sábado, 14 de março de 2015

UM CAMINHO NO OUTONO

Levo comigo um pequeno livro do Kafka , uma espécie de diário, onde anotava seus pensamentos,indagações, discussões sobre o pecado, o bem e o mal. Muitas vezes são páginas lindíssimas, fazem o coração disparar. Às vezes uma pequena frase e me desprendo de mim e voo. "Cuadernos en Octavo", não sei se existe em português. 
No dia 6 de novembro de 1917 ele escreve:" Como um caminho no outono: acabam de limpá-lo e já está outra vez coberto de folhas secas". Logo em seguida escreve: " Uma jaula foi em busca de um pássaro."
Estas duas frases me inquietam. Porque a vida é este caminho coberto de folhas secas que uma e outra e outra vez temos que limpar, nas tarefas miúdas do cotidiano e só quando a vida corre perigo, vemos a beleza deste gesto que se repete desde o começo do mundo. Além disso, um caminho coberto de folhas secas no outono enche meus olhos de dourado e a sensação dos pés que fazem música pisando nas folhas que estalam,  fazem  meu corpo se fundir com a terra.
E "uma jaula foi em busca de um pássaro", além de uma pintura me fala sobre o nosso desejo de conforto,m de aprisionamento, de um vestir-se de clichês, frases feitas, porque a verdadeira liberdade dói. Porque o céu é demasiadamente imenso e quando livres temos a perfeita dimensão da nossa insignificância. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário