quarta-feira, 29 de novembro de 2017

TRÊS ARTIGOS

Ontem li três artigos que me fortaleceram.
Gao Xing Jian, Prêmio Nobel chinês, mas fora da China por motivos óbvios, perseguições, prisão, etc, diz o que estou amadurecendo desde que a esquerda no Brasil, dentro de mim se quebrou em mil pedaços a partir de suas tenebrosas alianças e corrupção e populismo.
Cresci numa casa progressista. Meu pai era simpatizante do PCB. Mas ele, que nunca pode estudar ( se alfabetizou sozinho ), teve a maior decepção da sua vida quando a União Soviética invadiu a então Tchecoslováquia(assistam ao belíssimo filme Kolia). Algo imenso se quebrou dentro dele também.
Nunca fui simpatizante de nenhuma direita, tenho a esquerda no meu DNA, mas não essa que está aí nem o comunismo que matou milhões de pessoas e só existe como um regime nefasto na Coréia do Norte e Miammar.
Um comunismo utópico que não existe nem nunca existiu.
Pois bem, Gao Xin Jian diz o que ansiava ouvir e é tão raro ouvir: estamos aprisionados em ideologias do Século XX, e enquanto se fortalecem os populismos ditos de esquerda e a direita fascista, teríamos que inventar um Renascimento para fazer frente a esse capitalismo destruidor e selvagem. A essa onda horrorosa de moralismo e perseguição aos artistas e a própria arte e literatura. Algo novo.
Que coloque o bem estar do ser humano acima de qualquer projeto de poder. Que seja semeador de alegrias.
E Guy Standing, num outro artigo, o inventor do projeto de renda mínima, nos coloca frente ao absurdo que é o mercado de trabalho onde só o que vale é a produção. E o tempo que nos dedicamos a cuidar dos idosos, das crianças, dos bichos, o tempo que é usado para pensar, ler, escrever, fazer algum esporte, estudar música, esse tempo não é considerado trabalho. Mas é esse tempo que nos humaniza.
Daniel Becker, Pediatra e Pesquisador, completa: as crianças precisam BRINCAR com outras livremente para aprender a viver, para aprender a solucionar conflitos, para aprender a perder e a ganhar sem ter os pais cono mediadores.
E li também vários artigos maravilhosos sobre a importância da arte e literatura nas escolas.
Sem arte e literatura estaremos muito longe de um Renascimento, uma mudança de paradigma.
Apenas reproduziremos os seres humanos terríveis que somos, estaremos alimentando os populismos, alimentando os salvadores da pátria, ajudando a fabricar falsos ídolos.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

CORRESPONDÊNCIA

Se fosse possível escrever cartas para o céu o trânsito de carteiros seria imenso.
Pai, mãe, tios, tias, amigos queridos e insubstituíveis, artistas que nunca deveriam partir, escritores que amamos, nesse caminho sem volta.
Quantas coisas que ainda queriamos dizer, tantas frases inacabadas.
Nosso livro do Clube de Leitura da Casa Amarela do mês de dezembro é de um autor uruguaio bem desconhecido no Brasil: Ángel Rama e o livro, Terra sem Mapa, começa assim:
" Queria poder escrever no envelope desta encomenda " À minha mãe, no céu da Galícia"
e que ele chegasse a seu destino."
A última frase quase me sufoca de emoção.
O livro é belíssimo.
As páginas que evocam a Galícia são quadros, são poemas.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

SILÊNCIO

Há muito barulho no mundo.
O silêncio é raro e um bem inestimável, um tesouro.
Sempre busquei o silêncio, desde muito pequena. Por isso amo viver dentro da natureza. Os sons da natureza são música e não machucam o silêncio.
Os sons que o homem fabrica podem ser ásperos e rudes ou até mesmo infernais.
Há nesta confusão de ruídos humanos um desentendimento.
Quando um tema é lançado na rede o que ouvimos são agressões e impropérios, o que de certa maneira replica os ruídos da vida real, as buzinas dos carros e ônibus, as músicas a todo volume ( que não seriam necessariamente o que eu escolheria para ouvir), os gritos.
Acho que dentro da silêncio aprendemos a delicadeza.
Eu me lembro de um verso de uma música do Manduca, filho do poeta Thiago de Mello: " Gentileza é pedra rara, não se acha pelo chão...". Pedra cada vez mais rara.
Junto com todo esse barulho, virtual e real, sementes de ódio voam daqui para lá e isso é absolutamente assustador.
O silêncio é necessário para que a gente ouça a nossa voz mais profunda.O silêncio é unguento.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

TRÊS RIOS

Amanhã estarei em Três Rios, no Sesc, com Flávio Carneiro e Daniel Ribas.
Um carro virá me buscar.
O SESC me paga um hotel, pois é bem longe ir e voltar no mesmo dia.
Espero que tudo certo, pois assim foi combinado.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

HUMANOS

Isso é coisa de judeu.
Isso é coisa de preto.
Só podia ser mulher.
Isso é coisa de veado.
Quantas vezes já ouvimos isso?
Porque um humano, absolutamente mortal, com a vida sempre por um fio, se sente superior a outro?
Tudo é coisa de humanos.
O Brasil é um país racista, classista, homofóbico, um país de castas.
Sentir-se superior a outro, por isso ou aquilo é absolutamente terrível.
Ser o melhor humano possivel, deveria ser a nossa busca.
A isso devemos dedicar a vida.
Desfazer preconceitos é um trabalho diário e deve começar na escola, no ensino básico.
De preferência com literatura para exercitar a empatia.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

CARTA PERIGOSA

Anda circulando pelas Igrejas Evangélicas uma carta conclamando os professores cristãos que tenham Mestrado para que se inscrevam num programa do MEC para avaliar livros didáticos e para denunciar a ideologia de gênero.
Professor não pode ser censor.
Professor tem que incentivar o livre pensamento, as discussões, honrar os grandes pensadores, dividir com seus alunos as inquietações do nosso tempo.
Ninguém é obrigado a aceitar nada . Mas tudo pode ser discutido.
Faço um chamado aos Professores Evangélicos para uma leitura crítica e apaixonada da vida de Jesus.
Jesus aceitava e acolhia os diferentes. Era aberto´ao novo. Só não tolerava maus tratos e injustiça e perseguições.
Professor não é censor.
Esse não é um caminho digno para um professor.
Professor não persegue. Não é polícia.
Não deixe que qualquer religião o impeça de transitar por todos os temas com seus alunos.
Nada deixa de existir porque silenciamos.
O mundo do Século XXI não é o mesmo dos séculos anteriores e todos os grandes homens e pensadores nunca tiveram medo do que é novo e diferente. Jesus não teve medo. Morreu por pensar diferente. Tocava as mulheres quando um judeu não poderia tocá-las. Um dos grandes tabus do seu tempo.
Professor, não se deixe aliciar. A liberdade de pensamento é o maior bem que temos.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

CAMPOS

Amanhã estarei em Campos, no SESC, para um encontro literário com Flávio Carneiro e mediação de Daniel Ribas.
Esse formato de encontro é maravilhoso par quem está no palco e para quem está na plateia.
Campo foi onde minha mãe passou a infância.
Lembro da casa da minha avó Fayga, uma das primeiras imagens que tenho é a da minha avó limpando a carne dando pedaços para um gato.
Lembro da casa da minha Tia Cecília, seu quintal cheio de frutas. Eu me sentava debaixo de uma árvore de carambolas com um guardanapo amarrado no pescoço para comer aquelas frutas estranhas e maravilhosas.
Campos era bela e pacata, já maior eu adorava ir ao centro de ônibus com a minha prima Laís.
O petróleo destrói tudo, qualquer cidade onde se faz a sua extração.
Tomara que não construam nenhum porto aqui em Saquarema.