domingo, 25 de abril de 2010

SAFO

Quando tinha quinze anos estudava no Instituto Lafayette na Tijuca, na Rua Hadock lobo, um casarão antigo impressionante. Fazia o clássico e tinha aula de História Antiga. Nosso professor falava baixinho e assim com sua voz macia nos trouxe o Egito, Grécia e Roma para bem perto. Ele nos apresentou a Safo, poeta grega por quem me apaixonei perdidamente e para sempre. Um poema,sobretudo, me queimou como fogo:

a lua já se pôs, as plêiades também;
é meia-noite;
a hora passa , e estou deitada sozinha.

Tudo o que Safo escreveu nos chegou através de outros. É uma longa história , mas que um poema tão antigo tenha atravessado quase três mil anos e respire ao meu lado como se fosse hoje, que sua voz chegue, viva, mesmo que através de citações, emociona muito.

Em 1991 fui a Campinas lançar meu livro Pássaros do Absurdo. Fiquei hospedada na casa da dona da livraria cujo nome infelizmente não lembro, pois ela foi uma anfitriã maravilhosa. O lançamento seria no dia seguinte. Em sua livraria me deparei com o livro Eros, Tecelão de Mitos , A Poesia de Safo de Lesbos, de Joaquim Brasil Fontes, ed. estação Liberdade. Eu já havia namorado o livro antes numa livraria na Tijuca, mas era caro, eu não podia comprar. À noite fomos jantar com um amigo da minha anfitriã. E a surpresa: ele era o Joaquim Brasil Fontes. Ela me disse: ele é o autor do livro que você ficou namorando. Disse para ele o poema acima que sabia desde a aula de história e ele me disse o poema em grego. E me deu o livro autografado. Meu lançamento foi um fracasso total, não foi quase ninguém. Mas o Joaquim disse que havia lido meu livro e que eu era uma boa poeta... A viagem de volta, de ônibus, foi curta para tanta felicidade e seu livro está gasto de tão lido.

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