quarta-feira, 29 de abril de 2015

EM PENEDO

Acabo de chegar de Penedo, pois a Secretaria de Educação de Itatiaia fez o evento com as escolas da região no Clube Finlandês. Era uma homenagem ao meu trabalho. O Projeto Itatiart trabalha o ano inteiro com vários artistas, estudando suas vidas e obras.
Saí do encontro impactada. Foram muitas escolas, muitos alunos, até a escola da Maromba de Visconde de Mauá estava lá.
Houve uma dramatização do meu livro O Circo tão linda tão linda, que dava vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.
Houve uma leitura sobre a minha vida feita por um menino de uns 8 ou 10 anos, tão maravilhosa, ele lia tão bem, tão fluentemente e devo dizer que infelizmente esta não é a norma, que nem sei o que dizer.
O Rafael Fioratto faz bonecos para teatro, ele é professor de teatro . Houve uma apresentação lindíssima de um casal de bonecos. A menina é apaixonada pelo menino que não lhe dá a menor bola. Pois bem eu me apaixonei também por um dos bonecos do Rafael. Achei a cara do meu neto Luis. Tanto fiz e aconteci que acabei ganhando o boneco. Agora ele vai morar aqui na Atrium Escola de Música. Receberá os alunos de braços abertos.
Levei minha nora Patricia de Arias comigo, lemos juntas um poema do nosso livro Fio de Lua&Raio de Sol.
Fiz uma brincadeira poética com eles: o poema Orquestra Noturna do livro Caixinha de Música.
E foi tudo maravilhoso, levada que fui pelas mãos da Virgínia Ferraz.
Amanhã estarei no mar.

terça-feira, 28 de abril de 2015

COISAS DE NETO

  Estou em Resende. Passei dias esplêndidos na montanha. O encontro com meu neto Luis tem a força de uma explosão cósmica, já que nos vemos tão pouco.
Luis foi para a minha casinha. Levamos a caixa de tinta guache para a mesa da varanda e folhas de papel ofício. Luis pintava com os dedos misturando as cores. Eu era a ajudante, a trocadora de água.
Quando ele achou que a pintura já estava pronta, ele me disse:
_ Vovó, ficou lindo. Você pode colocar numa moldura. É arte sem sentido. Nós temos um quadro de arte sem sentido na nossa casa e é igualzinho!

No dia da minha chegada em Visconde de Mauá, fui direto para o ateliê da minha irmã Evelyn Kligerman . À noite jantamos com filho , nora e minha neta Gabriela no Warabi, restaurante japonês ao lado do ateliê. Minha tia Alice, a guardiã da memória da família materna, está passando dias com a Evelyn. Tia Alice não é japonesa mas é completamente zen.  Uma lição de vida. Eu estava tão feliz que me sentia forrada de luz. A comida era incrível e a Gabriela, tão pequenininha já adora comida japonesa.

Amanhã serei homenageada em Itatiaia, com um grande encontro com alunos da Rede Municipal.
E a escola da Barra da Tijuca que iria ao meu encontro em Saquarema no dia 13 cancelou a sua ida por enquanto. Já tinha o cardápio do almoço arrumadinho na minha cabeça! Mas faremos em agosto.

Hoje vamos almoçar aqui pertinho no Rei do Milho. Adoro este nome. É tão da roça! A comida é bem de roça mesmo e o milho ocupa um espaço privilegiado.

Depois de tantos dias sem notícias do mundo, não há nenhuma digna de alegria. Então, para sobreviver, cultivemos nossas pequenas- imensas alegrias pessoais: amor, amizade, sonhos.


terça-feira, 21 de abril de 2015

PASSEIO

Hoje caminhei uma hora com o Juan por dentro do bairro, as ruas são lindíssimas. Jardins e passarinhos. Andamos um pouco pela lagoa. Desde antes da primeira cirurgia na coluna em 1993 que não deu certo, não caminho assim, como uma verdadeira caminhante. Acho que vou ter uma overdose de endorfina.
Havia uma igrejinha antiga dentro do bairro, uma igrejinha colonial e um coreto numa pracinha. Era um conjunto belíssimo. Na década de 70 cheguei a ir numa quermesse nesta pracinha.
Pois bem, destruíram tudo. A igrejinha singela, saída de um quadro naïf, virou um monstrengo horroroso, transformaram uma obra prima num amontoado de feiura . Destruíram o coreto antiquíssimo e fizeram outro em seu lugar, mas não encontro palavras para descrever tal aberração. A cidade não cuida do seu patrimônio histórico. Além disso todo o conjunto está cheio de lixo.
Agora começaram a fazer a orla da praia. Um calçadão. Dá medo. Já estão construindo uns banheiros horrorosos, tiram a magnífica vista da praia, vários banheiros, como se uma multidão precisasse ir ao banheiro ao mesmo tempo! Já existem alguns prontos na Praia de Itaúna.. Olhando parece um amontoado de pedras, como se fosse um banheiro pré  histórico, só que naquela época não existiam banheiros. Quem desenhou deve ser obcecado pelos Flinstones . A população não foi consultada.
Eu grito sozinha de horror. Onde posso gritar? Ficamos nas mãos de políticos que não perguntam nada para os moradores, aos poucos a cidade vai se transformando sem que possamos interferir.

Amanhã mergulharei na montanha. Ficarei ausente por uns dias.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

MOLHANDO JARDIM

Sábado pude molhar meu jardim. Antes da cirurgia na coluna era impossível. Além de não conseguir ficar em pé, qualquer movimento provocava dores terríveis.
Molhar o jardim e sentir o agradecimento e a alegria das plantas é tão maravilhoso, produz uma onda de amor tão grande dentro da gente! E o cheiro da terra molhada! Estava descalça , a tarde caia, a luz pousada sobre o jardim era quase um espelho. Eu fui me transformando pouco a pouco em planta e ao mesmo tempo eu ia derretendo de felicidade. 

AMOR ENTRE CÃES E HUMANOS

O artigo abaixo saiu publicado no El País e é interessantíssimo.


Desvendado o mecanismo do amor entre os cachorros e seus donos
O olho no olho entre donos e mascotes faz disparar a produção do hormônio do afeto

    O cachorro abandonado por medo de que tivesse ebola é adotado

Manuel Ansede 16 ABR 2015 - 20:33 BRT

   

"O amor pelo cachorro é voluntário, ninguém o impõe [...]. E o principal: nenhuma pessoa pode outorgar a outra o dom do idílio. Isso só o animal sabe fazer [...]. O amor entre um homem e um cachorro é um idílio. Nele não há conflitos, não há cenas angustiantes, não há evolução”, escreveu Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser. No romance, a protagonista, Teresa, chega a pensar que o amor que sente por sua cachorra Karenin é muito melhor do que o que sente pelo marido.
mais informações

Esse sentimento se repete em um número sem fim de obras artísticas e se condensa na frase “Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cachorro”, atribuída a dezenas de autores, embora possivelmente possa ser assinada por dezenas de milhões. Hoje, uma equipe de cientistas lança luz a esse processo de enamoramento entre cachorros e seus donos: retroalimentam sua felicidade olhando-se nos olhos.

Os pesquisadores, encabeçados pelo veterinário japonês Takefumi Kikusui, colocaram 30 cachorros com seus donos em um mesmo quarto, durante 30 minutos, e observaram o que ocorria: olhares, carícias, vozes carinhosas. Antes e depois do experimento, mediram a quantidade do chamado hormônio do amor, a oxitocina, tanto na urina dos mascotes como na dos donos.

As conclusões de Kikusui, da Universidade de Azabu (Japão), são surpreendentes: quanto mais os cachorros e seus donos se olhavam nos olhos, mais oxitocina seus cérebros produziam. Em seguida, o experimento foi repetido com lobos criados com mamadeira. O hormônio, ingrediente químico fundamental do carinho que sentimos em nosso cérebro, não aumentava.

A equipe de cientistas foi ainda mais além. Em um terceiro experimento, borrifou oxitocina no focinho de alguns cachorros e voltou a colocá-los em um quarto com os donos e duas pessoas desconhecidas. Nos vídeos, é possível ver como alguns mascotes ficavam congelados olhando nos olhos dos donos, que, por sua vez, produziam mais oxitocina, em uma quantidade correlacionada com a de seus animais.

“Esses resultados respaldam a existência de um circuito de oxitocina que se autoperpetua na relação entre humanos e cachorros, de uma maneira similar à que ocorre com uma mãe humana e seu filho”, argumenta a equipe de Kikusui, que publica suas conclusões na capa da prestigiada revista científica Science. Durante o processo de domesticação, ao longo de milhares de anos, os cachorros teriam evoluído para imitar um comportamento, o olhar das crianças, que provocava recompensas e agrados. “A alma que pode falar com os olhos também pode beijar com o olhar”, recitava o poeta Gustavo Adolfo Bécquer. Kikusui diz o mesmo, mas dos cachorros e seus donos.

As implicações do estudo são importantes do ponto de vista médico. Os resultados endossam as terapias com cachorros para pessoas com autismo ou transtorno de estresse pós-traumático, duas patologias nas quais, de fato, a oxitocina está sendo empregada como tratamento experimental.
Pontos frágeis

O trabalho de Kikusui, no entanto, tem pontos frágeis. Os cachorros borrifados com oxitocina que ficavam congelados olhando para seus donos eram todos fêmeas. Um estudo similar em humanos, realizado em 2012 com 35 pais e seus filhos de cinco meses em Israel, não encontrou essas diferenças por gênero. Os adultos eram borrifados com oxitocina e o hormônio do amor subia ao mesmo tempo nas crianças, fossem meninos ou meninas. “É fascinante ver que a oxitocina disparou somente entre os proprietários das cachorras”, opina o principal autor daquele estudo, o médico Omri Weisman, da Universidade de Yale (EUA).

Para a equipe de Kikusui, é possível que as cachorras sejam mais sensíveis à administração intranasal da oxitocina ou, até mesmo, que o hormônio aplicado artificialmente aos machos desencadeie um mecanismo de agressividade ante a presença de estranhos.

Em 2009, o húngaro Józef Topál, especialista em comportamento animal, publicou outro estudo na revista Science que mostrava que os cachorros e os bebês de 10 meses de idade buscavam um objeto em seu esconderijo inicial mesmo tendo visto que havia sido mudado de lugar, em parte por causa do olhar enganoso da pessoa que o escondia, que indicava o esconderijo original. No trabalho de Kikusui, Topál sente falta de experimentos com lobos mais socializados, treinados para olhar nos olhos de seus donos.

O pesquisador, da Academia Húngara de Ciências, recorda que até os lobos criados com mamadeira evitam o olhar de seus donos, porque para eles esse comportamento está associado à ameaça. Mas os lobos podem aprender a se comunicar de maneira amável com o olhar, segundo demonstrou um estudo de 2011. Na avaliação de Topál, incluir esses lobos nos experimentos de Kikusui teria servido para discernir se o olhar desse animal gera também o hormônio do amor no cérebro de seus donos ou se se trata de uma característica unicamente canina.

“O estudo de Kikusui é impressionante, mas qualquer conclusão sobre a coevolução desse processo é prematura”, afirma. “Não se pode excluir a hipótese de que esse circuito de oxitocina que se autoperpetua possa existir entre as pessoas e qualquer outro animal, sempre que o animal apresente comportamentos de afiliação socialmente relevantes, como a tendência a olhar para os humanos”, sentencia. O cachorro é o melhor amigo do homem, mas qualquer outro animal bem treinado também poderia ser, sugere

domingo, 19 de abril de 2015

LIBERDADE

No meu livro Carteira de Identidade, com maravilhosos desenhos da Elvira Vigna, encontro alguns poemas especialmente belos. Uma vez, Antonio Carlos Secchin me disse : - A tua poesia é bela.
Tive o privilégio de fazer uma oficina de poesia com este grande poeta, grande estudioso de João Cabral e Drummond.
Acho que é porque busco beleza em tudo. Basta uma folha deslizando no vento para justificar a minha existência. Farejo a beleza como um cão perdigueiro

LIBERDADE

Como Paul Éluard
escrevo a palavra liberdade:
com as linhas da mão,
com os fios de seda
que a poesia inventa,
com a dança lenta
das estrelas desaparecidas.

A palavra liberdade
com a água limpa
dos gestos limpos.

Com a água dos sonhos.

sábado, 18 de abril de 2015

ESPELHO

Aldo José Brasil de Lima me pediu um texto inédito para o seu blog, o Blog do Aldo.
Coo o texto já foi publicado, já posso colocar no meu próprio blog.

ESPELHO
Busco no espelho, como no conto do Guimarães Rosa, a minha alma.
Quem sou verdadeiramente, retirando a pele e os ossos?
Tenho 64 anos e um corpo que atravessou vendavais e sobreviveu. Um corpo marcado pela vida com todas as suas idas e vindas.
O espelho me mostra a superfície: uma bela senhora de olhos acesos. Mas por dentro é outra coisa. Tantas idades coexistem dentro de mim!
Sou uma adolescente, sentada no chão, de pernas cruzadas, querendo adivinhar o tempo. Felizmente, descobri o dom da poesia e do olhar, o meu dom.
E já não preciso adivinhar o tempo, porque hoje sei que o tempo não passa, somos nós que passamos e vamos vivendo o que nos vai acontecendo, as surpresas. Então posso conversar com a adolescente inquieta e apaziguá-la.
Mas se o espelho pudesse mostrar a minha alma, mostraria a criança que fui, a jovem, a velha, todas juntas, bem amarradas, como um feixe de girassóis.
Hoje, nós, humanos, vivemos muito. Podemos até nos aposentar do trabalho obrigatório, mas não da vida, das paixões, dos sonhos, que é o que nos move. Não podemos aposentar os milagres, eles continuam existindo até o último segundo.
Descobrir os nossos dons é uma tarefa  obrigatória para que nossa usina interna de alegria possa funcionar. Então não importa se temos vinte, trinta, sessenta, oitenta anos, a vida será sempre uma aventura.

Roseana Murray, 16 de abril, Saquarema

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A POESIA CURA?

A poesia cura? Não radicalmente, mas pode ajudar muito! Minha sobrinha Julia Kligerman, psicóloga, tinha uma paciente que não lhe dava nenhum acesso, nenhuma via de comunicação. Não sei qual era o seu caso, mas através do meu livro Abecedário (Poético) de Frutas,ed. Rovelle, a paciente começou a falar, pois se apaixonou pelas frutas, pelos poemas e imagens, pelo livro.
Já soube de alguns casos parecidos de psicólogos que usam meus poemas.
A poesia tem o dom de mover conteúdos e sentimentos dentro da gente de uma maneira muito rápida e eficaz.
Soube até de um Professor de Psicologia que na Universidade deu um poema do meu livro Poemas de Céu, ed. Paulinas, para discussão.
Eis o poema:

BURACO NEGRO

Essa coisa esquisita
que às vezes
a gente sente,
como se tivesse
um pedaço faltando,
essa vontade que se tem
de não se sabe o quê,
esses abismos que nascem
repentinamente,
esses buracos
negros do céu
dentro da alma da gente.

A propósito deste poema: num dia longínquo, da década de noventa do século passado, fui autografar livros dentro de um Supermercado em Recife. Era uma experiência piloto.
Muita gente passava pela minha mesa cheia de livros comigo sentadinha atrás, e nem parava, às vezes nem olhava. Mas uma mulher parou , pegou o livro com o poema acima, numa outra edição, com outro título (na nova edição mudei o título), e ao terminar de ler o poema ficou muito irritada comigo. Ela me disse que tinha ido ao supermercado fazer compras e agora eu a tinha desarrumado. Ela me perguntou literalmente: _ Você sabe o que faz com as pessoas?
Comprou o livro, eu autografei e ela foi embora furiosa.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

TODOS DIAS

Todos os dias nos levantamos com a tarefa urgente de ficarmos vivos. E não é pouca coisa.
Felizmente não estamos em guerra nem temos que fugir como os refugiados africanos ou da Síria, sem saber se a tarefa de atravessar mares e terras será concluída. O Brasil, claro, tem outras mazelas, a violência desenfreada da polícia e do narco, enfim, nem é preciso enumerar.
Mas todos os dias, como na música do Chico ela faz tudo igual...
e ao cozinhar o feijão ou ir para a fábrica, para a empresa, ou fazer faxina ou plantar, às vezes nos esquecemos de olhar.
Não há ofício mais belo e é grátis! Não precisamos pagar.

RECEITA DE OLHAR

nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda em acordes
de sol

faça do seu olhar imensa caravela.

in Receitas de Olhar.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

VAMOS BRINCAR?

Minha neta de um ano e quatro meses brinca sozinha. Vai construindo fios invisíveis entre as coisas. Senta, olha um livro, fala na sua língua, se emociona com algumas imagens, levanta, vai até um brinquedo que faz música, aperta uma tecla, canta junto, dança...Brinca muito de cabra cega com ela mesma. Gosta de colocar uma fralda de pano tampando a cabeça e o rosto e vai se arrastando sentada , no escuro, em busca de algo que não sabemos.
Meu neto de cinco anos brinca de Samurai, Super Heróis, brinca de espada , pedras de poder, Luna, sua cachorra, é muitas vezes parceira de lutas impressionantes. Gosta de alguns livros especialmente e como ainda não lê sozinho, contamos as histórias para ele mas ele vai acompanhando as palavras, já está quase lendo.
É maravilhoso ver como brincam as crianças. Tarefa das mais importantes para a formação de um ser humano e para a manutenção da alegria, brincar é primordial.
Nós, adultos, devemos brincar mais. Levar a vida mais aventureiramente, é fazer contato com a nossa criança.
Eu gostava de pular roda, brincar de roda, brincar com as bonecas de teatro, ler. Considero a leitura como a melhor brincadeira que existe. Num passe de mágica, atravesso o tempo , estou em outro lugar, sou outra pessoa, vivo outra vida.

terça-feira, 14 de abril de 2015

POÇO DOS DESEJOS

Patricia, minha nora, me conta: meu livro Poço dos desejos, ed. Moderna, está sendo lido e amado na aula de musicalização dos bebês na Atrium.
Eu acho incrível porque: quando escrevi os poemas meu leitor imaginário era grande!  Jamais poderia sonhar com um bebê amando estes poemas!
Então, como é que se pode dizer se um livro é para tal ou tal idade?

DESEJO DE ENCONTRAR UM TESOURO

Quem nunca sonhou com um tesouro
bem enterrado no fundo do jardim,
coberto por uma camada de terra
e perfumados jasmins,
ou mesmo num oco da parede
com um quadro em cima?
Quem nunca sonhou com um mapa
de pirata com caminhos sinuosos,
espiralados e o tesouro com um X
vermelho, um tesouro bem enterrado.
Mas às vezes o tesouro é o sol,
a lua, a chuva, flores, borboletas,
passarinhos, beijos, amor.





segunda-feira, 13 de abril de 2015

LA STORIA

Monica Botkay, minha amiga amada, tem uma biblioteca ótima de livros em francês. Da última vez em que estive na sua casa ela me emprestou sete livros.
Estou terminando de ler o terceiro. Um livro da Elza Morante, italiana, mas traduzido para o francês. La Storia. Como é uma edição de bolso, o livro vem em dois volumes)
Estou muito impactada. Ela começa o livro nos primórdios do fascismo, mas vivemos toda a Segunda Guerra junto com a personagem Ida e sua estranha família. Ida é filha de mãe judia e guarda seu segredo com terror. Ela é o pavor personificado. Seu filho Nino é um guerrilheiro sem ideologia, um vagabundo que vai e vem, aparece e reaparece. Logo no início da chegada dos alemães a Roma Ida é estuprada e apesar de já não ser jovem e ter engravidado de Nino com muita dificuldade (seu marido morreu), ela engravida deste estupro e nasce Useppe, a criança mais diferente e especial do mundo.
E desde que comecei o livro estou vivendo aí, junto com  Ida e Useppe e é impressionante como Elza Morante escreve! Consigo entrar na alma e no corpo da Ida, respiro com ela dentro de mim!
Paro de ler, olho em volta aliviada, não há nada mais horrendo do que a guerra.Não estamos em guerra. Há a violência e a guerra não declarada dos assassinatos. Mas não é uma guerra.  E as crianças jamais deveriam passar por experiências tão terríveis.
Conto tudo isso para dizer que amo a paz acima de tudo. Só na paz os afazeres simples e cotidianos adquirem sentido e consistência.

domingo, 12 de abril de 2015

TRANSFORMAÇÃO

Eu tenho um neto e uma neta. Meu neto gosta de espadas, lutas, samurais. Minha neta ainda é bem pequena, mas eu sonho que um dia , no futuro:

UM, DOIS, TRÊS
Um, dois, três,
era uma vez,
e a menina vira
e desvira,
na frente do espelho,
uma fada de longos
cabelos, tiara e varinha,
vira e desvira
uma princesa
e uma rainha.

Um, dois, três,
era uma vez
uma sereia com olhos
de mar,
e as roupas da mãe
esvoaçam dentro do espelho,
parecem feitas de ar.

in Brinquedos e Beincadeiras, ed. FTD , dedicado ao Maurício Leite

sexta-feira, 10 de abril de 2015

ATAQUE

Anteontem a TV 5 estava fora do ar. Havia uma tela azul onde se lia algo do tipo " A transmissão deste canal foi interrompida por motivos técnicos."
Entrei em pânico. Liguei para a Sky , o que é uma façanha para super heróis. Depois de horas esperando, uma atendente me disse que deveria ser um problema da minha antena. E agendou um técnico para vir até a nossa casa.
Entrei em pânico pois a Sky é arbitrária, completamente. A CNN em espanhol faz alguns anos foi retirada sem nenhum aviso.Entrei em pânico pois adoro os programas da TV 5 e é a melhor maneira de ter contato com a língua, eu a guardo como meu maior tesouro.
Mas o que realmente aconteceu foi um ataque terrorista cibernético de vastíssimas proporções assumido pelo EI ou ISIS. Eles conseguiram inviabilizar a transmissão da TV 5 para o mundo tudo e ainda colocar palavras de ordem na tela que ficou negra.
Acho que devemos propor que as escolas façam, criem, brincadeiras de paz.
Como disse o personagem grego do livro A Trégua do Primo Levy, quando acaba a guerra e estão voltando para casa:  "Guerra é Sempre!"
Mas temos que desfazer isso como se desfaz um nó cego, devagarinho, com paciência, no nosso dia a dia.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

O PEQUENO PRÍNCIPE

O Pequeno Príncipe foi o primeiro livro que li em francês. Fiquei apaixonada. O livro foi alvo de desprezo, por ser o livro predileto das misses. Mas sou sua defensora ardente. É belíssimo.
Faço com a minha caseira Vanda aulas de leitura, já que tendo estudado apenas até o segundo ano primário, ela tem muitas dificuldades para ler e ao mesmo tempo entender um texto.
Por causa das minhas cirurgias e depois emendei com uma viagem de quinze dias, nosso projeto andava abandonado.
Primeiro lemos um livro infantil muito lindo da Angela Maria Quintieri , sobre o seu avô, motorneiro de bonde. A Vanda amou, pois sua mulher era camareira num hotel e logo houve uma identificação.
Ao pensar num segundo livro, pensei no O Pequeno Príncipe. Por ser de leitura fácil, por ser maravilhoso, por atuar no simbólico, despertar a imaginação.
Hoje, logo no primeiro encontro com o Pequeno Príncipe, quando facilmente ele decifra o primeiro desenho, comecei a chorar. Nada no mundo me emociona mais do que a imaginação da criança, a sua capacidade de ver o invisível, de atribuir vida a todas as coisas.
Vanda está amando e a sua capacidade leitora está se expandindo. Ensinei a ela um truque. Quando se deparar com uma palavra grande, que a leia primeiro na mente, para decifrá-la. Ela adorou e já não se atemoriza com palavras grandes e desconhecidas.
Faço ela me contar tudo o que lemos, com as suas palavras. E ganhar novas palavras, as que não conhecia.
Hoje tive uma ideia: numa caixa bem bonita ela guardar a palavra nova, num pedacinho de papel.
Será como a caixa onde o piloto guardou o carneiro imaginário do Pequeno Príncipe.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

SONHANDO EM OUTRA LÍNGUA

Uma vez, quando era bem jovem, fui visitar o grande ilustrador Rui de Oliveira em seu ateliê, acho que no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.
Ele me contou que morou muitos anos na Hungria como estudante. Um dia um amigo brasileiro lhe perguntou _ Você sonha em húngaro? Porque se a resposta for afirmativa, devo dizer que isso é muito grave.  Se começar a sonhar em húngaro, não voltará mais para o Brasil.
Mas para nosso deleite, ele voltou.
Ontem pela primeira vez sonhei em italiano. Acho que foi porque a minha aula de italiano ontem foi muito engraçada. Minha professora Celmar me pediu: _Vamos fazer um pão em italiano? Quero aprender.
E foi o que fizemos. Ensinei Celmar a fazer um pão em italiano! E depois, claro, o pão assou e ficou lindo.
A nossa aula vai acontecendo. Não suporto seguir um método. Gosto de um caos criativo. Falamos sobre isso e aquilo , conto sobre os livros que estou lendo e ontem lemos uma carta do Simenon para a sua mãe (traduzida para o italiano), para a sua mãe morta. Carta belíssima, emocionante.
Os neuro-cientistas recomendam, para a plasticidade do cérebro, aprender uma nova língua, alguma nova habilidade.  A minha alegria quando falo italiano, quando leio, quando entendo tudo nos programas da RAI, é infantil. Tenho vontade de dar cambalhotas.
Não lembro nada do meu sonho, apenas que estava na Itália e que falava fluentemente. O que já está quase acontecendo. Claro que faço muitos erros, principalmente com verbos, mas como não tenho nenhuma vergonha, vou falando.
É a terceira língua adquirida, território onde falo e leio. Escrever é outra coisa, muito mais complicada . Agora quero melhorar o meu inglês, pois falo mal e não leio. Em agosto começarei um curso on line.
Agora, vejam bem, se com 64 anos consigo aprender uma nova língua, imaginem o desperdício de não ensinar para valer uma língua nas escolas públicas! A criança aprende em minutos!
O Brasil deveria ser bilíngue, pois somos uma ilha de português cercada de espanhol por todos os lados. Isso ajudaria e muito o nosso sentimento precário de latinidade.

terça-feira, 7 de abril de 2015

A MORTE DO MENINO JESUS A

Meu marido Juan Arias escreveu um artigo belíssimo sobre a morte do menino Eduardo. Transcrevo emocionada:

Os pobres no Brasil costumam pôr vários nomes em seus filhos com um desejo inconsciente de um futuro mais próspero para eles.
Uma cruel e simbólica coincidência, como fizeram notar as redes sociais, fez que entre os vários nomes do menino morto na favela do Rio e de seus pais figurassem três nomes emblemáticos do drama do cristianismo: o menino se chamava Jesus, o pai, José e a mãe, Maria. Foi morto com um tiro na cabeça na porta de sua casa na véspera da sexta-feira santa.
Para crentes ou não, a crucificação do inocente Jesus de Nazaré há mais de dois mil anos, a história daquela família pobre e perseguida e o grito de amor universal e de defesa dos mais fracos lançado então continua sendo ainda hoje um apelo no mundo todo contra os crimes e abusos do poder contra os indefesos.
  • Talvez por isso, o inocente e novo crucificado, o pequeno Eduardo Jesus e a coragem de sua mãe, uma empregada doméstica que trabalhava na zona nobre e rica da cidade e que enfrentou a polícia que matou seu filho, está se convertendo em um arquétipo da luta contra a violência perpetrada contra os mais fracos. No Rio, 80% das mortes violentas acontecem nas favelas.
Um dos cartazes de protesto levantados por um grupo de jovens daquela comunidade pobre do Areal tinha duas palavras escritas à mão: "Queremos viver", que era como dizer: Não queremos continuar morrendo. Duas palavras impregnadas de ameaça e esperança juntas.
Dizem que o Jesus cristão ressuscitou. O que é certo é que o pequeno crucificado da favela continua vivo. Com seu sacrifício inocente já está criando um movimento para ressuscitar as favelas. Seu sangue fez os jovens das comunidades pobres do Rio tomarem consciência de que só se morre quando se deixa de lutar contra a tirania. Assim, em outro cartaz escreveram: "A favela não se calará". Não será o primeiro milagre de Eduardo Jesus a quem o sensível papa Francisco poderia proclamar como mártir das favelas?
Eduardo Jesus, dizem em sua comunidade, era um menino doce e alegre, gostava de estudar, sonhava com futuro melhor que o de limpar casas como sua mãe, que todo mês poupava alguns reais de seu salário para poder pagar a ele o sonho de frequentar um curso de inglês.
Era um filho bom que no celular ensanguentado que tinha nas mãos quando o mataram tinha escrito no aplicativo de mensagens do WhatsApp: "Mãe, eu te amo".
Encarando o policial que tinha aberto a cabeça de seu pequeno e que apontou também contra ela a arma com a qual tinha roubado para sempre seu filho, a mãe de Jesus disse: "Pode me matar, porque já acabou com minha vida".
Não existe mãe no mundo que de algum modo não se sinta morrer também ao perder um filho. A lei da vida é que os filhos enterrem os pais. O contrário é só cruel destino.
Entretanto, não é certo que Maria de Jesus tenha morrido com seu pequeno. Ela e todas as mães pobres das comunidades violentas e abandonadas deverá continuar alimentando com sua dor e sua raiva esse grito dos jovens amigos de seu filho: "Queremos viver".
O escritor brasileiro Zuenir Ventura, um dos pioneiros na análise do drama das favelas do Rio, disse-me em uma entrevista há alguns anos que os jovens dessas comunidades procuram viver e divertir-se ao máximo porque "pressentem que morrerão sem chegar à idade adulta".
Sua mãe não morreu com ele. Não pode morrer porque precisa continuar de pé para que também seu filho continue vivo, para que a profecia de Zuenir Ventura se interrompa e para que a partir do sacrifício de seu filho inocente, os jovens das favelas exijam do poder o direito de continuar vivendo. Para que possam divertir-se e desfrutar da vida sem o peso sobre a alma de saber que uma bala perdida os persegue a cada instante.
Se os antigos romanos diziam "Se queres a paz, prepara a guerra", os jovens amigos do pequeno Eduardo Jesus sabem muito bem que é ao contrário: só lutando para exigir a paz e a justiça se fará impossível a guerra. Essa guerra que hoje ainda continua matando, enquanto uma grande autoridade do Rio teve a coragem de dizer: "Isso, nas favelas, sempre foi assim e pior".
As palavras também matam. Às vezes mais que as metralhadoras.
Podem matar mas também salvar, como as escritas pelos jovens em protesto pela morte de Eduardo Jesus: "A favela não se calará".
Por muito tempo essas comunidades tiveram de ficar caladas. Hoje anunciam que levantarão sua voz. E o farão agora também em nome do pequeno Jesus, que fez o milagre de libertá-las do medo.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

E LA NAVE VA

Gosto das segundas feiras. Tenho a sensação de que estou num barco, amarrada num porto e que o nó da corda se desfaz, la nave va...
A casa é uma fábrica e adoro o movimento, parece que para começar a semana todas as coisas, objetos e sentimentos vão se rearrumando .
Hoje o Samuel corta a grama do jardim. O jardim é o milagre da casa. Quando compramos a casa era um areal, areia da praia. Havia uma única planta, uma alamanda amarela que existe até hoje. O jardim é quase um pequeno bosque, sete coqueiros, flamboaiã, limoeiro  , canela, cravo, graviola, e flores e flores, sortidas , coloridas. Muitas orquídeas amarradas nas árvores. O jardim é guerreiro, somos seus aliados mas ele tem que lutar contra o sal e o vento e a secura, Saquarema é semi-árida. Mas agora no outono ele está em seu apogeu. Há uma palmeira que se chama leque, tão majestosa, gosto de me sentar na sua sombra para ouvir seus pensamentos.
E o cheiro da grama cortada é inebriante.
Aqui da minha mesa escuto a explosão das ondas do mar nas minhas costas e Juan , trabalhando em sua mesa me diz, como naquele programa da Rádio Relógio da minha infância "Você Sabia?", ele na verdade me pergunta:
_ Você sabia que o Congresso gasta por mês Um Milhão Trezentos e Sessenta Mil Reais em cafezinho, água, refrigerantes, biscoitinhos?
Fiquei muito mais culta com essa informação. A minha cultura sobre a corrupção no Brasil aumentou muito, porque é impossível gastar tanto em cafezinho... Alguém está ganhando alguns trocados aí!


domingo, 5 de abril de 2015

CIDADANIA

Sempre que posso vejo o programa Thalassa na TV 5. Ontem foi sobre o Estuário do Rio Loire e sua navegação, seus estaleiros, suas cidades, sendo a de Nantes a mais importante.
O que me impressionou: Nantes, uma cidade industrial, pensa o tempo todo na melhor maneira de criar bem estar para a sua população. Nantes tem arte na rua interagindo com a população na frente dos estaleiros.
Este pensamento tão simples: Criar bem estar para a população deveria nortear cada passo do poder público. Deveria ser o Mantra dos políticos. Cada político deveria acordar pensando: -O que posso fazer para tornar a vida do cidadão mais leve, mais rica em experiências maravilhosas, mais feliz?
Nós, o tempo todo nos esquecemos que os políticos e os servidores públicos são nossos servidores mesmo, pois é o imposto que cada um de nós paga, e pagamos os impostos mais altos do mundo!  que fornecem os seus salários. Eles nos devem e muito!
Ter uma cidade pensada para o bem estar, limpa florida, agradável, com ciclovias e transportes dignos, ter direito de andar para lá e para cá sem ser atingido por uma bala perdida, ter uma educação de qualidade, sair do fundamental falando fluentemente uma língua estrangeira , não são atos de caridade, nem utopia. É nosso direito. Oportunidades iguais para todos não é favor.É direito.
Aqui em Saquarema não limparam a praia depois da ressaca. Está imunda. Isso é um crime. Pagamos impostos aqui em Saquarema, IPTU. Temos direito a uma praia limpa para deleite do nosso olhar. Os ônibus são um serviço indecente. Os políticos devem pensar, ah, os ônibus são para a ralé que não tem carro... e como os velhinhos sofrem nos ônibus que cobram um absurdo por um serviço indigno, da pior qualidade.
A nossa cidadania é violentada a cada minuto do dia.
Aproveito a Páscoa para pedir Paz e Cidadania.

EXERCÍCIO

"Conte Algo que Não Sei" é a minha coluna favorita do jornal O Globo. Hoje Daniela D.Sopeski, instrutora de meditação tem a palavra. E suas dicas são as mais simples, porém, dificílimas para nós ocidentais. Ela propõe não apenas a meditação em qualquer lugar, com o foco na respiração, mas também a concentração absoluta no momento presente, no que estamos fazendo aqui e agora. Essa entrega aos afazeres de uma maneira amorosa e atenta, faz com que nossa percepção aumente, nosso olhar sobre todas as coisas seja mais compassivo. E nos traz uma sensação de paz e bem estar , que é o que todos almejamos. Uma sensação de plenitude.
Não é um exercício fácil. E é isso mesmo, um exercício. Requer concentração.
Hoje decidi fazer uma salada de berinjela. Ao cortar as berinjelas, presto total atenção na cor da sua casca, passo a mão em sua textura maravilhosa e quando eu a fatio, meus olhos saboreiam a sua cor, as sementinhas minúsculas.
Aproveito para dar a receita: cozinho a berinjela, escorro, acrescento cebola e tomate bem picadinhos, um dente de alho bem esmigalhado, salsa, sal e azeite de oliva. É muito bom.
Mergulhar plenamente em cada instante da vida, que jamais se repetirá, cada instante é único, é o mais belo exercício .

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Rimas Fáceis

Ao chegar em casa, em Saquarema, a correspondência estava toda em cima da mesa. Havia um livro. "Rimas Fáceis" de Edna Bueno.
Conheci Edna lá pelos meados dos anos 80, mas não a reconheço como Edna , já que seu apelido carinhoso era Tutuca.
Fizemos uma oficina de poesia juntas, na OLAC que não sei se existe ainda. Seus poemas eram belos e ela exalava doçura
Seu livro Rimas Fáceis, ed. Gaivota, de 2012, é um tesouro. Imperdível. Como pode caber tanta beleza num livro~tão pequeno? Porque Edna escreve seus breves contos como poeta e eles são uma explosão cósmica, arrebatam o leitor. Cada palavra uma estrela. Os títulos dos contos breves são magníficos, pares de palavras que anunciam o inusitado.
Recomendo o livro com fervor.Terminei de ler o livro com vontade de beijá-lo.