terça-feira, 29 de maio de 2018

TRIBO

Hoje cozinho no fogão de lenha, aqui na Casa Amarela. O fogo sempre me acalma. Ele crepita e me diz o quanto sou antiga nessa genealogia de humanos que desde o tempo mais arcaico acenderam o fogo para cozinhar, para se proteger.
Aqui em Saquarema o fogão de lenha fica na varanda. Estou de costas para o mar, mas a sua música se enreda com o fogo.
Acendo o fogo para enganar o coração com beleza, já que parece que engoli pedaços de chumbo derretido.
Para onde vamos como país? Essa é uma pergunta muito difícil. É quase o enigma da esfinge. E apavorante.
Mas como vivo dentro da natureza, e para o mar e o fogo e o vento (que faz a palmeira cantar nesse instante e faz algumas madeiras da casa estalarem), nada disso faz diferença.
TRIBO
Há uma tribo que sonha
e nunca esqueceu as asas.
E acredita em coisas simples,
sol, pão, chuva, beijo, lua.
E mesmo quando o sangue
tinge as tardes e os rios
e as palavras se transformam
em veneno, pedras e facas,
alimenta as sementes da esperança
com lagrimas e pequenos gestos limpos
para que virem árvore.
In Rios da Alegria, Ed. Moderna

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