quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

PILARES

Se os pilares do mundo, da sociedade, fossem a compaixão e o amor pelo outro, quantas tragédias seriam evitadas?
A sociedade violenta de consumo é como o mar que vomita lixo em suas ressacas, os dejetos mais sórdidos. Ela extrai do ser humano o que tem de mais abjeto: a ganância, o egoísmo, o sucesso a qualquer custo.
Na verdade a morte das centenas de jovens em Santa Maria custou em primeiro lugar sessenta e oito reais e cinquenta centavos, que era a diferença de preço entre um sputnik que pode ser usado em ambientes fechados e em ambientes abertos. O fogo começou com o sputnik. Fora todas as outras aberrações . Em nenhum momento a vida humana foi prioridade. A corrupção ajuda. Basta passar uma gorjeta para alguém que fecha os olhos e finge que não vê o extintor vencido, a falta de saídas de emergência, etc, etc.
Quando a vida do outro, os seus sentimentos, a sua dor, sua alegria, forem tão importantes quanto a minha vida, meus sentimentos , a minha dor, a minha alegria, tragédias coletivas não ocorrerão.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A BRUXA DA CASA AMARELA

Além do meu neto Luis tenho dois netos de estimação: Kira e Astor Kay, filhos da Maya, filha do Juan, meu marido.
Kira tem um livro que fiz pela ed. Lê, belíssimo, ilustrado pela Elisabeth Teixeira. Kira agora tem seis anos e é realmente uma artista. Canta, dança, desenha, atua, sapateia. Além disso inventa histórias. Foi ela quem me deu a idéia para o conto que escrevi A Bruxa da Casa Amarela, meu próximo e-book, que dentro de uns dois meses estará disponível no meu site para as escolas. Ela estava brincando na varanda, junto ao fogão de lenha, com a minha linda vassoura de bruxa. Eu perguntei:
_Kira, você é uma bruxa?
Ela respondeu:
_Vovó, sou uma bruxa boa, eu cuido das flores do jardim.
Pronto, ela me deu a história. Agora que o livro já está sendo ilustrado pelo Caó para virar e-book, Kira, lá de Barcelona me diz que gostaria de ter um desenho seu no livro. Escrevi então uma apresentação que sairá com o desenho da Kira.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

CISNE E PEDRA

Chove. O dia está fechado feito um molusco. Mergulho em minha águas e são muitas dores e muitos tesouros. A poesia é a minha pele , por dentro e por fora.

POESIA

juntar cisne e pedra
caminhar pela existência
com esse talho na garganta

no redemoinho das hoas
um barco e nas mãos
um punhado de aurora

um poema se faz
com o avesso das águas

in Poesia Essencial, ed. Manati, 2002

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

TRAGÉDIA

Como falar de uma tragédia que poderia ter sido evitada não fosse a tragédia que é o descaso do Brasil com suas leis? O silêncio de mais de duzentos jovens, o silêncio para sempre, não pode ser dito. Nenhuma palavra, nenhuma frase, nem todo o idioma pode dizer a imensidão deste silêncio.

sábado, 26 de janeiro de 2013

REENCONTROS

Ontem na Casa da Leitura tive várias surpresas maravilhosas. Chegaram  Ângela, Felipe e Leila, do nosso Clube de Leitura . Angela com seu primeiro livro, a história do seu avô e um sorriso maior do que o mundo. Felipe levou a mãe e a tia. Leila levou sua amiga Lais que também vai entrar para o Clube e minha irmã Evelyn chegou com Luis, meu cunhado, que havia chegado do México ontem mesmo e me trouxe um xale maravilhoso.
A platéia estava lotada de crianças. Contei o livro da Nana e os Quatro Jabutis, Guga fez seu Livro-Concerto Caixinha de Música.   As crianças participaram muito e infelizmente não pudemos ficar para o encontro delas com a contadora de histórias Ilana, pois ontem era sexta feira e a volta para Saquarema é bem complicada. Ilana gentilmente nos cedeu seu horário para que pudéssemos voltar mais cedo.

Estou aqui, ouvindo as coisas incríveis que meu neto fala. Agora está apaixonado pelo livro Sanduíche da Maricota de Avelino Guedes, ed. Moderna. Agora só quer comer sanduiches. E pela história do Peter Pan que já contei quatrocentas vezes. Quando termino ele fala: _ Vovó, outra vez!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

CARAVANA DE ESCRITORES

Hoje estarei na Casa da Leitura , em Laranjeiras, no Rio de Janeiro às 14hs num projeto intitulado "Caravana de Escritores", que é um encontro entre o escritor(a) com seus leitores.
A Casa da Leitura me traz caudalosas recordações. Um dia, na década de 90 , Fernando Lébeis, que deve estar sempre encantando as estrelas com suas histórias, sua voz maravilhosa, me indicou para o Proler. Minha entrevista foi na Casa da Leitura. E lá eu fui dar uma oficina em algum lugar do sul, a minha primeira viagem de dezenas de viagens pelo Brasil, no projeto mais louco e ousado que conheço e que já fez história. Aí sim, éramos uma caravana de artistas e jogávamos nossas âncoras em alguma cidade, às vezes um grupo pequeno, outras vezes um grupo imenso e ficávamos por 5 dias. Pela manhã eram 4 horas de conferências sobre leitura e aprendi muito. Pela tarde eram 4 horas de oficinas de leitura, escrita, cinema, fotografia, contação de histórias. E à noite, em algum barzinho, enraizamos elos eternos. O projeto do Proler neste formato acabou. Era um projeto muito caro, pois a idéia era o intercâmbio e viajar não é barato. Mas sabemos que por onde nossa caravana passava, as pessoas mudavam. Criávamos um anseio. Era um vento novo, era um sonho. As pessoas aprendiam a ler o mundo de outra maneira. Tenho um agradecimento profundo por aquelas viagens, aqueles anos. Eles me ensinaram muito, foram a minha grande escola. Conheci pessoas extraordinárias que ficaram na minha vida para sempre. Hoje estarei na Casa da Leitura. A Casa da Leitura mudou, eu mudei, mas de alguma maneira é um reencontro. O evento é aberto e haverá o Livro-Concerto Caixinha de Música com meu filho Guga Murray. Quem estiver por perto e puder estar junto com a gente, agradecemos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

NEANDERTAIS

Faz algum tempo li uma série de livros, uma saga, sobre os neandertais. Sempre fui apaixonada por esta outra espécie de homens e seu desaparecimento me deixa perplexa.
Agora leio que um grande cientista diz que em breve poderemos fabricar um neandertal a partir de seu genoma. E que seria muito interessante saber como pensavam. Diz que no futuro poderemos misturar espécies, clonar seres humanos, etc e que na verdade já se pode. É interessante e horripilante ao mesmo tempo pensar sobre o tema. E diz também que no futuro, através da engenharia genética estaremos livres de doenças.

Hoje vou renovar meu passaporte. Há toda uma trama absurda de fronteiras e passaportes e sempre penso em arames farpados, cachorros latindo e farejando e seres humanos impedidos de entrar e sair.
A Terra deveria ser de todos com livre trânsito. Para isso as desigualdades sociais teriam que mudar radicalmente. Que cada um faça algo para que isso aconteça, o que estiver ao seu alcance.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

CASA DE AVÓ

Hoje chega meu neto Luis. Estou tão feliz que daria cambalhotas, se pudesse. Casa de avó sem neto é uma casa meio vazia, faltam estrelas no teto, as paredes ficam opacas.

CASA DE AVÓ

Casa de avó
é navio pirata
em alto-mar,
estrela cadente
para sempre no ar.

Avó tem um pouco
de fada, um pouco
de árvore encantada.

Quando a avó anda,
o mundo inteiro balança,
e uma onda de amor
varre quem está junto dela.

Dentro da casa da avó,
todos os caminhos vão dar,
no país sem luar.

in Casas, ed. Formato

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

FRANJA

Abro o jornal cedinho e a franja da Michelle Obama é notícia de primeira página! E eu que nem tinha reparado. O que me tocou foi o discurso do Obama e suas idéias de igualdade para mulheres, gays, imigrantes. Sorte nossa que Obama foi reeleito e Obama abre a discussão sobre as armas. Temo sempre por sua vida. O que seria do mundo se um fanático religioso armado até os dentes estivesse em seu lugar, louco para brincar de guerra. Vida longa para Obama.
Acabo de reler O Físico de Noah Gordon pois estou pensando nele como próximo livro do Clube de Leitura. Quero um best seller bem escrito e o livro é uma aventura eletrizante. Ele me leva até a Idade Média e realmente o patamar de violência mudou e vivemos no melhor dos mundos. Já não podem me queimar na fogueira e nem minha cidade será atacada de um momento para o outro e as mulheres  violentadas e as crianças assassinadas ou escravizadas. Mas em alguns lugares do mundo a situação da mulher ainda é muito precária. Em muitos lugares do mundo ainda temos guerras e fome. Tomara que no ano 3000 os habitantes possam dizer : um dia os homens foram violentos, antes os homens matavam.Como mudamos.


CAVERNA

Houve um dia,
no começo do mundo,
em que o homem
ainda não sabia
construir sua casa.

Então disputava
a caverna com bichos
e era aí a sua morada.

Deixou para nós
seus sinais,
desenhos desse mundo
muito antigo.

Animais, caçadas, danças,
misteriosos rituais.

Que sinais
deixaremos nós
para o homem do futuro?

in Casas, ed. Formato

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

MOINHO

Segunda-feira e gira o moinho da vida, suas águas calmas e caudalosas arrastam sempre uma torrente de memórias que se mistura com o que vai sendo vivido como misturamos na massa do pão além da farinha, do azeite e fermento,as nossas mãos, o sal, o carinho, o alecrim.

Leio que estudos científicos comprovados com imagens do cérebro nos dizem os benefícios da meditação. O maior de todos é a atenção, o foco no que estamos fazendo. Viver o momento presente. De nada adianta projetarmos o filme do que vai acontecer amanhã, pois lá vem a vida, um vento e muda o roteiro.

Hoje o dia está magnífico. Meio nublado e ainda agora vi um lindo arco-íris lá pelos lados da montanha. A minha alegria com o arco-íris é infantil, é um arrebatamento o que sinto e logo me vem um pensamento mágico: vai dat tudo certo, todos os desejos de saúde, de felicidade para os filhos, de livros novos, de reencontros, vai dar tudo certo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

CANTANTE

Soube que Salgado Maranhão já voltou dos Estados Unidos para onde foi como autor convidado percorrendo várias Universidades com a sua muito bela poesia. E como hoje é sábado, dia de cantar e festejar, encontrar amigos, fazer planos bem loucos, dançar, um poema musical para o sábado:

CANTANTE

Estou bêbado de canções
e azul.

Estou cantante para nada,
para ninar a madrugada.

(O cantar de um galo em férias.)

Canto até para o vento
que não tem começo nem fim;

canto até para as pedras
que silenciam para aplaudir.

Salgado Maranhão , in A Cor da Palavra, ed. Imago 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A VOZ DO PAULO COELHO

Em 1998 Juan Arias fez um livro de entrevista com o Paulo Coelho "Confissões de Um peregrino" que saiu pela Objetiva e foi um grande sucesso. Passamos uma semana indo todos os dias até sua casa em Copacabana. A verdade é que ficamos muito amigos e nos encontramos muitas vezes e eu o adoro, pois ele é de uma generosidade impressionante. Agora Juan queria escrever um blog no El País sobre a situação atual na Europa e no mundo e fez algumas perguntas ao Paulo. Ele respondeu em forma de entrevista gravada e eu transcreví , pois ficava mais fácil para o Juan trabalhar. Passei uma hora ouvindo a sua voz , tão minha conhecida, eu a tenho no ouvido desde aquela época remota! Fiquei com saudades e gostaria de rever o Paulo tão simples, tão diferente de como a gente imagina um pop star. Ele diz uma coisa linda: que a criança, por ver o mundo com olhos de assombro, acha sempre uma solução criativa para tudo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A MOCINHA DO MERCADO CENTRAL

Ontem li A MOCINHA DO MERCADO CENTRAL de Stella Maris Rezende. O livro acaba de ganhar o Prêmio Jabuti 2012 e merece quantos mais prêmios houver. O livro é complexo, sua estrutura interessantíssima. A fina névoa que existe entre a realidade e a ficção se esgarça e já não sabemos mais o que é real e o que é fantasia da mocinha que vai se desdobrando em nomes , em muitas, já que somos uma multidão dentro da gente. O significado dos nomes que vão aparecendo e norteando as aventuras da menina são de uma poesia avassaladora. É uma menina em busca do pai? Em busca do amor? Seu encontro com os livros, com os poetas , com o ator por quem se apaixona e que sai do filme como na "Rosa Púrpura do Cairo", para encontrá-la na Confeitaria Colombo, são cenas lindíssimas. A mocinha tem uma misto de ingenuidade e sabedoria. Tem coragem.Viaja no tempo. E quer reescrever a sua história. O romance vai sendo escrito diante dos olhos do leitor. E a mescla de terrível e belo nos deixa sem fôlego. Há um estupro, há um suicídio, há a busca, que é a de todos nós, da identidade. Há a busca, que é a de todos nós, a busca do amor. A mocinha é de uma beleza, de uma leveza, para ela, não há separação entre o real e o imaginário, ela até fala com os mortos. Maria, o núcleo do seu nome, vai passando incólume por todos os perigos, sozinha, nas cidades por onde se aventura. Como se fosse um anjo.
Recomendo com ardor. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

LUA

Terminei um livro de poemas , como já contei, a duas mãos. Minha nora, Patricia de Arias fez os poemas de lua e eu fiz os poemas de sol. Fio de Lua & Raio de Sol está na Sala de Espera, sala iluminada de sol e luar. Para mim a lua é poesia e beleza em estado puro. Quando era criança e voltava da praça Edmundo Rego, no Grajaú, a lua me seguia desde a pracinha até a entrada do prédio e eu ficava muito impressionada: a lua sabia onde eu morava! Para mim a lua nunca desperta nenhuma tristeza, mas hoje leio Florbela Espanca e sua lua é triste. Mas o poema é tão bonito que não resisto:

DUAS QUADRAS

Não sei se tens reparado
Quando passeia, o luar
Pára sempre à tua porta
E encosta-se a chorar:

E eu que passo também
Na minha mágoa a cismar
Paro junto dele, e ficamos
Abraçados a chorar! 

in L&PM POCKET, Poesia de Florbela Espanca

Assim que assinarmos o nosso contrato, eu e Patrícia choraremos lágrimas de luar e alegria, pois Patricia escreve lindos poemas e é seu primeiro livro.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

BELÍSSIMA TROCA

Hoje leio na Revista Amanhã do O Globo, uma matéria sobre a mais linda troca: comida por lixo. Acontece na Cidade do México. As pessoas levam garrafas pet, papéis, material eletrônico e saem com as mãos cheias de comida e de flores. É um incentivo aos pequenos agricultores locais e uma maneira de transformar lixo em algo maravilhoso. Por que não copiamos

Arrumando a estante com a Mariana vão surgindo tesouros desenterrados do centro do caos.
Um poema que sempre esteve e está em meu coração, do livro AINDA do Pablo Neruda:

Nós, os perecíveis, tocamos metais,
vento, margens do oceano, pedras,
sabendo que continuarão, imóveis ou ardentes,
e eu fui descobrindo, nomeando todas as coisas:
foi meu destino amar e despedir-me

Pablo Neruda, Ainda, ed. José Olympio

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

BEM CEDINHO

Bem cedinho fui fazer meditação na praia. Não havia nenhum humano. Passarinhos que corriam pela areia e dois filhotes de garça, maravilhosas garças, pescavam na beira da água. É uma experiência muito forte.

Hoje eu e Mariana começamos a arrumar minha estante de livros e realmente eu me superei: o caos é completo e nem se sabe por onde começar. Mas com certeza vamos pescar tesouros. Tenho a coleção completa do Sítio do Pica-Pau Amarelo que comprei para o André, meu filho, quando ele aprendeu a ler. A minha relação com os livros é estranha. Não sou possessiva, dou tudo, empresto, perco, é dentro de mim que os livros que leio moram dedinitivamente. Mas às vezes quero reler um livro que tinha e tenho que comprar novamente!

Finalmente saí da Viena do final do século XIX, pois acabei de ler o romance O Caminho para a Liberdade de Arthur Schnitzler, ed. Record. O ar da época, o dandismo, a decadência, o cinismo, está tudo lá. Não gostei do livro, mas é muito bom, isso acontece.

Agora releio O Físico de Noah Gordon, eu tinha o livro e perdi o emprestei ou dei e tive que comprar outro! Quero indicar para o próximo Clube de Leitura, para o encontro de abril, vamos ver se todos já leram, então, neste caso, eu trocaria por outro. Quero que leiam um best seller bem escrito, interessantíssimo.

Não falo de política, mas reafirmo sempre minha paixão pela liberdade. 

domingo, 13 de janeiro de 2013

BORDADOS

Minha vida gira em torno dos livros que estou lendo, dos que estou escrevendo, dos meus leitores. Às vezes recebo presentes lindos pelo correio. Ganhei, faz algum tempo, duas fronhas bordadas com meus haicais. Uma toalha bordada com meu nome. É muito curioso , pois os dois presentes estão em contato comigo no meu cotidiano.  
Às vezes algum leitor ou leitora vem me conhecer, como a Mariana que agora está aqui em casa. Ela trouxe seu exemplar do Classificados Poéticos que era a sua paixão quando tinha oito anos.
A relação do autor com o editor não é a mesma que o autor tem com seus leitores. Esta semana uma editora recusou um original meu dizendo que este ano a editora vai publicar apenas obras com um viés de cultura popular e sua matriz. Não sei o nome disso e tenho medo. É alguma orientação ideológica? O que escrevo é humano e universal, qualquer um entende, qualquer um se emociona. Vou ter que escrever cordel, trovas populares?
Às vezes o autor dá sorte e o editor também é um leitor que gosta de verdade da sua obra, independente do fato do governo comprar ou não. As pessoas me pedem ajuda para publicar, mas infelizmente não posso ajudar, o mundo editorial é difícil. A relação entre o autor e o editor muitas vezes é estranha.
Em 1990 fui receber um prêmio em Garibaldi. Uma mulher que estava na platéia veio falar comigo no final e me disse que sua filha de 8 anos queria me conhecer. Ela havia tido uma paralisia temporária e um poema do Classificados Poéticos havia sido a sua força. Fui até a sua casa conhecê-la , ela era tímida e me entregou uma cartinha. Ela me dizia: "você é a poetisa das crianças. Nunca deixe de escrever ".

sábado, 12 de janeiro de 2013

VARIAÇÕES SOBRE SILÊNCIO E CORDAS

Tenho no meu site o belíssimo e-book VARIAÇÕES SOBRE SILÊNCIO E CORDAS com ilustrações de Elvira Vigna. O e-book tem quase 15.000 acessos . É pouco pelo tempo que já está no ar, mas ao mesmo tempo é muito, no mínimo 15.000 pessoas "folhearam" o livro. É grátis e as escolas que possuem internet podem oferecer o livro.
Agora ando pensando em fazer outro para crianças, já que o "variações sobre silêncio e cordas" é para jovens e adultos.  É um projeto caro, e ao invés de ganhar com a venda do livro, eu tenho que pagar todo o seu custo. Mas é como se eu estivesse dando um presente aos meus leitores e dar um presente é muito gratificante. Hoje amanheci com este desejo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CARAVANA DE ESCRITORES

Os trabalhos já começam a aparecer. Fui convidada para um projeto chamado Caravana de Escritores na Casa da Leitura e não sou poeta impunemente. Não se pode falar a palavra caravana ao meu lado que já vejo camelos, tapetes voadores, ânforas lindíssimas e já estou pronta para as mil e uma noites. Portanto, estarei na Casa da Leitura dia 25 de janeiro às 14hs , em Laranjeiras, com meu filho Guga Murray e seu Livro-Concerto Caixinha de Música.
Estarei em Búzios dia 8 de março para um Sarau de Poesia organizado pela Secretaria de Educação e Cultura no Hotel Atlântico, não sei mais detalhes por enquanto, só sei da felicidade que é ir a Búzios jogar meus poemas como malabares.
Amanhã chega minha amiga e leitora Mariana, que um dia quis me conhecer e comemorar seu aniversário aqui em nosso Clube de Leitura e entrou nas nossas vidas para sempre. Sou sua poeta preferida, ela diz. Mariana é dançarina e vai me ajudar arrumar a minha estante de livros cujo caos é tão completo que só de olhar entro em pânico.
E ontem terminei um livro novo que se intitula Fio de Lua & Raio de Sol que fiz em parceria com Patricia de Arias, ela fez os poemas de lua, eu fiz os poemas de sol e o livro está lindíssimo, vamos ver se a sorte nos ajuda e encontramos um editor.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

POEMA SUJO

Um livro foi o passaporte para que eu pudesse, ousasse fazer poesia: POEMA SUJO, do Ferreira Gullar.
O meu exemplar é bem antigo, de 1977 e ganhei de presente de uma amiga que naquela época era a minha alma gêmea, com ela, dentro dos livros, eu podia respirar, sair um pouco da vida asfixiante que levava. Para mim não havia saída: ou a loucura ou a poesia. Tenho uma linda dedicatória no livro:
" Mudar de casa já era / um aprendizado de vida.
Ainda estou viva / e vejo /
e vejo uma amiga.
Rose e Ana
76/77

Li o livro em voz alta dezenas de vezes andando pela casa. De todos os livros que já li na vida e não foram poucos, nenhum me provoca um terremoto emocional  de tal magnitude.


" Como se o tempo
durante a noite
     ficasse parado junto
     com a escuridão e o cisco
     debaixo dos móveis e
     nos cantos da casa
                                (mesmo dentro
     do guarda-roupa,
                               o tempo,
                               pendurado nos cabides)"


Poema Sujo, Ferreira Gullar, ed. Civilização Brasileira, pg 46


A beleza do Poema Sujo para mim é sempre explosão.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ESPELHO

Diz Takuboku Ishikava, grande poeta japonês, nascido em 1885 e morto em 1912:

Fumaça que se desfaz no céu azul
fumaça que se desfaz melancolicamente
meu espelho

Quando me olho o que vejo? Fumaça, já que toda imagem se desmancha, escorre pelos desvãos do tempo. Quando me olho há uma do lado de fora, há muitas do lado de dentro.
O que sou quando alguém pronuncia meu nome?
O que sou dentro dos olhos do outro, às vezes meu espelho?
Maravilhoso poema de Takuboku.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

SISTEMAS FORA DO AR

Fui hoje até o mar bem cedo e havia uma piscina. Pude entrar. Era inacreditável, o mar de Saquarema não é para qualquer um. Não havia ninguém na praia. A minha alegria era tamanha que eu poderia explodir a qualquer momento. Romper meus limites é quase como virar luz. A água estava gelada quase como água de rio na montanha, mas amei e pude guardar estes momentos de bem estar absoluto no meu cofre de felicidades. Quem tem dor quase o tempo todo sabe do que estou falando.
Depois fui ao cartório reconhecer uma firma, a instituição mais idiota que já inventaram neste país. O contrato de edição não era de 2013, logo, me avisou o atendente, a firma só poderia ser reconhecida por semelhança e não por autenticidade. Mas havia um problema, o sistema estava fora do ar sem previsão de volta. Respirei fundo e pensei : por semelhança ou autrenticidade, o importante é que continuo sendo eu mesma com todas as minhas crenças e idiossincrasias. Fui para o correio cheia de envelopes e o sistema estava... fora do ar, sem previsão de volta.
E se todos os sistemas do mundo saíssem do ar? E se acabasse o petróleo? Hoje leio que vão racionar a luz, provavelmente. Ainda bem que de vez em quando eu também saio do ar, senão ninguém aguenta.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

CARTEIRO

Sexta-feira passada apareceu um carteiro novo. Enquanto eu assinava a entrega da corresposdência ele me dizia:
"Li muitos poemas seus na escola."
Perguntei em qual escola.
E ele respondeu que na E.M Gustavo Campos.
Ele passou no Concurso para carteiros e não se esqueceu dos meus poemas.
Continuo amando os carteiros, apesar de cartas serem raras. Mas recebo livros e são sempre uma surpresa maravilhosa.
Em homenagem aos carteiros meu poema do livro ARTES E OFÍCIOS, ed. FTD:
OS CARTEIROS

Abrir uma carta,
o coração batendo,
é precioso ritual.
O que terá dentro?
Um convite, um aviso,
uma palavra de amor
que atravessou oceanos
para sussurrar em meu ouvido?

São como conchas as cartas,
guardam o barulho do mar,
o ar das montanhas.
Para mim os carteiros
são quase sagrados,
unicórnios ou magos
no meio dessa vida barulhenta.


domingo, 6 de janeiro de 2013

APRENDIZADO

Todos os dias gastamos nossas reservas de tempo, às vezes tão distraidamente, como água que se joga fora. Assim que abrimos os olhos convém afiar os olhos. Assombro. Para que cada segundo se torne único.

3 DE MAIO

Aprendi com meu filho de dez anos
que a poesia é a descoberta
das coisas que eu nunca vi.

OSWALD DE ANDRADE , in Os Melhores poemas e canções contra o tédio, Antologia, ed. Objetiva.

sábado, 5 de janeiro de 2013

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO ALFABETO

Ganhei de presente de aniversário do meu amigo Dr. Messias um livro curioso, estranho, extraordinário. Leio aos poucos, tamanho o impacto que me causa. Estou começando a letra P
Para cada letra, a autora Noemi Jaffe, em seu livro A Verdadeira História do Alfabeto, ed. Companhia das Letras, inventa uma história que pode se passar em qualquer tempo, desde o primeiro dia do mundo com Adão e Eva. Mistura personagens verdadeiros, inventados, por exemplo, Bach e Borges e a narrativa é poética e belíssima. Os textos curtos podem ser lidos como contos, separadamente. Podem ser lidos em sua ordem de A a Z, mas nenhum relato se une ao outro, a não ser pela sequencia das letras. O livro é tão singular que resiste a qualquer classificação. Non sense, literatura fantástica, mitologia, poesia...

Letra A : " Era o ano de 341 AC. quando Epicuro partiu de Samos para Téos, e, após ter se frustrado com o filósofo Pânfilo, ouviu notícias sobre o pensamento atomista. Depois de muitos estudos, Epicuro concluiu que a inclinação de um átomo por outro pode ocorrer não somente por necessidade, mas por atração e desejo. Foi por essa época, também, e em função da constatação sobre o desejo que os átomos sentiam uns pelos outros, que Epicuro desenvolveu a letra A."
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Que lindo o alfabeto começar com atração e desejo!.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

PARA FUGIR DOS IMPOSTOS

Gérard Dépardieu agora é russo? Para fugir do pagamento de impostos! Alguém que é um símbolo do cinema francês!
Seria maravilhoso que todas as fronteiras fossem abolidas, que o planeta Terra fosse de todos, que cada um pudesse escolher onde morar, mas como escolha pessoal e não para fugir de uma situação de miséria ou violência. Que cada país soubesse enraizar de tal maneira seus habitantes numa teia de bem estar,que eles não precisassem buscar outros lugares a não ser por um espírito de aventura.
Mas que um ser humano rico, milionário, escolha trocar de país para não pagar impostos, é horrível. Nós os mortais, pagamos todos os impostos e o pior, não recebemos quase nada em troca aqui no Brasil. A filha do meu caseiro está com o rim esquerdo comprometido e não consegue tratamento pelo SUS. Antes que precise fazer hemodiálise. Mas na França os benefícios são imensos e seria mais do que justo que um super rico pagasse impostos mais altos para que toda a população pudesse se beneficiar.
Gérard Dépardieu já me deu momentos maravilhosos, personagens inesquecíveis. Mas como gente como a gente, deixa a desejar.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PARA LER EM SILÊNCIO

Ontem ganhei de presente o livro "PARA LER EM SILÊNCIO", ed. Moderna, do Bartolomeu Campos de Queirós, agora para sempre estrela. O livro nos fala do ofício de escrever e além dos poemas que abrem cada capítulo, o texto é prosa poética belíssima. Tenho muitas afinidades com a escrita do Bartolomeu e também com suas inquietações. Como ele amo o silêncio que para mim é matéria prima, eu também trabalho com a palavra e o silêncio. Diz Bartolomeu na página 53:

" Nenhuma palavra vive sozinha. Toda palavra é composta. Se escrevo mar, nessa palavra rolam ondas, viajam barcos, cantam sereias, brilham estrelas, algas, conchas e outras praias. Se digo pai, é aquele que me ama ou aquele que não conheci ou aquele, ainda, que me abandonou.
Toda palavra brinca de esconder outras palavras.
Quando se lê uma palavra o coração escreve mais outras. Escrever é escutar a palavra e registrar o que ela nos pede. É a palavra que nos inscreve."

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

COTIDIANO

Hoje a vida de todos os dias, a festa simples do cotidiano, cheia de milagres, cheiros e afazeres. Evoco as aranhas: há que tecer cada segundo, minuto, cada hora uma volta da teia. 
O dia amanheceu fresco, silencioso. Nâo há sol. No jardim uma orquídea nos oferece um cacho de belas flores. O feijão para o almoço está de molho.
Por pura coincidência leio com um mínimo intervalo, o segundo livro sobre a Viena no final do século XIX e princípio do século XX. Ainda não inventaram nenhuma máquina do tempo melhor do que um belo livro. Passeio por Viena a quualquer hora do dia. E leio que em breve cientistas conseguirão ler pensamentos. Então será preciso inventar um cofre lacrado dentro da mente para guardar nossos pensamentos secretos, para que se tornem invioláveis. Dar a chave dos nossos pensamentos secretos será a maior prova de amor no futuro.
Recomeçamos, sempre recomeçamos.

OUVIR ESTRELAS

Mergulhar os ossos
na tinta fresca do universo
apanhar com a boca o voo
dos peixes e pássaros
arrancar da terra as palavras
e guardá-las em algum lugar obscuro
da casa
pegar das estrelas
seu grito de pavor e luz.

in Pássaros do Absurdo, ed. Tchê, esgotado.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

PRIMEIRO DE JANEIRO

Nana, minha gata me acordou às 6hs da manhã, tentei dialogar, convencer, nada. Eu dizia, Nana, fui dormir  tarde, mas os gatos são muito intransigentes e tive que me levantar.
Passamos a virada sozinhos, eu e Juan. Fizemos uma ceia simples e maravilhosa, na varanda, onde o vento tornava a noite amena, agradável. Antes, no final da tarde, levamos flores para Iemanjá, colhidas no jardim e ficamos na praia até o sol desaparecer. Uma família enorme, com umas 7 crianças, fazia a nossa alegria. O mar de Saquarema é violento, nunca posso entrar, mas enche os olhos de beleza.
Fizemos bruschetas com presunto Pata Negra que a editora Maeva nos enviou por correio da Espanha e "pimientos de piquillo", da Galícia. Depois uma pasta com gorgonzola que Juan preparou e estava no ponto exato. De sobremesa um queijo brie com geléia de laranja. Um vinho "rioja" espanhol e pronto, Espanha e Itália, os dois países do Juan estavam na mesa e logo pusemos cadeiras na nossa calçada para ver passar a multidão. Uma cena impressionante. Quase todas as meninas de branco e prata ou branco e dourado. A luz da rua, na frente da nossa casa estava queimada o que tornava tudo mais bonito e férico. E depois os fogos a partir da Igreja no alto do morro. Muitos amigos telefonaram, Gaby, da Guatemala, minha sobrinha Julia, de Natal, e na verdade embora estivéssemos sozinhos, a casa estava cheia. 
Hoje fui cedinho para a praia. Juan foi caminhar na areia, mas eu não posso caminhar em terrenos instáveis então fiquei olhando o mar, belíssimo, a praia inteiramente vazia. Eu já estava em casa quando Juan voltou. Tocou a campainha e me disse: o mar me trouxe um presente. E trazia uma cesta de palha  enorme e lindíssima.
Que 2013 nos deixe encher a cesta com pães, amor, livros, amigos novos e antigos, filhos, netos, surpresas.
E que a cesta  se multiplique infinitamente.