segunda-feira, 15 de outubro de 2012

TIA CECÍLIA

No belíssimo livro Luzes Acesas da Bella Chagall , Bella diz que tenta salvar para o Chagall alguns dias e acontecimentos da sua infância.
Ontem minha tia Cecília foi sepultada e eu tambem tento salvar seu retrato dentro de mim. Não quero que se apague nunca. Ela morreu com 92 anos e sua mente partiu antes dela.Mas quando fui visitá-la pela última vez ela me disse "não me lembro de você, mas que bom que veio me ver!".
Ela era gordinha, linda, com as faces rosadas de pura alegria de viver e a mais velha das três irmãs.  Eu me lembro da sua casa cheia de comidas maravilhosas. Ela adorava cozinhar, seu reino era a cozinha.Nós morávamos no bairro do Grajaú, a família inteira, todos moravam perto uns dos outros. E como não havia violência no Rio de Janeiro daquela época, na minha infância, eu visitava cada casa, uma por uma. A casa da Tia Cecília ficava num prédio antigo e um pouco feio e escuro na praça Malvino Reis. Mas quando a gente entrava na casa havia sempre um cheiro de bolo, de doce,de amor. Eu amava as taças de pudim de duas cores. 
Estar perto dela fazia bem. Seu sorriso iluminava qualquer ambiente,a gente ficava feliz, ela era como um passarinho cantando com qualquer tempo.
As três irmãs eram muito unidas, inseparáveis. Minha mãe, Bertha, foi embora primeiro , agora a Cecília partiu e tia Alice ficou tomando conta da memória das duas, como guardiã de uma cristaleira antiquíssima que guardasse os objetos mais frágeis e preciosos .

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