sábado, 27 de maio de 2017

TANTOS DÍAS

Passar tanto tempo na mesma cidade para mergulhar nas veias da cidade.
Veneza não é uma cidade qualquer.
Aqui a água é soberana e sem outro meio de transporte a não ser os barcos, o ritmo da cidade é mesmo lento e aquático.
Os carregadores passam e gritam : Atenção!!! para não sermos atropelados nos afastamos para o lado.
Aqui o nome das ruas é pura poesia e não nomes de pessoas que não conhecemos. São sugestivos e cheios de possibilidades.
Há uma Ponte dos Suspiros, os suspiros dos que iam para a prisão e viam Veneza pela última vez. Se não soubessemos da história, poderíamos pensar em suspiros de amor não correspondido.
Podemos com uma única palavra imaginar seus corações desesperados.
Há uma Rua do Diabo, para nos lembrar que o mal está sempre à espreita e a Rua dos Grandes Provérbios.
Há um cheiro de tomate e café que flutua como nuvem e Palácios maravilhosos, muitos estão fechados, habitados por sombras e fantasmas. Outros são hotéis luxuosíssimos lembrando o fausto de outras eras.
Há uma paciência inacreditável dos venezianos para com os que chegam de fora. Cada vez que se pede uma informação, eles param e amavelmente explicam.
Há os ruídos que sobem pelas paredes até a janela do quarto, param por alguns segundos no parapeito e saltam para dentro: Vozes enroladas em um grande novelo ininteligível e murmúrios, sussurros, arrulhos. Não buzinas ou chiar de pneus. E nos damos conta de que os carros foram a invenção mais terrível. Deveríamos nos mover sempre em barcos, balões, bondes, dirigíveis, bicicletas, onde o silêncio é o motor.
Em Veneza se recupera a caminhada como meio de locomoção e este simples caminhar nos conecta aos habitantes de outros tempos.
Há praças maravilhosas com mercadinhos ao ar livre de peixes e frutas, legumes, verduras onde senhoras e senhores sentam para conversar em bancos vermelhos. Os mercadinhos são arrumados com esmero como se as frutas, peixes, verduras, legumes, fossem jóias para comer.
Há quase um cachorro para cada habitante.
Não há gatos pelas ruas.
Como é primavera há uma explosão de flores e o céu reinventa o azul.
Estar aqui nessa cidade onírica, totalmente irreal, , como se suspensa na vigília, sem outra pretensão além de caminhar
 e olhar , por tantos dias e noites, apenas deixando que as horas se construam, confiando no acaso, é uma bela aventura.

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