terça-feira, 10 de novembro de 2009

DA MONTANHA PARA O MAR

Como um rio que tivesse corrido da montanha para o mar, aqui estou. A casa me abraça e envolve com o cheiro de algas, o oceano ruge, pois o tempo está virando. Em Itatiaia, no encontro que tive com os professores, me perguntaram como era a minha relação com o mar, como o mar entrou na minha poesia depois de tantos anos na montanha. Não foi uma transposição fácil, pois a minha alma é do mato, me aninho em tudo o que é verde, e basta uma cabana com uma fumacinha saindo pela chaminé bem no alto da montanha, cercada de árvores, para que eu enlouqueça. O mar tem suas exigências, quando deixamos que ele entre em nosso sangue. Não falo em praia, bloqueador solar, espreguiçadeira. nada disso. Falo do mar como companheiro de cotidiano e poesia, companheiro de vida. Às vezes ele me acalma, outras vezes me deixa agitada. O mar está sempre falando de partidas, terras distantes, tesouros escondidos. Ter o horizonte sempre diante dos olhos é magnífico e meus poemas estão sempre encharcados, úmidos. Já me sinto um ser marinho. Então hoje metade de mim é mar, âncoras levantadas, o sudoeste lavando a casa.

3 comentários:

  1. Belíssimo texto, como tudo o que a mão maternalmente abençoada de Roseana Murray toca! Eu vim das montanhas e tornei-me um ser totalmente marítimo, tangido pelo ritmo do mar. Já não tenho saudades das Alterosas, mas, apenas embarco para outras montanhas e mares, morro de saudades do mar saquaremense, esse mar absoluto e único. Não vejo Roseana metade de nada, pois é inteira em tudo o que vive. Sua vida é plena, arejada pela montanha e bafejada pela maresia.

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  2. Ei amigão, obrigada, você é o máximo!!!!

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  3. Olá Profª

    o horizonte do qual a sra fala, me parece ser aquele das possibilidades. O horizonte nos escapa mas na tentativa de alcançá-lo descobrimos que podemos mais!!É onde se escondem os tesouros perdidos,terras distantes, reminiscências. Reminiscências que são embaladas por sua palavra. Uma palavra instauradora de sentido!

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