sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ARCO-ÍRIS

Ao levantar bem cedinho para preparar o café da manhã encontro o jardim molhado. Durante a noite choveu, que maravilha, o jardim molhado falava comigo baixinho. Busco o jornal na caixa do correio. E na primeira página encontro uma foto linda do Rio com um imenso arco-íris. Diz o jornal que ontem houve uma chuva de arco-íris e recebo a imagem ao pé da letra e vejo as cores caindo do céu.

OURO NO FUNDO DO POTE

No final do arco-íris
brilha o ouro no fundo do pote.
Para alcançá-lo basta
caminhar sem rumo
em tardes de chuva e sol.

Basta olhar o céu
e deixar o pensamento
virar nuvem, água, estrela,
cavalo comendo relva
úmida e fresca
nos imensos campos da memória,
onde cada instante
vira ouro no fundo do pote.

in Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

LÁ VEM O LUIS

Quando meu neto Luis nasceu fiz um livro para ele: Lá vem o Luis, que a ed. Leya publicou. Hoje o Luis faz 3 anos e ainda está em Granada.  Mas lá vem o Luis morar no Brasil no final de setembro  e realmente a minha felicidade é imensa. Perder o cotidiano do neto é muito triste . Eu o vejo pelo skype, maravilha, mas não posso sentir o seu cheiro, nem beijar, nem morder, nem apertar.
Lá vem o Luis pra vovó mimar, estragar e nem adianta reclamação de pai e de mãe. Coração de avó é uma cadeira de balanço! É bicicleta, é pipa no ar.
A rua onde o Luis mora em Granada termina numa pracinha cheia de crianças e brinquedos e ontem foi a festa do Luis. De manhã cedo ele já me contou tudo e tenho a sua voz tão linda em meus ouvidos.
Lá vem o Luis!

Luis dança o dia inteiro
toca cavaquinho ,
violão e pandeiro.
Do quarto para a sala,
lá vem o Luis de avião,
a lingua que fala
não cabe na boca,
é enrolada
feito macarrão.
Luis gosta do sol
e gosta da lua,
às vezes chora, às vezes ri
e sapateia e pula
quando quer ir
pro meio da rua.
Todos os dias
Luis descobre o mundo,
faz uma pirueta
bota as mãos na cabeça
e joga coloridos beijos.

in Lá Vem o Luis, ed. Leya

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ESCOLA LITERÁRIA

Ontem vi um vídeo maravilhoso que me fez chorar: um israelense postou no facebook um vídeo que gravou no youtube onde se dirige aos iranianos para dizer que não tem nada contra eles, que nunca nenhum iraniano lhe fez nenhum mal , que não quer nenhuma guerra, que sente por eles apenas amor. E para sua surpresa, os iranianos responderam nos mesmos termos.
Sempre pensei que as mulheres, os artistas, os seres sensíveis deveriam decidir os problemas numa mesa de negociação. Não haveria guerra. Que mãe quer ver seu filho morto na guerra? As guerras existem para vender armas. Mas a paz é mais lucrativa, deveriam pensar nestes termos os senhores da guerra.E investir este dinheiro em arte e educação.

E leio hoje um artigo magnífico do escritor espanhol Gustavo Martin Garzo onde diz que as escolas teriam que ser literárias, seria uma mudança radical. Só a literatura nos conduz ao nosso centro. E o professor seria um contador de histórias, o condutor da aventura.
Transcrevo um pedaço, peço um esforço para que leiam em espanhol:

"...Por eso la escuela debe ser literaria y el maestro, antes que nada, alguien que cuenta cosas. Un maestro no necesita para esta tarea que los niños le entiendan, debe arreglárselas para que le sigan, para que vayan donde él va. Como el flautista de Hamelin, debe contagiar a los niños su felicidad y su arma para lograrlo son las palabras. No las palabras de las creencias, que le dicen al niño cómo debe pensar y vivir; sino las palabras libres del relato, que le animan a encontrar su propio camino. Sherezade encanta al sultán con sus historias y así logra salvar la vida; la Pequeña Cerillera ilumina el mundo con sus frágiles fósforos, y en un cuento de Las mil y una noches un muchacho ve cómo un grupo de ladrones hace abrirse la montaña donde guardan sus tesoros con una palabra. Las palabras de la escuela deben ser ese ¡ábrete Sésamo! capaz de abrir las piedras y llevar al niño a la cueva donde se guardan los tesoros del corazón humano. Pero también, como las llamas de la cerillera, deben ayudarle a ver el mundo. No sólo a ver mejor, sino a ver lo mejor, como quería Juan de Mairena.


Rainer Maria Rilke escribió que la verdadera patria del hombre es la infancia. Frente a la idea de la infancia como un mero estadio de transición hacia el estado adulto, el poeta alemán postula la autonomía radical de la infancia. Aún más, la ve como un estadio superior de la vida, como esa patria a la que antes o después es necesario volver. George Bataille dijo que la literatura es la infancia recuperada; George Braque, que cuando dejamos de ser niños estamos muertos; y J. M. Barrie, el autor de Peter Pan, que los dos años son el principio del fin. No se trata de que el niño no deba crecer, sino de valorarle por eso que es en sí mismo y que le hace ser soberano de un reino del que solo él tiene la llave.


Las palabras de la literatura hablan de esa patria perdida. Hacen vivir las preguntas, nos enseñan a ponernos en lugar de los demás y tienden puentes entre realidades separadas: el mundo del sueño y el mundo real, el de los vivos y los muertos, el de los animales y los hombres. Las palabras de la escuela deben seguir esta senda. ¿Cómo podría ponerse en contacto un maestro o una maestra, que son adultos, con un niño si no es con palabras así?


La educación debe tener un contenido romántico. Se educa al niño para decirle que en este mundo, por muy raro que pueda parecer, es posible la felicidad. Educar es ayudar al niño a encontrar lugares donde vivir, donde encontrarse con los otros y aprender a respetarles. Lugares, a la vez, de dicha y de compromiso. Donde ser felices y hacernos responsables de algo. Blancanieves huye al bosque, se encuentra con la casa de los enanitos y pasa a ser una más en su pequeña comunidad; Ricitos de oro, al utilizar los platos, sillas y camas de los osos se está preguntando sin saberlo por su lugar entre los otros. Una casa hecha para escuchar a los demás y estar pendiente de sus deseos y sueños, donde hacernos cargo incluso de lo que no entendemos, así deberían ser todas las escuelas."

Gustavo Martin Garzo

terça-feira, 28 de agosto de 2012

CHEGADA

Cheguei em Saquarema . São dois mundos tão diferentes que parece que fiz uma viagem interplanetária.
Aqui em Saquarema, mal chego o mar já assume o comando.
Foi maravilhoso estar alguns dias na montanha. Meus filhos precisavam de mim e eu precisava deles. Minha irmã dormiu uma noite na minha casinha junto com sua amiga de adolescência que é minha amiga também e que veio de Boston. Conversamos horas com o fogão de lenha aceso.
Li muito e escrevi muitos haicais. Pretendo publicar um terceiro livro destes pequenos e singelos poemas . São como vaga lumes.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MONTANHA

Amanhã vou muito cedo para Visconde de Mauá. É longa a viagem, como diz minha neta Kira, dois ônibus e um carro. Decidi de um minuto para o outro, passou um vento e a mala já está aberta em cima da cama.
Em Mauá não tenho internet e na minha casinha nem o celular pega. Para falar com alguém preciso ir até o Babel Restaurante, do meu filho André e da minha nora Dani Keiko. O caminho da minha casinha até o Babel é completamente mágico. E perfumado. De vez em quando preciso ir, a montanha me chama.

Mas hoje vou ao encontro de crianças do Educandário do Bem aqui em Saquarema, uma ONG, dirigida pela Fátima, que faz arte com crianças. Jorge Vale está montando uma peça com meus poemas e quer me mostrar o que já foi feito. Será um lindo encontro, com certeza. Ele já fez uma belíssima montagem do meu livro Classificados Poéticos com estas mesmas crianças.

Ficarei alguns dias sem escrever aqui no blog. Volto no dia 28. Por favor, não me esqueçam!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

PRESENTE

Hoje recebo um presente tão imenso que precisaria de uma galáxia para guardá-lo. O poeta Salgado Maranhão escreveu sobre meu livro Diário da Montanha:



A poética de Roseana Murray flui tão genuinamente em sua harmonia verbal, que se instaura em nós como uma conversa iluminada.
Há nela uma densidade que não é de pedra nem de fúria, mas de brisa, porque porosa em nos aconchegar.
Neste seu Diário da Montanha, fala de pedras com palavras-nuvens; fala de vento com palavras-lume.
Desata os sentidos e as camadas por onde o mistério das coisas se oculta. Trata-se de uma poesia inaugural em que as costuras
conceituais não se exibem para denunciar citações. Sua voz sopra de uma paisagem sintática unicamente sua, como uma fonte que só para ela brotasse.
Daí a sua enorme aceitação junto ao leitor, semelhante aos ancestrais da sua família poética,
como Manoel Bandeira, Cecília Meirelles, Mário Quintana e Manoel de Barros.

Salgado Maranhão.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

ABIDJAN

Por ter passado dois dias aqui em casa, meu ex cunhado Jesus me trouxe de volta Abidjan onde morava com a minha irmã no começo da década de 80 quando fui visitá-los. Sempre fui louca para ir a África e quando minha irmã foi morar na Costa do Marfim decidi fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para ir. O apelo que sentia era grande demais. Vendi um colar de ouro, presente da minha mãe, peguei emprestado algum dinheiro com a minha tia e lá fui eu via Dakar. Já em Dakar, no aeroporto , o meu susto foi grande demais: as cores, os cheiros, a beleza estonteante de homens e mulheres.
Nosso avião para Abidjan era uma lata enferrujada toda amarrada com arame. Dentro do avião os africanos não paravam quietos, todos se levantavam  e iam visitar alguém lá do outro lado. Mas chegamos são e salvos.   
Ao sair do avião, uma lufada de ar quente foi como um soco e embaçou meus óculos. Era a umidade da floresta. Minha irmã me esperava com o Jesus. Já na saída do aeroporto compramos banana da terra frita em rodelas que se chama aloko, ainda me lembro, assim como me lembro do nome de um frango preparado com um molho incrível e servido com cuscuz: kedjenu. Banana socada no pilão ou o inhame também desmanchado no pilão e cozido era servido com molho de peixe e se chamava futu.
Minha irmã morava perto de um mercado e não há nada mais incrível do que um mercado africano com seus quilômetros de tecidos coloridos no chão . Caminhávamos muito e eu pensava: estou dentro de uma noite africana e a emoção era intensa.
Nesta época Abidjan era calma, não havia guerra, todas as dezenas de etnias com suas linguas conviviam em paz. E havia a lingua do mercado , o djula, que todos falavam. E depois veio a guerra civil, a mais tenebrosa invenção humana .

domingo, 19 de agosto de 2012

AMIGOS

O final de semana foi para os amigos. Preparei ontem um arroz espanhol que se chama arroz caldoso, muito bom, com açafrão e frutos do mar. Hoje comemos o que sobrou de ontem mas fiz umas batatas ao forno absolutamente divinas. Celebramos o circuito do Salgado Maranhão , grande poeta, por 50 universidades americanas falando sobre a sua poesia. Salgado, premiadíssimo, nos enche de orgulho. E Jesus, meu ex cunhado, que não é ex, pois cunhado é para sempre, que dá um show de cultura e conhecimento me traz memórias antigas.  Suas histórias são fantásticas. Ele me conta uma delas. Voltava para casa e no Flamengo viu uma jovem muito bem vestida sentada ao lado de um mendigo. Ficou esperando a jovem se levantar meio assustado e então lhe perguntou o que estava acontecendo, se ela precisava de alguma coisa, e ela respondeu: _Não, está tudo bem, eu apenas me sentei ao lado dele para ler um poema do Fernando Pessoa. Ele adorou. Faço isso às vezes.
Hoje passamos horas no jardim falando sobre a vida e me sinto grata, foi muito bom. Ele me aconselhou o livro "A Duas Vozes" de Octavio Paz e Hannah Arendt. Vou comprar agora. E o que ainda tenho de horas neste domingo, para ler e saborear uma justa preguiça.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A VOZ DE DENTRO

Recebi uma entrevista de um amigo psicanalista falando sobre a paternidade. Ele toca num tema doloroso: hoje os pais dão objetos para os filhos, ao invés de palavras.
Ele diz ainda que para ser pai e mãe precisamos nos "lembrar", o insconsciente sabe. Um dia , quando nascemos, fomos tocados, embalados, acariciados. Então ninguém precisa nos ensinar: sabemos.
E quem foi abandonado ao nascer ?  Ao se transformar em pai e mãe terá que ouvir uma voz muito longinqua, será mais difícil lembrar. Mas não impossível. Guardamos nossa ancestralidade em nossa memória. Mas com todo o barulho reinante em nosso mundo, com o tempo tão acelerado, fica difícil ouvir a voz de dentro.

Hoje um arco-íris nascia do mar. A imagem maravilhosa ainda lateja em meu corpo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

DUAS CARTAS

Hoje falo sobre duas cartas que recebí. A primeira, de uma professora de Itabira me pede ajuda para trabalhar com poesia com suas crianças. Ela tem nas mãos meu livro Fábrica de Poesia, ed. Scipionne e eu pedi que me mandasse o poema que quer trabalhar. Ela me enviou cinco poemas e escolhi o Moinho de Palavras que reproduzi acima. Sugeri o seguinte exercício:
As crianças teriam nas mãos revistas coloridas. Elas recortariam apenas palavras. Depois, num papel elas colariam as palavras escolhidas e ao lado de cada palavra tentariam fabricar outras partindo da palavra original. Pode ser um jogo, quem fabricar mais palavras ganha. 

A outra carta, também de Minas, da cidadezinha de Estiva, me pedia algumas palavras para seus alunos e um poema. Enviei a mensagem pedida e o poema e ela me mandou um agradecimento tão lindo que reproduzo aqui:


"Roseana estou muito emocionada não acredito que você me respondeu você é maravilhosa te adoramos ai Roseana quem sabe você consegue um espacinho em sua agenda e vem nos visitar vou estar te enviando algumas fotos de nosso festival de poesias nosso mural com sua fotos e poemas. Roseana gostaria muito de ter um livro de poemas seu autografado por você o que devo fazer para conseguir você é nossa inspiração e motivação e de muita alegria para nossos trabalhos e para essa geraçao de pequeninos maravilhosos que são nossas crianças te adoro muitooooooo! Roseana muito obrigada por ter me enviado seu poema essa mensage...m linda para meus alunos você é demais! Aguardo seu retorno qualquer coisa me de um endereço seu mandarei o livro que tenho de você para autografar ou você me manda e me manda um boleto com o valor do livro mas por favor não me deixe sem um livro seu sem ser autografado por você por favor atende o pedido de uma super fã sua! que Deus te aben çoe muito e que você tenha muita inspiraçao para continuar nos emocionando , alegrando com seus poemas maravilhosos e que você continue bem proxima de nós nos dando essa honra de estarmos proximas de uma pessoa iluminada e maravilhosa! Obrigada por tudo! Super abraços e muitos beijos de meus aluninhos les disseram que você é a melhor poetisa de todo o mundo eles estão apaixonados e entusiasmado por você mandar o poema para eles e mandar um recado muito lindo para eles! muitos beijos para você!"

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

MÚSICA E CARTA DE UMA LEITORA



Hoje recebo uma carta lindíssima de uma leitora de Natal:

"Olá Roseana, sou natalense semana passada tive a imensa satisfação de te conhecer pessoalmente,já a conhecia um pouco através de seus lindos poemas e através do seu blog.


sou aquela que pediu para tirar uma foto sua qd parou ao meu lado no seminário prazer em ler. (Já mostrei a foto para muitos alunos)

trabalho como mediadora de leitura na Escola municipal Emmanuel Bezerra e amo muito o que faço! procuro passar para os alunos todo a minha paixão pela literatura.Essa escola foi uma das vencedoras no concurso Escolas de leitoras com seu projeto de leitura. Nossas principais ações: mediações(1 x por semana para cada turma) Empréstimos de livros, Cantinho de Leitura na hora do recreio, Concerto Literário( na rádio da escola, no momento cívico, nas reuniões de pais, eventos, qd os pais estão aguardando os toque para pegar seus filhos), Corredor Literário(exposição de novos acervos de livros), Aperitivo Literário(são textos espalhados pelo corredor de vários Gêneros Literários(no momento há dois poemas seus no corredor) É gratificante quando vejo algum aluno parar diante de um destes textos e depois me perguntar se a biblioteca possui o livro que foi extraído aquele texto ou outro do mesmo autor (comportamento leitor!)Ah, fazemos também, mensalmente, ações fora da escola como: leitura na feira livre, leitura para os que estão em abrigos de idosos, ou nas paradas de ônibus. É isso.
Um abraço Vera Lúcia"

  E leio no Segundo Caderno do O Globo sobre todas as orquestras que estão sendo formadas pelo Brasil afora e seus efeitos maravilhosos, mágicos, na vidas das crianças e jovens envolvidos nos respectivos projetos, já que são muitos projetos diferentes. São crianças pobres, muitas vezes com problemas familiares dramáticos e o seu abandono seria o seu fim: a rua, o crime, as drogas. A música os reconduziu a um ninho de afeto. Música e poesia salvam vidas.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

ARDOR GUERREIRO

Termino de ler pela quarta vez um livro que me emociona até a medula: Ardor Guerrero de Antonio Muñoz Molina por quem sou apaixonada. Acho que este livro não existe em português.
Ele narra, é uma memória pessoal, os catorze meses em que passou confinado no exército. A sua fragilidade, a insegurança, o terror, as injustiças que sofreu, as humilhações, as amizades, a violência sempre prestes a explodir.A estrutura absurda daquele universo irreal, paralelo, onde as leis do mundo do lado de fora não vigoram. A arbitrariedade dos superiores.
Eu me identifico tanto, eu viro aquele menino-quase-homem que ainda não é escritor mas sabe que quer escrever. Como ele eu também quando menina nunca gostei de esportes, meu refúgio eram os livros. Para aguentar as horas em que tinha que passar no pátio, imóvel, em formação, ele decorava poemas do Borges e recitava para dentro.
Penso que um eco da estrutura militar ressoa nas escolas. A campainha estridente. Por que ? Não poderiam dividir o tempo com música? Com um poema ?  Aquela campainha destrói qualquer harmonia interior.
Os uniformes. Acho que cada criança deveria pintar os seu uniforme para que ele deixasse de ser... uniforme e fosse único. Cada aluno deveria "enlouquecer" o seu unifrome.Um aluno sentado atrás do outro, José Pacheco, o fundador da Escola da Ponte em Portugal,em sua palestra falou sobre isso, o que o aluno vê é a nuca do outro. E isso faria melhorar o aprendizado? Acho que sim. A mente fica alerta quando cria, quando pensa.
Transformar as escolas em ambientes não agressivos, acolhedores onde cada aluno e aluna se sinta único(a) e criativo(a)  é um sonho possível. Então uma escola não lembrará um quartel.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

SUBSTÂNCIA

Somos humanos . Precisamos trocar, tocar, abraçar o outro. É no espelho dos olhos do outro que nos vemos, é no som da sua voz que afinamos as nossas cordas vocais, a nossa harpa. Sem um outro humano que confirme a minha existência, perco minha substância :

SUBSTÂNCIA

Dividirmos isso:
essa substância humana
esse líquido que habita
nossos ossos

como se divide um pão
o sol e a sombra
no mesmo prato

como se divide uma alucinação
no deserto
os sonhos boiando num fio
de água
como se divide a água
a noite e o dia no mesmo leito

como se divide o ar

in Pássaros do Absurdo, ed. Tchê, 1990

domingo, 12 de agosto de 2012

A VOZ DA POESIA

Hoje, no café da manhã, lendo o jornal O Globo, no meio das habituais notícias terríveis que nos chegam de todos os lados, encontro uma clareira mágica : um artigo belíssimo do Affonso Romano de Sant"anna sobre poesia e silêncio. Seu artigo é poesia em estado puro, labareda e deveria ocupar a primeira página inteira do jornal, deveria ser leitura obrigatória em todas as escolas, repartições públicas, supermercados, em todos os lugares onde as pessoas circulassem.
Affonso nos diz: " A poesia exige um silêncio abismal. E isto pode levar à vertigem.
Ou: A poesia é quando se está à beira de si mesmo."
E no final do artigo nos diz: "Repito: poesia exige um silêncio abismal.
Ler, escrever ou ouvir poesia é abismar-se."
Indico, por favor,  a leitura do artigo completo para que o domingo adquira outro significado. E agradeço.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

CASA DE SABERES

Ontem de manhã, em Natal, fui até a Casa de Saberes E.E Hegésippo Reis. A escola é uma casinha muito fofa, a sala de leitura é super acolhedora, adorável, mas o que acontece lá dentro é que faz toda a diferença. Ao chegar me encontrei com crianças que são agentes de leitura. Eles possuem uma mala cheia de livros e uma vez por mês visitam uma família com um bule mágico para chá de chocolate e abrem a mala, contam histórias. A mala fica na casa da família até o próximo chá em outra casa.
Eles também levam uma caixa de livros para locais públicos do bairro, supermercados, farmácias, açougues e fazem performances, lendo alguns livros, o bairro então é chamado de Bairro Leitor.
Na Sala de Leitura acontecem muitas coisas :Concursos, Piqueniques Literários, Formação de Crianças, Jovens e Adultos Mediadores e Mediadoras de Leitura, etc. As salas de aula também são diferentes, são oficinas e as crianças vão trocando de sala: oficina de números, oficina de linguagem...
Em cada mês é trabalhado um valor, por exemplo, em agosto , este mês, estão trabalhando a solidariedade.
Como a escola só vai até a quinta série,  os ex alunos que quiserem podem trabalhar como voluntários na escola e encontrei alguns com o lindo avental de agentes de leitura.
Como a comunidade está inteiramente envolvida com a escola, todos amam a escola.
As crianças definem e desenvolvem junto com os professores temas de estudo e pesquisa.
Fiquei muito emocionada com a bela apresentação das crianças .Elas me entregaram uma carta onde me contam a leitura incrível que fizeram dos meus poemas e como meus poemas agiram neles.
Claudia, que foi quem me levou para Natal (ela passou sete meses na Escola da Ponte em Portugal ), me conta que Natal tem 180 Escolas Leitoras, cada uma com seus projetos de leitura.
QUE MARAVILHA!!!










quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ENCONTRO

Ontem foi belíssimo o meu encontro com a platéia pela manhã. Houve um entendimento total. A energia era linda. Falei de vida, leitura, poesia, formação de leitores. Depois autografei uns 300 livros, nunca passei por nada igual.Recebí toneladas de amor.

Estou com uma gripe horrível, muito forte, febril e não me sinto nada bem. Com todo este mar nordestino na minha frente, ficarei deitada num quarto de hotel em Natal! Mas acontece.
Almoçarei com a minha sobrinha e irei conhecer a sua casa.
  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

NATAL

Cheguei a Natal ontem às 14hs e a temperatura amena, o perfume do nordeste, o sotaque cantante já me abraçaram.
Da janela do meu quarto tenho uma vista esplêndida:o mar e um belo casario entrecortado por arranha-céus .
Jantamos num restaurante chamado Camarões, o nome já diz tudo, com o pessoal do Seminário que é financiado pela C&A. Estava presente uma psicanalista, ainda não sei o que faz no Seminário e a coincidência: ela tem casa em Saquaremna e vai todois os fins de semana .Ao meu lado estava sentada Lucília Helena do Carmo Garcez que mora em Brasília, é escritora e tb tem um Clube de Leitura. Passamos horas falando de livros. Conheci José de Castro, mineiro que vive aqui desde a década de 80. E outra escritora, Salizete, minha leitora apaixonada . Estava presente um silencioso Senhor José que trabalhou 35 anos na Escola da Ponte em Portugal e vai abrir uma Escola da Ponte no Brasil.
Agora pela manhã é a minha fala. Depois conto. Torçam por mim. 

domingo, 5 de agosto de 2012

DOMINGO

Já arrumei a mala para Natal. Levo alguns exemplares do Diário da Montanha, meu novo livro, já que terei um encontro com leitores e um momento de autógrafos. Se alguém quiser o livro terei para vender, se for permitido. Afinal desisti do meu conceito de mala pequena pois só os livros ocupam mais de metade da mala e contra os meus próprios princípios levo uma mala grande.
Hoje li uma entrevista maravilhosa na Revista de Domindo do O Globo com um menino de 19 anos que levou um projeto de bibliotecas para a Ilha de Marajó em Belém . O projeto se chama Casas de Papel, que é um nome lindíssimo. Os efeitos, os desdobramentos ,as consequencias maravilhosas do projeto fazem a gente acreditar na humanidade. Ele se chama Luti e é um exemplo magnífico. Para aitudes assim tão belas não há contra indicação.
Escreverei de Natal.

sábado, 4 de agosto de 2012

NATAL

Segunda-feira vou para Natal . Participarei do Sexto Seminário Potiguar Prazer em Ler.
Vou falar no dia 7 às 8:30hs da manhã sobre Livros, Poesia e Formação de Leitores no Centro Aluízio Alves - CEMURE.
A minha felicidade é tamanha que não cabe nesta página. Eu amo o nordeste, sua luz e seu vento, suas pessoas, suas comidas. Além disso vou ver minha sobrinha Julia que agora mora em Natal.
Fui a Natal na década de 90 por duas vezes, uma vez me hoispedei na casa de uma pessoa maravilhosa, a dona de uma livraria, não lembro seu nome e ela me levou até Pipa e me recebeu como uma flor delicada. Outra vez com o Proler e eu e José Mauro Brant ficamos mais um dia para passear, foi maravilhoso, inesquecível.  Andamos de jipe pelas dunas.Sou nordestina de coração.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

LINGUAGEM

Em setembro vou para o Recife falar sobre leitura e fui presenteada com um título lindo para a minha fala:
"Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo"
Quero partir de um poema inédito. E do que diz o filósofo espanhol Savater: a diferença entre um pobre e um rico está no número de palavras que eles possuem.
Quanto menos palavras possuo menos posso entender o mundo. Não posso me defender.

LINGUAGEM

Como nasceu a primeira palavra,
de um rio que corria
dentro da garganta?
veio antes ou junto do gesto,
de que linhagem,
das estrelas, dos caramujos,
de um susto ou de um eclipse
veio a linguagem?
Para dizer o indizível, caçada,
amor, vida, morte, nascimento?
Para nomear tudo o que existe,
o que já existiu,
o que ainda existirá,
assim nasceu a palavra?
Se digo árvore não preciso carregar
a própria árvore debaixo do braço
e também digo a sua sombra,
seus frutos, raízes e o pássaro azul
que faz ninho em seus galhos
e voa sobre a página em que escrevo
e pousa no teu olhar.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

ESTRADA

Não gosto de falar de política aqui. Mas torço para que a partir de hoje com o julgamento do Mensalão, o Brasil escolha um novo caminho. Todos nós, brasileiros de bem, que trabalhamos e pagamos nossos impostos e vemos estarrecidos a situação de tantas coisas, o que se poderia fazer com todo o dinheiro desviado, escolas, hospitais, trens, bibliotecas,gostaríamos de ver poderosos corruptos sendo punidos. Acho que o julgamento do Mensalão toca a cada um de nós, porque escolheremos o Brasil em que vamos viver. Se dinheiro público, que deve ser sagrado, é usado sem nenhuma cerimônia para outros fins que não sejam o do bem estar da população, as próximas gerações receberão um cheque em branco para o roubo e o cinismo. Torço por um julgamento onde culpados sejam punidos.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PROFESSORA FABRÍCIA

Recebo um pacote de cartas dos alunos da Professora Fabrícia da escola Casinha Feliz de Bom Jesus da Lapa. As crianças me escrevem cartas lindas, algumas com fotos. E Fabrícia, a professora, me escreve uma carta onde conta que seus alunos se apaixonaram pelo meu conto "Sete Sonhos e Um Amigo" de tal maneira, que não querem mais parar de ler, o livro os deixou transtornados. Um aluno chegou a me dizer que eu teria que ir até lá conhecê-los já que fui eu que criei o livro que fez com que eles se apaixonassem por livros! Dia 6 vou para Natal falar sobre leitura e tenho mais esta bela história para contar. Hoje muito cedinho o mar estava todo rosa e vi golfinhos!