segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

ALGUMAS HORAS

Algumas horas do dia são especialmente mágicas. As primeiras, é maravilhoso ver amanhecer.
As últimas, é maravilhoso ver o dia se apagar.
O verão é duro, altas temperaturas, a cidade cheia, vizinhos que escutam música a toda altura ou queimam lixo junto com plástico esparramando fumaça tóxica por toda a casa.
Mas cedinho de manhã, tudo é perfeito. Como um presente antes de abrir. Ou um buquê de flores que recebemos sem esperar no dia do aniversário.
E ao entardecer quando as últimas luzes formam um belo acorde e as estrelas e o vento roçam a nossa pele.
Entre uma ponta e outra, a vida, o linho do cotidiano,as notícias, o mundo que entra pela janela. Mas por estes dias estou vivendo entre muitos países, Bulgária, Inglaterra, Viena, Zurique, andando pelas ruas da infância e juventude de Elias Canetti, no começo do século XX. Estou tão apaixonada pelo livro A Língua Absolvida, que não queria terminá-lo, mas aliviada descubro que é uma trilogia e não preciso me entristecer quando acabar. Terei mais dois. E sempre poderei ler de novo, pois adoro reler. Enquanto caminho e vivo com Elias a sua infância, consigo suportar o calor, nesse milagre que é poder viver tantas vidas ao mesmo tempo.

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