quarta-feira, 8 de abril de 2015

SONHANDO EM OUTRA LÍNGUA

Uma vez, quando era bem jovem, fui visitar o grande ilustrador Rui de Oliveira em seu ateliê, acho que no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.
Ele me contou que morou muitos anos na Hungria como estudante. Um dia um amigo brasileiro lhe perguntou _ Você sonha em húngaro? Porque se a resposta for afirmativa, devo dizer que isso é muito grave.  Se começar a sonhar em húngaro, não voltará mais para o Brasil.
Mas para nosso deleite, ele voltou.
Ontem pela primeira vez sonhei em italiano. Acho que foi porque a minha aula de italiano ontem foi muito engraçada. Minha professora Celmar me pediu: _Vamos fazer um pão em italiano? Quero aprender.
E foi o que fizemos. Ensinei Celmar a fazer um pão em italiano! E depois, claro, o pão assou e ficou lindo.
A nossa aula vai acontecendo. Não suporto seguir um método. Gosto de um caos criativo. Falamos sobre isso e aquilo , conto sobre os livros que estou lendo e ontem lemos uma carta do Simenon para a sua mãe (traduzida para o italiano), para a sua mãe morta. Carta belíssima, emocionante.
Os neuro-cientistas recomendam, para a plasticidade do cérebro, aprender uma nova língua, alguma nova habilidade.  A minha alegria quando falo italiano, quando leio, quando entendo tudo nos programas da RAI, é infantil. Tenho vontade de dar cambalhotas.
Não lembro nada do meu sonho, apenas que estava na Itália e que falava fluentemente. O que já está quase acontecendo. Claro que faço muitos erros, principalmente com verbos, mas como não tenho nenhuma vergonha, vou falando.
É a terceira língua adquirida, território onde falo e leio. Escrever é outra coisa, muito mais complicada . Agora quero melhorar o meu inglês, pois falo mal e não leio. Em agosto começarei um curso on line.
Agora, vejam bem, se com 64 anos consigo aprender uma nova língua, imaginem o desperdício de não ensinar para valer uma língua nas escolas públicas! A criança aprende em minutos!
O Brasil deveria ser bilíngue, pois somos uma ilha de português cercada de espanhol por todos os lados. Isso ajudaria e muito o nosso sentimento precário de latinidade.

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