domingo, 28 de março de 2010

O SAPATEIRO E A BAGUETE



O SAPATEIRO

Sapatos de todos os tipos,
empilhados, usados, manchados,
na oficina do sapateiro.

Quantas calçadas andaram
esses sapatos,
quantas festas, quantos rumos,
e, sobretudo,
quantas encruzilhadas?

Indiferente a tantas histórias,
o sapateiro martela, cola,
bate sola o dia inteiro.

Então, cansado, fecha a porta
da oficina, atravessa a rua,
e vai pra casa com seu sapato
furado,
que santo de casa não faz milagre.

in Artes e Ofícios, ed. FTD, 1990


Ontem recebi uma mensagem de uma pessoa que fez um concurso público e uma das questões era a interpretação do meu poema O SAPATEIRO. A pergunta era se a oficina do sapateiro era calma ou agitada. Pela postura do sapateiro que parece cansado e indiferente, pela repetição das tarefas, ele respondeu que era calma e errou. Ele me pedia ajuda, pois se mudassem o gabarito o seu futuro também mudaria. Mas vejam bem, em nenhum momento eu digo se a oficina é quieta ou agitada! Falo apenas dos sapatos e de suas histórias. Não sei quanta gente entrava na sua oficina por dia. Pode ser que a pilha de sapatos significasse que ele era meticuloso e trabalhava devagar. Pode ser que realmente houvesse um grande entra e sai de gente , mas como saber? Eu não digo, isso não fica dito no poema. Preferiria que várias leituras fossem possíveis. Que pedissem um conto a partir do poema, um desenho, uma reflexão, a história de algum dos sapatos...

Mas leio uma notícia hoje que me deixou radiante: a baguete de um senegalês foi escolhida como a melhor de Paris. Djibril Bodian, nascido no Senegal, imigrante, faz o melhor pão francês da capital. No momento em que a Europa declara ódio aos imigrantes em vários países, em que o presidente francês quer preservar símbolos nacionais, vem um senegalês e com seu suor e amor africano e francês produz o manjar dos deuses e ganha o concurso competindo com padeiros nascidos em Paris. E viva o fermento da miscigenação.

7 comentários:

  1. Olá ROSEANA, sou professora do ensino fundamental em sorocaba, tive o privilégio de conhecer você através da poesia O sapateiro, adorei desde o primeiro instante, nunca mais parei de trabalhar esta poesia em sala de aula,a cada ano vejo meus alunos se despertarem pelo gosto de poesia quando mostro algumas atividades que faço com ela.
    Por exemplo, depois que trabalho a poesia, lanço a idéia de trocarmos o profissional, em vez de sapateiro, ai eles viajam na sua poesia fazendo o que eu chamo de paródia, adorei a ideia e eles també,
    um abraço Denise Mantovani

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  2. Olá Roseana! Trabalho no museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte, não sei se voce conhece, e pude saber do seu trabalho atraves de uma educadora que está desenvolvendo um trabalho em sala de aulo junto aos alunos utilizando o seu livro e o Museu. Achei muito bacana a sua proposta e gostaria de saber mais sobre esse livro de poesias Artes e Ofícios. Quem sabe possamos utiliza-lo como ferramente educativa durante as visitas escolares que recebemos ao museu? Abraço e Parabéns! Fabricia (email: fa_morrigan@hotmail.com)

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  3. Ôi Roseana , tudo bem ? Sou professor de Português/Inglês e escrevo também ( principalmente poemas )Vi n'um livro didático o poema que agora estive aqui para pegar :" O Sapateiro " para meu blog Mural Poético ( ou Mural de Poesias ) Não está bem definido ainda , mas o propósito é constar poemas famosos da nossa literatura ( principalmente ) Estou ainda trabalhando no Blog , que além do poema numa imagem falará um pouco do autor. Quando estiver pronto lhe darei o endereço. Um dos blogs onde posto meus escritos é http://versosnodiadia.blogspot.com Felicidades ! Um forte abraço !

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  4. Oi estudo no colégio inovação queria saber o nome de um livro precaver um trabalho

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  5. Oi estudo no colégio inovação queria saber o nome de um livro precaver um trabalho

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