quarta-feira, 30 de novembro de 2011

UM ANJO EM SÃO LUIS

Domingo à noite subimos a escadaria do Largo dos Amores e fui me apaixonando pelos nomes de ruas que encontrei em São Luis: Rua da Inveja, Praça da Alegria, Rua da Estrela, Rua do Giz.Fomos visitar duas casas de Reggae : Chama Maré e Trapiche. Era muita gente. Apesar da polícia estar em greve não senti nenhum clima de violência e nem medo no ar. São Luis é a capital nacional do reggae.
Segunda-feira cedo fomos para o Centro Histórico. Embora esteja em estado precário, muito diferente de quando vim aqui em 1990 quando estava recém reformado, é lindo de chorar. O nome de um sebo: POEME-SE. O lugar que se chama Praia Grande é um imenso poema...
Tomamos café da manhã com a grande escritora Luzilá Gonçalves, foi muito boa a nossa conversa. Evelyn, minha irmã, agora vai dar a sua ofina de leitura e barro para famílias.
Às 18:30hs vou falar na Feira de Livros. Depois da minha conversa voltaremos para o Centro Histórico onde há um encontro de terreiros . Haverá um show. Agradeço esta oportunidade. E amanhã, casa.

Já em casa:

Fabiana, em São Luis do Maranhão, foi o nosso anjo colorido, quem nos levou para lá e para cá. É tão bom ter um anjo ao alcance da mão...
A minha conversa em São Luis foi informal e o público, muito pequeno, era lindo. Revi um poeta que havia conhecido em 1990 e ele continuava sendo meu leitor, fiquei muito emocionada mesmo. É tão bom saber que a gente vai deixando pedrinhas iluminadas pelo caminho...

A Feira do livro era dedicada ao poeta José Chagas, de belíssima poesia:

O Apito do Passado

O Mearim derrama na distância

uma água que em sonhos nos invade,

como fio invisível que se lance a

separar em duas a cidade.


E essa água vem banhar sem que se canse a

vida inteira que no rio nade,

porquanto água de amor que lava infância

lava também velhice e mocidade.


Mearim — rio velho e rio novo,

alegria e aflição de um mesmo povo —

um mar se afoga nos mistérios teus.


Mas preservas em ti, para Pedreiras,

vibrando no ar, o apito das primeiras

lanchas que nos deixaram seu adeus.

sábado, 26 de novembro de 2011

SÃO LUIS DO MARANHÃO

Em 1990 fiz minha primeira viagem solo. Nunca havia viajado sozinha . O Sesc me chamou para a sua Feira de Livros em São Luis do Maranhão. Fiquei muito impactada. Acabavam de restaurar a parte antiga da cidade e seu casario era tão lindo que dava vontade de chorar. À noite fomos para lá e havia um movimento cultural impressionante. Um grupo de teatro passava por entre as mesas recitando Rimbaud e assistimos a um espetáculo de BOI com uma banda maravilhosa. Eram umas 1000 pessoas dançando coreocrafias lindas e cantando junto com a banda.
Amanhã volto a São Luis para outra Feira de Livro. Evelyn, minha irmã vai comigo dar uma oficina de leitura e barro. Não sei como estará São Luis nem o que me espera e essa é a graça da vida do viajante. Vou com o coração cheio de pássaros.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PÁSSAROS E GATOS

Em 1990 publiquei um livro pela Paulus, "Falando de Pássaros e Gatos". Partindo da idéia de que os pássaros e os gatos são incompatíveis,partindo da idéia de que na poesia, dentro do poema, os opostos se amam, misturei pássaros e gatos e agora recebo a sua sexta edição. Os poemas são mínimos, quase uma pincelada, um voo ou um pulo de gato. E devagarinho o livro continua voando e saltando por cima dos telhados:

TELHADOS
são os gatos que inventam
o desenho dos telhados
com seus passos de pura renda
com seus miados de amor


CASA DE PÁSSARO
casa de pássaro
é pendurada no azul
casa sonora
de cantos e ventos


ESTRADAS
as estradas dos pássaros
não são cobertas de barro
ou de cimento
são estradas sulcadas
na macia carne do vento


OLHOS OBLÍQUOS
de onde vieram
com seus olhos oblíquos
seus olhos de seda e luz?
vieram de um misterioso país
oblíquo
onde só podem entrar
os poetas com seus veleiros
e os homens que amam os gatos

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

COMENTÁRIOS

Ontem o blog Vientos de Brasil de Juan Arias, no El País, foi inundado por comentários lindos sobre a experiência poética que a E.M Eugenio Klug está fazendo, inspirada na E.M Hermann Muller, ambas na zona rural de Joinville. Reproduzo:

JUAN ARIAS, ME ENCANTA SUS MATERIAS SOBRE BRASIL. ESTA DE LA ESCUELA DE JOINVILLE-SC, ES
UNA ESCUELA MODELO, PARA MUCHAS.ENHORABUENA.

Publicado por: MARIA JOSE | 23/11/2011 13:01:09

ME ENCANTO ESTA MATERIA, ES UN EJEMPLO A SER SEGUIDO POR TODAS LAS ESCUELAS DEL MUNDO.

SALUDOS JUAN

SALUDOS LA ESCUELA DE JOINVILLE-BRASIL

Publicado por: Silvia | 23/11/2011 12:58:27

Soy profesora de español y escribo un blog con/para mis alumnos (o por lo menos, lo intento). Publiqué una entrada con mención a su artículo 'alfabetizados entre talismanes, huertas y ríos'. Sigue el link.
http://aguilasibuitresno.blogspot.com/2011/11/vientos-de-brasil.html
Un abrazo, sc

Publicado por: sylvana | 23/11/2011 11:54:13


Só através da sensibilização de seres humanos melhoraremos o mundo.E quando a leitura for o vento que varra todas as escolas com sua vassoura mágica de mudar pensamentos.Só lendo o mundo podemos modificar o mundo.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

POEMA

Hoje o dia está maravilhoso para a poesia. Escreví agora e divido com meus leitores:

Gosto do silêncio
que vem
das intermitências
do mar,
silêncio salgado,grosso,
que traz o voo de uma
gaivota
em seu bojo.

Gosto quando a casa
quase se desmancha
dentro
do barulho do mar
e vira jangada,
soçobra, se balança.

Gosto do cheiro sólido
das algas
quando invadem
a terra
e apagam as fronteiras,
já não se sabe
o que é fruta
ou o que é pérola.

ROUPAS NO VARAL

Adoro um varal cheio de roupas coloridas dançando dentro do vento. Pois na E.M Hermann Muller, quando cheguei, havia um varal cheio de camisetas no Bosque da Leitura. Eram camisetas muito especiais. Foram transformadas pelos alunos. Cada um escreveu um poema maravilhoso com o título: "Do que eu gosto mais" e a camiseta foi toda enfeitada com fuxicos fabricados pelas mães (aquelas bolinhas-florezinhas de retalhos). É uma idéia fantástica e tão fácil de fazer, fica como sugestão para presente de Natal, além disso , a gente pode se surpreender com o que as crianças gostam. Os gostos já são um poema.

Hoje no El País, Juan Arias contou em seu blog a experiência poética da E.M Eugenio Klug , na zona rural de Joinville, que se banhou nas águas poéticas da Hermann Muller. Já são duas as escolas que se alimentam prioritariamente de poesia. Vale a pena ler. Basta entrar em www.elpais.com e clicar em blogs.Procure então o blog Vientos de Brasil.

No livro da Elisa Lucinda "Parem de Falar Mal da Rotina" Elisa faz uma observação muito astuta sobre a vida na Europa e eu, que morei em Madrid, confirmo: europeu toma muito banho de sombra! Mas hoje chove aqui em Saquarema uma chuva boa, como disse o Tom Jobim, prazenteira, não está chovendo na roseira, mas sim nos meus lírios que logo estarão floridos!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

CAÓ E O JIPE

Conhecí Caó Cruz Alves na casa da Verbena , em Ipitangas, na Bahia. Ele me contou que era cartunista e me trouxe seus trabalhos. Caó tinha um jipe bem velho e no lugar das chaves havia um palito de sorvete. A história já estava pronta, era só escrever. Fiz o texto Carona no Jipe que primeiro foi publicada pela extinta editora Memórias Futuras.As crianças tinham adoração pelos desenhos do Caó. Conhecí criança que dormia com o livro debaixo do travesseiro! Quando a Memórias fechou, o livro ficou adormecido por um tempo. Então a Moderna fez a reedição com a Helena Alexandrino. Caó ficou triste e a partir da sua decepção fui dando vários livros para que ele ilustrasse, pois adoro os seus desenhos. Ele é engraçado e lírico ao mesmo tempo.Nossas novidades são Luna, Merlin e Outros habitantes, ed. Miguilim , que acaba de sair e O Circo, ed. Paulus, ainda com cheiro de tinta.
Lirismo,poesia e humor são ingredientes fundamentais para que a vida seja sempre surpresa. Caó estará esta semana num Festival de desenhos animados em Niterói. Seus desenhos são sempre premiados. Talvez, diz ele, consiga vir até Saquarema nos visitar. E quem sabe deste encontro aconteça um livro sobre os jabutís do nosso jardim.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

EVELYN ME CONTA e OUTRA HSTÓRIA

Evelyn, minha irmã me conta: lá no seu atelier , em Visconde de Mauá, na sala-loja, há um cesto de palha com muitos dos meus livros. Uma mulher viu meus livros e perguntou de onde ela me conhecia, já que ela usava meus poemas. Evelyn disse que era minha irmã e ela respondeu que lia meu blog todos os dias e então esta era a Evelyn que se mudou para Mauá! e quando foi apresentada ao Luis, ela disse: "este é o teu amor mexicano!!!" O blog se materializava ali, na sua frente, as palavras ganhavam corpo, pele e osso e como num filme , ela estava dentro do meu texto. Que maravilha!
Então me lembro de quando fui a Lanzarote com o Juan para uma semana de entrevistas com o Saramago. Eu amava seus livros e numa das épocas mais difíceis da minha vida , Blimunda era minha estrela-guia, minha mulher ancestral, ela me guiava pelos escuros labirintos. Nunca pude imaginar que um dia iria conhecer o Saramago em sua própria casa.De repente tocávamos a campainha da sua casa e meu coração parecia uma gazela disparada . Uma mulher lindíssima veio nos receber, toda vestida de branco e descalça. Era Pilar por quem sinto um amor imenso. De repente estávamos no estúdio do Saramago ouvindo o grande escritor, em carne e osso, falar sobre sua vida, sua infância, sua obra. Eu estava então dentro dos seus livros como se também fosse personagem! O livro do Juan é lindíssimo , O Amor Possível, ed. Manati. Eduardo Galeano fez um mini conto a partir de uma das suas histórias.
Agora estou lendo um livro belíssimo da Elisa Lucinda onde ela conta do Saramago na platéia onde seus alunos falavam poemas do Fernando Pessoa. As histórias se entretecem. O livro se chama A Poesia do Encontro, Elisa Lucinda e Rubem Alves, ed. 7 Mares. O livro deveria ser leitura obrigatória para todos os professores. Então a educação mudaria radicalmente de rumo e a poesia inundaria todas as escolas.

domingo, 20 de novembro de 2011

MUSEU DA MEMÓRIA

Silvane, a diretora da E.M.Hermann Muller, em Joinville, me conta: ela quer comprar um terreno atrás da escola para construir um Museu da Memória da comunidade que vive neste local e uma Casa da Leitura. A sua Sala de Leitura já está pequena. O terreno é belíssimo e este é um sonho bom de sonhar. Sugerí que ela fizesse uma ação entre amigos para arrecadar o dinheiro e acho que vai dar certo. Resgatar a memória dos avós e com a memória deles, a dos bisavós, é uma idéia belíssima. Quem sabe se chega a um documentário feito pelas próprias crianças. A comunidade tem muitas histórias para contar, seria um Museu de Histórias.

Sandra, a Diretora da E.M Castelo Branco, aqui de Saquarema, me agradece a força, a força das minhas palavras. Sandra, com o coral Escola Que Canta, nos ensina que com afinco se constrói o impossível e a criança artista está muito mais aberta para o aprendizado de qualquer matéria.

A E.M.Eugênio Klug também em Joinville fez com as crianças um lindo Juramento do Rio. As crianças criaram um amuleto em sala de aula e numa cerimônia junto ao rio que corre atrás da escola se comprometeram a usar o amuleto como sómbolo do rio e a cuidar de suas águas e de tudo o que é vivo.

Daqui do meu estúdio veja o jardim do alto: está todo florido, uma verdadeira maravilha. Vamos copiar a E.M.Hermann Muller e fazer também um Condomínio de Passarinhos, acho que seria uma boa idéia espalhar poemas pelo jardim.

sábado, 19 de novembro de 2011

CANTEIROS

Assinei agora mesmo uma petição a favor do Tibete, contra a violência chinesa. Toda a violência do homem contra o homem é injustificada e horrenda. Enquanto isso penso nos monges, sinto vergonha e planto flores. Hoje plantamos metade das hemerocallis que trouxe de Joinville aqui no jardim de Saquarema e a outra metade levo para plantar em Visconde de Mauá na minha casinha da montanha.O tempo está ótimo para o plantio, fechado, fresco, chuvoso. Anseio pelas flores que nascerão. Anseio por um tempo de paz em todos os cantos da Terra.

Coloquei no site o poema animado que o Caó fez, O Circo Chegou, sobre o livro que a Paulus editou. Está uma graça total: recomendo.

Hoje é dia de ler muito e descansar, pois dentro de oito dias vou para São Luis do Maranhão.

Transcrevo um poema maravilhoso que saiu hoje no Prosa e Verso:

ALGUNS GOSTAM DE POESIA
ALGUNS -
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.

Gostam -
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.

De poesia -
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.

Wislaya Szymborska, Prêmio Nobel

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

TRANSFORMAÇÃO

Então é verdade: virei flor, uma hemerocallis belíssima com quem tive uma identificação imediata. Muitos dirão que estou completamente louca, mas quando cheguei na Agrícola da Ilha em Joinville no último dia 15 para receber a homenagem e saí caminhando com a Silvane, a diretora da E.M.Hermann Muller, debaixo de chuva pelo parque magnífico e vi o canteiro com a flor Roseana, foi amor à primeira vista: nós nos apaixonamos. Ela queria me dizer alguma coisa e eu sentí meu ser se expandindo. Foi uma emoção violenta.O Sr. Dario me deu muitas mudas que irei plantar em Saquarema e em Mauá, nos dois jardins.
De repente chegou um ônibus grande, abarrotado de gente, crianças, professores, pais, mães, avôs, avós e todos vestiam uma camiseta com o desenho que meu amigo Caó havia feito da flor com o meu rosto. Eram umas 60 pessoas ou mais! Que surpresa fantástica. Houve um coral com chuva: lindo. Houve discursos emocionados.Houve risos. E lágrimas . E nada se desfez. Tenho um canteiro em meu coração.Meu coração está encharcado de amor, transbordando.
No dia 16 passei a manhã na E.M.Hermann Muller com as crianças que apresentaram um maravilhoso recital de poesia só para mim. E a escola com seus jardins, orquidários, horta-jardim, condomínio de passarinhos, é um sonho. Almoçamos com as crianças e o pessoal da Secretaria de Educação.
Á tarde fomos para a Livraria Midas com a Alcione Pauli, o meu anjo sempre, e tive a maravilhosa surpresa de saber que uma outra escola , a Eugenio Klug, está recriando a pedagogia da Herman Muller e está dando certo! De escola em escola ...
Cheguei em casa e encontrei um texto fundamental da Elisa Lucinda sobre educação e assim que ela liberar eu publico aqui no blog. E meus amigos das Ilhas Canárias voltaram hoje para a Espanha. A casa ficou vazia de repente. É tão bom receber quem a gente ama.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

JOINVILLE OUTRA VEZ

Lá vou eu para Joinville outra vez. Amanhã recebo a minha flor, a hemerocallis com meu nome . Dia 16 falo para professores e apresento meu novo livro Poemas para ler na Escola, ed. Objetiva, junto com a Livraria Midas. E almoço com as crianças da E.M.Hermann Muller. É muita emoção.
Não poderei escrever no blog. Na minha ausência tantas coisas acontecerão, o moinho da vida é incessante moendo as horas e fabricando acontecimentos. Até a volta!!!

domingo, 13 de novembro de 2011

ESCOLA QUE CANTA

Ontem fui a Saquarema andar pela FEIRA CULTURAL que agora funciona na Praça e é outra coisa: belíssima! A Secretária de Educação Ana Paula acertou a mão, o clima era de festa e confraternização. É lindo o povo na rua, fico muito emocionada.As barracas maravilhosas, a exposição dos alunos sobre cultura africana estava deslumbrante. Mas o ponto alto foi o coral ESCOLA QUE CANTA da E.M Castelo Branco. Um coral de vozes angelicais e nível altíssimo, internacional. Moisés, o maestro, conseguiu fazer um trabalho tão belo que seu coral poderia cantar em qualquer país representando o Brasil. E numa escola pública! Assim se faz a verdadeira educação. Conheço uma menina que canta no coral e antes era uma aluna medíocre. Agora é boa aluna e ama a escola.
Sugiro que cada escola em Saquarema tenha um grupo de alguma coisa neste nível altíssimo: teatro, dança, capoeira, orquestra, etc...Se o Moisés conseguiu fazer este coral, um profissional de teatro também conseguiria fazer um grupo teatral espetacular em outra escola. E assim em outras áreas.Fiquei completamente transtornada com a beleza do Coral Escola Que Canta. Que maravilha a gente sentir que nossas intuições e nossos sonhos muitas vezes se realizam!

sábado, 12 de novembro de 2011

CATAGUASES E ELISA LUCINDA

Na primeira vez que fui a Cataguases em 2000, fui com o Roger Mello e a viagem se transformou no livro Jardins da ed. Manati.
Desta vez eu dividia a viagem com a poeta e atriz Elisa Lucinda e de surpresa em surpresa, de fruta em fruta, Elisa se revelou para mim como uma das pessoas mais fantásticas , extraordinárias que já conhecí. Elisa é um jorro de lava, um terremoto e ao entrar no carro que me buscava na casa do meu irmão, ela falava com alguém ao telefone e ao mesmo tempo descascava uma maçã. "Preciso emagrecer, ela me dizia, para um filme." E da sua cesta iam saindo bananas e damascos que trouxe do Líbano com uma embalagem linda, escrita em árabe. E comendo frutas e dividindo idéias, fomos nos descobrindo como uma lingua estrangeira que a gente não sabia que falava. Eram tantas as coincidências que não podíamos acreditar e a viagem de 4 horas passou num átimo.
Ficamos no Hotel Cataguases projetado pelo grande mestre Niemeyer e meu encontro com as crianças não foi fácil, pois o espaço era exíguo, não havia microfone e fazia muito calor. Eram 130 crianças e a Globo gravando e atrapalhando! mas a poesia faz os seus milagres. Uma turma da Faculdade de Pedagogia foi me ver e depois fui para a piscina do hotel. Em cada viagem tenho que comprar um maiô, sempre me esqueço de colocar na mala. E a água ajuda a relaxar a musculatura, é dádiva.
À noite fui ver o espetáculo da Elisa "Não Falem mal da Rotina" e nunca ri e me emocionei tanto ao mesmo tempo! Elisa no palco é indescritível. Ela destrói tudo o que temos bem construidinho nas nossas mentes. É imperdível, espetacular. Sua poesia é bela , torrencial e generosa e a generosidade é uma das grandes qualidades da poesia.
Na volta ri tanto que fiquei leve como bolha de sabão. Elisa é única. Para dias difíceis, mal humor, amargura, recomendo. Ela tranforma a atmosfera à sua volta em turbilhão de poesia.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

CAIXINHA DE MÚSICA II

Acabo de voltar do espetáculo Caixinha de Música, no Teatro Mário Lago, (completamente decadente, um horror!!!) e tudo me emocionou, até mesmo o teatro mostrando as suas entranhas carcomidas. Aliás, a Prefeita Franciane que foi conversar com as 130 crianças presentes, me disse que não irão reformar o Teatro, mas sim fazer um lindo teatro novo para 500 lugares. Saquarema merece! O espetáculo musical que a Nancy Macedo montou com os meus poemas do livro Caixinha de Música é simples, despojado, impactante, ela deixa que os poemas cantem sem nenhum artifício, acompanhada por um músico esplêndido. As crianças vibravam e cantavam junto e batiam palmas e participavam. Fiquei com um nó na gargante. É maravilhoso ver meus poemas transformados em canções ocupando o espaço poderoso do palco. Fiquei mesmo muito emocionada. O espetáculo é muito barato e se alguma escola quiser levá-lo entre em contato comigo que eu me comunico com a Nancy Macedo. É uma maneira linda de aproximar as crianças da poesia.

CAIXINHA DE MÚSICA

Hoje, às 15hs, vou ao Teatro Mário Lago, aqui em Saquarema para assistir a peça montada por Nancy Macedo a partir do meu livro Caixinha de Música. Ela é atriz e dançarina, e não sei como veio parar aqui na minha cidade, algum vento maravilhoso a trouxe para que eu possa assistir ao seu espetáculo.
Caixinha de Música é um livro lindíssimo, minha parceria com meu filho Guga. Alexei Bueno, grande crítico de poesia na contra capa diz que " Caixinha de Música se insere perfeitamente na melhor genealogia da poesia para crianças no Brasil, na linha de obras-primas como Ou Isto ou Aquilo de cecília Meireles, ou dos Poemas Infantis de Vinicius de Moraes." Não é pouca coisa alguém tão importante escrever uma sentença assim! Fico muito impactada e me dá até um certo medo.

CAIXINHA DE MÚSICA

Sete notas são tão pouco,
mas são mais que o infinito,
que todas as galáxias juntas,
com seus anjos e cometas.

Sete notas musicais
são mais que todos os mares
com seus cristais e sereias.

Sete notas são mais
que todos os grãos de areia,
e fazem estradas e caminhos,
e nos levam pelos ares, pelo chão,
até o moinho do tempo.

in Caixinha de Música, ed. Manati


Para este poema Guga sugeriu uma pauta em espiral, vazia, para que o leitor pudesse escrever as suas notas. Acho que é isso que Nancy faz no seu espetáculo. Tomara que ele possa andar um pouco mais longe do que Saquarema.

Amanhã vou bem cedinho para o Rio, para a meditação da Helô com o grupo de mulheres, depois almoço com a Bia e Silvia, minhas editoras da Manati e então vou para Cataguases, para a Felica, onde conversarei dia 10 com os professores sobre poesia e educação.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O CIRCO

Ontem meu neto Luis foi ao circo, em Granada. Falei com ele pelo skype minutos antes de sair de casa e ele estava eufórico. O circo é atemporal por ser onírico e nós humanos, vivemos de sonhos. A realidade é apenas uma parte ínfima do que vivemos. E a realidade também é sonho. Naturalmente escapamos pelas estradas do ar e divagamos, divagamos.

O EQUILIBRISTA

Está tão alto o equilibrista
que minha alma tropeça
em suas pernas,
dança louca
feito roupa no varal.
Está tão perto do céu o equilibrista
que seus dedos arranham o sol
e de medo eu não ouso respirar.
Ouço seus passos de seda
como se andar no ar fosse fácil.

in O Circo, ed. Paulus, 2011


Meu livro O Circo foi reeditado este ano pela Ed.Paulus com lindas e alegres ilustrações do Caó. Conheço o Caó desde 1994 e temos feito uma ótima parceria. Ele é cartunista e traz todo o seu humor para os meus textos. Já fiz vários testes: as crianças adoram os seus desenhos tão bem-humorados.

domingo, 6 de novembro de 2011

JAIME SABINES

Ontem recebí um presente imenso do meu amigo, filósofo e poeta, Delmino Gritti: Poemas de Jaime Sabines que eu, na minha santa ignorância, desconhecia. Poeta imenso da literatura mexicana, poeta premiadíssimo, já se mudou para as estrelas e a sua poesia é bela bela bela:

Los amorosos

Los amorosos callan.
El amor es el silencio más fino,
el más tembloroso, el más insoportable.
Los amorosos buscan,
los amorosos son los que abandonan,
son los que cambian, los que olvidan.
Su corazón les dice que nunca han de encontrar,
no encuentran, buscan.

Los amorosos andan como locos
porque están solos, solos, solos,
entregándose, dándose a cada rato,
llorando porque no salvan al amor.
Les preocupa el amor. Los amorosos
viven al día, no pueden hacer más, no saben.
Siempre se están yendo,
siempre, hacia alguna parte.
Esperan,
no esperan nada, pero esperan.
Saben que nunca han de encontrar.
El amor es la prórroga perpetua,
siempre el paso siguiente, el otro, el otro.
Los amorosos son los insaciables,
los que siempre — ¡qué bueno!— han de estar solos.

Los amorosos son la hidra del cuento.
Tienen serpientes en lugar de brazos.
Las venas del cuello se les hinchan
también como serpientes para asfixiarlos.
Los amorosos no pueden dormir
porque si se duermen se los comen los gusanos.

En la obscuridad abren los ojos
y les cae en ellos el espanto.

Encuentran alacranes bajo la sábana
y su cama flota como sobre un lago.

Los amorosos son locos, sólo locos,
sin Dios y sin diablo.

Los amorosos salen de sus cuevas
temblorosos, hambrientos,
a cazar fantasmas.
Se ríen de las gentes que lo saben todo,
de las que aman a perpetuidad, verídicamente,
de las que creen en el amor como en una lámpara de inagotable aceite.

Los amorosos juegan a coger el agua,
a tatuar el humo, a no irse.
Juegan el largo, el triste juego del amor.
Nadie ha de resignarse.
Dicen que nadie ha de resignarse.
Los amorosos se avergüenzan de toda conformación.

Vacíos, pero vacíos de una a otra costilla,
la muerte les fermenta detrás de los ojos,
y ellos caminan, lloran hasta la madrugada
en que trenes y gallos se despiden dolorosamente.

Les llega a veces un olor a tierra recién nacida,
a mujeres que duermen con la mano en el sexo, complacidas,
a arroyos de agua tierna y a cocinas.

Los amorosos se ponen a cantar entre labios
una canción no aprendida.
Y se van llorando, llorando
la hermosa vida.

Jaime Sabines


Dedico este poema a minha irmã Evelyn que amanhã irá buscar seu grande amor mexicano no aeroporto Tom Jobim. Ele vem munido de todos os papéis para o casamento que deve sair em janeiro.

sábado, 5 de novembro de 2011

CLASSIFICADOS EM MONTENEGRO

Ontem recebí um CD da Professora Dorian Wolff da EMEF Pedro João Muller, escola rural em Montenegro, R.S onde gravou todas as etapas do projeto "Escrever: um ato de prazer" que culminou com a publicaçlão de classificados poéticos produzidos pelos alunos no jornal IBIÁ, os poemas misturados com os classificados do jornal. O jornal tem grande circulação em toda região e os textos dos alunos emocionaram a comunidade. Ela trabalhou com 48 alunos e o resultado final foi espetacular. Os alunos escreveram vários gêneros de texto, brincaram com a intertextualidade, descobriram o prazer que é a produção de um texto, sairam do projeto modificados como seres humanos, melhores , mais pensantes, orgulhosos do que são capazes de fazer. O estopim para os poemas dos alunos foi meu livro Classificados Poéticos e fiquei tão emocionada com o CD que me deu vontade de chorar - de emoção. É sempre assim, uma pessoa, uma apenas, pode mudar o seu entorno. Os alunos aprenderam a expressar e entender os seus desejos e agora estão mais preparados para uma leitura de mundo.Obrigada Dorian, por ser agente de transformação.Engraçado que as duas experiências que mais me tocaram em educação aconteçam em zonas rurais. A E.M.Hermann Muller, na zona rural de Joinville e a EMEF Pedro João Muller precisam se conhecer para trocar figurinhas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

NOTÍCIAS DO JARDIM

Acompanho com horror algumas notícias do mundo, por exemplo o teste que Israel fez com mísseis de longo alcance e os boatos de uma possível guerra com o Irã. Uma guerra com o Irã seria uma catástrofe de alcance ilimitado. A única saída para o Oriente Médio seria uma política de reconhecimento total do Estado Palestino, uma política de paz.
Acalmo o medo quando sento no jardim que nunca esteve mais belo: as orquídeas floridas, o flamboyant com suas primeiras flores vermelhas, pequenas onze horas desabrocham em muitas cores e os hisbiscos são escandalosamente belos.
Dia 14 irei para Joinville , já que dia 15 é a cerimônia da entrega da minha flor, a hemerocalis com o meu nome. Trarei bulbos para plantar em Saquarema. E dia 16 , para aproveitar a minha ida, a Prefeitura vai fazer um encontro com professores de escolas rurais e um lançamento do meu livro Poemas para Ler na Escola. A E.M Herman Muller está preparando um café para me receber. Será uma viagem totalmente florida!
Mas antes tenho Cataguases e o seu Festival Literário. Cataguases é bela com suas casas modernistas. Nosso encontro será dia 10.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

JANELA SOBRE A MEMÓRIA

Meu livro Retratos que está sendo reeditado com fotos antigas da minha família, soube ontem,sairá em dezembro. Escreví para o site um texto sobre a minha infância, já que as escolas querem saber mais ... Esta semana andei escavando o quintal da memória.

JANELA SOBRE A MEMÓRIA (III)

Um refúgio?
Uma barriga?
Um abrigo onde se esconder quando estiver se afogando na chuva, ou sendo quebrado pelo frio, ou sendo revirado pelo vento?
Temos um esplêndido passado pela frente?
Para os navegadores com desejo de vento, a memória é um porto de partida.


EDUARDO GALEANO
in As Palavras Andantes.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PARA LEMBRAR

Quando eu morrer
me amarre em teu corpo
com as vigorosas cordas
da palavra,
quando eu for só palavra
me amarre em teus olhos
com as frágeis cordas
da memória,
quando eu for apenas
uma fragrância longínqua,
toque os sinos
da minha poesia
para lembrar.

in Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva


Tenho os meus mortos bem amarrados na memória e são três, os que todos os dias dormem e acordam comigo: meu pai, Lejbus Kligerman, minha mãe, Bertha Kligerman, meu imenso amigo Latuf.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

CAFÉ, FLOR E POESIA

Silvane, da E.M.Herman Muller , na zona rural de Joinville, me conta:
Este ano o Café, Flor e Poesia é dedicado a Cora Coralina e todas as famílias, além dos alunos estão envolvidas. Os singelos poemas de Cora serão acompanhados por seus doces. Cada família está fabricando uma receita. E aliás, esta é uma receita para ser copiada!

VELHO SOBRADO

Um montão disforme. Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
toscamente esquadriadas.
Folhas de janelas.
Pedaços de batentes.
Almofadados de portas.
Vidraças estilhaçadas.
Ferragens retorcidas.

Abandono. Silêncio. Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento,
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se, dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado
— um muro.

Fechado. Largado.
O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado,
cede.

Bem que podia ser conservado,
bem que devia ser retocado,
tão alto, tão nobre-senhorial.
O sobradão dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parede hoje. Parede amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoando com estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados - passantes e vizinhos.
Aos poucos, a " fortaleza " desabando.

Quem se lembra?
Quem se esquece?

Padre Vicente José Vieira.
D. Irena Manso Serradourada.
D. Virgínia Vieira
- grande dama de outros tempos.
Flor de distinção e nobreza
na heráldica da cidade.
Benjamim Vieira,
Rodolfo Luz Vieira,
Ludugero,
Angela,
Débora, Maria...
tão distante a gente do sobrado...

Bailes e saraus antigos.
Cortesia. Sociedade goiana.
Senhoras e cavalheiros...
-tão desusados...
O Passado...

A escadaria de patamares
vai subindo... subindo...
Portas no alto.
À direita. À esquerda.
Se abrindo, familiares.

Salas. Antigos canapés.
Cadeiras em ordem.
Pelas paredes forradas de papel,
desenho de querubins, segurando
cornucópia e laços.
Retratos de antepassados,
solenes, empertigados.
Gente de dantes.

Grandes espelhos de cristal,
emoldurados de veludo negro.
Velhas credências torneadas
sustentando
jarrões pesados.
Antigas flores
de que ninguém mais fala!
Rosa cheirosa de Alexandria.
Sempre-viva. Cravinas.
Damas-entre-verdes.
Jasmim-do-cabo. Resedá.
Um aroma esquecido
- manjerona.


CORA CORALINA