domingo, 30 de novembro de 2014

DEZEMBRO

Amo todos os dezembros desde que nasci. Nasci num dia 27, prematura, em 1950. Certamente fazia calor em Botafogo e os flamboyants estavam por ali, incendiando o meu nascimento.e as buganvílias, tecendo guirlandas brancas, amarelas, cor de maravilha. Em dezembro os sabiás escrevem no céu lindas pautas musicais.
Quando ei nasci, este mundo que existe hoje não existia. Carrego dentro de mim a memória do meu tempo tão diferente. O corpo é pequeno para carregar tanta memória. 
Dia 27 de dezembro faço 64 anos. Pretendo passar meu aniversário com filhos e netos na minha casinha da montanha. 
Envelhecer é uma arte. O corpo se gasta, range, dói, reclama, trapaceia, mas a mente nunca para de de se expandir, a compreensão de tudo aumenta, a compaixão, a leitura do outro aumenta, o amor é como uma cachoeira incessante por tudo o que vive e também pelos nossos mortos.
O corpo a gente carrega fazendo o melhor possível. Mesmo que às vezes pareça um trem estragado. Mas a mente voa, quer saber mais, a mente a gente afia no vento, nos livros, no passado e no presente.
Estou tão feliz com a minha caminhada, o meu progresso. Sou uma pessoa bem melhor frente ao meu julgamento que é bem feroz. Já não tenho raiva de ninguém, o perdão já quase não é necessário, pois não me sinto fendida.
Farei 64 desejando fazer 65,66,67, 90! Quero ver os netos grandes. Quero aprender muitas outras línguas. Quero ler ainda muitos muitos livros e escrever, quem sabe, muitos outros poemas.

sábado, 29 de novembro de 2014

NOMES

Os nomes das cidades daqui da Região dos Lagos no Rio de Janeiro são maravilhosos, começando por Saquarema: Araruama, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo, Barra de São João Rio das Ostras, Armação de Búzios.
Cidades com estes nomes tão sugestivos só podem ser belas. Conheço pouco por aqui já que não temos carro. Mas sei que aqui perto, na Serra do Mato Grosso há muita água, cachoeiras.
A Editora Moderna me pediu para ir a uma escola particular em Araruama, pois adotaram vários livros meus. Não vou a escolas particulares sem cobrar, e como geralmente não pagam, eu não vou. Mas como Araruama é aqui do lado, sugeri que eles, os alunos, um grupo pequeno, viesse gravar um vídeo comigo. Foi um encontro muito bonito, pois eram meus leitores realmente apaixonados! Uma menina leu meu livro Um Cachorro para Maya 10 vezes!!!, ela disse. Não consegue se separar do livro.
Um menino do segundo ano, a coisa mais linda do mundo, de cabelinhos crespos, acordou às cinco da manhã de ansiedade para vir aqui. Seu livro era Carona no jipe e ele também se apaixonou pelo livro perdidamente. A turma era bem colorida: uma filha de chineses, uma de olhos azuis com a melhor amiga mestiça , as duas lindas de morrer, um neto de índios sul americanos e um filho de índio brasileiro com uma loura. Falamos então sobre as diferenças, as misturas. Acho que a escola deveria ter um espelho em cada sala para trabalhar as diferenças. Falei para eles que raça não existe, somos HUMANOS COLORIDOS.
Raça é de cachorro, boxer, pastor alemão, São Bernardo, etc...
Falamos de tecnologia na escola, e foi bom. Eles eram do segundo ano, do quarto ano. Mas entenderam tudo o que discutimos.
Depois , claro, quiseram ir ao jardim buscar os jabutis e acharam os cinco! Fizemos fotos.
As crianças me beijaram, abraçaram e iluminaram a minha tarde. Fazia frio na varanda como se estivéssemos na montanha.  Eles amaram ouvir a música do mar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS

Quando os meninos e meninas da Escola Rural do Palmital aqui de Saquarema vieram aqui em casa (abro um parênteses para dizer que escolas deveriam ter nomes poéticos e não de pessoas pois nenhum aluno sabia quem era o senhor que nomeia a escola ) perguntei se eles brincavam do que eu brincava quando era criança.Algumas brincadeiras eles conheciam e outras não. O meu novo livro Brinquedos e Brincadeiras traz as brincadeiras que eu amava. Eu amava pular corda. Ai que inveja de mim pulando corda quando criança! Ganhava qualquer concurso.
PULAR CORDA
Se pudesse o menino pularia
     corda
com a linha do horizonte,
se deitaria sobre a curvatura
     da Terra
para sempre e sempre
     saudar o sol,
encheria os bolsos
de terra e girassóis.
Mas chove uma chuva
     fina

e o menino vai até a cozinha
     fritar ideias

Eu morava , bem pequena, num prédio com flores azuis. Aquelas flores que grudam na roupa, são lindas e nosso jardim está cheio delas. Eu amava as minhas bonecas e amava que me fizessem roupas novas para as bonecas. Amava as cestas de costura. Tocar nas linhas, nos botões, enfiar o dedo num dedal de pura prata, passar a mão no ovo de madeira para cerzir meias!!!!!! Na verdade não gosto nem um pouco desta nossa sociedade de consumo e desperdício! A gente usava as roupas até acabar e todas as coisas. Até as meias eram cerzidas.
CESTA DE COSTURA
Dentro da cesta
     de costura
da mãe e da tia,
     agulhas e
fios de linha
     colorida,
botões, rendinhas,
     dedal.
A boneca pede
e a menina obedece:
     Quero
um vestido novo,
     com manga
     e bainha.
A mãe ajuda,
corta o pano,
     costura.

E lá vai a menina
feito fada madrinha
da boneca de roupa nova.

E as cirandas? Não há nada mais maravilhoso e antigo do que brincar de ciranda. Todas as danças de todos os povos , desde o começo do mundo, têm alguma ciranda.
CIRANDA
Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar,
enquanto ainda dá tempo,
a primeira estrela anuncia:
A noite já vai chegar.
Vamos dar a meia volta
de mãos bem apertadas
e corações entrelaçados,
volta e meia vamos dar.

O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou,
o tempo parece de vidro,
há que carregar com cuidado,
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou,
mas amor nunca se acaba,
meia-volta, volta e meia,
outro amor há de chegar.

Quem quiser comprar meu livro Brinquedos e Brincadeiras pode pedir diretamente à FTD ou em alguma livraria virtual. As ilustrações da Cris Eich são uma delícia. Faço este momento comercial porque muita gente me pergunta onde pode comprar o livro.
Pretendo fazer um lançamento aqui em Saquarema em março.

    

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

HISTÓRIAS

Vivemos para contar histórias, vivemos para viver histórias e nossa vida é uma história que vamos construindo, junto com o destino, o acaso e nossas escolhas. Lá no final, ao olhar para trás temos que ter uma bela história da nossa vida para relembrar e deixar como herança para filhos e netos e eles também, por sua vez...Era uma vez.
Ontem, na coluna Conte Algo Que Não Sei, do jornal O Globo, fala o contador de histórias Mohamed M.Hammú.
Ele nasceu no Marrocos em 1966 e é narrador profissional.Já antes disso ele se dedicava a recuperar as histórias da tradição berbere. Ele diz: "Nas noites de lua cheia, as mulheres deixavam tudo ordenado em casa para ter tempo de narrar contos passados por outras mulheres no mesmo lugar de sempre, os pátios das casas".
Faço uma pausa e entrelaço a história do livro Amrik de Ana Miranda, quando a avó ensina para a neta as danças rituais em cima do telhado, provavelmente em noites de lua cheia. A memória sendo passada como algo muito precioso.
Há um rito para começar. Ele diz: "Quando se inicia o rito, todos se calam sentados sobre preciosos tapetes com almofadas e começam histórias sobre o deserto e seus enigmas, o surrealismo que há nos seres. Escutar e ler histórias berberes é um presente: poucas foram escritas, mas sobrevivem na memória das narradoras.".
Ele conta as histórias que lhe foram narradas pelas mulheres berberes.Ele diz que contar e ouvir histórias era coisa de mulheres. Mas ele amava e ouviu e guardou e agora narra as histórias que estão dentro do seu baú da memória. Ele diz que as histórias são mensagens que duram milênios.
Ele nos diz que para os berberes não há fronteiras. Eles são nômades.
Ouvi poucas histórias dos meus pais. Mas a minha babá Eunice me contava histórias do folclore. E minha avó Faiga me contava histórias da Bíblia. Caminhei muito pelo deserto junto com aquele povo que andava para lá e para cá. Por isso pude escrever os poemas do livro Desertos que fiz para os desenhos do Roger Mello. Não conheço o deserto, mas conheço o deserto. Caminhei muito por ali nas histórias da minha avó, ela lia as histórias da Bíblia para mim. Conheço a Bagdá das Mil e Uma Noites. Amo os camelos e povos nômades do deserto. Amo as caravanas.
Qualquer pessoa conta histórias. Desnecessário fazer cursos, os cursos podem dar alguma técnica, mas há que encontrar o seu próprio caminho.  Por onde começar a puxar o fio. Como prender os ouvintes?
Que nossa vida seja a mais bela história do nosso repertório.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

UM BAILARINO

Vou contar uma história linda, de amor e superação:
Um dia, Maria Clara, uma professora de Saquarema e membro honorário do nosso Clube de Leitura, pois foi a primeira leitora do Clube, veio até a minha casa me falar do Leonardo Brito de Mendonça. Ele é negro, de família humilde , a pessoa mais guerreira do mundo. Ele começou a dançar no Projeto Primeiro Passo em 2009, na Colônia dos Pescadores, dança de salão e balé  clássico. Pois bem, Leonardo passou para a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, do Teatro Municipal, no Rio de Janeiro. Só que ele mora em Saquarema e estuda na Etec de Saquarema, onde está terminando o Segundo Grau. Então, ele pegava  o ônibus universitário às 4hs da manhã para estar no Municipal cedo. Voltava em ônibus de carreira para ir para a escola à noite. Tinha que estudar além disso. Maria Clara veio um dia na minha casa para passar o chapéu. Ela estava fazendo uma vaquinha para ajudar o Leonardo, pois ele tinha que comer e pagar o ônibus da volta. Me comprometi com uma quantia X por mês como ajuda de custo.
E agora vem o melhor: Leonardo ganhou uma bolsa integral para um curso de férias no Miami City Ballet School . Foi o único que ganhou a bolsa integral. Fez a prova na frente do Diretor da Escola.
Leonardo entrou no Municipal pulando vários níveis para fazer balé clássico. Agora faltam quatro anos , mas ele já ganhou prêmios em festivais de dança.
Ou seja , além de Leonardo ter o sorriso mais lindo do mundo, ele é um talento raro.
Ele ganhou a bolsa do curso, mas precisa de uma passagem e dinheiro para comer e se locomover. Bailarinos brasileiros que estudam lá ofereceram alojamento para ele.
É uma honra para Saquarema e espero que a Prefeitura possa ajudá-lo, pelo menos com a passagem. Ou a Câmara dos Vereadores.Ou a Secretaria de Educação.
Ele pode ser o bailarino que nasceu em Saquarema e foi dançar pelo mundo.
Ele ontem veio aqui em casa me contar, conversar comigo. É uma pessoa tão linda, tão cheia de sonhos, no seu olhar só tem dança. 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O BAÚ DE AFETOS

Eu não me lembrava, mas logo antes da minha cirurgia uma E.M Rural de Saquarema, a João Machado da Cunha, veio me pedir para participar do Projeto Café, Pão e Texto. Eu expliquei para a professora que era impossível, eu não sabia como iria estar me sentindo. Ela sugeriu então trazer poucas crianças , apenas para uma entrevista, sem o café da manhã. Então concordei e anotei na agenda. Mas eu nunca olho a agenda! E havia mesmo me esquecido completamente.
Então ontem, ao me aproximar do portão para ver o mar, um ônibus escolar passou pela minha porta, era pequeno, amarelinho, e dei adeus para as crianças com as mãos. Acontece que o ônibus parou logo adiante , as crianças desceram e vieram para o portão com duas professoras.
Eu perguntei: _Gente, marquei alguma coisa com vocês?
E elas_ Sim, marcou uma entrevista.
Falei: Esqueci!!! Mas improvisaremos um café da manhã. Vou pedir ao Sr.Motorista para comprar pão na padaria.
E elas: _ Não, você combinou sem café da manhã. Trouxemos um lanche para fazer um piquenique na praia.
Eles entraram e eu pedi para irem todos ao jardim e quem encontrasse um jabuti primeiro ganhava um livro.
Dois , um menino e uma menina acharam um jabuti ao mesmo tempo!
Depois fizemos uma rodinha com bancos e cadeiras no canto do fogão de lenha e comecei perguntando se a escola tinha horta . Não tem, eles me explicaram que a escola é bem pequena mesmo e não há espaço para uma horta, nem Sala de Leitura.
Então perguntei se eles sabiam que uma horta pode mudar pessoas. Eles me olharam com cara de espanto. Perguntei se eles conheciam Nelson Mandela, se já tinham ouvido falar do apartheid na África do Sul. Não, não conheciam Nelson Mandela, nunca ouviram falar da África do Sul. Então contei a história do Nelson Mandela, do Apartheid, de como o Mandela começou querendo fazer uma revolução violenta e como entendeu que seria muito melhor mudar as coisas de uma maneira pacífica. Acho que havia apenas uma aluna branca. Todos eram negros ou mestiços. Todos lindíssimos. Então contei como o Nelson Mandela conseguiu autorização para fazer uma horta na prisão, pois foi preso e ficou preso por muitos anos. E como a horta foi mudando o comportamento dos guardas terríveis com os presos. Como a horta, lindíssima, conseguiu abrandar seus corações. Depois falei da importância do perdão. Se negros e brancos não tivessem se perdoado mutuamente, haveria, depois do apartheid , um banho de sangue. Falamos do Dia da Consciência Negra e de como o Mandela é uma das figuras mais importantes que já existiram.
Fui entremeando tudo com brincadeiras poéticas com a leitura dos poemas. Perguntei se alguém sabia um ditado popular, quem respondesse primeiro ganhava um livro. Um menino disse: Quem vê cara não vê coração e ganhou um livro e eu li este poema. Perguntei se alguém já sentiu dor no coração com alguma coisa, se já sentiu o coração disparar com alguma coisa e finalmente se alguém já havia conseguido abrir algum coração fechado. Muitos disseram que sim, mas não quiseram me contar. Era segredo.
Fizemos uma Orquestra Noturna com vozes de sapos e corujas e percussão no corpo, com meu poema do livro Caixinha de Música. Fizemos uma cena teatral com meu poema Receita de se Olhar no Espelho, do livro Receitas de Olhar, e no final todos gritaram seus nomes bem alto.
Então eu ia respondendo as perguntas deles e intercalando brincadeiras com poemas . Falamos de bullying  e eles são tão amigos e tão amorosos que não há hostilidade entre eles. Mas um menino lindo me disse que o amigo o chamou de macaco. Então falamos sobre estes xingamentos racistas e eu disse que achava que eram uma bobagem pois a verdadeira ofensa seria chamar um macaco de homem, pois os macacos são muito melhores do que a gente. Também chamam a mulher de cachorra e não há nada mais magnifico do que uma cachorra, as fêmeas são amorosas ao extremo, mães maravilhosas, as melhores amigas. Sempre preferi ter cachorras do que cachorros. Também chamam algumas mulheres de galinha, mas não deveria ser uma ofensa, pois as galinhas são lindas, roubamos seus ovos para comer e elas nem fazem uma revolução! e falei um pouco das coisas que dizemos por hábito.
Perguntei se eles estavam com muita fome e vontade de ir embora e eles disseram que não, nunca, de jeito nenhum, então ainda ficaram e fechamos com o jogral do Caldeirão da Bruxa, do meu livro Poemas e Comidinhas. Perguntei se eles queriam a sopa da bruxa ou biscoitos e distribuímos biscoitos, fizemos fotos e minhas amigas baianas Regina e Verbena participaram de tudo. Antes , quando ainda eram distribuídos os biscoitos, o Motorista, que participou de tudo, sentado na Roda, pediu para falar. Disse que se chamava Silvio Santos mas o seu baú não continha nada material, era um baú cheio de amor! Pedi abraços , nos abraçamos muito, todos e foi a manhã mais maravilhosa do mundo e lá foram eles com as Professoras Bruna Macedo e Rogéria Marins rumo ao piquenique na praia com toalha e tudo!!! 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

VOZES DE SAQUAREMA

No último sábado a Casa Amarela, onde vivemos eu e Juan, as gatas Luna e Nana e os cinco jabutis, se desprendeu do chão e quase foi parar no céu.
O Coral Vozes de Saquarema veio cantar na nossa varanda para celebrar a vida.
É um Coral formado por pessoas de mais de 60 anos. Com duas exceções: uma menina jovem com um lindo cabelo afro e uma transexual,, a Nicole, que infelizmente  não pode vir.
Quando cantam se transformam, se transmutam, cantam recolhendo pó de estrelas, os corpos não param quietos, dançam, quase voam. O figurino é belíssimo, uma saia estampada até o chão, cada uma diferente da outra, uma flor azul no cabelo, blusa preta. Cantaram Villa-Lobos , Tom Jobim, Vinicius, o melhor do melhor, os homens elegantes, um senhor com um lindo chapéu. Fizeram uma meia-lua no canto do fogão de lenha, e com suas vozes transformaram a noite em sonho. A interação do Maestro Moisés com suas meninas e meninos de mais de 60 anos, é a coisa mais linda de se ver. Maestro Moisés é completamente iluminado. Ele transmuta pessoas. Cada um com sua imensa história de vida, tantos caminhos percorridos, e o maestro transformou cada um em cantor, cantora, dançarinos.
E uma senhora linda do Coral dançou na varanda a dança do véu azul. Foi muito emocionante. A prova de que a vida nunca nunca acaba , até o último segundo podemos cantar, dançar, expressar nossa alegria.
Alguns amigos , grandes amigos estavam na plateia. E nos intervalos , a mesa mais linda, cheia de iguarias. Cada pessoa do Coral trouxe alguma coisa. Eu dei os vinhos e Fernando, nosso amigo, trouxe  espumantes da melhor qualidade. E comíamos, tomávamos vinho, explodíamos de alegria, e o Coral voltava a cantar. O Maestro trouxe também convidados de outro Coral, acho que éramos umas 40 pessoas.
Apresentei meu novo livro Brinquedos e Brincadeiras, li 3 poemas.
No final passei o chapéu, pois o Coral precisa de algum recurso para figurinos novos, eles se preparam agora para o Natal.
Ainda bem, o Coral Vozes de Saquarema virou uma ONG ou Associação, não sei direito e isso nos dá a segurança de que não vai acabar.
Se eu fosse Prefeita não deixaria o Maestro Moisés sair de Saquarema. Ele ganharia um salário bem bacana para fazer um Coral em cada escola. Assim, Saquarema, além de ser conhecida pelo surf, seria a Cidade dos Corais. A música cura, aproxima pessoas, transforma vidas.
Eu não tenho como agradecer. Maestro Moisés, obrigada.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

PARA BRINCAR

Adultos devem brincar? Claro que sim.  É muito bom brincar. Acho que quando brincamos alguma coisa bem dura, como um pedaço de iceberg, se rompe dentro da gente. Dançar é brincar. Cantar é brincar. Tudo pode virar brincadeira e até as atividades mais cotidianas e sensatas podem se transformar em algo bem prazeroso . Muitos adultos perdem esta capacidade. Mas quando a gente tem contato com crianças , elas nos lembram disso e nos levam pela mão.
Fiz um livro lindo, Brinquedos e Brincadeiras, que já saiu pela FTD, mas ainda não recebi. Está chegando. Tentei recuperar brincadeiras antigas.
Quando era criança eu amava brincar de roda. Amava de paixão jogar amarelinha. Passar o anel. Telefone sem fio. Amava as bonequinhas de papel e suas roupas maravilhosas também de papel, que a gente recortava. E quando era menor ainda eu gostava de brincar de lua. Quando eu voltava da pracinha do bairro, já anoitecendo, a lua me seguia. Eu parava, ela parava, eu andava, ela andava. E quando chegávamos na porta  do prédio, ela parava de vez e eu pensava: Como é que ela sabe onde eu moro?

A LUA
A lua pinta a rua
de prata
e na mata a lua parece
um biscoito de nata.

Quem será que esqueceu
a lua acesa no céu?

in No Mundo da Lua, ed. Paulus

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

VISITA

Quando fui morar em Madrid em 1998, levei na bolsa o nome e o telefone de uma brasileira casada com um espanhol. Telefonei e marcamos um encontro. Ela foi me buscar em casa, na Calle Arquitecto Gaudí. Era a Miriam, com sua filhinha Clara, devia ter menos do que dois anos ou no máximo dois anos. Clara era fofíssima. Usava óculos, estava começando a falar. Fomos tomar um sorvete numa linda sorveteria. Clara já era bilíngue .  Olhou para o meu cabelo vermelhíssimo, apontou e falou: - Rojo! Miriam, sua mãe, perguntou: _ Em português, como é, Clarinha? E ela respondeu: _Verrrmelho!!! forçando bem os erres.
Durante toda a minha estadia em Madrid Miriam foi um anjo, me levando daqui pra lá, de lá pra cá. E quando eu queria falar assuntos da alma era com ela que eu conversava, já que com os espanhóis só podia falar do clima e das férias.
Uma vez Miriam nos convidou para jantar. Eu jurava que seria na quarta-feira. Na véspera, na terça, Juan chegou do trabalho, nós dois jantamos, bebemos vinho, vestimos pijamas quentes e fomos para a cama, fazia frio e nosso apartamentozinho não tinha calefação. Pois bem, toca o telefone quando eu já estava flutuando na vigília. Era Miriam, furiosa:
_ Roseana, vocês estão muito atrasados. Já estamos morrendo de fome e o fulano e a fulana, nossos amigos já estão aqui! Venham rápido.
Eu falei, Miriam, era amanhã! E ela: _Roseana, é hoje! E vem agora, fiquei horas cozinhando!
Bom, nos vestimos, saímos da cama tão quentinha, fomos para a rua gelada buscar um táxi, mas o pior foi ter que jantar outra vez!!!
E hoje recebo a linda notícia de que minha amiga Miriam vem almoçar aqui com a sua Clarinha que se transformou numa moça lindíssima.
Que maravilha as surpresas da vida!

terça-feira, 18 de novembro de 2014

SÉCULO XXI

No século XXI uma sonda, depois de 10 anos viajando pelo espaço, pousa num cometa e o que vejo é tão diferente da minha imagem poética de um cometa... Vejo pedras, aridez.
No século XXI todas as grandes Bibliotecas estão ao alcance das mão, realizando o sonho alucinante do poeta Borges de uma Biblioteca Infinita como paraíso.
No século XXI tudo o que acontece no mundo, eu sei agora, no minuto em que está acontecendo, tudo é instantâneo e se dissolve como leite em pó. Como poeira de um cometa fugaz.
No século XXI distância e tempo não existem mais como conhecíamos antes. Posso alcançar a voz de um ser amado a milhares de quilômetros de distância, agora no mesmo segundo em que penso em sua voz.
Mas no século XXI, como na Idade Média, como na Europa depois das grandes guerras, no século XX,como na Pré-história, as pessoas se deslocam de um lado para outro, caminham foragidas por grandes distâncias, açoitadas pela fome, pelo medo, pela saudade das suas casas ou cavernas perdidas.
São milhares os apátridas, os refugiados, as crianças que atravessam órfãs e sozinhas as fronteiras
Mas no século XXI, as atrocidades se parecem com atrocidades antigas, perdidas no fundo do poço do tempo.
O inimaginável acontece no século XXI . O mal em estado puro. O mal em estado absoluto. Pessoas desaparecem, e como na história da Alice no País das Maravilhas, que me dava tanto medo quando eu era criança, uma voz diz : "Cortem-lhe a cabeça". Seja no México, na Síria, no Iraque.
Precisamos abraçar nossas crianças, oferecer amor , o pão da beleza, arte, pedaços de aurora e sussurrar em seus ouvidos as mais lindas canções e dizer, podemos ser bons, podemos plantar, podemos cuidar, podemos guardar no coração o rastro azul de um cometa, podemos, como diz a Bia Bedran em seu livro "Fazer um Bem", fazer um pequeno bem cotidiano por qualquer ser vivo, e até mesmo pelas pedras.
Podemos afagar nossas crianças e sussurrar em seus ouvidos, vamos mudar o mundo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

FOGÃO DE LENHA

Fogão de lenha aceso com feijão cozinhando. Samuel cortando a grama. Igor, nosso neto de estimação (neto do Samuel e da Vanda) tomando café da manhã com a gente, bela manhã de segunda. Luminosa, cheia de afeto circulando pela casa. Preparamos a casa para receber duas amigas que chegam sábado de Salvador. Verbena, minha amiga desde 1994, quando eu estava triste e perdida no encontro do Proler em Feira de Santana, sem me conhecer, mas apaixonada pelo meu livro Pássaros do Absurdo, simolesmente me levou para sua casa em Salvador, para cuidar de mim, da sua poeta de cabeceira, pois meu livro estava literalmente na sua mesinha. Não a vejo desde muitos anos. Mas para amigos verdadeiros que cuidaram da gente o tempo n]ão existe, é menos que um grão de poeira. E Regina, que também me adotou naquela época, com sua alegria cor de girassol. Minha Tia Alice também voltará para cá no sábado. E a gente vai tecendo as suas felicidadezinhas, pois a vida é um sopro.

domingo, 16 de novembro de 2014

BOAS NOTÍCIAS

Hoje, porque é domingo, porque desde às 5.30h chove torrencialmente aqui na praia, em Saquarema, e o jardim de tão belo parece uma irrealidade, porque imagino a terra se enchendo de água, os rios, os poços, só quero dar boas notícias.
Por exemplo, ontem, fui dormir com os olhos cheios de elefantes.Explico: vi um documentário sobre um tratamento de crianças (com problemas de todo tipo)  com elefantes. Na Tailândia. As crianças abraçavam elefantes , muitos eram crianças também, davam banho, abraçavam, beijavam, davam comida. Andavam de elefante. Depois abraçavam as mães com uma felicidade impressionante. Sou tão apaixonada pelos elefantes que se pudesse iria até a Tailândia para fazer esta terapia também. Que a criança que fui, quieta, tímida, diferente, pudesse abraçar um elefante!
Na mesma Tailândia, numa cidade pequena, com as orquídeas explodindo sua beleza, o que seria o prefeito da aldeiazinha teve uma grande ideia. Recebe turistas americanos para mostrar como é a vida dos tailandeses na sua intimidade, mostrar como são felizes sem praticamente nenhum bem material.
Parece que a tendência é buscar a verdadeira felicidade, a que brota de dentro, como um manancial de água preciosa.
A minha última grande e boa notícia é a brincadeira que já contei aqu, a que meu neto Luis faz com seu pai e sua mãe. O nome da brincadeira é vejo-vejo. Cada um conta o que está vendo. Por exemplo: da janela do meu quarto eu digo: _Vejo-vejo! E alguém me pergunta: _ O que?
Respondo: _Vejo-vejo uma cachoeira de flores cor de maravilha, a nossa buganvília (é assim que se escreve?) ou primavera.
E minha íris agora é cor de maravilha.
E você , o que vê?

sábado, 15 de novembro de 2014

A VOZ DE ANA MARIA MACHADO

Ana Maria Machado, a grande, maravilhosa escritora brasileira, Prêmio Hans Christian Andersen, Imortal da Academia Brasileira de Letras, orgulho nacional, diz hoje em seu artigo no O Globo:
........................
""Oposição é aceitar o resultado das urnas. E vigiar, acompanhar, cobrar o que fazem os eleitos. Como seus líderes mais responsáveis têm reiterado, também é não aceitar mentiras, não se deixar enrolar, não deixar que o governo enrole os eleitores.É agregar para crescer, somar o conjunto de forças que quer ser diferente.
..........................................................
Não deixar que mentiras repetidas sejam aceitas como verdades"

Declaro que discordo dos métodos truculentos do governo.
Declaro que desejo um Brasil mais limpo para meus netos Luis e Gabriela.
Declaro que simplesmente me envergonha tudo o que está acontecendo , a política como Feira Livre, barganha, toma lá, dá cá, quem dá mais, quem rouba mais.
Declaro que sou contra toda a tentativa de destruição da Lei de Responsabilidade Fiscal. Todos, cada um de nós, tem que ser responsável por seus gastos, seus gestos, sua vida.
Declaro mais uma vez que rótulos do Século XX não cabem no Século XXI.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

SEDE

Hoje, na Coluna "Conte Algo que não sei" do jornal O Globo , fala Cristiano Borges, engenheiro químico e professor. O que ele nos conta deveria estar escrito nas paredes, muros, em outdoors imensos por todo o país, mas principalmente escrito na cabeça dos governantes. Ele nos diz coisas maravilhosas e terríveis.
As maravilhas: não faltará água. O custo de dessalinizar a água do mar é barato com a invenção de uma membrana produzida em laboratório. Aí ele explica a fabricação da membrana. Ele sugere que as grandes indústrias, que gastam uma quantidade colossal de água já poderiam estar usando água do mar.Custa 2,00 (dois reais) para produzir mil litros.
Já existe, já se pode fazer isso: uma usina que aproveita a energia do encontro das águas do mar e do rio. Energia AZUL, sem nenhum impacto ambiental. A diferença de pressão é de uma altura de 220 metros. Imaginem na Amazônia, sem ter que destruir, alagar, expulsar índios... Em Israel a água é 70% reusada. E a nossa água? Na Noruega a Usina do encontro das águas já existe.
Aproveito para falar do lixo. Na Noruega acho que reaproveitam 100% do lixo. E no Brasil? O lixo é uma grande riqueza, além disso produz gás.
Então, a notícia maravilhosa é que não precisaremos morrer de sede! A notícia terrível é que os governantes viram as costas para a ciência, para as saídas que respeitam de verdade o meio ambiente. Em Saquarema venta todo o tempo e por aqui nunca se ouviu falar em energia eólica...  

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

CRIANÇAS À MARGEM

Dois documentários que machucaram meu coração:
1 - A situação das crianças transexuais . Crianças que nascem meninos ou meninas, mas na sua mente são do sexo oposto. Ao se olhar no espelho, não se reconhecem. A família os esconde, a escola não aceita, a sociedade não aceita. Para a criança é uma situação muito dura e os pais precisam estar atentos, pois não é um capricho, uma escolha, uma preferência. É assim. Nasceu menino, mas não se sente menino, nasceu menina, mas não se sente menina. Há todo um movimento na sociedade para a aceitação de outros gêneros , além do simplesmente homem ou mulher. Mas os preconceitos são imensos e tudo isso ainda vai gerar muito sofrimento. O ideal é que a gente tente sempre entender o sofrimento do outro. É um passo para a aceitação. Sem dogmas religiosos.
2 - Há um milhão e trezentas mil pessoas invisíveis na China ou serão três milhões? Já não tenho certeza, mas enfim, uma multidão inimaginável de segundos filhos proibidos que não podem ser registrados nem possuir carteira de identidade, nem frequentar uma escola, nem trabalhar. Seus sonhos são todos roubados pela política do filho único. Mas se o casal tiver uma fortuna para pagar de multa, a criança pode ser registrada. Um comércio terrível com a vida das pessoas! Geralmente poucos podem pagar esta multa gritante. Imaginemos a vida de uma criança que vê seu irmão ou irmã ir para a escola e esta criança não pode ir, etc, etc.
Se o casal morar no campo e a primeira filha for mulher aí sim, porque precisará de ajuda no campo, pode então ter legalmente um segundo filho.
Todos já ouvimos rumores sobre assassinatos de meninas recém-nascidas, para que o casal possa tentar um menino.
Será que existe no Universo seres menos cruéis que nós, humanos?

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

UM DIA MUITO FELIZ

Ontem falei com um amigo do nosso Clube de Leitura: o mundo está mesmo esquisito, mas vou fazer 64 anos em dezembro e só tenho uma vida, se tiver outra depois, certamente será outra coisa. Se não existir nada depois, pelo sim pelo não, há que viver esta vida com alegria e felicidade. Fazer a felicidade de quem está perto de mim é a minha tarefa. E lá vou indo com a minha trouxa de poesia, leve, feita de coisas etéreas. Por exemplo hoje, acordei às 4:30h e antes das 5h, já estava no meu banco na varanda com a garrafa térmica vermelha , uma xícara que minha irmã ceramista fez e todos os barulhinhos maravilhosos do final da noite. O mar, sua sinfonia nas minhas costas, suas intermitências. O vento no jardim, nos coqueiros, nas palmeiras, o ranger da casa, os estalos das madeiras, a casa parece um barco, parece viva e um galo lá longe, todos sabem, chamando a manhã. Deve ser terrível a manhã que se aproxima sem um galo puxando a luz com seu canto.E de repente a luz desfiando o resto da noite. O cheiro das algas e do jardim me envolve e chega o Juan. São 6h.
Depois do café Juan me traz a Luna , minha gata persa que já está com 14 anos e há uma sessão de cabeleireiro e cafuné. Primeiro a colocamos no banco e ela é escovada enquanto resmunga sem parar. Depois eu a pego no colo como um bebê e é sessão de cafuné. Canto para ela, afago, conto coisas, ela fica muito muito tempo no meu colo ronronando, lembrando... Depois quer ir para o jardim, desliza e vai descendo as escadas devagar.
Hoje comecei a dar aulas de leitura para a Vanda, nossa amada caseira. Ela quer melhorar a sua leitura para um dia poder participar do clube. Foi maravilhosa a aula. Começamos a ler um livro pequeno e lindo "As aventuras do meu avô" de Angela Quintieri.
Foi uma experiência maravilhosa para nós duas. Ela ganhou uma palavra nova: "auge" e expliquei para ela que o que mais separa um pobre de um rico é o número de palavras que possui. Com palavras e pensamentos articulados podemos nos defender. Faremos 20 minutos de aula três vezes por semana. Interpretamos o que leu. Contei para ela porque falamos português no Brasil e não uma língua indígena. Ela amou tudo, parecia explodir de felicidade e eu também.
E finalmente para fazer um feixe de flores campestres com tudo isso, hoje é o aniversário da minha neta Gabriela. Ela faz um ano hoje. E já sabe beijar na boca!

terça-feira, 11 de novembro de 2014

EXPECTATIVA

Não ter expectativas é muito difícil para nós ocidentais, equivaleria a viver num presente eterno, deixar que tudo flua e não esperar nada. Mas fazer tudo o que tiver que fazer da melhor maneira possível. Se faço uma coletânea de poemas, quero que os poemas sejam lindos, quero dar o melhor de mim, do meu talento. Quero que o livro saia o mais belo possível , para que inunde os olhos e o coração de uma criança de beleza. Mas não posso ter nenhuma expectativa de vendas ou prêmios. Se estiver esperando que isso aconteça e realmente o livro não vender nada e não ganhar nenhum prêmio, ficarei arrasada, pois estava esperando alguma coisa. Mas se deixo apenas a vida fluir e o livro fizer o seu caminho, qualquer que seja, não ficarei triste.Ou ficarei radiante com a surpresa boa que o livro traga para todos!
Eu diria que não existe nenhum exercício maior do que este. Já consegui muito. Tento não esperar nada e viver apenas. Repito :não existe nada mais difícil. Sem a meditação não conseguiria chegar nem perto , nem ter este vislumbre.
Mas na recuperação mão consigo não ter expectativas. Só que a recuperação física de uma cirurgia grande com uma coluna tão instável quanto a minha, não é linear. Um dia estou ótima, podendo andar sem dor. Noutro dia, nem tanto. Talvez este esteja sendo o maior aprendizado da minha vida. Pois agora, tenho consciência de que tenho que fazer, como faço com os livros, o melhor possível, repouso, gelo, etc, etc, e ao mesmo tempo deixar tudo fluir sem que entre a expectativa e a ansiedade. Ler um livro, contemplar, escrever, receber amigos, fazer fisioterapia, sem pensar no corpo, ele tem o seu tempo, que não é o mesmo tempo que o da minha mente, ou da minha alma, que gostaria que o corpo pudesse andar normalmente, pudesse correr, pudesse voar...
Mas aqui, em Saquarema, respiro o jardim, o mar, o amor de todos os que me cercam, que estão perto ou longe, e deixando que o vento me embrulhe, e faço meus exercícios : espero não esperar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

VIAGENS

Neste tempo de recuperação física viajo muito para dentro. E penso muito e leio muito.
Penso que trabalhar no pequeno é algo lindíssimo, pois o nosso trabalho pode ser um farol.
Daqui, de Saquarema, uma cidadezinha linda no litoral fluminense, a cidade que escolhemos para viver, o meu trabalho tão pequeno, faz com que pessoas lá longe queiram fazer algo assim.
Esta semana tive a grande alegria de ser procurada por duas pessoas que não conheço, pedindo ajuda para criar um Clube de Leitura nos seus lugares. Uma delas queria textos simples, para leitoras iniciantes e aconselhei literatura infantil. Os textos de qualidade podem se desdobrar em leituras riquíssimas e ainda por cima podemos fazer a leitura das imagens.
Faremos aqui em casa o último encontro do ano com os professores(a) da Rede Municipal de Saquarema com a Secretaria de Educação. Meu trabalho com este grupo tem o foco na sensibilização do olhar para com o outro, através da leitura, claro. Como estamos bem perto do Natal, pedi que cada pessoa trouxesse um poema e dedicasse para alguém, presente ou ausente, falando alguma coisa boa sobre esta pessoa. Acho que o resultado será emocionante. Preparei algumas outras coisas, surpresas.
Tudo isso me alimenta, transformar o que penso em ações , ver a nossa varanda com uma linda mesa arrumada para um café da manhã coletivo, ou com um almoço do Clube de Leitura, ou com um almoço para crianças que chegam de longe, me faz transbordar, como se eu não coubesse em mim.
No entanto, não almejo trabalhar com muita gente. O que quero é construir no pequenininho, como a personagem do livro da Stella Maris, escrever num grão de arroz, jogar um desejo no mar...   

domingo, 9 de novembro de 2014

EM JERUSALÉM

Ontem vi um documentário mais do que interessante. Era sobre uma cinemateca em Jerusalém, algo que se tornou imenso com o tempo e é um reduto de gente de mente aberta, jovens e velhos misturados pensando em aceitar o outro, o diferente. Ouvimos a luta das dirigentes para conseguir filmes iranianos, por exemplo. Os jovens israelenses querem saber dos países árabes.
O mais importante do documentário, não é conhecer gente que luta pela paz e entendimento em Israel.,mas sim, ver a face autoritária dos super ortodoxos que tomaram a cidade para si. Aos sábados ônibus não circulam! É horrível, eles não querem mesmo a paz e são maioria no Governo (não tenho certeza, não acompanho muito, mas sua influência é muito grande) Como a religião e todo o fanatismo desemboca em ódio quando se mistura com a política.
Temos que estar atentos. O Estado, qualquer um, tem que ser LAICO e as escolas públicas também. Religião deveria ser algo íntimo.
Ouvi muitas pessoas no documentário falando : " A religião para mim é apenas a tradição, eu gosto das festas, da comida, de estar junto celebrando. Mas por que no sábado não posso pegar um ônibus em Jerusalém?"
Sou judia e nada nada religiosa. Cuido da minha espiritualidade sozinha. Mas me emociono nos casamentos judaicos, nas festas, com o cheiro das comidas, com as músicas. É a minha infância. Judaísmo para mim, é o que meu pai me deu, um olhar compassivo sobre o outro , ajudar o outro. Quando eu era jovem e houve o massacre dos Campos de Sabra e Chatila, o massacre dos palestinos, meu pai chorou.
Então vemos os ultra ortodoxos com seu fanatismo, fazendo de Jerusalém sua presa, usando Deus para a guerra e a gente pensa: como isso pode existir hoje? Por que gente que quer a paz de verdade, o convívio não pode discutir a paz?
Tenho um livro lindo lindo lindo. QUAL A PALAVRA? Ed. Paulinas. É sobre a construção da paz, é para gente de qualquer idade.
Eu o ofereci a uma editora israelense em 1994. Ela adorou, me respondeu, mas disse que em Israel já havia muitos livros sobre a paz.
 

sábado, 8 de novembro de 2014

FAZER AS PAZES

Depois de tantas agressões na Rede, talvez todos devêssemos fazer as pazes. Talvez devêssemos jogar peixes dourados. Metade do Brasil vota de um jeito, metade de outro. Metade pensa de um jeito, metade de outro. Isso é democracia. Não é justo o desejo de destruir quem não pensa como a gente. Foi o que fizeram os muçulmanos na África, os católicos na Idade Média. Política é religião? Quem pode ser dono da verdade ? Eu quero o bem do Brasil e voto assim, você quer o bem do Brasil e vota assado. Isso é democracia. Exterminar quem pensa diferente, ridicularizar, debochar ou agredir quem pensa diferente não dá certo. Este filme já passou muitas vezes e só produz dor e ressentimento quando não leva a coisas muito piores. Todos sabemos que o ser humano certamente é a pior espécie do planeta. A que destrói o seu habitat. Todos temos lados sombrios , tenebrosos dentro da gente, Mas temos lados magníficos, luminosos, o poder de sentir compaixão, de imaginar, inventar, Trabalhar com nosso lado luminoso é um exercício diário. Discutir, trocar ideias sem agressões é possível, totalmente possível. Com certeza ninguém sairá convencido do ponto de vista do outro,mas cada um tem direito a ter o seu ponto de vista.
Trabalhar o nosso lado bom desde que o bebê nasce é a saída. Música, leitura, pintura, teatro, dança. Tudo isso acalma e faz de nós seres humanos melhores, ajuda a amar e a controlar a raiva.
Há uma discussão sobre a maioridade penal na sociedade. O foco, do meu ponto de vista está errado. O que se deveria discutir são as prisões e os abrigos para menores. Essa é a verdadeira questão. Seres humanos entulhados como vermes, sem saída , a não ser , lá num futuro próximo, a crueldade, a vingança. Tenha esta pessoa 16 anos ou 18.
Então é necessário que todas as escolas públicas tenham oficinas de arte, aulas de leitura e fórums de pensamento,lugares de discussão na escola para os grandes problemas da sociedade. São tão imensos , exigem uma mudança radical de pensamento.
É isso que ando pensando nesta manhã de sábado, fresca , aqui em Saquarema, com o vento que vem do mar, perfumado de sereias.
Releio um livro lindo A Ponte Invisível, para nosso encontro do Clube de Leitura. Estou em Paris, no tempo sombrio que antecedeu a Segunda Guerra. Sou Klara, a bailarina? Sou Andras, o seu amante? Sou Tibor, a pessoa mais ética, honesta e maravilhosa? Quem escolho para ser? Este o poder imenso de um romance. Posso ser outra, viver outra vida em outro tempo.Posso ser homem ou mulher.  Bom sábado para todos.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

CHUVA

Ontem à noite, aqui em Saquarema,, a chuva veio da montanha, mansa e musical. Adormeci com o acalanto da chuva.
Acordei muito cedo e vim para a varanda. O ar era um perfume magnífico de terra molhada e do agradecimento que as plantas exalavam. Um certo laivo de ar marinho se insinuava, sutil.
Fiz um café, gosto de tomá-lo no escuro, sentada no banco, com o mar explodindo nas minhas costas.
Fechei os olhos. Eu era uma árvore que respirava baixinho. Vieram as primeiras luzes e os pássaros.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

RÊ FERNANDES

Na década de 90 viajei sem parar com o PROLER. Foi a minha grande experiência de vida. Aprendi as ferramentas para fazer um leitor. A aproximação, a sensibilização. Conheci a Rê Fernandes numa destas viagens , ela fazia cinema, tinha uma alegria de viver impressionante e nos aproximamos. Ela passou uns dias em Mauá, acho que foi num final de ano, isso não me lembro bem. Numa tarde uma tempestade se aproximava. E tomamos banho de chuva como crianças levadas . A Rê gargalhava na chuva toda ensaboada. Jamais me esquecerei desta imagem tão linda. Depois ela me contou de uma viagem de navio, de um grande amor... E eu não soube mais de nada. .
Estive muito pouco com a Rê. Nosso encontro foi uma luz, um esbarrão poético.
Mas sei que ultimamente ela travava uma batalha muito dura com o câncer. Acompanhei de longe a sua luta, as idas e vindas, as suas tristezas, o medo, as alegrias, as esperanças. Ela dividia tudo com seus amigos. Guardei a notícia que ela deu de que finalmente estava curada. E a Rê era a melhor amiga do meu grande amigo Maurício Leite. Eles planejavam vir juntos a Saquarema. A Rê, pelo facebook, me falou disso várias vezes. A visita não aconteceu, ela não estava curada Rê partiu. Soube hoje quando abri o computador.
Ficarei para sempre com seu maravilhoso sorriso, a Rê se ensaboando na chuva, na montanha. 
Pessoas maravilhosas são estrelas para sempre em nossa memória. 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

MELHORA

Hoje é o melhor dia da minha recuperação da artroplastia. É também o último dia da minha Tia Alice aqui em casa, então fiz para ela um bolo de laranja e um pão de milho. Fiz sozinha. Já faço quase tudo, mas o importante é fazer sem dor, pois como tenho dor crônica desde 1994, há que romper o ciclo da dor. Agora tenho duas próteses de titânio para segurar a coluna. É matemática: vou melhorar.
E a meditação me ajuda a superar obstáculos.
Amo a coluna do O Globo "Conte Algo Que Não Sei", pois são histórias de vida. E eu me alimento de histórias. Hoje fala Josh George, americano, campeão paraolímpico de corrida em cadeira de rodas, além de muitos outros esportes. Com quatro anos ele caiu do décimo segundo andar e sobreviveu. Ele fala que reagiu a tudo da mesma maneira que seus pais reagiram e fala da importância do meio ambiente para uma pessoa. Seus pais trataram a cadeira de rodas com muita naturalidade, como se fosse normal uma criança fazer tudo numa cadeira de rodas e o colocaram imediatamente para fazer esportes. Ele é atleta desde pequeno, acostumado a se fortalecer, a se superar.
Sua história é linda e me fortalece. Porque tenho muitos limites amo histórias de superação. Elas acabam se misturando com a minha história, pois em 1993, depois de uma crise da coluna, operei de hérnia de disco e a cirurgia não deu certo. Eu era andarilha na montanha. Descia do ônibus e subia 4km a pé com tranquilidade. Todos os dias subia no mínimo 3km e depois descia, sozinha com a minha cachorra para tomar um banho de cachoeira. Não pude mais caminhar na montanha, posso andar muito pouco. Desde então, como se eu tivesse sofrido um grave acidente, perdi muitas coisas que amava fazer. Lidar com as dores diárias (elas ficaram para sempre), foi uma árdua tarefa. Agora acho que vou melhorar muito. Terei mais estabilidade. Mas ao longo destes 20 anos aprendi a buscar felicidade e alegria em cada grão de vida.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

POEIRA DE ESTRELAS

Li um livro de entrevistas. Um autor francês de teatro com dois astrofísicos. Não me lembro do nome de ninguém nem do livro, pois o deixei em Mauá, na casinha da montanha, lugar muito propício para reler a conversa entre eles.
A astrofísica, parece, está muito próxima da poesia. Eles dizem que somos poeira de estrelas. Que todos os seres vivos são variações de uma mesma coisa, como a música de Bach? eu pergunto. Neste caso, eles dizem, somos quase imortais, pois somos energia e transformação. Nossos átomos se dispersam , se entendi
bem.
Mas saber que eu poderia ser uma árvore, um gavião, uma borboleta, isso me enche de amor.Saber que somos quase iguais...
Saber que sou feita como o sol, que o sol está em mim... Poesia pura.     

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

PUBLICIDADE DO BEM

Sabemos que os candidatos e seus partidos gastaram MILHÕES ou  BILHÕES, não sei, em campanhas eleitorais, deslocamentos em jatinhos e helicópteros e rádio e televisão. Dinheiro gastado inutilmente, já que com mesas redondas poderiam ter explicado para a população os seus projetos, gastando o mínimo em tempo de televisão , utilizando a estrutura de programas já existentes. Candidatos são seres humanos mortais, como eu e você, e o dinheiro que gastam é nosso, pois ou saem da caixa forte do Governo ou de doações comprometidas com ganhos futuros. Raramente são doações desvinculadas de qualquer projeto de lucro. Fora o salário dos marqueteiros, profissionais desnecessários, cada um deveria aparecer com a sua cara real e falar a verdade, a sua verdade.
Tudo isso para dizer que muitos problemas imensos poderiam ser tratados com uma publicidade do bem, uma campanha maciça como as eleitoral, para nos prevenir de males ansolutamente gigantescos.
Por exemplo, o desmatamento, o assoreamento dos rios. Se o problema não for atacado de frente com a ajuda de TODOS, ficaremos sem água, não importa se o fulano ou o sicrano é vermelho ou azul. Lembrando aqui que a água não tem cor!
Por exemplo, a gravidez precoce. Campanha maciça por proteção com preservativo, na televisão, murais, escolas. A gravidez precoce, que interrompe estudos e faz a adolescente passar para a idade adulta e suas imensas responsabilidades fora do tempo, é uma questão muito grave. Adolescentes fazem sexo. Ponto. Então muito melhor que sejam esclarecidos.
Por exemplo as drogas. Se as drogas fossem horríveis, nenhum ser humano se drogava. Todos nos drogamos de alguma maneira, com café, álcool, cigarro, tarjas pretas. Mas o jovem tem que ser esclarecido sobre as drogas muito perigosas. Como atuam no cérebro, como criam dependência e como levam à destruição. Nunca vi nenhuma publicidade que achasse o tom exato.
As cidades deveriam ter luminosos belíssimos com toda a tecnologia atual abordando estes temas. Idem a televisão, as escolas. As Redes Sociais, ainda bem, são um grande veículo para campanhas deste tipo que são feitas. Se as Redes também são usadas para disseminar o mal, preconceitos, violências, são também uma grande corrente das causas do bem.


domingo, 2 de novembro de 2014

NOSSOS MORTOS

NOSSOS MORTOS

Nossos mortos habitam
nossas lágrimas, gestos,
o timbre de nossa voz.

É preciso carregá-los
com cuidado
como feixes de luz dourada.

A cada manhã escrevem
saudade em nossa pele,
enquanto caminhamos pelo tempo.

sábado, 1 de novembro de 2014

UMA FLOR AMARELA

Uma flor amarela mudou a vida de uma família inteira. Foi assim:
Quando construímos nossa casa aqui em Saquarema, Juan vinha acompanhar a obra todos os dias.
O quintal era de areia da praia, nenhuma planta, nenhuma, salvo uma única flor amarela, uma alamanda.
Um dia , quando o Juan chegou na obra, Samuel, um dos empregados do mestre de obra, o que misturava cimento, estava fazendo um cercadinho para a flor, já que a planta estava correndo perigo.
Juan chegou em casa e me disse: _achei o nosso jardineiro. Ele tem um sorriso lindo e ama as plantas.
Quando a casa ficou pronta nós o contratamos. Samuel era muito pobre, sua mulher muito doente.
Cuidamos da Vanda, ela ficou com a saúde controlada. Eles moravam, toda a família, num quarto alugado. Começamos a buscar alguma casinha na zona rural, pois eles vieram de Minas, trabalhavam numa fazenda.
Achamos uma casinha inacabada por um preço simbólico, o dono tinha pressa. Compramos a casa, terminamos a casa para eles poderem morar. Eles pagaram , sem juros, todo o empréstimo. Quando acabaram, fizemos outro empréstimo conosco, sem juros e trocaram o telhado por telhas verdadeiras e fizeram uma varanda atrás, com fogão de lenha .
Depois, com o passar dos anos , eles foram melhorando a casa. Hoje a casa é linda,com um jardim tão cuidado, 2 quartos, sala, uma cozinha enorme, uma varanda atrás com uma mesa para 10 pessoas! onde se reúne toda a família e amigos. Tapetes, quadros, flores, nada falta na casa da Vanda e do Samuel. É a mais bonita do bairro. E com escritura. Eles amam o bairro rural, junto da lagoa, quase na frente da Igrejinha São Judas Tadeu. Fizeram tantos amigos, e tudo isso por causa de uma flor amarela.
Eles cuidam da nossa casa, cuidam da gente, nós cuidamos deles. Somos uma parceria.