sábado, 31 de julho de 2010

CASA DE CULTURA VALMIR AYALA

A Casa de Cultura Valmir Ayala em Saquarema é um patrimônio inestimável. É linda, antiquíssima, super preservada, abriga uma biblioteca, aulas de pintura com o querido Nelsinho, aulas de artesanato e é palco de lançamento de livros. Pois bem, agora os vereadores da cidade querem despojá-la de tudo , querem ficar com a casa para eles , como plenário, não contente com o prédio que ganharam ao lado da casa. Saquarema abriga muitos festivais: de surf, rock, etc, mas é paupérrima em eventos verdadeiramente culturais e agora querem roubar da cidade o pouco que tem.
Foi convocada uma manifestação para o dia 3 de agosto contra este roubo. O local do encontro é a Colonia de Pescadores, às 17hs. Nós que moramos em Saquarema, que amamos Saquarema, estamos chocados e pedimos que quem puder faça alguma coisa para salvar o espírito da casa.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

TOURADAS E CASAL EGÍPCIO

Leio uma notícia para comemorar: estão proibidas as touradas na Catalunha, Espanha. Nunca fui a uma tourada quando morei em Madrid, tenho verdadeiro horror a todo o ritual que a envolve, acho as roupas dos toureiros ridículas, mas principalmente tenho horror do que fazem com os touros, é muita crueldade. Pelo menos na Catalunha já não haverá mais touradas.

Na casa onde estou hospedada na Urca, na sala, na frente da mesa onde comemos e escrevemos, há um quadro com uma reprodução de um casal egipcio. Não posso ler os hieroglifos, não entendo nada , só escuto o seu silêncio de 5.000 anos. Levam um chapéu estranho na cabeça, como se fossem antenas. Ele estende uma das mãos para ela de uma maneira muito delicada. Ela é belíssima com seu corpo esguio e olhos amendoados. Há desejo entre eles? Há amor?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

SÁNDOR MÁRAI

Estou na Hungria. Sándor Márai me conduz pela mão com sua escrita firme, limpa e cristalina pela ruas da sua infância, por hábitos tão diferentes dos nossos, por um tempo tão distinto. Mergulho de cabeça. O livro se chama Confissões de Um Burguês e atravessa um longo tempo: desde o final do século XIX até ... não sei, só saberei quando estiver adiante. Tudo o que já li deste autor é magnífico. Com ele aprendo a escrever.

Hoje eu e Evelyn, minha irmã, almoçamos com a diretora Lourdes e Felipe, o Secretário de Leitura de Duque de Caxias. Eu os convidei para almoçarmos no Forte de Copacabana , pois eu havia ficado impactada com a beleza do lugar. Escolhí não a Colombo, mas o outro Café, o 18 do Forte e foi uma delícia o encontro e uma decepção a comida: pouquíssima, comida para passarinho... Mas falamos de livros, de flores de Brasília, de amores...

terça-feira, 27 de julho de 2010

CAMINHO DOS BEM-TE-VIS

Hoje andamos no caminho mas bonito do mundo, ali na Praia Vermelha: o caminho dos bem-te-vis, a Pista Claúdio Coutinho. São dois kms de pura maravilha. Vimos dezenas de macaquinhos e um bando de tiês-sangue. Um homem levou uma sacola cheia de fruta para eles e nos sentamos num banquinho para olhar. O contraste dos passarinhos vermelhos com o verde era uma pintura. De um lado a mata e do outro o mar. É tanta beleza que quase se perde o fôlego. Estela, uma amiga da minha juventude veio ao nosso encontro. Depois almoçamos no Clube Militar com aquela vista incrível. Foi uma linda manhã.

Recebo um pedido de Duque de Caxias para o meu almoço do Clube de Leitura dia 7 de agosto. Fiquei radiante, já que os professores de Saquarema são tão poucos, completo as minhas vagas com convidados especiais. Agora já estamos lotados.

Hoje foi a minha vigésima sessão da radioterapia Estou no final do tratamento. É uma grande felicidade.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

LOVE PARADE

Um evento que reúne milhares de jovens sob a bandeira do amor e que semeia a morte.O cenário é a Alemanha, um país conhecido por sua disciplina, austeridade, segurança. Parece que prevaleceu o lucro mais fácil , que é a moeda corrente do nosso mundo. Vidas ficam em segundo plano. Os jovens ficaram encurralados dentro de um túnel e o pânico dominou a multidão criando um caos incontrolável. Se o plano de segurança levasse em conta todos os fatores nada disso teria acontecido. Se a vida humana fosse sagrada nada disso teria acontecido, pois o que se ganha não estaria em primeiro lugar atropelando quem está na frente. Quando um jovem morre um mundo inteiro morre junto.

domingo, 25 de julho de 2010

PÁTRIA

O que é a pátria? Pergunta difícil. Minha pátria são meus amigos, meus livros, minha tribo, uma certa maneira de ver a vida. Mas a minha pátria é o Brasil e o Brasil está dentro de mim desde que fui concebida. Toda a sua natureza luxuriante, todas as suas manifestações de cultura, de afeto, toda a comunicação entre as pessoas que aqui é tão peculiar, tudo está dentro de mim. Meus pais vieram da Polônia, mas quando minha mãe chegou ao Brasil com uns quatro anos, meu avô pagou uma multa e a registrou aqui, como brasileira. Meu pai se naturalizou e era brasileiro por amor: amava o Brasil, amava o sol.
Hoje leio que Pilar del Rio, mulher de José Saramago vai se naturalizar portuguesa por amor ao grande José. Abrirá mão da sua Andaluzia natal? Não sei o que pensar.

sábado, 24 de julho de 2010

RECEBENDO VISITAS

Visitas na casa: ontem à noite chegaram nossas amigas Raquel e Isa Pessoa. Raquel é uma espanhola que faz Faculdade de Belas Artes e já está no Brasil desde 2005. Isa é nossa editora. Vieram de táxi e o motorista se perdia a cada momento, pois não conhecia o caminho. Já estavam desesperadas quando finalmente chegaram.
Preparamos uma mesa linda, fizemos um creme de abóbora com gorgonzola, pão caseiro, vinho espanhol, queijos. O mar enchia a casa com sua música esplêndida, acendí velas na mesa e apaguei a luz, pura magia. Lua cheia.
Agora dormem na casinha de hóspedes e o café já espera na varanda. Juan fará uma paella. A fama da paella do Juan já corre o mundo. Ontem nos ligou um diplomata espanhol de Qatar com saudades da paella do Juan.
Gisele, minha amiga taxista virá buscar nossas hóspedes no final da tarde.
Quando volto para casa aos poucos me reencontro. Ontem o tema na mesa era a felicidade. Estou feliz.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ACENDE A VELA, COMADRE!!!

Na década de 70 morei em Visconde de Mauá, com meus filhos pequenos. Na minha casa não tínhamos luz. Fiquei amiga-irmã da Fernanda e de vez em quando eu ia com as crianças para a sua casa, que também não tinha luz. Deitávamos no mesmo quarto. Falávamos horas inteiras , sem parar. Quando já esgotadas e sem voz decidíamos dormir, apagávamos a vela acesa na mesinha de cabeceira. O silêncio não durava nem dois minutos e a Fernanda dizia: - Comadre, acende a vela! e então recomeçávamos tudo de novo. Quando o pai dos meus meninos viajava e ela ia para a minha casa, dormíamos juntas outra vez e era um tal de acende e apaga a vela, nunca nos cansávamos de falar.
Fernanda tem uma filha que nasceu porque lemos juntas um poema do Fernando Pessoa. Mas esta história eu conto no livro " Pequenos Contos de Leves Assombros" , ed. Quinteto.
Hoje Fernanda foi me visitar na radioterapia. Esperávamos Fernanda no lindo Café que dá para a mata e de longe ela abre os braços e grita:_ Acende a vela, Comadre!!! Falamos muito. De todos os amigos distantes e que compartilharam conosco a experiênca única de ter vivido em Mauá na década de 70.Fernanda acaba de se formar em museologia e sonha em morar em Tiradentes. Depois fomos caminhar em Ipanema e fiquei feliz em passear como turista em minha cidade natal.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

CASA DA GÁVEA

Estou na Gávea, na casa antiga, sede da Manati, das editoras Bia e Silvia. A gente se sente num outro século tão naturalmente, até parece que ao abrir a porta o tempo vai andar para trás. É um privilégio conviver com pessoas tão singulares, tão preocupadas com o que é verdadeiro e livre e belo. Além de toda a atmosfera mágica da casa, os livros aqui respiram alojados em todos os cantos. Livros e pássaros e plantas se misturam.
Somos amigas desde que a Bia e a Silvia publicaram meu livro Jardins. Não precisamos nem falar. Nos entendemos sem palavras. É tão bom ter amigas assim. Um mesmo olhar sobre a vida, sobre o que é de verdade importante e não acessório.

terça-feira, 20 de julho de 2010

ANIVERSÁRIO

Hoje é aniversário do Juan Arias. Ele veio ao Rio para almoçarmos juntos e fomos a um lugar tão bonito, eu nunca havia ido: o Forte de Copacabana. A vista de Copacabana, do mar, das ilhas, é diferente, é uma surpresa. Que idéia boa a de abrir o Forte para visitação e com dois cafés tão simpáticos! É uma combinação inusitada, um ambiente alegre e relaxado dentro de um quartel. Fiquei impressionada.
Comprei para o Juan a biografia do Nelson Mandela. Ele estava desejando o livro...
Juan está marailhoso nos seus 78 anos cumpridos hoje e tão bem vividos. Escreve todos os dias, caminha 6km todos os dias, e dedica um tempo precioso às suas gatas Luna e Nana.
Juan rodou o mundo inteiro como correspondente do Vaticano, é raro um lugar onde não tenha estado. Amigo de príncipes, estadistas, famosos e no entanto é a pessoa mais simples que já conhecí e a minha maior felicidade é saber que ele ama tudo o que faz , não tem nenhum preconceito, é livre de verdade. É um privilégio conviver todos os dias com o Juan.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MARIA

Em 2005 Juan Arias escreveu um livro sobre Maria, mãe de Jesus e me pediu para escrever um poema para cada capítulo. O livro foi publicado na Espanha mas no Brasil nenhum editora se interessou. É um belo livro. Escreví os poemas em português e Juan traduziu. Já não tenho os poemas em português, mas gosto muito dos poemas em espanhol:

PESCADOR DE SUEÑOS

Cuando un ángel se posó
en sus ojos
y cosió sus pestañas
con luz,
Maria buscó entre las estrellas
un destino para su hijo.

Seria profeta, mercader,
artesano, maestro, poeta
el que nadaba en sus entrañas?

Cuál seria su destino único
como es único el destino
de cada hombre?

Maria observó sus manos
como si las manos fuesen
un espejo:
su hijo seria
pescador de sueños.

domingo, 18 de julho de 2010

ÁGUA NASCENDO

Ângela, leitora do blog, me pede um poema para dar de presente de casamento. Escolho um poema do livro Fruta no Ponto, publicado em 1986.

ÁGUA NASCENDO

Fiz castelos de areia
sonhos de vento
abri cavernas no mar
construí segredos
teci com teias de luz
as mais delicadas
roupagens
inventei carruagens
adornadas de estrelas
para o dia
em que te encontrasse
e quando te vi
o amor era simples
o amor não pedia
nada mais
do que o milagre
da água nascendo

sábado, 17 de julho de 2010

TRISTEZA

Uma criança morre durante a aula de matemática com um tiro no coração. Uma bala perdida. Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade. Uma vida perdida. Há que chorar todas as lágrimas do mundo. Que mundo é este onde uma criança de 11 anos morre dentro da escola, durante uma aula, com um lápis na mão? Estamos em guerra? Uma escola dentro da guerra? Não deveria a escola ser um lugar sagrado? Muito mais sagrada do que qualquer templo, pois é na escola que se costuram destinos.
Como se atrevem a fazer um tiroteio tendo a escola no meio do caminho dos tiros?
Para uma morte tão injusta toda palavra é pequena.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

IRMÃOS

Meu pai ficou viúvo muito jovem. Quando casou com a minha mãe, já tinha dois filhos. Eu nasci e eles já estavam lá. Não nos vemos muito mas eles existem e isso é muito bom. Eu e meu irmão mais novo somos muito amigos. Ele é um apaixonado por jazz, tem um humor negro maravilhoso e uma grande sabedoria. Sinto uma imensa ternura por ele , como se ele fosse um urso panda. Um urso tímido. Antigamente ele era ruivo, parecia um viking, agora sua barba está grisalha. Ontem fui visitá-lo. É bom estar ao seu lado. Sua mulher tem o dom das orquídeas. Parece que elas brotam das suas mãos.

Meu irmão mais velho é muito ocupado. Quando eu era criança ele me levava para a escola de bicicleta. A escola se chamava Tic-Tac. Eu odiava a escola e rezava para que ele se perdesse junto comigo e nunca encontrasse o caminho. Hoje ele não tem mais tempo para mim. Sua mulher faz comidas maravilhosas, inesquecíveis.

Minha irmã nasceu e eu cuidava dela . Ela tem quatro anos a menos do que eu. Agora, às vezes eu cuido dela, às vezes ela cuida de mim.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

MADEMOISELLE CHAMBON

Ontem vi um filme delicado: Mademoiselle Chambon. Uma história de amor que acontece na fresta entre dois mundos: o de um pedreiro rude, inculto e o de uma professora de primeiro grau, exímia instrumentista. Ela toca violino. Não sabemos porque parou de tocar, mas seu rosto nos dá algumas pistas, há nela uma tristeza imensa. Quando volta a tocar e toca para ele, pai de um aluno, eles se apaixonam e é um amor belo. Ele traz de volta a violinista, ela lhe dá uma emoção que ele não conhecia, com a beleza da sua música.

Na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, de volta para a Urca, no meio do tráfego, da multidão, eu flutuava na beleza daquele encontro Não podia me desvencilhar do filme, que ficou em mim como uma teia de aranha dourada.

terça-feira, 13 de julho de 2010

VENTO DISTANTE E OUTROS VENTOS

Recebo a notícia da Editora Escrita Fina que meu livro de contos VENTO DISTANTE já está para ser produzido e esta semana recebo o contrato. Estou super feliz. Os contos possuem um certo estranhamento, uma certa irrealidade.

Hoje cedo de manhã havia um vento estranho na orla da Urca e fazia muto calor. Prenúncio de tempestade. Íamos até Niterói de barca visitar nossa grande amiga Maria Braga e desistimos com medo do vento. Falando em Maria Braga li que o filme O Beijo da Mulher Aranha baseado no romance do Manuel Puig e dirigido por Hector Babenco com a lindíssima Sonia Braga, irmã da Maria, faz sucesso outra vez. Manuel Puig é um escritor divino, tive minha fase de paixão por ele.

Meu livro Carteira de Identidade foi comprado para bibliotecas em São Paulo: parece que bons ventos o estão levando para longe.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ESPANHA

A Espanha jogou contra a violência, a falta de educação, a grosseria da equipe holandesa e jogou com elegância. Foi premiada. Ficamos felizes, acho que se a Holanda tivesse ganho a Copa, a mensagem seria horrível. Vale tudo para ganhar? Vale pisar no outro, agredir gratuitamente, desde que o final seja o desejado? Vale tudo para se conseguir o que se quer? Não vale. O futebol é um esporte que atinge um público maior do que qualquer outro, gente de todas as idades. Por isso é muito importante que a mensagem seja construtiva, positiva. Hoje há tanta truculência no mundo, tanta indelicadeza. Um evento que reúne quase um bilhão de pessoas em torno de uma bola, tem que deixar um rastro de beleza, como um cometa , um poema.

domingo, 11 de julho de 2010

OLHAR

3 de Maio

Aprendi com meu filho de dez anos
que a poesia é a descoberta
das coisas que nunca vi.

Oswald de Andrade


Talvez este seja o maior segredo: olhar o mundo pela primeira vez. O assombro deveria nos acompanhar a cada passo, e então tudo seria milagre. Coisas que nunca vi seriam sempre, de novo, mesmo que já as tivesse visto antes.

Para mim , como disse o poeta Vinicius de Morais, beleza é fundamental. Busco o belo em tudo o que faço. A paz produz beleza. E a simplicidade. Que toda a crueldade humana fosse para sempre banida do coração dos homens e então só haveria beleza.

sábado, 10 de julho de 2010

COMENTÁRIOS

Quero começar o sábado dizendo em alto e bom som que os comentários que recebo neste blog realmente me deixam mais do que emocionada, são alimento, alicerce, ponte por onde caminho rumo aos meus lugares mais íntimos, não sozinha, mas acompanhada. Obrigada.

Saquarema não é apenas uma cidade pequenininha e bucólica, é uma dimensão e um conceito de vida, é quase outro planeta. Cheguei aqui ontem na hora do almoço e tínhamos na mesa: Juan, meu marido e estrela-guia, Vanda e Samuel, meus caseiros, que são como anjos da guarda , Manuela, de quem sou fada-madrinha e Gisele, minha taxista, que me acompanha desde 2001 e que agora, por nossa influência , vive em Inoã, município de Maricá. Nana, minha gata, me recebe emocionada e tem logo uma crise de espirros. Nana tem asma felina e é muito emotiva, qualquer emoção mais forte detona uma crise. Luna, a gata persa não gosta da minha ausência durante a semana e quando chego me olha com desdém: está de mal e custo muito para reconquistá-la. Gisela tem em sua casa patos, perus, galinhas, codornas, cachorros, gatos, e não pára um minuto de nos contar histórias hilárias dos seus bichos. O almoço é animado. Sinto uma alegria imensa por estar em casa.
A vida aqui é contemplativa. O tempo tem outra substância.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

RADIOTERAPIA

Muitos leitores me perguntam como estou indo no tratamento da radioterapia. Respondo: não estava sentindo nada até ontem. Mas, de repente, durante a tarde, senti um cansaço brutal, como se todas as minhas energias tivessem sido sugadas de uma só vez. Depois passou. Hoje o aparelho estava em manutenção. Já andei pela orla da Urca, um dos lugares mais belos do Rio, sentei na amurada para ver o movimento dos pescadores. Ando na Urca como se entrasse pelo tempo e estivesse no Grajaú da minha infância, sem o mar, claro, mas com as mesmas casas.

Juan, meu marido veio ao Rio hoje e vamos nos encontrar para almoçar , como se fôssemos namorados. Hoje também tenho um encontro especial com uma leitora aqui do blog que não conheço,ela queria tomar um café comigo. Outra leitora virá de Minas especialmente para o almoço do Clube de Leitura da Casa Amarela. Estou um pouco decepcionada com o Clube. Para o primeiro encontro, com o livro O Leitor, mais de 20 professores de Saquarema se inscreveram, mas o temporal atrapalhou tudo e apenas quatro professores puderam comparecer. Agora o livro é Quase Memória, do Carlos Heitor Cony. Apenas cinco professores se inscreveram. Os que vieram no encontro anterior virão , teremos uns oito professores apenas. Pela falta absoluta de interesse dos professores de Saquarema, abri o Clube para convidados de fora. Mas fiquei triste. Ofereço um almoço, uma varanda com mar quase dentro, vinho chileno, um livro maravilhoso para discutir... Mas não desisto.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

TOLERÂNCIA


Juan Arias, meu marido , correspondente do El País e escritor publicou um artigo lindo sobre tolerância. Reproduzo alguns trechos abaixo:


1. Zapeava na TV quando parei numa antiga entrevista de Hussein, falecido rei da Jordânia. De repente escutei uma frase que me deixou perplexo por uns segundos: “Tolerância é uma palavra feia", disse ele. Segundo ele, não deveríamos usar a palavra 'tolerância', mas 'aceitação'. A melhor forma de conviver com os que consideramos diferentes é aceitá-los. Fiquei pensando como pode ser feia uma palavra tão usada por todos os que defendem os direitos humanos.

2. Fui, então, consultar o Diccionario de la Real Academia Española, onde o verbo tolerar, do latím, tolerare, se define asím: "Sofrer, levar com paciência. Suportar algo que não se tem por lícito, sem aprová-lo expressamente. Resistir, suportar". Pensei que talvez tivesse razão Hussein, porque suportar, sofrer, levar com paciência, que alguém professe uma fé diferente da minha ou que pense de outro modo na política em relação a minha opinião, ou que ande na rua de biquíni, ou com o rosto coberto pela burka, é muito pouco.

3. Não é assim que se pode construir uma paz estável, uma convivência com alegria. Não basta suportar, sofrer ou tolerar. Limitar-se a "suportar algo que não se tem por lícito", não vai evitar um choque de civilizações, ou guerra de religiões. De suportar a proibir é um passo. A melhor forma de conviver ombro a ombro com os que consideramos diferentes (assim como eles também), muito mais que tolerá-los é aceitá-los. A diferença é enorme. O mesmo Dicionário define o verbo aceitar como "aprovar, dar por bom", algo que "merece aplauso".

4. Europa foi rica por sua diversidade. Hoje está se empobrecendo espiritualmente porque, como muito, tolera as diferenças, sem aceitá-las, nem aplaudi-las, e às vezes hostilizando. Se for certo que só envelhece quem perde a capacidade de se surpreender-se, não me cabe a menor duvida de que a aceitação feliz do novo e do diferente poderia ser o melhor antídoto e a melhor terapia contra esse desencanto e aborrecimento que faz com que depreciemos o desconhecido e fiquemos com uma segurança falsa e estéril.

SALA DE LEITURA

Lourdes conta que meus livros Todas as Cores Dentro do Branco já estão em Duque de Caxias, (são mais de mil exemplares) e que o Secretário de Leitura da Secretaria de Educação irá distribuir pelas escolas. E irei ganhar uma Sala de Leitura com meu nome!!!
Então lembro : quando era pequena não havia Sala de Leitura na minha escola. E como é bom uma Sala de Leitura com tapetes e almofadões. Como é maravilhoso ouvir histórias. Que delícia a gente ter um canto em casa para ler. Meu lugar preferido é na sala da minha casa, em Saquarema, na cadeira de balanço, virada para a janela , de preferência com minha gata Nana no colo. Nana,como todos os gatos, é leitora e pede para avisar, gosta muito de poesia...

Avanço na leitura do livro Equador, de Miguel Souza Tavares. Já atravessei o mar , já estou em São Tomé. Como escreve bem! Dá para sentir os cheiros. É um romance daqueles que pede cadeira de balanço e principalmente, por favor, que ninguém nos interrompa...

terça-feira, 6 de julho de 2010

LIVROS LIVROS LIVROS

Hoje leio uma notícia no jornal O Globo que confirma tudo o que penso : uma escola na Penha, a Escola Municipal João de Deus obteve a maior nota no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica em todo o Estado. A receita? LITERATURA. LIVROS- LIVROS- LIVROS. Cada criança leva dois livros para casa toda semana. Os livros são discutidos. É incentivada a produção de textos. A escola inventou um correio escolar. Cada aluno escreve cartas (cartas mesmo, não são e-mails ) para um amigo e depois as cartas são lidas em voz alta. Há um carteiro mirim que entrega as cartas. É incentivada a participação da família. Assim fica provado que a literatura é o caminho e também a música, o teatro, o cinema, as artes.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O SILÊNCIO DOS DESCOBRIMENTOS

O livro O Silêncio dos Descobrimentos, da Paulus, sai do catálogo. É um livro de rascunhos, anotações. Não vou reeditá-lo. Não gosto mais dele, isso acontece. Mas escrevo aqui uma das anotações:

Quando meu pai morreu,
eu quis chorar tantas coisas
que não foram ditas.

O nome de um tio que
tocava violino num país
distante,
o nome do rio
que atravessava a aldeia,

o nome do barco
que atravessou um oceano
para que eu nascesse
aqui.

domingo, 4 de julho de 2010

MURURU

Bia Hetzel, escritora e editora da Manati me ofereceu um pacote de livros para meus netinhos Luis e Kira que vivem na Espanha. Mas, ela me disse, um dos livros era para mim. Mururu no Amazonas, de Flávia Lins e Silva é um belíssimo conto grande ou novela. É uma obra-prima que nos deixa sufocados de emoção. Navegando pelas águas dos rios da Amazônia, pelos igarapés, pelas margens e lagos, Mururu é um barquinho que leva sua dona Dorinha ou Andorinha ao seu destino: o inesperado, que este é o destino de todos nós. Dorinha ou Andorinha precisa desfazer muitos nós, o pai desaparecido, sua transformação em mulher, a descoberta avassaladora do amor e suas consequencias. A escrita de Flávia tem o ritmo da água e desata tantas emoções que quando terminei de ler estava embargada.
Ela escreve maravilhosamente bem e em alguns momentos apesar da sua escrita de água, senti um vento Manoel de Barros, principalmente quando ela se aventura na terra. É muito interessante a Dorinha-Andorinha ser da água e o seu amor, Piú, ser da terra. Masculino e feminino se entrelaçam. Flávia não fecha o conto, como não se pode fechar a vida, os rios continuam fluindo ...

Ontem recebemos em casa nossos amigos Latuf e Hélio e Fernando que voltaram da Toscana onde ficaram hospedados num castelo por 12 dias. Conto de fadas.

sábado, 3 de julho de 2010

DERROTAS E RECOMEÇO

Ontem foi um dia de derrotas. Além do Brasil, cuja Seleção nem parecia brasileira , tamanha a indelicadeza do técnico e de alguns jogadores, tamanha a arrogância, a outra derrota foi que minha irmã, a ceramista Evelyn Kligerman, não conseguiu ser classificada no Edital da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro para fazer o seu belíssimo Mural Coletivo aqui em Saquarema. Agora é respirar fundo, tomar um café, enxugar as lágrimas e começar tudo outra vez, que a vida é sempre um recomeço. Que venha um técnico com a cara do Brasil, onde as pessoas se misturam, se tocam , trocam afetos e esperanças. Conheço o Brasil por dentro, nas minhas andanças em projetos de leitura, e é o povo mais lindo do mundo. Não merecemos um técnico que declara que não pode julgar o apartheid pois não viveu aí. Não merecemos um técnico de mal com a vida, que rosna ao invés de sorrir (é uma ofensa aos cachorros!). Lembro que meu pai, que veio da Polônia, onde passou frio e fome, dizia: _ não dá para ficar triste no Brasil com todo este sol... E que a Evelyn, com seus murais coletivos onde pessoas as mais variadas deixam a sua marca, consiga entrar em vários editais pelo Brasil afora, levando leitura e cerâmica para as escolas.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

RESIDÊNCIA NO AR

Em 2007 publiquei pela Ed. Paulus uma pequena coletânea de poemas que amo, com aquarelas da Evelyn Kligerman, minha irmã ceramista. O livro esteve encantado por muito tempo, meio invisível. Mas hoje, quando cheguei em casa, havia um pacote em cima da mesa e era finalmente a segunda edição do livro. Acrescentaram uma orelha onde não havia, o livro ficou mais encorpado. O tema é a liberdade, mas de uma maneira bastante sutil. :

RESIDÊNCIA NO AR

Não sei o que me convém,
se uma casa segura,
janela, quartos e trincos
ou se as portas todas abertas,
se residência no ar.

Não sei o que me convém,
se uma casa encerada,
a família pro jantar,
ou se ventania na estrada,
se residência no ar.

Não sei o que me convém,
se uma casa caiada
com horta, jardim e pomar
ou se andarilha no mundo,
se residência no ar.


Aqui estou, em casa, ancorada no azul.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

FOGUEIRA DE LIVROS

Conseguí um distrato com a editora Ediouro para o meu livro Todas as Cores Dentro do Branco . Eles me disseram que queimariam o estoque. Perguntei se não poderiam doar para escolas, bibliotecas,comunidades... disseram que não, saía muito caro, preferiam queimar mesmo.
Escrevi para Lourdes, a diretora de uma Escola Municipal em Duque de Caxias e ela se organizou para buscar os livros. Depois de semanas de burocracia hoje foram buscar os livros em Xerém. Salvei meus livros da fogueira. Estarão onde precisam estar: nas mãos e nos corações das crianças.
Fogueira de livros nos remete a um passado vergonhoso. Antes os livros eram queimados pelo perigo que suas idéias traziam. Hoje uma editora queima livros para não ter prejuízo.