terça-feira, 27 de março de 2018

LIVROS NOVOS

Este ano alguns livros estão em andamento, alguns já quase saindo e não pode existir alegria maior.
De repente o Governo deixou de comprar livros de literatura, acho que em 2015, para as Salas de Leitura e Bibliotecas e nestes anos muitas editoras fecharam e outras diminuiram drasticamente suas publicações.
É triste para todos. As escolas precisam estar sempre recebendo coisas novas, os editores precisam vender, os autores precisam publicar, os ilustradores precisam ilustrar. Para que o moinho não pare.
Mas algumas editoras pequenas se animam e vou por esse caminho.
Sempre amei as editoras pequenas. Posso falar com o editor, me sinto ouvida e acolhida. Posso até indicar o ilustrador.
As grandes são distantes e frias. Quase invisíveis para mim. Publicarei por duas editoras do Nordeste. Uma do Ceará e outra do Piauí.
E tenho meus E Books no site. São gratuitos e lindos. Podem ser lidos nas escolas e foi por isso que os criei. Não ganho nada com eles. Aliás, o que nos dá felicidade muitas vezes não dá dinheiro mas a felicidade é um bem maior, já que não é um produto, não posso comprar a quilo no mercado.
A felicidade é sutil feito um perfume.
Estou extremamente feliz nesse momento em que sairão livros novos para os meus leitores.
E hoje estarei no Sarau das Artes da UFF, às 18hs, em Icaraí, Niterói, como poeta homenageada. Vou rever amigos.
Momento luminoso.

segunda-feira, 26 de março de 2018

SOBRENOME

O que é um sobrenome? A marca de um clã, a marca da tribo, um sinal de pertencimento.
Quando me casei, num passado distante, era obrigatório colocar o nome do marido.
Como já tinha um sobrenome estrangeiro, achei melhor ficar apenas com Murray e retirei o Kligerman.
Acrescentei ao meu primeiro nome um país que não conheço, que não pulsa em meu sangue. 
Quando comecei a publicar como Roseana Murray, aconteceram duas coisas:
Meu pai ficou triste ao não ver seu sobrenome na capa dos livros.
Meu sogro, filho de escoceses, ficou feliz mas achava os meus livros muito fininhos. Ele me perguntava: - Quando vai escrever um livro grosso, um livro de verdade?
Quando meu pai morreu, tentei acrescentar o Kligerman no meio. Mas não deu certo. Como pronunciar esses nomes complicados? Não era sonoro. Fiquei num grande conflito. Mas fui pragmática e mantive apenas o Murray.
É o sobrenome dos meus filhos e se nem conheço a Escócia e falo muito mal inglês, meus filhos estão aí, sempre colados em mim.
Meu pai pode ficar tranquilo. Sei bem quem sou. E ele vive dentro de mim todos os dias, todas as horas. Faz parte dos que se mudaram para dentro de mim, tenho certeza de que os carrego com muito cuidado, nas entrelinhas dos meus poemas.
Quanto ao meu sogro, que me amava tanto, eu o decepcionei. Meus livros são finos, mas meus poemas voam.

domingo, 25 de março de 2018

COREOGRAFIA

Hoje o espetáculo na lagoa era a dança e o canto das centenas de gaivotas e outros pássaros. Todos brancos.
E misturados. Perguntei a um bombeiro se sabia quais eram seus nomes e me disse que que os de tamanho médio se chamavam trinta réis.
Algumas garças solitárias pontilhavam a água. Lindas. Com porte de rainha.
De repente o bando inteiro alçava voo para dançar no azul e era uma coreografia estonteante.
Um pouco mais tarde vieram os patos.
Estávamos nessa contemplação depois do café da manhã na Padaria da Ponte, quando uma mulher se aproximou com uma criança no colo e disse:
- Fotografei vocês. Achei tão bonito vocês aí sentados no caramanchão.
E me mostrou a foto. Perguntei seu nome:
Nathália Reis, me disse.
Perguntei se era professora e me disse que sim, mas estava de licença.
Perguntei se não me conhecia e disse meu nome.
Ela disse que sim, que nunca poderia imaginar que fosse a Roseana dos poemas!
E me deu a foto de presente.
Bom domingo para todos.

quarta-feira, 21 de março de 2018

RACISMO

Que pais se sintam ofendidos a ponto de pedir a retirada de um livro por conter referências à Cultura Africana me parece um absurdo tão grande, tão chocante, que é difícil entender.
O que é que incomoda esses pais?
Que verdades podem ser descobertas e são perigosas?
Como a árvore mais frondosa, de imensas raízes, assim o flamboyant do meu jardim. Assim a Cultura Africana no Brasil. A árvore mais frondosa numa mescla impressionante de culturas. Um país que já foi estudado por sua tolerância, porém...
Um legado de valor inestimável e as crianças, num país onde metade de seus habitantes são negros ou mestiços, precisam ter contato com as suas raízes. Genealogia devia ser matéria.
Aliás, todos viemos da África. Gosto de pensar no tempo sem divisões. Milhares de anos atrás era agora.
As escolas precisam estar atentas. Retirar um livro que fale de princesas africanas para agradar os pais, para mim é crime de racismo.
Sou judia e me interessam todas as religiões, parte do humano.
(Omo-Oba, autora: Kiusam de Oliveira, livro retirado do Sesi . O Sesi voltou atrás por protestos)

terça-feira, 20 de março de 2018

Marielle

Tudo o que li sobre a Marielle é magnífico.E li tudo o que pude, já que não a conhecia, não conhecia seu trabalho, não sou simpatizante do PSOL.
Ela foi de uma coerência total e lutava pela paz. Pela paz na favela, pela paz no asfalto, por uma cidade que não fosse partida.
Não havia ódio em seu discurso. Havia um chamamento para a paz.
Havia sim revolta, porque esse país está abaixo da linha de dignidade.
Acho que Marielle traz para a luz do dia toda a truculência da sociedade brasileira.
Agora não há como não discutir a violência e o racismo abertamente. Somos uma sociedade quebrada, como um país em guerra.
A Alemanha diz que a Síria é mais segura que o Brasil.
Pois em cinco anos o Brasil matou mais que a Guerra da Síria.
Mas Marielle desperta em nós a chama de uma tênue esperança. Sua voz é a de todos que acreditam que assim não pode continuar.

domingo, 18 de março de 2018

SONHO

Domingo, como meus leitores deste espaço já sabem, é dia de tomar café na Padaria da Ponte, com vista para a lagoa e a montanha. Saímos de casa às 6.15h. Tudo deserto. Só a maravilha da luz prateada sobre o mar para encher nossos olhos. Depois do café atravessamos a rua e nos sentamos debaixo do caramanchão para contemplar.
E falávamos, eu e Juan:
E se o homem não tivesse a violência inscrita no seu DNA?
E se todo o dinheiro investido em guerras e armas, em drogas, fosse usado para a paz e o bem estar das pessoas?
E se acolher o outro fosse natural, pois o instinto de matar não estaria em nós?
Leio que na Islândia o governo conseguiu diminuir drasticamente o alcoolismo e as drogas entre os jovens, simplesmente oferecendo Centros ou Clubes de esportes e artes...
E se a crueldade e o ódio desaparecessem para sempre de nossa genética?
E se confiar no outro fosse natural pois todos se ajudariam e a alegria seria a moeda de troca?
Mas infelizmente, a crueldade e a violência, corre nas veias do ser humano. Em alguns mais, em outros menos, em poucos privilegiados em doses ínfimas, quase que não se pode detectar (penso nos que dão ou dedicam sua vida aos outros).
Sonho com um dia, no ano 3.000, em que o homem terá dado esse passo imenso em direção à sua humanidade. Terá que ter outro nome, pois passará de homo sapiens, o que destrói e mata, para outra categoria. Outra espécie de humano.
E a morte provocada estará apenas nos livros de história.

sexta-feira, 9 de março de 2018

MOMO

Cada vez que vejo um varredor de rua compenetrado em seu ofício, me lembro do Beppo, personagem de Momo, do Michael Ende e sua filosofia de vida.
A sua tarefa era imensa: varrer um grande emaranhado de ruas. Mas ele não pensava no que ainda teria que varrer. Ele simplesmente se concentrava naquele pedacinho na sua frente. Então não se afligia, não se angustiava.
Cada momento que vivo, cada cena que vejo, me traz alguma coisa que li, ao longo do tempo.
Os livros não são apenas lidos e acariciados. Eles entram na corrente sanguínea, tenho certeza que meu sangue está cheio de palavras mágicas.
E a varredora de rua ( é uma mulher) segue na minha frente, varrendo a pracinha, varrendo, varrendo... se estivesse ventando o vento me traria o poema do Bandeira...
" O vento varria as folhas
O vento varria os frutos
O vento varria as flores
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quinta-feira, 8 de março de 2018

Dona Maria

No Dia Internacional da Mulher quero evocar a minha amiga camponesa D.Maria, que me ensinou a fazer pão.
Ela não deixou nenhuma obra de arte, não descobriu nada, mas talvez seja o símbolo das mulheres silenciosas do seu tempo. Se estivesse viva teria uns cem anos.
Passei horas e horas sentada na beira do seu fogão de lenha em Visconde de Mauá, no Vale do Pavão, ouvindo as suas histórias, ouvindo a sua vida que não era nada fácil.
Criou muitos filhos, 14 ou 16, não sei. Naquela época os partos eram em casa.
Seu marido podia ser violento quando bebia.
Perdeu dois filhos já adultos. Um por suicídio.
Mas carregava suas dores mansamente, sem uma queixa, com a doçura de um bezerro.
Tinha uma pequena horta. As galinhas entravam na cozinha.
Sempre me acolheu com café, pão quente que fazia pra vender e sustentar a casa e que nunca me deixou pagar.
Sempre saía da sua casa mais rica e aquecida.
Ela era o pilar e o esteio daquela família imensa.
No fim da vida me disse que os filhos queriam levá-la para a cidade, mas ela queria morrer na sua casa.
A vida e a morte para ela estavam tão entrelaçadas que eram a sua grande sabedoria.
Hoje, quando passo por seu casarão fechado sinto uma grande saudade.
Ela era puro amor e aceitação.
Minha homenagem a essa mulher que representa um tempo bem próximo de nós onde dizer sim e aceitar era a regra. Ainda bem que não é mais assim. Mas ainda é em muitas casas, em muitos lugares do mundo. E porque não é mais assim os homens matam.
D.Maria não sabia ler nem escrever.
Mas leu meu coração naquelas horas diante do fogo enquanto nós duas dividiamos as nossas vidas.

quarta-feira, 7 de março de 2018

MULHERES

Se quisermos chegar ao passado mais remoto, basta dar a mão a um antepassado e outro e outro... 
Cada mulher pode buscar suas ancestrais, as que lavavam roupa no rio, as que eram escravas, as que sempre diziam sim e as que diziam não e de uma maneira ou de outra foram queimadas. As obedientes e as transgressoras. As que dançavam para a lua e sabiam o segredo das ervas e unguentos, o segredo do fogo, dos acalantos.
Para que estivéssemos aqui hoje, com todos os direitos e tudo o que ainda resta conquistar:
Um mundo mais compassivo e feminino, por exemplo, onde as fronteiras seriam apagadas.

segunda-feira, 5 de março de 2018

VISITA

A gente se prepara para receber visita. Ainda mais quando é uma visita rara: a minha neta.
Mas, com as chuvas caíram tantas barreiras na Serra de Visconde de Mauá, que minha família ficou ilhada.
Agora sim abriram um pedaço da estrada e minha neta poderá chegar.
Ela é uma princesa ao avesso.
Gosta de monstros, de aventuras,é um caldeirão de surpresas. Adora bruxa e lobo mau.
Abram alas: Gabi vai chegar. 

sexta-feira, 2 de março de 2018

VOLTEI

Voltei.
Na verdade, como escrevo no facebook, me dá preguiça escrever no blog também.
Mas prometo espanar a preguiça e escrever sempre que puder.
Começo contando que reli agora meu e book Livros e Leitores com as belas ilustrações da minha amiga que virou estrela, Elvira Vigna.
E se você não leu, pediria que lesse, porque quando leio a minha vida, com distanciamento, como fiz agora, acho impressionante. É uma história de superação.
Hoje contei: já fiz 15 cirurgias! E sempre consegui transformar a dor em poesia.
Estou investindo nos E Books. Eles podem entrar nas salas de aula, de informática , de leitura. São lindos e os alunos , todos podem ler sem custo nenhum.
Acabo de ver a última prova do Poesia Essencial que vai entrar no ar esta semana.
Fica feito o meu convite.