sexta-feira, 20 de outubro de 2017

FEIJÃO COM ARROZ

Mesmo com todas as nuvens sombrias que cobrem o país, acho que não iria embora se pudesse.
Há algo no Brasil que amo e acho insubstituível: a espontaneidade e comunicação entre as pessoas.
Apesar de todo o clima negativo, isso ainda perdura.
As pessoas falam umas com as outras. As pessoas se tocam, se abraçam.
Não saberia viver sem isso.
Eu sou da primeira geração da minha família que nasceu no Brasil. Mas me sinto brasileira até a medula. O que é ser brasileira é algo bem difícil de explicar. O que nos une além da língua?
Não sei .
Comer tudo misturado no mesmo prato?

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

QUINDIM

Dar de presente para uma criança que não poderia ter, a assinatura de um Clube de Leitura, é o melhor investimento que se pode fazer.
Escolhi o Quindim por considerá-lo execpcional na escolha dos títulos, no carinho com que a criança é tratada.
Escolhi uma criança e aposto no seu futuro de grande leitor. Quero que ele tenha as mesmas oportunidades que meu neto, que também tem uma assinatura do Quindim.
Em nossa família até os gatos são leitores.
E o nosso leitor adotado promete!

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

ÁFRICA

Na década de 80 li o livro Ségou, de Maryse Condé.
Uma aula magistral sobre como o Islamismo entrou na África. Matando, destruindo, aniquilando as religiões ancestrais.
Ou a conversão ou a morte.
Como fez o Cristianismo .
A África tem cicatrizes profundas por essa separação brutal de suas raízes.
É impressionante o horror que o fundamentalismo é capaz de semear. Deveríamos lutar com todas as forças contra o fundamentalismo que nesse momento assola o Brasil.
Nenhuma religião é dona de nenhum Deus.
Nenhuma religião tem o direito de sentir-se superior a qualquer outra. Nenhuma religião pode ditar as leis que regem um país.
O sagrado, o divino, é assunto particular e íntimo de cada um.
Se somos todos mortais e nenhum Deus pode nos salvar da nossa terrivel condição humana.
Faz muito tempo assistimos a destruição lenta de um Continente inteiro, que tem que lidar com a doença, a miséria, a fome, o terrorismo.
Faz tempo assistimos os naufrágios, o mar está cheio de gente que, arriscando a vida, tenta chegar a um destino melhor.
Mas parece que a África não interessa mais.
Tudo já foi roubado.
Então não causa espanto que a mídia não dê importância aos mortos africanos.
A África, berço da humanidade . Abandonada pelos donos do mundo.
Sempre me senti africana e quando estive em Abidjan eu me esquecia que era branca.
Pude constatar a delicadeza, a sutileza, o requinte da sua gente.
Há que chorar pela África . Já que somos impotentes.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

VÍDEOS

Muitas escolas, quando estão fazendo algum projeto com meus livros, me pedem para gravar um vídeo. Mas hoje recebi um pedido diferente. A Professora Joceli Costa, de Aracruz, queria que eu falasse sobre tecnologia e arte para uma Mostra Cultural da sua escola.
Não sou teórica e nem especialista em nada. Sou poeta e vou escrevendo a vida, o que vejo, o que me toca, o que vai acontecendo, o que penso.
Então só posso falar do que sei.
Sei que a minha relação com o leitor mudou depois do advento da internet e das redes sociais.
Escrevo meus poemas no celular, já que escrevo muito e o celular está sempre por perto. Se coloco um poema na rede social, em segundos tenho a resposta. Antes eu poderia nunca saber. A rede social, o site, funcionam como um espaço físico onde as pessoas me encontram. Onde os leitores chegam bem perto de mim. Uma espécie de casa em outra dimensão.
As escolas marcam um encontro comigo através do MSN para o projeto Café, Pão e Texto.
Com o whatsup tenho a família e os amigos distantes na palma da mão. Estamos juntos em tempo real.
Qualquer informação que se precise também está a um clique.
Publico livros digitais com acesso gratuito no meu site.
Posso acessar qualquer museu do mundo a qualquer instante.
Compro meus livros sem sair de casa, já que aqui em Saquarema não existe livraria.
As opiniões circulam através das redes como ondas que penetram várias camadas sociais.
A arte circula como nunca antes e as polêmicas em relação ao que é arte e não é arte também.
Enfim, o conceito de espaço- tempo mudou radicalmente com a tecnologia.
Deixo o assunto na mão de vocês, meu leitores.
Lembro que Machado de Assis e Diderot já conversavam com seus leitores em seus livros, trazendo o leitor para a cena.
Imagina se tivessem facebook.


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

SEGUNDA-FEIRA

Ao contrário de quase todo mundo, eu adoro as segundas-feiras. Parece que o tempo é uma manivela e que ao girá-la, tanta coisa se põe em movimento.
A minha vida é feita de acontecimentos desenhados no ar. Nunca sei se ocorrerão de verdade.
Uma viagem aqui e outra ali. Uma palestra, um lançamento, um livro novo. Mas há um momento em que são meras possibilidades. Acontecerão mesmo? Dirão os anjos que sim? Ou feito bolha de sabão com um arco-íris dentro terão sido apenas a imagem do que poderia ter sido?
Aos domingos tenho uma flor invisível atrás da orelha que se chama melancolia. Leio bem cedo o jornal inteiro e acho que o mundo vai acabar.
Mas aí chega a segunda- feira e acho que não, que não vai acabar, que muito pelo contrário, o amor faz milagres e que cada um nos seus afazeres dando de si o melhor possível, todos sobreviveremos e nos salvaremos do pior, nos salvaremos dos que só acreditam em armas e grades e dinheiro. Na segunda-feira acordo cheia de promessas outra vez.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

PASSEIO DE DOMINGO

Nosso programa de domingo é simples e magnífico.
Caminhamos, eu e Juan Arias, pela orla até a Padaria da Ponte. O mar está calmo. Parece um lago. A temperatura foi fabricada no paraíso. O vento é uma caricia e o azul nos envolve. São dois quilômetros de caminhada e nos cruzamos com um homem e dois cachorros. Apenas.
Na padaria já nos conhecem. Já sabem como gosto do meu pingado: no copo e muito quente. Ao chegar está tudo vazio, mas pouco a pouco as pessoas vão chegando. Familias. Encontramos sempre uma jovem mãe e seus dois filhos, uma menina de uns 8 anos e um bebê de um ano e algo, que come seu pão de queijo concentradíssimo.
Saquarema não tem cinemas, livrarias, exposições, mas nos dá lições de humanidade todos os dias. Caminhando todos se dão bom dia. Ainda existe delicadeza entre as pessoas.
Então eu mergulho profundamente na natureza onde estou inserida, mar, lagoa, montanha e penso. Gosto de pensar. E leio. Varios livros ao mesmo tempo. E escrevo poemas.
Penso, por exemplo, que há um fenômeno hoje no Brasil que deve ser estudado. 60% dos que declaram seu voto ao Bolsonaro são jovens.
Como ocorre essa identificação? Também na França a Marine Le Pen teve muito apoio dos jovens. Um fenômeno mundial?
O que faz um jovem que deveria encarnar a vanguarda apoiar a retaguarda ? Será que acha que a retaguarda é vanguarda?
E por que os artistas foram pegos como bodes expiatórios?
De quem é a responsabilidade por esses jovens apoiarem politicos que representam o que há de pior no ser humano?
Se os jovens apoiam o lixo humano devo me horrorizar.
Li muitos livros sobre Mussolini para saber do que estou falando. Lembro de um romance especialmente, não me lembro o nome do autor: Historia de Pobres Amantes. O fascismo veio chegando devagarinho, como um vento maligno. Havia essa identificação dos jovens com a brutalidade, a força.
Não vejo outro antidoto a não ser a Educação. E por favor, aulas de Historia através da litetatura.

sábado, 7 de outubro de 2017

Duas Casas

Vem aí meu livro Duas Casas, com as maravilhosas pinturas da Elvira Vigna.
Tenho certeza de que é o seu mais belo trabalho da nossa longa parceria de tantos livros.
Elvira não viu o livro pronto e me emociona pensar no quanto ficaria feliz.
Falamos muitas vezes sobre o livro .
Faz muito tempo que não consigo publicar nenhum livro novo.
Mas o Duas Casas é tão lindo que vale o tempo da espera.
A Lê Editora, a Lourdinha Mendes, sempre fez meus livros com um carinho ímpar. Que nosso livro lhe traga muitas alegrias. O livro entra na gráfica e logo estará nas mãos dos leitores.
Estou muito emocionada. Elvira está viva, bem na minha frente. Estamos tomando um café e filosofando sobre a vida, que era o que mais gostávamos de fazer.
Ela, que foi a primeira pessoa a me dizer em 1999:
- Rose, você não sabe o valor que tem a tua poesia.
Estamos juntas outra vez.