segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

RITO DE PASSAGEM

A vida é feita de rituais de passagem. Alguns dias e fatos nos marcam profundamente.
Hoje é o primeiro dia de aula da minha neta Gabi, de três anos, sua primeira escola.
Ela tem uma vida diferente, vive no campo, mora dentro de um restaurante. Filha de pais artistas, nasceu numa família onde todos somos artistas e os valores que recebe diariamente não são os de uma sociedade consumista. Antes de tudo a alegria de se fazer o que se ama, depois a gente vê como paga as contas. Já tive períodos duríssimos, quando me separei sem nenhuma pensão, nenhum ganho fixo e em nenhum momento duvidei de que o meu caminho era esse: ter tempo para ler e escrever. Como diz uma amiga, Teresa Neves, há momentos de manteiga e outros de margarina. Outra amiga, Juliana Sperandeo diz: é o que temos para hoje.
Não há pior castigo do que se fazer o que não se gosta ou escolher um caminho só pensando nos ganhos. E morrer de trabalhar para ganhar, acumular.
A minha poesia me deu tudo o que tenho e sou fiel a ela.  Escrever poemas, como dizia o Manoel de Barros, um inutensílio, é a razão da minha vida.  Para que mesmo serve um poema?
A vida é muito breve. Não dá para desperdiçar nem um minuto sem amor.
E são esses os valores que cada dia a Gabi recebe em doses fartas.
Morar no campo e dentro de um restaurante com os sabores e aromas permeando a casa, é o maior tesouro que poderia ter recebido da vida.
Assim como meu neto Luis mora dentro de uma escola de música e essa já é uma outra belíssima história. Todos os dias caminha sobre sete notas musicais, com um pai músico e mãe poeta tecelã de sonhos.
E a partir de hoje Gabi construirá outros afetos dentro de uma escola rural.

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