terça-feira, 13 de março de 2012

CHUVA

Ontem choveu em Saquarema, depois de quase 40 dias sem chuva. Foi uma grande emoção.
Viemos morar em Saquarema por acaso, já que as melhores coisas acontecem por acaso. Desde 2002 vivemos aqui, quase dentro do mar e nossa vida adquiriu o movimento das águas. Em Saquarema tenho a chave do tempo, às vezes paro tudo e desembarco do mundo, ouço apenas o barulho do mar, o relógio da sala, o sangue que corre junto com a poesia em minhas veias.

CORPO-MAR

Todos os rios, fios de água,
pingos, chuvarada, poços,
mananciais, nascentes,
cachoeiras, deságuam
em meu corpo miúdo,
meu corpo-mar.
Eu, tão terrestre e,
no entanto, navegante
das ondas mais altas.
Do cimo das espumas
grito palavras
embrulhadas em água:
palavras úmidas,
abafadas, quase um eco.


in Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva

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