quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

BANQUETE

Hoje chegam nossos grandes amigos Messias e Kátia. Messias é o médico de toda a família. Médico do século XIX com toda a medicina do século XXI. Médico de família, conhece as loucuras de cada um. A sua cultura é imensa, desde história, filosofia, literatura. Messias é membro da Academia Brasileira de Medicina e criou com um grupo de amigos a unidade de atendimento para adolescentes no Hospital Pedro Ernesto , referência mundial. Kátia é a pessoa mais generosa que já conheci, alegre, extrovertida, engraçada, faz do seu hospital, Casa de Saúde Grajaú, uma casa acolhedora onde todos se sentem verdadeiramente em um lar. Kátia é nefrologista e é tão despojada que faz plantão no seu próprio hospital como qualquer principiante. Nossos outros convidados: Jorg e Angélica, o casal de alemães que se paixonaram por Saquarema, Latuf, meu amigo imenso, irmão de todas as horas, possuidor de uma cultura verdadeiramente do tamanho de Atlântida e Vanda e Samuel, nossos caseiros, nossos anjos. Seremos nove pessoas na mesa, o que contraria a carta do tarô O Ermitão. Jorg e Angelica mal falam português, mas conversaremos na lingua amorosa do sol , lua e vento.
Já fiz 3 pães, estão assando agora mesmo, há um caldo de peixe reduzindo no fogão de lenha, e o chester já está imerso no caldo de laranja com vinagre balsâmico e gengibre. Enquanto preparo o banquete fujo às vezes para ler as últimas páginas da biografia do Chagall, maravilhosa, esplêndida, e penso na sorte de ter nascido nesta época, neste país maravilhoso, pois sou filha de judeus poloneses e sei o que teria acontecido se não tivessem saído a tempo da Europa. Faremos um buquê de flores do jardim para jogar no mar, eu, filha de poloneses e Juan Arias , espanhol, reverenciando Iemanjá.
E que 2010 inicie uma década de paz.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

FESTAS

Nas festas do final do ano , volumosas, imensas, uma corrente de alegria contamina cada espaço do ar, todo o planeta, leio sobre pessoas que entram em profundo sofrimento. Pessoas que possuem um histórico de depressão, que tiveram perdas severas, que sofreram uma separação. Pessoas que não encontram ninguém com quem possam passar junto estes dias de festa. Pessoas que se sentem esmagadas com o peso das festas.
Mas a explosão do dia 31 será apenas isso, uma explosão. Janeiro começará vagarosamente, com as novas decisões radicais que sempre tomamos nos últimos dias de dezembro , algumas levaremos conosco, outras ficarão pelo caminho . E assim seguiremos misturados, os que adoram festas, os que se escondem pelos cantos, nós, os humanos, com nossos sonhos e projetos, tristezas, alegrias, palavras e silêncio.

sábado, 26 de dezembro de 2009

AMIGOS

Amigos distantes nos chamam para desejar tudo de bom . Ontem à noite telefonou Verbena, minha grande amiga de Salvador, doutora em literatura, doces baianos e dengo. Tivemos um grande encontro em 1995, em Feira de Santana, quando Verbena, apaixonada pela minha poesia me levou para sua casa e me introduziu em sua mandala de amigos. Nunca mais nos separamos, mesmo com toda a distância, eu a farejo de longe. Nos une um grande amor e ontem fiquei muito feliz quando ouvi seu belo sotaque e ela nos conta de amigos em comum perdidos no tempo. Verbena me promete que virá nos visitar em abril , será tão bom ter seu belo nome de flor ressoando pela casa.

Temos em casa nossas duas grandes amigas Andréia e Manuela, de quem sou fada madrinha. Elas enchem a casa com suas risadas sonoras apesar do drama familiar. Manuela teve que sair de casa pois seus pais não queriam que estudasse e agora expulsaram a Andréia também. São jovens maravilhosas. Manu faz pedagogia e dança, Andréia fez vestibular para informática e já conseguiu seu primeiro emprego numa lan-house. As duas participaram em 2002 da minha Roda de Leitura no E.M Gustavo Campos aqui em Saquarema e isso foi um tsunami em suas vidas. Agora não podem mais viver em casa pois os pais não entendem mais os seus anseios. Sei que a vida dará a elas o seu mais belo presente: os sonhos, a própria vida.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ÚLTIMOS DIAS

Últimos dias de dezembro. Hora de fazer uma lista das coisas belas e tristes, de tudo o que aconteceu em 2009 antes de embarcar numa nova década. Estivemos todos vivos em 2009.
Mesmo que se tenha avançado pouco em Copenhage o mundo toma consciência da questão ambiental. Livros maravilhosos foram publicados, ainda em papel! Muitos encontros com velhos e novos amigos para falar da vida. A leitura passa a estar no cerne da educação daqui para a frente e isso é um avanço. Meu neto Luis nasceu em Granada dia 30 de agôsto e hoje gargalhou para mim pelo skype. A nova ortografia me deixou confusa , descobri que apesar de aventureira detesto mudanças. Nosso flamboyant este ano ficou completamente vermelho pela primeira vez e deu sementes. Nosso jardim está belíssimo, um bosque na frente do mar. Minha mãe está indo embora, lentamente, e é tão triste ver uma vida se extinguir . Uma parte de mim vai embora também, a maneira como ela me vê, as lembranças que tem de mim. Kira, nossa neta que já virou livro, dança em nossa saudade. Aqui em Saquarema hoje o dia está nublado, mar e céu se confundem. Devagarinho entraremos em 2010, na barca dos sonhos.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CARVALHO

Hoje é Natal e uma notícia me surpeende mais do que todas: existe em nosso planeta uma árvore, um carvalho, com 13.000 anos de idade. É o ser vivo mais antigo da Terra. Nele a memória da era glacial e de tudo o que aconteceu desde então. Gostaria de tocá-lo, passar as mãos por seu tronco, encostar meu coração em suas raízes profundas. O que somos, nós que vivemos tão pouco?
Desejo a todos os meus leitores um dia magnífico perto de quem se ama.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

POEMAS DE CÉU

Hoje recebo pelo correio um pequeno jornal que se chama PILAR, um jornal da Igreja Católica de Duque de caxias e São João de Meriti e para minha surpresa encontro uma resenha do meu livro Poemas de Céu (ed. Paulinas) tão linda que vou transcrever.

"O livro Poemas de Céu reúne 26 poemas que exploram elementos do espaço celestial, como planetas, constelações, estrela cadente, lua, cometa, eclipse... Apreciados daqui da Terra, por olhos que fazem do céu um grande chão para brincar. Há muito tempo que a poesia de Roseana Murray celebra a vida em versos. Sua poesia "é feita de delicadezas e transparências, como ela falasse para mostrar o silêncio. E assim a linguagem alcança a condição de pluma ou porcelana" (Ferreira Gullar).
Poemas de Céu é isso: a imensa abóboda celeste abraçando o silêncio da noite para sussurrar no ouvido da poeta Roseana segredos existentes entre os que olham e os que são olhados. No mesmo véu de delicadeza , vemos as ilustrações de Mari Ines Piekas revelarem as emoções que nos faz mais humanos nas incontáveis estrelas de suas aquarelas, que escreveram de outra forma as letras incendiadas de Roseana. Poesia escrita com luz. "

Agradeço a resenha tão bela. Hoje recebi a biografia do Chagall. Tenho que abandonar Córdoba, a Andaluzia da Idade Média, do livro Ornamento do Mundo, que estava lendo, pelo menos por esta tarde para ir até Vibstek, na Rússia, final do século XIX, começo do XX. Com os livros não só viajamos na velocidade da luz como caminhamos pelo tempo. Depois eu conto...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

CARTEIRA DE IDENTIDADE E ANIVERSÁRIO

Estamos dando os últimos retoques no meu livro Carteira de Identidade que sairá entre fevereiro e março pela editora LÊ. Como sempre , depois que o livro está pronto tenho muita dificuldade em me aproximar do texto, acho tudo horrível! Trabalhei muito nos poemas, um ano de trabalho árduo, pois eu buscava insights que falassem da busca pela identidade. Elvira Vigna está terminando as ilustrações que estão belíssimas. Também foi difícil chegar a algo que eu gostasse, mas o resultado é mais do que belo. Geralmente não participo das ilustrações mas como eu e Elvira trabalhamos juntas desde 1980 tenho a liberdade e a cumplicidade para também participar do trabalho.

O livro Fardo de Carinho, meu primeiro livro que em 1980 foi ilustrado pela Elvira, foi reeditado este ano pela ed. Lê, novamente ilustrado pela Elvira e entrou na compra do Governo para escolas e bibliotecas, o PNBE. 58.500 exemplares! É um belo presente de aniversário, pois faço 59 anos dia 27, próximo domingo. Juan me pergunta o que quero comer pois ele irá cozinhar para mim e para os amigos . Sou tão gulosa que não sei o que escolher...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

PAZ

Estou lendo um livro que fala do belo e único momento de paz e entendimento entre árabes , judeus e cristãos, na Idade Média, na Andaluzia, entre 786 e 1492 quando árabes e judeus foram expulsos pelos cristãos. O livro é de Maria Rosa Menocal, cubana e se chama O Ornamento do Mundo. A Europa recebeu fortíssima influência do reinado dos Omíadas com seu islamismo aberto, por onde entravam todos os ventos da poesia. Foram maravilhosos anos de paz. Árabes e judeus hoje deveriam reaprender a tolerância .

Leio a emocionante entrevista de Wangari Maathai, queniana, Prêmio Nobel da Paz de 2004. Seu grupo, o Green Belt Movement, já plantou mais de 45 milhões de árvores. Se cada um de nós plantasse uma árvore apenas...

domingo, 20 de dezembro de 2009

APAS

A boa notícia hoje depois do fracasso de Copenhage são as APAS que serão criadas em Saquarema. Está em discussão uma Área de Proteção Ambiental para a magnífica lagoa de Saquarema desde o Centro até Jaconé. A lagoa tem 50% de vegetação nativa preservada. Há que preservar o que resta e impedir a especulação imobiliária em suas margens. Outras duas APAS seriam criadas para a Serra do Mato Grosso e para as regiões de Tingui e Rio Seco. O dia está lindo e há que festejar. Desde que viemos morar aqui , em 2002 , sonhamos com a criação destas APAS.

Norman Gall, Presidente do Instituto Braudel e sua mulher Catalina vieram almoçar conosco sábado . Catalina dirige os Círculos de Leitura que a Fundação promove modificando milhares de alunos de comunidades carentes de São Paulo e outras cidades do Brasil. Catalina é psicóloga e filósofa e trabalha principalmente com os clássicos e textos de filosofia. Ontem Norman voltou para ver o jogo do Barcelona, pois em sua casa, em Jaconé, não há televisão. Na saída ele nos diz: - não poderia viver aqui como vocês, sou um inquieto, estou sempre em movimento.
Vivemos muito felizes em Saquarema , também somos inquietos e é nossa mente que está sempre em movimento . O corpo não precisa sair daqui pois não há cenário mais deslumbrante para se caminhar. É uma felicidade poder estabelecer relações de afeto com o Moisés da farmácia, com os meninos do correio, com o carteiro, o dono do mercado, etc... Aqui somos donos do nosso tempo e como já nos disse Michael Ende em seu maravilhoso romance Momo, nenhum tesouro é maior do que o tempo: para ler, escrever, conversar com os amigos, contemplar.

sábado, 19 de dezembro de 2009

CHAGALL

Minha paixão por Chagall vem de muito longe. Seu judaísmo melancólico faz parte da minha infância. Minha avó, que veio da Polônia, passava os dias rezando com um chale de renda sobre a cabeça e quando criança eu gostava de ajudá-la a preparar o shabatt. Em Chagall tudo voa e vamos juntos com ele pelos céus. Quando eu tinha 24 anos li um livro que foi como um terremoto: Luzes Acesas da Bella Chagall com bicos de pena do pintor. São cenas da sua infância e Bella nos conta o encontro dos dois. A escrita da Bella é magnífica e sem dúvida nenhuma Bella teria sido uma escritora imensa, mas morreu muito cedo e nos deixou apenas o que ela chamava de seus cadernos.
Agora acaba de sair no Brasil uma biografia do Chagall de Jackie Wullchlanger, pela editora Globo. Acabo de encomendar o livro com o coração disparado. Tudo o que fala de Chagall e de Bella me faz tremer de emoção, pois quando terminei de ler Luzes Acesas já tinha me apaixonado por ela irremediavelmente. Minha alma se reconheceu em sua alma e me sinto feita da mesma substância. Agora poderei ler a correspondência entre os dois quando estavam separados, são cartas inéditas, um tesouro. Estava precisando ler um livro assim, pois acabo de sair das páginas de La Noche de Los Tiempos de Antonio Muñoz Molina e estou me sentindo órfã. O livro é tão maravilhoso que me deixou ao mesmo tempo plena e vazia, já que não estou mais dentro dele.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PILAR DEL RIO E AMINETU HAIDAR

Conheci Pilar del Rio em setembro de 1997, quando eu e Juan Arias fomos a Lanzarote para Juan entrevistar José Saramago. Estávamos um pouco nervosos quando tocamos a campainha da A CASA e uma bela mulher vestida de branco, descalça, veio nos abrir a porta. Eu já conhecia Pilar de nome, sempre abrindo os livros do Saramago. Seu nome me fazia sonhar. Mas Pilar de carne e osso me surpreendeu, encantou. Ela é uma andaluza viva, brilha até no escuro, apaixonada por todas as causas justas. Jornalista, tradutora, culta, dona de um humor mordaz , nos encontramos muitas vezes ao longo dos 12 anos desde aquele primeiro encontro e sempre nos sentimos felizes juntas. Pilar nos prometeu que virá a Saquarema em 2010 com seus 14 irmãos.
Agora Pilar conseguiu que a Saariana Aminetu Haidar finalmente pudesse voltar para casa. Ela havia sido expulsa pelo Marrocos do seu país por ser uma ativista política em defesa do Saara Ocidental. Prenderam seu passaporte mas a Espanha a recebeu. Aminetu estava desde 14 de novembro no aeroporto de Lanzarote, nas Canárias, em greve de fome e Pilar moveu o mundo em sua defesa. Conseguiu que muitos Prêmios Nobel assinassem a carta que escreveu em defesa de Aminetu assim como artistas e intelectuais do mundo todo. A carta foi entregue ao Rei da Espanha. Pilar conseguiu iluminar Aminetu com sua luz e o mundo passou a enxergar a Saariana e também a sua causa: a independência do Saara Ocidental. Hoje diz Saramago em seu blog: sem Aminetu todos seríamos mais pobres.
Hoje Aminetu já está em casa em AAIÚN , no Saara Ocidental. Hoje Aminetu volta a comer e continua a lutar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

MARINA SILVA E COPENHAGE

Leio hoje que a estrela brasileira de Copenhage é Marina Silva. Marina é como uma flor solitária de rara beleza, seu corpo miúdo, sua fala mansa, sua doçura capaz de salvar florestas, nos diz que sim é possível construir de novo o planeta. Marina nos mostra que não é preciso gritar. O que conta é a qualidade do que se diz. Marina não foi fabricada num laboratório político, Marina é de verdade.
Plantamos muitas árvores durante nossas vidas, eu e minha família. E aqui na nossa casa na praia, na frente do mar, temos um bosque cheio de árvores. Com tantas áreas livres em nosso país, a saída seria refazer as florestas e claro, desmatamento zero.
Que cada um pense nos filhos, nos netos, nos bisnetos, nessa bela corrente que vem de tão longe e chegou até nós e se cada um não se esforçar em breve a corrente será quebrada, o planeta Terra oscilará deserto pelos céus.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

PETRÓPOLIS II

Foi lindo ontem o encontro com professores em Petrópolis no encerramento do Projeto Gestar. Eram professores de todos os municípios do Rio e fui levada pelas mãos da Michelle, professora aqui de Saquarema. A minha presença era uma surpresa e fui tão bem recebida que nem sei como agradecer. Evelyn Kligerman, minha irmã, pode falar da beleza do seu projeto Mural Coletivo e eu contei um pouco da história do nosso Uma Onda de Leitura aqui de Saquarema. Acho que ano que vem teremos muitas visitas pois todos se interessaram pelo nosso Café Literário.

Já estamos no meio de dezembro. O mar está lindo, de ressaca. Hoje meu filho Guga está em Madrid para renovar seu passaporte e vir ao Brasil. Ele me disse que estavam anunciando uma tempestade de neve para a sua viagem e fico ansiosa para ter notícias.
Acabo de receber uma mensagem do Guga . Ele me diz: - Mãe, não fui. Temporal em toda a Espanha. Estamos em casa bem agasalhados, eu, Pat e Luis. Faz um frio danado.

Hoje termino de ler o livro do Muñoz Molina, La Noche de los Tiempos. Estou tão apaixonada que não sei como poderei sair do livro. Minha estante é pequena e vivo doando livros para que os novos possam chegar. Mas tenho certeza de que nunca me acostumarei a ler num suporte virtual. Sou completamente viciada em papel. Recebemos muitos livros da Espanha , é uma grande felicidade. Para os presentes de natal sugiro que ofertem braçadas de livros.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PETRÓPOLIS

Acordo, Teresópolis ainda dorme envolta em nuvens. Faz frio, parece inverno. Tomo café, leio jornal, as notícias são terríveis, novos assentamentos na Cisjordânia, nenhum acordo em Copenhage, chuvas torrenciais pelo Brasil afora. Mas neurocientistas vão conseguir fazer uma espécie de genoma do cérebro, mapear tudo e logo doenças graves como depressão, alzheimer, epilepsia poderão ser curadas. Essa é uma grande notícia. Decifrar o cérebro é a chave para saber o que nos faz humanos. Mas vão plantar florestas no nosso estado e essa é uma linda notícia.

Logo virão me buscar. Vou a Petrópolis participar de um grande encontro de escolas para falar do projeto de leitura de Saquarema , Uma Onda de Leitura. Nosso projeto já desperta curiosidade . Ler para expandir a mente, para entender o mundo e suas ciladas, ler para afiar o pensamento, como se afia uma pedra mágica.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

EXPOSIÇÃO

Estou em Teresópolis. No ateliê da minha irmã Evelyn Kligerman as placas para a exposição que faremos juntas em Visconde de Mauá: "Arabescos no Vento , Haicais de Barro" . São 3 placas de cerâmica para cada haicai. Algumas já estão prontas e são lindas , dão um susto. Outras ainda no "biscoito", prontas para esmaltar. Outras ainda em gestação. A idéia é reconstruir os haicais em cerâmica. 3 placas para cada haicai, uma para cada verso. Adoro fazer haicais, o rigor das sílabas nos ensina a ter paciência. E ver os pequenos e delicados poemas em outra materia é íncrível. A casa da Evelyn é linda, da janela imensa na sala vemos a mata , as montanhas. A pedra brilha com a água. Agora as nuvens sobem numa espiral mágica e penso que nenhum prazer é maior do que o prazer de criar...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

NATAL

O natal serão perus recheados
ou a nostalgia de uma neve
longínqua que nossos pés nunca tocaram?
Serão presentes embrulhados
em papel azul
e a alegria com hora marcada?
Serão famílias bucolicamente
sorridentes com seus corações
de lava fria?
Os pés de um homem tocaram
a terra para mudar a Terra
e deixaram um rastro de amor
e sangue.
Seu nome é mistério e senha.
Por que o homem precisa da desculpa
de um outro homem
para mergulhar as mãos no mel
e no horror?
penso nas mulheres queimadas
em seu nome, amém.
Penso nas guerras, conquistas, mentiras,
intrigas, em seu nome, amém,
quando o seu maior milagre
foi equilibrar-se na superfície
escorregadia dos sonhos.

in O Silêncio dos Descobrimentos, ed. Paulus.

O Natal seria a lembrança de um homem que disse:" Imitai os lirios do campo vestidos por Deus e nem Salomão em toda a sua glória vestiu-se como eles". Jesus pregava a simplicidade , o gesto limpo, o não consumismo. Como justificar o furor que se apossa de todos? As compras enlouquecidas, carrinhos transbordando, as pessoas se endividam, presentes para os amigos, inimigos, as famílias fraturadas precisam sorrir diante de uma árvore enfeitada. Eu e Juan celebramos um antinatal. Reafirmamos nossa crença no que realmente acreditamos: o natal cotidianamente celebrado quando estendemos a mão para o outro e nosso coração bate em uníssono com o coração do universo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

LIVROS E CHUVA

Chove. Saquarema adquire um ar de montanha. O mar está maravilhosamente prateado, às vezes cor de chumbo. Nenhum tempo é mais propício para a leitura. Copenhage ecoa do lado de fora e todos os desastres, mas eu ando em Madrid, o ano é 1936, acompanho Ignácio Abel em suas andanças, não quero terminar o livro La Noche de los Tiempos de Antonio Muñoz Molina e ao mesmo tempo não consigo parar de ler. Molina nos situa nas vésperas da guerra civil e vemos tudo com os olhos de um homem apaixonado: um adultério, a culpa, a fuga enquanto a Espanha já se banha em sangue. São todos culpados. Não há inocentes nesta carnificina , é isso que nos diz Molina.

Leio o discurso de Herta Müller quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura 2009 . Herta nos fala de amor, solidão , morte, tirania. A partir da imagem de um pequeno lenço ela constrói o seu discurso. Lenço que limpa o rosto, que cobre o morto, que amarra nas costas da menina o acordeão, que tremula nas despedidas, que é a maneira com que sua mãe diz o seu amor. O pequeno lenço que Herta coloca no degrau da escada onde se sentará depois de ser expulsa do seu escritório por se negar a colaborar com a polícia secreta. Lenço que uma mãe entrega a um prisioneiro para que entregue ao seu filho, também prisioneiro se por acaso o encontrar. E no livro do Muñoz Molina um homem agita o seu lenço desesperadamente para que alguém pare e o ajude a socorrer uma mulher baleada na rua. Ninguém vê. Lembro do meu pai com seu lenço amarrotado no bolso com que às vezes limpava as mãos, suas mãos fortes de camponês que não exerceu o ofício, atrás do balcâo de sua loja me ensinava que nenhuma tirania é boa e que nós humanos, fomos feitos para o amor.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

FILHO EM CASA

Filho em casa muda a qualidade do ar , uma tênue poeira dourada cobre cada objeto, a felicidade não é mais uma qualidade , é concreta. André é pura energia, é um sol, ilumina tudo. Desde pequeno, quando eu morava em Belo Horizonte, recém chegada e era tão tímida, André era meu embaixador: seu sorriso abria as casas mineiras para mim. fiz grandes amigos através dele. André fez uma opção radical de vida, vai na contramão. Chef de Cozinha, trabalha dentro do conceito de slow food, buscando sempre a matéria prima mais artesanal, a horta orgânica. Vive em Visconde de Mauá no sítio onde passou a infância e seu restaurante na própria casa, o Babel, que já tem uma estrela no Guia Quatro Rodas, acomoda apenas 12 pessoas de cada vez. O cenário é deslumbrante e o casal recebe os clientes como convidados especiais.Agora André tem uma Escola de Cozinha em Resende com uma galeria de artes que será inaugurada em janeiro. Sua mulher, Dani Keiko, também Chef de Cozinha, é filha de japoneses e há em cada gesto seu um arabesco oriental. Eles se encontraram na escola de Águas de São Pedro em 1995 e desde então trabalham juntos. A paixão é o seu melhor condimento , um fogo que nunca se extingue. Hoje estou feliz.

domingo, 6 de dezembro de 2009

INFÂNCIA PERDIDA

Leio hoje no O Globo: crianças de 5 anos já vão ao cabelereiro fazer escova, pintar as unhas, fazer depilação, já usam sutiã com enchimento. O que é isso? Com 5 anos crianças podem brincar de adulto, vestir as roupas da mãe, podem usar adereços como fantasia, mas não podem ser adultos. A infância tem que ser vivida como infância, a imaginação como bússola. Crianças não são adultos nem adolescentes. Isso é um crime cometido por nossa terrível sociedade de consumo. A mãe e o pai deveriam estar atentos e ser guardiães da infância , estimular brincadeiras, contar histórias. Tudo tem a sua hora e não devemos queimar etapas, o preço da infância perdida é muito alto. A criança que não brinca será um adulto muito triste.

Hoje recebo uma visita muito especial: meu filho André. Quando era criança André subia em árvores, soltava pipa, era inventor, construia casas nos lugares mais inesperados. Hoje, Chef de Cozinha, André leva a vida com alegria e surpresa. A cozinha é o seu brinquedo . Amanhã Juan Arias, meu marido, fará uma paella para o André.

Guga, meu filho músico me telefona de Granada: acabou a sua turnê e já está em casa. Luis, meu neto que fez 3 meses, adorou tudo, na sua primeira excursão musical. Guga deve vir ao Brasil em fevereiro.

Evelyn kligerman, minha irmã, faz anos dia 13, semana que vem. Vou a Teresópolis e no dia 12, festejaremos junto com a Júlia, minha sobrinha, no restaurante russo comendo um banquete imperial. Dia 13 haverá um almoço na casa da minha mãe que está muito bem, sem dores, com seu novo remédio, um adesivo de ópio. Está lúcida e feliz, cercada de afeto por todos os lados , nesse momento de despedida. Ela sempre me diz: tive uma vida tão linda, minha vida daria um livro. Claro, todas as vidas dariam um livro...

sábado, 5 de dezembro de 2009

DOCUMENTÁRIOS

Ontem assisti a dois documentários muito interessantes: um sobre John Lennon, que com a força de suas canções pela paz abalou o governo Nixon e outro sobre gangues em Bruxelas e toda a violência gratuita destes jovens sem lugar no mundo, sem autoestima, sem saída. De um lado jovens na década de 70 gritando e cantando pela paz, de outro, em outro tempo, jovens oriundos de uma África explorada perpetuando a violência que sofreram e sofrem. E leio estarrecida: o Brasil deseja possuir a bomba atômica. Vivemos imersos numa cultura violenta quando estamos exatamente na maior encruzilhada que o planeta já viveu. Para onde vamos? eis a questão. O que precisamos é de paz. Saudades imensas de John Lennon.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

CORAL ESCOLA QUE CANTA : ESTRÉIA

Ontem a E.M. Castelo Branco, em Saquarema, parecia mesmo um castelo de conto de fadas onde Sandra, a diretora, era a rainha. A platéia estava lotada, a noite quente, a lagoa calada. A estréia do Coral Escola Que Canta nos levou até o céu , ficamos íntimos de cometas e estrelas. O maestro Jacob parecia um bailarino, um pássaro, o maestro Jacob nos conduzia com suas mãos e as vozes de 30 meninas até lugares sagrados. Foi muito emocionante. Quando a arte e a vida se encontram tudo se modifica. E Sandra mostrou que a escola pode fazer arte da melhor qualidade. E o coral já está com a agenda lotada!!! Que outras escolas sigam seu caminho e no futuro teremos um festival de corais aqui na nossa bela cidade.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

MURAL COLETVO E CORAL

Em 2008, minha irmã, a ceramista Evelyn Kligerman foi selecionada pela Secretaria de Cultura do Governo do Rio de Janeiro com seu projeto Mural Coletivo. A idéia é genial. Um grupo, sob sua orientação confecciona azulejos artesanais em cerâmica. Ou o grupo vai ao seu atelier em Teresópolis ou ela vai até as pessoas. A partir destas matrizes ela queima, aperfeiçoa, esmalta os azulejos. O resultado é impactante. Amanhã, depois de um ano de trabalho árduo, será a inauguração do Mural Coletivo no Colégio Estadual Campos Salles, em Teresópolis. São 600 azulejos e todos na escola estiveram envolvidos com o projeto. Não apenas na escola, o bairro também se envolveu, os pedreiros, os pais dos alunos. As pessoas param , descem dos carros para olhar. Uma intervenção como esta modifica a escola e o bairro e tenho certeza de que a E.E Campos Salles é a primeira de uma série de murais. Se alguém se interessar seu e-mail é ekligerman@yahoo.com
Evelyn me telefonou agora, acaba de voltar da escola onde fazem os últimos preparativos e o clima é de felicidade total. Agora todos são artistas. Dia 11 será a exposição de fotografias no Sesc Teresópolis mostrando todas as etapas da construção do mural. Vou para Teresópolis para ver a exposição.

Hoje a E.M.Castelo Branco inaugura seu coral Uma Escola que Canta. Sem querer dei o nome do coral, pois foi o título de uma crônica aqui do blog. Estou radiante, sempre sonhei as escolas daqui de Saquarema cantando. Estarei presente com o coração marcando o tempo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

PASSEIO DO SERGIO

Hoje, nossa amiga Gisela, taxista, veio bem cedo buscar nosso bravo Sergio, italiano, louco e comunista. Antes de voltar para a Europa queria conhecer uma favela. Gisela morou anos no Jacarezinho, seu marido nasceu aí, sua sogra ainda vive aí. Felizmente Gisela comprou uma casa em Inoã e pode sair da comunidade violenta onde vivia. Gisela tem um filho autista e era terrível para ele o cotidiano de guerra. Gisela está agora a caminho do Jacarezinho com Sergio, vão tomar café com sua sogra e depois vão ao Dona Marta que está pacificada. Sergio já encontrou um sítio para comprar aqui em Saquarema e voltará em fevereiro para concretizar a compra. Está cheio de belos projetos para interagir com a cidade.
Hoje leio no jornal O Globo que estudantes da rede municipal (3 escolas da Rocinha) poderão usar as instalações do clube Umuarama na Gávea depois da desapropriação pela prefeitura, para esportes e lazer. Esta é uma belíssima notícia em contraste com os ônibus incendiados pelos traficantes em Copacabana. A luta contra o tráfico já tem que começar na creche, com arte e amor.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DEZEMBRO

Parece incrível, mas hoje já é dezembro. Olho para trás e ainda ontem festejamos o ano 2000 com excitação, algum medo. Para onde desliza o tempo? Ainda ontem minha mãe era jovem e em 1950 me carregava em dezembro , pesada, no meio de um século sangrento. No dia 27 de dezembro nasci antes do tempo. Agora, minha mãe está de malas prontas para sua grande viagem, para onde vamos todos, farei 59 anos, meu neto Luis cresce vigoroso em Granada, plantamos árvores e amigos e dezembro navega. No Brasil assitimos estarrecidos como se rouba o dinheiro que serviria para o bem-estar de todos, o cinismo, a mentira forram o cotidiano. Mas na Feira de Guadalajara um tuareg, Moussa, nos fala da água, da simplicidade da vida no deserto, da escola que criou para os meninos do deserto que não sabiam ler, ele mesmo aprendeu a ler tarde com o Pequeno Príncipe de Saint-Exupery e de como a leitura e o conhecimento são a água que quer dar para estes meninos. Assim começamos dezembro.