorros. Nem gostava de gatos. Mas um dia, um colega do trabalho (trabalhavam num asilo de velhos) lhe pediu para dar uma carona para uma gatinha abandonada para o trabalho. No asilo havia um quintal e os velhos alimentavam alguns gatos.
No carro a gatinha começou a miar e Eliane começou a conversar com ela, uma fala meio cantada, meio canção de ninar. A gatinha se acalmou completamente e no trabalho começou a buscá-la. Minha leitora conta que se apaixonou perdidamente e instantaneamente. O que os franceses chamam de "coup de foudre". E tomou uma decisão ali na hora.Ligou para casa, falou com seu companheiro que daquele momento em diante teriam uma gata. Ele não gostou da ideia mas ela seguiu em frente.
Colocou Bubi (nesse momento já tinha um nome!) dentro da caixa, avisou que iria embora mais cedo e fez o caminho inverso. Colocou Bubi no banco fora da caixa. A gata começou a subir em seus ombros. Eliane pediu a gata que ficasse quieta. E para sua surpresa Bubi ficou quieta.
E para sua surpresa Bubi obedecia , bastava dizer não uma vez que nunca mais Bubi faria aquilo que não queriam.
Bubi saía para dar uma volta no pátio na frente da casa. E sempre que minha leitora ia ao portão chamá-la,  ela vinha.  Já era uma gata adulta.
Mas não se sabia que uma outra gata se achava a dona do pedaço. E que uma guerra já estava sendo travada entre as duas.
Então, numa tarde, Bubi não voltou. Eliane e seu companheiro a encontraram morta. Sua coleirinha destroçada. A outra gata a matou.
Conta minha leitora, que muitos anos e muitos gatos depois, ainda a vê e ouve seu miado e sente seu cheiro.
Bubi ensinou para a minha leitora o tamanho do amor que pode existir entre um humano e um gato.    

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

ELIAS CANETTI

Depois que minha professora de italiano , Celmar dos Reis, foi embora de Saquarema, não consegui mais ninguém para me dar aula de conversação.Mas vejo a RAI e leio. Não tenho com quem falar.
Já li alguns livros em italiano, alguns muito bons. Mas agora estou lendo um livro maravilhoso do Elias Canetti, La Lingua Salvata, onde conta as suas memórias da infância e juventude.
As histórias são belíssimas e sua escrita é limpa  e mexe com nossas emoções.
Para uma criança decifrar o mundo é tarefa gigantesca e Canetti consegue fazer com maestria, que o leitor sinta isso.
Entra muitas histórias escolho uma.
A família vivia numa pequena cidade na Bulgária. Eram judeus sefarditas, de origem espanhola. Os parentes moravam muito perto uns dos outros.
E de repente todos falavam que o mundo iria acabar por causa da aparição de um cometa, visível dentro de alguns dias. Os adultos tinham um ar consternado, de tristeza profunda. Olhavam para o pequeno Elias com pena e tristeza, coitadinho, tão pequeno e já perderia o mundo e a vida. Como o pequeno poderia entender isso?Sabia apenas que algo muito estranho e perigoso estava acontecendo.
E então chegou o cometa. Imenso, iluminando o céu, de uma beleza fulgurante e todos achavam que cairia na Terra. O pequeno Elias foi para fora, junto com a família. Havia já uma multidão. Ninguém prestava atenção na criança, todos com os olhos grudados no céu. Elias comia uma cereja e seu pescoço doía de tanto olhar para cima, tão extasiado, que sem querer engoliu o caroço da cereja. Para ele, o cometa Halley e o gosto das cerejas estariam para sempre interligados.
E o cometa não caiu na Terra e o mundo não acabou.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

FELICIDADE E JULGAMENTO

Hoje me deparo com um post publicado no facebook:

" Vivemos em um mundo onde somos julgados por tudo . Até por tentar ser feliz. "

Leio inúmeros artigos sobre as redes. Estamos nos expondo continuamente. Queremos ser lidos e vistos e aplaudidos. Dividimos nossas vidas com desconhecidos. Antes éramos julgados pela família e por um número muito restrito de conhecidos. Hoje a nossa rede se ampliou de uma maneira que nunca poderíamos imaginar . Acontece que em cada tempo estamos imersos em nosso tempo.Não dá para fugir disso. É bom ou ruim vivermos conectados desta maneira a tantos gente que não conhecemos? Não sei dizer. Nem temos distanciamento ainda para saber. É tudo muito novo. Sei que quando publico um poema inédito imediatamente sou lida por 100 pessoas, no mínimo. E sim, sou julgada. Quando escrevo algo que penso, sim, sou lida e julgada.É um risco.
A felicidade é outra questão complexa. Como definir a felicidade? É alegria, sensação de plenitude, desejos realizados? Como ser feliz neste mundo terrível, que parece às vezes um beco sem saída? Tenho direito de ser feliz enquanto milhares de pessoas vagam por aí fugindo de guerras?
Então, o que se faz para que esse julgamento não nos afete? Para que nossa busca prossiga já que a vida dos humanos é tão breve?  E já que faz parte do humano desde sempre buscar a felicidade, buscar o voo?
Penso num livro do meu escritor espanhol predileto Antonio Muñoz Molina, "Ardor Guerrero". Amo de paixão este livro. O autor está servindo o exército. Para sua sorte sabe escrever à máquina, então pode trabalhar num escritório, o que o salva de milhares de humilhações. Mas sobram algumas. Muitas vezes um sargento terrível entra no escritório, espalha papéis e terror, xinga, acaba com a auto estima dos dois. Ridiculariza cada um deles em suas incapacidades.  E seu amigo, o que trabalha junto com ele, que também é um apaixonado por literatura e consequentemente não cabe no exército, não se abala. Molina quase morre , quando o sargento sai ele está tremendo da cabeça aos pés. Então pergunta ao amigo como é que ele faz para não se deixar aniquilar. O amigo responde :
"_ Te cagas".
Assim, com a maior simplicidade. Você pensa: e daí?  que me importa?
Se não estou fazendo mal a ninguém não vou deixar que isso me afete. A minha consciência será sempre o meu juiz.  Em tempos de rede social temos que ter clareza em nossas buscas.                                                                        

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

DESENHOS E PALAVRAS

Nunca soube desenhar. Não tenho nenhuma imagem minha na infância desenhando e pintando.
Lembro que as aulas de arte no ginásio eram muito difíceis . Nada do que eu fazia dava certo ou era bom.
Mas sempre gostei de ler e escrever.
Então se não posso desenhar ou pintar tenho que fazer isso com palavras.
Mas quando escrevo um poema eu vejo e sinto em mim as imagens . Às vezes tenho que correr para que não se desmanchem. E isso é curioso. Por que sei dizê-las mas não sei desenhá-las?
Antes de olhar uma imagem busco a legenda. Meus olhos sempre serão atraídos pelas palavras.
Claro que gostaria de desenhar, deve ser maravilhoso ter esse dom.
Gosto do conto da Bela Adormecida quando cada fada oferece um dom para a menina que nasceu.
Também acho, como a Natália Ginsbourg no texto O Meu Ofício, do livro As Pequenas Virtudes, que escrever é o meu ofício, é o que sei fazer e escrevo com tudo o que tenho, tanto faz se escrevo para crianças ou adultos. Escrever é o meu melhor dom.
Escrevo com o corpo inteiro, as entranhas, a alma toda, tudo o que já vivi, tudo o que sonho e sonhei, com todos os meus desejos. Escrevo com tudo que já sofri. Mesmo que o poema seja um haicai, ali dentro coloquei meu sopro.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A VOLTA DO BABEL

Babel, nosso gato desapareceu por dois dias.
Babel está conosco há uns oito meses. Chegou caminhando pelo muro, tão pequeno, com fome, com sede.
Nana, nossa gata de uns 8 anos o acolheu. São muito amigos.
Luna, a gata persa de 17 anos, que tem um apartamento no jardim, pois não suporta a Nana, o ignorou solenemente.
Babel é nossa alegria. É um gato borbulhante, amoroso, engraçado.
E subitamente desapareceu por dois dias nos deixando a possibilidade horrenda de que nunca mais voltasse.
Entrei no limbo, virei zumbi. Eu e Juan ficamos muito muito tristes e extenuados com nosso sofrimento.
Então hoje voltou pela manhã restaurando a paz na casa e nos nossos corações.
 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

MISTERIAR

Recebo uma crônica maravilhosa do escritor e amigo Flávio Carneiro. Me apaixonei, então divido com vocês .

                Se você é um cronista sem ideias, tenha filhos.
Claro, há formas mais práticas, e mais baratas, de encontrar assunto para uma crônica, mas essa é infalível.
                Me lembro do poema de Oswald de Andrade:
“Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi”
                Minhas duas filhas, tão pequenas ainda, me dão lições diárias de poesia. Recentemente escrevi aqui sobre a expressão que Luísa, a caçula, deixou como mensagem de voz no meu celular: de saudade com você.
                Hoje é a vez da Maria, que do alto dos seus seis anos me apareceu dia desses com o mais novo verbo da língua portuguesa. O verbo misteriar.
                Muito recente, o vocábulo ainda não entrou no dicionário. Mas deve constar em breve, talvez com a seguinte definição:
                Misteriar. [Do grego Mystérion, pelo latim Mysteriu, do marianês Misteriar e pronto] V. t.d. 1. Decifrar, desvendar um mistério. “Pai, você jamais vai misteriar isso, pode esquecer.” 2.  Descobrir onde alguém (uma filha) se esconde, ignorando os pés de fora, atrás da cortina.  “Pai, você misteriou muito rápido, assim não vale.”
Misteriar não é, portanto, como parece à primeira vista, criar, inventar algum mistério. Foi esse, aliás, o sentido que atribuí ao novo verbo quando o ouvi pela primeira vez. Não. Seria óbvio demais. Misteriar é justamente o contrário!
                Sherlock Holmes era um ótimo misteriador. Fera na arte de misteriar, o Sherlock. Poirot misteriava usando sua “massa cinzenta”, como gostava de dizer. Nos Estados Unidos da década de 30, época de Al Capone e companhia, o durão Sam Spade misteriava mais com a intuição do que com o cérebro (misteriava com os punhos também, se necessário).
                A verdadeira arte do detetive é a arte de misteriar. Se o fizer bem, ganha a vida. Se errar, corre o risco de não voltar para casa.
                Os antigos navegadores misteriavam rotas guiando-se pelas estrelas. Os modernos preferem o céu virtual. Uns e outros navegam por mares desconhecidos, misteriando conforme seus dotes, mestres, limites.
                Todo leitor é, antes de mais nada, um misteriador. Seguindo pistas, signos que insistem em mudar de lugar a cada releitura, o leitor vai misteriando um poema, um romance, muitas vezes sem se dar conta. A esse misteriar, que é sempre único, e que pode ser mais ou menos difícil, divertido, doloroso, o leitor chama de prazer. E, se é de fato um leitor, não pode viver sem ele.
                Crianças misteriam livros de uma forma muito particular. Podem segurá-los de cabeça para baixo, de trás para frente, sem a mínima noção do que vai escrito ali. Mas nisso estão misteriando, você pode ter certeza. E quando aprendem a ler, muitas vezes perdem a magia de misteriar um objeto sem saber o que de mais valioso (supõe-se) há dentro dele, misteriando apenas pelo olhar, pelo tato, se aproximando misteriosamente daquele objeto de papel que os adultos guardam na estante.
                Há misteriadores muito inteligentes, com sólida formação no ofício. Alguns são tão bons que deixam discípulos. Existem aqueles que estudam a vida inteira, dedicando décadas e décadas de existência a perseguir um único mistério, que nem sempre conseguem misteriar. Há misteriadores de todo tipo, em todas as áreas. Afinal, parafraseando Drummond, o que pode uma criatura, entre outras criaturas, senão misteriar?
Nenhum misteriador, no entanto, por mais esperto, talentoso ou genial que seja, vai alcançar o que se passa de fato na cabeça de uma menina de seis anos ao criar, como quem não quer nada, uma palavra nova, feita de pedaços de palavras antigas, tão fresca e saborosa como uma frutinha que não existe. 

Flávio Carneiro




segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

VISITAS DE LEITORES

Hoje recebo a visita de Edna Apollinario, uma leitora que não conheço. Ela vem de Mato Grosso.É muito longe.
Como descrever essa sensação?
Alguém que você não conhece leu algum poema que você escreveu, esse poema entrou na corrente sanguínea dessa pessoa e ela precisa te conhecer.
Lembro quando Juan me convidou para irmos juntos fazer a entrevista em Lanzarote com Saramago. Eu havia lido alguns livros dele e tinha medo deste encontro.
Lembro quando conheci o Gullar. Não queria conhecê-lo. Era meu poeta amado. Tinha muito medo.
Conheci Vargas Llosa, sou muito fã. Tomamos um café da manhã juntos e fiquei com tanta vergonha. Não tive a sorte de conhecer o Gabo. acho que me esconderia dentro do armário. Mas conheci a Clarice Lispector. Tinha muito medo dela, Tremia de medo. Eu era muito jovem, uma menina. Quem teve a sorte de ser queimado pelo olhar da Clarice nunca será a mesma pessoa. Cada linha que Clarice escreveu queimará como fogo.
Espero nunca decepcionar alguém quem vier até a minha casa para me conhecer.  

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

SOBRE GATOS

Hoje uma leitora que não conheço me contou uma história linda.
Conheceu uma senhora de mais de 80 anos na rua. A senhora lhe contou que escrevia, apesar de ter estudado muito pouco.
E lhe mostrou uma história.  Uma história de gatos. Disse que seu maior sonho seria publicá-la.
Então ela resolveu organizar uma antologia de contos e crônicas sobre gatos e buscar recursos para publicar.
E me fez o convite: que eu escrevesse alguma coisa sobre o Babel, meu gato.
Eu já havia escrito um conto lindo, nos anos 90, sobre a Babel, gata. Babel foi embora para o planeta dos gatos e hoje temos o Babel em versão masculina.
Pois bem, agora tenho esse desafio.
Gosto muito de desafios. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

VISCONDE DE MAUÁ

Venho para Mauá desde 1974. Acampei aqui a primeira vez quando meu filho menor tinha seis meses. Foi amor fulminante.
Compramos nossa terra quando tudo por aqui era pasto e a terra não valia nada.
Aos poucos reflorestamos. Aos poucos os passarinhos e o vento eram nossos parceiros no reflorestamento. Visconde de Mauá virou APA. E os pastos viraram mata. Morei aqui em vários períodos da minha vida. Quando os meninos eram pequenos vivemos aqui por três anos. Depois quando me separei morei aqui por mais um ano e meio. Mas sempre passei largos períodos aqui.
Então já são mais de 40 anos a minha convivência com este lugar.
Sinto que aqui se encontra a fonte do meu ser. A fonte da minha poesia.
Minha casinha fica na beirada da mata. E eu simplesmente viro árvore. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

INDIGNAI-VOS

O que estamos assistindo no Brasil pede a leitura outra vez do pequeno livro de Stéphane Hessesl, Indignez Vous, Indignai-Vos. Um chamamento , um pedido para que nos indignemos diante dos fatos, dos absurdos que o Estado comete, do abuso de poder, da falência da dignidade.
É indigno que pessoas que estão em altos cargos confundam vida pública com vida privada. Que gastem rios de dinheiro com aviões privados e helicópteros, quando a população não dispõe de uma rede decente de transporte público.
A indignação não deve escolher partidos. A mesma decência deve valer para todos. A palavra chave para quem está no poder deve ser austeridade, pois parcelas imensas da população estão sem receber seus salários, então qualquer abuso é indecente, é uma afronta.
Política não é jogo de futebol quando se torce para este ou aquele time. Política é a orquestração de uma sociedade para o seu bem estar. Quem quer que esteja no poder, de qualquer partido, deve ser vigiado, nada justifica enriquecimento ilícito, roubos, privilégios, mentiras. Somos nós quem pagamos seus salários .
Os fins não justificam os meios. E se existe uma lei que concede privilégios incompatíveis com a dignidade, melhor ignorar a lei.
O pequeno livro manifesto levou milhares de pessoas para as ruas na Europa. É necessária a sua releitura. É urgente.

"O livro “Indignai-vos” faz parte da coleção “Ceux qui marchent contre le vent” (Os que andam contra o vento), da editora Leya e é leitura recomendada para os estudantes de Direitos Humanos. Quem o escreve é  Stéphane Hessel, militante da resistência francesa, diplomata e ferrenho defensor dos direitos humanos. Detentor de uma biografia riquíssima, Hessel, nascido em Berlim, em 1917,  falecido, em fevereiro de 2013 foi um dos redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).Em seu manifesto, exalta a indignação como motivo para a resistência, repudia o medo e o egoísmo, critica a indiferença em relação aos excluídos, especialmente aos palestinos, em Gaza, o abismo entre as classes e conclama a todos que, de modo pacífico, em qualquer local do planeta, se indigne e reaja frente a alguma injustiça,  apenas pela singela condição de sermos humanos."

Resenha de Thaís S. Ruiz Bichler

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

MÁQUINA DO TEMPO

Vou relendo devagarinho as Memórias de Adriano e para meu deleite releio em francês.
O livro é de uma beleza tão fulminante que realmente a leitora jovem que eu era não poderia alcançar.
Leio devagarinho mesmo pro livro durar.
Adriano foi o Imperador que buscava a paz.
Como é difícil  paz, essa palavra tão pequena e grande.
Tenho um livro que se chama Qual a Palavra? É um longo poema sobre a palavra paz. Só isso. E acho bonito.
Pois, bem, eu estava em Sevilha em 1994 para receber meu certificado do I..B.B.Y e conheci uma editora israelense. Resolvi traduzir meu livro para que ela pudesse ler. Ela sabia francês.Passei para o francês e Lino Albergaria corrigiu, ele havia estudado em Paris. A editora levou meu texto para Israel.
Muito tempo depois recebi uma carta sua. Ela me dizia que meu livro era lindo mas que em Israel já existiam muitos livros sobre a paz.
Uma das guerras que Adriano fez foi contra os judeus. Ele não podia entender aquele povo obstinado em ter um único Deus quando Roma oferecia construir os mais belos templos para os mais variados Deuses..
Mas enfim, nada mais difícil do que a paz hoje no mundo. Sempre. Desde sempre.
O que há de errado com a raça humana? Capaz de chegar até as mais altas expressões da beleza e capaz de destruir com tanta violência o seu semelhante. Este é o maior dos enigmas..