quarta-feira, 13 de abril de 2016

AS PALAVRAS

Meu ofício é afiar e cortar palavras. O meu destino é a poesia, faça chuva ou sol, tristeza ou felicidade.
Hoje fala por mim o poeta Eugénio Andrade  .

AS PALAVRAS

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
outras,
orvalho apenas.

Secretas, vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio Andrade

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