domingo, 9 de outubro de 2016

COMO A ÁGUA QUE CORRE

A CASA AMARELA

Essa casa tem cheiro
de algas,
de maré cheia,
de lua entornada.
Essa casa
é uma senhora
que me deixa
dormir
em suas madeiras,
na memória
dos dias acumulados.
Essa casa
tem gavetas
cheias de sol,
janelas e portas
abertas,
por onde entram
borboletas e amigos
cheios de sinos.
Essa casa me habita.

Os amigos vão chegando e enchendo a varanda, transformando o ar em alegria.
De dois em dois meses nos reunimos, o Clube de Leitura da Casa Amarela, para celebrar a literatura, que nos ajuda a viver, para celebrar a amizade e a vida.
Às vezes vem alguém de longe, como o Maximiniano, que veio de Salvador.
Alguns chegam do Rio, como Cristiano e Ana. André e Christiane moram em Niterói.
O livro Como a Água que Corre, da Marguerite Yourcenar, é uma obra prima. São três contos, sendo que o segundo, longo, é uma novela.
O primeiro conto, Ana Soror, fala de uma paixão imensa entre dois irmãos. Amor, desejo, interdição. Em pleno século XVI, numa atmosfera sufocante, de uma religiosidade doentia, que beira a alucinação, Marguerite constrói com poesia e uma maestria absoluta, esse belo , belíssimo relato, de onde saímos transtornados.Pouco a pouco, cada um trazendo a sua parte de leitura, como num mosaico, o conto vai se ampliando, crescendo, transbordando e muitas pessoas disseram que iriam reler o conto depois da discussão.
Um Homem Obscuro, nos traz um dos personagens mais belos da literatura, Natanael. Um homem do século XVII, absolutamente singular, pois a sua mente é atemporal e sua sensibilidade oceânica. Natanael nos contamina com sua bondade , simplicidade e beleza. Vivemos junto com ele os seus amores, a sua maneira de se relacionar com as pessoas, os animais, a sua aceitação sem preconceitos de tudo o que é humano.  Obscuro por excesso de luz?
Da relação de amor de Natanael com a prostituta Saraí nascerá Lázaro, com quem Natanael não conviveu. Mas Marguerite nos oferece a dádiva desse desdobramento de Natanael em Lázaro, no terceiro conto,  e então voamos , e não existe mais nenhuma fronteira entre a realidade e o sonho.
Lázaro é ator, faz papéis femininos, é um menino que vai se transmutando, de personagem em personagem, ele é toda a humanidade, e a morte puxa a carroça, a vida segue, como a água que corre.
Para terminar lemos belíssimos poemas de Murilo Mendes.
O almoço foi esplêndido, parecia que também estávamos na carroça com Lázaro e sua trupe, e logo ali, era a curva fora do tempo, onde a alegria é amarela.
O próximo encontro será dia 17 de dezembro e vamos ler Eça de Queiróz: A Relíquia e As Cidades e As Serras. Cada um deve trazer um poema do Fernando Pessoa.     

Um comentário:

  1. Adoro ler e adorei esse poema!Minha professora de redação mostrou achei que fosse ser algo chato mas gostei!Sophia

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