terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

PÉ NA ESTRADA

Quantas vezes já escrevi aqui que parto para a montanha!
Tenho saudades de tudo, Faz um mês que não vou. Saudades de um pouco de frio, de chuva, de cheiro de mato, dos netos, dos filhos, da irmã.
Saudades de percorrer mil vezes o caminho que liga a minha casa ao restaurante do meu filho.
Dessa vez tenho uma novidade: eu e minha irmã faremos aula de conversação em francês com uma francesa. Poucas coisas me deixam mais feliz do que ter com quem falar em francês, tão grande é o meu amor pela língua.
Escreverei quando puder, lá na montanha. ou melhor, quando a internet deixar.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

PATRÍCIA

Patricia de Arias, minha nora, ganhou Menção Honrosa no Prêmio de  Bolonha. São apenas duas menções honrosas para livros de todos os países, de todas as línguas.
Seu belíssimo livro O Caminho de Marwan, que traduzi e não foi publicado no Brasil, mas sim por uma editora chilena, fala com extrema delicadeza sobre a tragédia dos deslocados, de um menino que atravessa sozinho terras e desertos...
O livro é muito necessário. Toca o coração de qualquer um .
Patricia escreve divinamente. com música e imagens. Que bom que sou sua fada madrinha!!!        .                                                                                          

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

MAPA DO TESOURO

Como um mapa do tesouro , assim são meus amigos espalhados pelo Brasil.
Às vezes algum me escreve de tão longe ou me telefona e é como ouvir o som do arco íris.
Hoje meu amigo Cristiano Mota Mendes me escreveu:
"As boas coisas chegam de mansinho, sem alarde. Vagalumes é que acendem a noite. E trazem alegria."
Entendo que as crianças pulem ou gritem de alegria. No minuto em que li isso, ouvi sua voz, eu o vi e ao mesmo tempo me vi em Mauá, na varanda da minha casa na montanha, na noite escura, dentro da mata. Há um concerto de vagalumes, uma sinfonia silenciosa de luzes e a beleza é tão intensa que se poderia parar de respirar.
E sim, algumas coisas boas chegam de mansinho, sem fazer barulho, mas a gente tem que abrir o coração para recebê-las.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

TRABALHO NOVO

Começo um novo livro de poemas para criança.
Desde que a Manati fechou com um original pronto para publicar, desde que a Rovelle também com um original em andamento parou de publicar, desde que a Lê, com um original pronto para a gráfica não conseguiu publicar o livro, pela primeira vez desde que comecei a escrever para criança não tive mais vontade de escrever. Fiz o e book Livros e Leitores, um breve relato da minha vida de leitora e poeta, fiz o e book Delírios e já tenho outra coletânea pronta que pode virar um espetáculo de dança e ainda outra série de poemas em andamento. Para adultos.
Então subitamente passou por dentro de mim um desejo agudo de alegria e tive uma linda ideia. Os poemas vão saindo ensolarados e alegres, cheios de esperança, neste momento do mundo em que tudo é incompreensível e a barbárie corre solta.
Os poemas vão saindo como pássaros da cartola rumo ao sol.
É um milagre acontecendo dentro de mim. Um novo livro infantil.
Conseguir uma editora para ele é uma outra história.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

RITO DE PASSAGEM

A vida é feita de rituais de passagem. Alguns dias e fatos nos marcam profundamente.
Hoje é o primeiro dia de aula da minha neta Gabi, de três anos, sua primeira escola.
Ela tem uma vida diferente, vive no campo, mora dentro de um restaurante. Filha de pais artistas, nasceu numa família onde todos somos artistas e os valores que recebe diariamente não são os de uma sociedade consumista. Antes de tudo a alegria de se fazer o que se ama, depois a gente vê como paga as contas. Já tive períodos duríssimos, quando me separei sem nenhuma pensão, nenhum ganho fixo e em nenhum momento duvidei de que o meu caminho era esse: ter tempo para ler e escrever. Como diz uma amiga, Teresa Neves, há momentos de manteiga e outros de margarina. Outra amiga, Juliana Sperandeo diz: é o que temos para hoje.
Não há pior castigo do que se fazer o que não se gosta ou escolher um caminho só pensando nos ganhos. E morrer de trabalhar para ganhar, acumular.
A minha poesia me deu tudo o que tenho e sou fiel a ela.  Escrever poemas, como dizia o Manoel de Barros, um inutensílio, é a razão da minha vida.  Para que mesmo serve um poema?
A vida é muito breve. Não dá para desperdiçar nem um minuto sem amor.
E são esses os valores que cada dia a Gabi recebe em doses fartas.
Morar no campo e dentro de um restaurante com os sabores e aromas permeando a casa, é o maior tesouro que poderia ter recebido da vida.
Assim como meu neto Luis mora dentro de uma escola de música e essa já é uma outra belíssima história. Todos os dias caminha sobre sete notas musicais, com um pai músico e mãe poeta tecelã de sonhos.
E a partir de hoje Gabi construirá outros afetos dentro de uma escola rural.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

TOLERÂNCIA

Hoje falava de tolerância.Porque cedinho de manhã fui ao mar levar flores para Iemanjá. Não havia ninguém na praia imensa, quilômetros de areia branca, só eu e as flores e o mar. Acontece que sou judia. Meus pais vieram da Polônia e o judaísmo está profundamente enraizado em mim, raízes fortes e profundas, no que para mim o judaísmo tem de melhor: o humanismo (nada a ver, por favor, com o governo de Israel!), os livros, a comida. As festas religiosas na casa da minha avó Faiga eram o ponto alto da minha infância. Mas ofereço flores a Iemanjá e me sinto forte ao fazer isso. Viemos todos da África , o homem ancestral veio de lá. O primeiro casal.
Me sinto também africana. Quando estive em Abidjan me esquecia que era branca.
Quando passo numa Igreja, às vezes entro e me sento e faço um pedido, como faço meditação todos os dias. Entraria sem sustos numa mesquita. Não deixo nunca de ser judia.
Mas quando o judaísmo, o cristianismo e o islamismo se tornam intolerantes, sabemos o que acontece.Quando a sociedade se torna intolerante sabemos o que acontece.
Jesus era  judeu e o Islã nasceu de Ismael, o filho da escrava Agar que se deitou com Abrão.
Mas tolerância não é a palavra conveniente, porque tolerar é aguentar com dificuldade. E não é isso que quero dizer.
O que quero dizer é que é possível aceitar o outro e sua diferença. O outro e suas igrejas, o outro e suas convicções políticas. É nessa aceitação que o diálogo se faz. Desde que não se coloque a morte e o muro no meio.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

DISTÂNCIA

Às vezes dá uma saudade. Uma saudade de tudo. De pai, de mãe, tio, tia,de amigos e filhos e netos e irmã, tanta gente que a gente ama vivendo longe . Alguns nas estrelas.  Há uma fronteira para a saudade. A gente se distrai construindo as horas do dia, escrevendo, lendo, cozinhando, pensando e está tudo quieto do lado de dentro, mas de repente algo acontece. Um perfume, uma janela que bate com o vento, o azul de uma flor, uma linha que se lê ou um poema e pronto, sem nem reparar passamos a fronteira e a saudade vem com uma onda e submergimos até sairmos do outro lado.

DISTÂNCIA

A distância
não se mede
no mapa
por compasso,
em linha reta,
mas sim
por voo de pássaro,
abelha,
ou pela quantidade
de chuva ou luz
que inunda o espaço.
A distância se mede
com o número
de nós com que
se amarra a saudade,
se costura a saudade
na pele.

In DELÍRIOS, ebook.