sábado, 4 de fevereiro de 2012

SAFO

Safo, a poeta grega que viveu no século VII A.C e de quem só nos chegam fragmentos de segunda mão, me seduziu quando eu tinha 14 anos com um poema. Uma flechada certeira no coração. Foi na aula de História Antiga, no Instituto Lafayette. Meu professor era adorável e para agradá-lo, para fazer bonito, decidí comprar um livro de poesia grega. O fragmento, que ficou tatuado do lado de dentro da minha pele , era assim:

Meia-noite.
A lua já se pôs
as pleiades também.
Foge o tempo
e estou tão sozinha.

Que uma mulher 2.700 anos antes de mim falasse o que eu sentia era uma revelação quase religiosa. Eu a a sentia viva, respirando ao meu lado. E me apaixonei por ela. Ganhei o livro Eros, Tecelão de Mitos , de Joaquim Brasil Fontes em 1990 em Campinas. E ao lhe contar que o fragmento acima me habitava desde a adolescência, ele me falou o poema em grego num dos momentos mais mágicos da minha vida. E me contou que ao viver tão intensamente com Safo na sua exaustiva pesquisa, os deuses lhe cobraram um preço: havia perdido a audição de um ouvido.

...................
aqui, rumoreja a água fria, entre ramos
de macieiras; recobre este lugar uma sombra
de rosas e, do alto das folhas trêmulas,
flui um sono profundo;

in Eros, Tecelão de Mitos, A poesia de Safo de Lesbos,Joaquim Brasil Fontes, Estação Liberdade.

Poetas não morrem, apenas dormem um sono profundo, enrolados em camadas de tempo.

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