quinta-feira, 30 de junho de 2011

CAFÉ DA MANHÃ COM PROFESSORES

Hoje estou radiante. Os vinte professores que vieram ao Café Literário relataram seu envolvimento com as Rodas de Leitura em suas escolas. O Projeto de Leitura de Saquarema se transformou e está em plena ebulição. Eu poderia dar cambalhotas de felicidade se a minha coluna deixasse. Agora cada professor é responsável por inventar um projeto dentro do Projeto e alguns trabalham com temas, outros com autores, outros com gêneros e todos buscam envolver o aluno num corpo a corpo magnífico. Finalmente os professores são protagonistas e , eles me contam, os resultados são palpáveis. Lá atrás, em 2003 , plantamos uma semente e agora vejo o Projeto andar de verdade.Vejo os professores animados, entusiasmados. É como se cada um deles estivesse com as rédeas na mão e cada um arma o seu teatro e se sente feliz, revigorado.A Secretaria de Educação junto com as escolas encontrou o caminho e a sensação que tenho é que o professor está fazendo o seu trabalho com muito prazer, pois agora é co-autor do projeto. E leitor.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ISLANDIA

Vi um documentário muito interessante sobre a Islandia, pequeno país gelado, árido, cheio de vulcões. Seus invernos são longos,então as redes familiares são sólidas, pois é muito o tempo em que as pessoas ficam dentro de casa. Basta furar um poço com pouca profundidade para que a água saia fervendo! Na Islandia há piscinas públicas, quentes,com esta água, e toda a população se banha e conversa, mesmo no pior dos invernos. Quase todo mundo se conhece e tem algum grau de parentesco.A lingua é muito difícil, cheia de consoantes. Juan me conta que a Islandia vai mudar a sua constituição consultando a população através do facebook. Todos podem dar idéias. Isso é uma grande novidade que vem de um país tão pequeno.

terça-feira, 28 de junho de 2011

RETRATO EM MOVIMENTO

Lembro quando fiz 10 anos e me preparava para dar um grande salto: estudaria nas férias para pular o admissão e ir direto para o primeiro ano ginasial.
Não lembro de nada quando fiz 20 anos.
Lembro quando fiz 30 anos: publiquei meu primeiro livro, o Fardo de Carinho e morava em Visconde de Mauá. No dia do meu aniversário chovia e fui dar uma caminhada com o maestro Nelson Ayres, meu amigo na época. Fomos até a Cachoeira da Grama e ele me ofereceu a cachoeira como presente de aniversário.
Lembro quando fiz 40 anos e me achei velha e triste, meu casamento se arrastava para o fim. Estávamos na Ilha de Jaguanum e eu tinha muita pena de mim.
Lembro quando fiz 50 anos. Estava em Trancoso, apaixonada pelo Juan, me sentia jovem e pronta para a vida.
E fiz 60 anos e me sinto cheia de energia, sempre pronta para os desafios. Estou escrevendo um novo livro de poesia, o Diário da Montanha e estou gostando do que vai saindo.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CAFÉ DA MANHÃ COM PROFESSORES

Ficou tudo combinado com a Secretaria de Educação: dia 30, quinta-feira, teremos um café da manhã aqui em casa com vinte professores. Escolho cuidadosamente um texto que me facilite as coisas, pois quero falar da importância de se ler um poema, um conto, uma crônica, com o único propósito de sentir e discutir o texto. Como precisamos afiar uma faca para cortar legumes e para isso preciso de uma pedra de afiar, precisamos afiar o pensamento constantemente e a literatura é a melhor pedra mágica que existe. Não sei como anda o Projeto Uma Onda de Leitura, que estabelecemos em Saquarema em 2003, mas o seu propósito é formar leitores críticos e para isso precisamos de professores leitores.
Uma professora de Niterói me escreve pedindo para entrar no Clube de Leitura da Casa Amarela, mas nenhuma professora de Saquarema pede para entrar no Clube, o que me entristece bastante. Uma professora leitora sabe que tem que abrir janelas em sua sala, janelas para a arte, a literatura, o pensamento, para que se possa respirar. Quem não é leitor aceita e mastiga o mundo como um ruminante passivo.

domingo, 26 de junho de 2011

EXTRAVAGÂNCIAS

Hoje é domingo e decido fazer algumas extravagâncias, já que o dia está tão belo. Leio que o azul é a cor da estação, mas para mim o azul é sempre cor de qualquer estação e hoje o dia está completamente azul.
Decido comer um macarrão preparado pelo Juan, com toda a sabedoria culinária que trouxe de Roma, pois viveu lá 40 anos.Decido abrir o melhor vinho que temos. Decido comer sobremesa e já saboreio antecipadamente tudo o que colocaremos na mesa.
Decido deixar de lado o livro Orientalismo do Edward Said, que estou lendo, e começo a reler 1000 Dias em Veneza, para novamente percorrer a cidade.

Recebo pelo correio uma blusa linda da confecção Ana e Isa Simplesmente, enviada pela leitora Ana Rowe, agradeço aqui no blog, já que é a minha cara, adorei! Elas me pediram um poema do livro Manual da Delicadeza para usar na divulgação e em troca me deram este lindo presente. Nunca pensei em trocar um poema por uma blusa, mas sempre estão acontecendo coisas inusitadas à nossa volta.

sábado, 25 de junho de 2011

A MALA DA KIRA

Kira, nossa netinha, filha da Maya, filha do Juan, virá em agosto. Ontem Maya nos telefonou de Barcelona, onde moram, para contar que a Kira pediu:

- Mãe, quero a minha mala.
- Para que?
- Quero a minha mala.

Maya desceu a mala da parte de cima do armário e a entregou para Kira. Kira encheu a mala com suas roupas e disse:
-Mãe, a minha mala está pronta pra gente ir pro Brasil!

Kira já vai fazer seis anos. Todos os anos as duas desembarcam aqui e Kira sabe tudo da casa de cor e salteado. Logo que chega, depois de umas vinte horas de viagem, vai inspecionar o quintal. Ela ama todos os cocos e as árvores.Kira fala fluentemente três linguas e é muito divertida.Gosta de cantar e dançar e prepara seus espetáculos para nós, a platéia. Ela adora o livro Kira que publiquei pela ed. Lê com maravilhosas ilustrações da Elizabeth Teixeira e quando o viu pela primeira vez perguntou:
- mamãe, eu sei voar?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

NOTÍCIAS DO JARDIM

Hoje passei horas no jardim contemplando. Nosso jardim está explodindo de tanta beleza. Borboletas, passarinhos, flores, árvores com ninhos e filhotes.É uma algazarra, uma alegria. Nosso jardim é o resultado de muita persistência, pois cada planta tem que lutar contra o sudoeste e o sal.
Quando compramos a casa não havia jardim, só areia. Agora há um universo cheio de vida.

Caminhar pela nosso bairro , em Saquarema, é como entrar numa cachoeira de cheiros e cores. As ruas são lindas dentro do bairro só de casas e muitas calçadas são verdadeiros jardins.

Hoje li uma matéria muito triste sobre as prisões no Brasil. E ontem vi um programa tristíssimo sobre a Líbia e o Afganistão. Então quis contar alguma coisa bela.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

TELHADOS

Acordo muito cedo, às 5hs, no máximo às 5:30hs e ainda é noite. Arrumo a mesa do café e adoro ouvir a noite indo embora.

TELHADOS

Gosto de ouvir
a primeira gota de luz
pousar de leve
nos telhados:
pouco a pouco
vai pintando o mundo
de azul e dourado.

Acordam os pássaros
de todas as cores,
bem-te-vis, andorinhas,
sabiás,
e de todas as notas
musicais,
depois acordam os gatos
acariciando os telhados.

Então o dia começa
com seu carrocel de ruídos
e eu bebo café com nuvem.

in Caixinha de Música, ed. Manati.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

POÇO DE LEMBRANÇAS

Recebo algumas frases sobre a velhice enviadas pelo poeta Delmino Gritti, lá do Sul. Uma delas diz que todos queremos viver muito mas ninguém quer ficar velho, o que por enquanto é uma contradição insolúvel. Fiz 60 anos e me sinto como um poço muito profundo, cheio de lembranças. Quanto mais cavo, mais longe no tempo chego e pedaços de vida ganham vida, a água ao mesmo tempo turva e cristalina. Sou testemunha do meu tempo e me sinto bem em já ter vivido tanto. Não carrego os anos como um fardo, mas como seiva e substância. Sinto que a minha poesia está mais encorpada e hoje sei com clareza tudo o que quero e tudo o que não quero. Não tenho medo de envelhecer.

terça-feira, 21 de junho de 2011

APUCARANA

Leio no O Globo a experiência de Educação Integral em Apucarana, no norte do Paraná, município de 120.000 habitantes. Há dez anos com educação em horário integral na Rede Municipal, num total de 9.000 alunos. As crianças ficam na escola de 7.30hs até às 16.30hs e depois das aulas seguem para o reforço escolar onde cada aluno é acompanhado em suas deficiências e dificuldades. Há oficinas de balé, artesanato, etc. Os professores ganham um salário médio de 1.600,00 e os índices de aproveitamente escolar são magníficos. A evasão é quase nula e os pais participam de perto da educação dos filhos. Qual o segredo para o que seria o modelo para que o Brasil saísse do atoleiro educacional em que se encontra? Apucarana investe mais do que os 25% que a lei obriga: ela investe 32%! Há que copiar Apucarana em todo o Brasil!!!
Uma outra reivindicação seria os deputados ganharem o mesmo salário que os professores. Por que um deputado se considera melhor do que um professor?

Recebí a nova edição do meu livro Caixinha de Música, ed. Manati , com nova capa. Nunca imaginei que uma capa pudesse mudar um livro, mas sim, é outro livro. Ficou muito bonito!

O LAGO E A LUA

Na pele da água
do lago
onde a lua flutua
como um barco,
a Lua é tatuagem
de prata.

Se balança a Lua
feito um gato,
equilibrada num fio
de vento.

Vai e vem
vem e vai
cai não cai...
a Lua do firmamento.

in Caixinha de Música, ed. Manati

segunda-feira, 20 de junho de 2011

ENCONTRO

Ontem nos encontramos, os irmãos, para falarmos da nossa mãe. Era a cerimônia judaica da "Descoberta da Matzeiva". Falamos da sua bondade, do seu amor, da sua irreverência. Não foi uma cerimônia triste, não choramos, a sua lembrança flutuava sobre nós com imensa beleza, nossa infância subitamente palpável. Tudo tão perto e tão longe: o bairro pacato em que vivíamos, a casa dos tios, dos avós. Minha mãe gostava de dançar e até o fim da sua vida, enquanto a doença deixou, ela ligava o rádio e dançava sozinha na sala.
Ontem vi um belo filme, "Entardecer", com a Vanessa Redgrave: uma mulher, em seu leito de morte, relembra o passado que nunca compartilhou com as filhas e faz as pazes consigo mesma . Nos últimos meses de vida da minha mãe, ela recordava apenas os belos momentos, os namorados, as festas, o princípio do seu casamento e dizia: - eu era tão feliz...

sábado, 18 de junho de 2011

A LINGUA DAS MARIPOSAS

Quando vivia em Madrid , Juan me deu um livro de contos de um escritor da Galícia, Manuel Rivas e um dos contos era inesquecível e eu o guardei completamente na memória. Ontem, por acaso, vi o filme do conto: A Lingua das Mariposas, que Evelyn, minha irmã e Luis, seu noivo, me trouxeram. O conto-filme começa um pouco antes da Guerra Civil Espanhola e gira em torno da figura de um professor, um aluno, sua família. O professor é uma figura maravilhosa, um homem fantástico, que ensina as matérias aos alunos brincando, com poesia, indo ao campo observar a natureza. O professor é ateu e republicano e seus ideais giram todos em torno de democracia e liberdade.Então explode a Guerra Civil e não vou contar o que acontece.O filme é perfeito e desmonta o nosso coração.
Juan sempre me falou do seu pai Guillermo, professor também na Galícia,como o professor do filme. Guillermo improvisava com seus alunos exercícios de liberdade. A escola era na própria casa em que viviam, e graças ao amor que todos lhe devotavam conseguiu sobreviver, pois o escondiam. Mas foi castigado pelo regime de Franco, recebeu pontos negativos, porque seus alunos, quando saiam da sua escola e iam fazer o segundo grau, perguntavam demais. E nas ditaduras não se admitem perguntas.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

AGRADECIMENTO

Hoje bem cedo estava no jardim. Senti um agradecimento imenso por estar viva.Fiz um poema:

AGRADECIMENTO

Porque a vida é uma festa
trágica, alegre ou triste,
porque a vida é um presente,
não importa o recheio,
porque o tempo é caudaloso
e apaga o próprio tempo,
porque há sempre alguém que se ama,
porque o universo é imenso
e somos apenas uma leve pegada,
porque somos feitos de sangue,
ossos,lágrimas e poesia,
porque cada dia é absurdamente único,
porque em tudo o que tocamos,
pele, objeto, coração,
deixamos nossa tatuagem,
há que agradecer.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

EXTREMOS

Li ontem no jornal O Globo uma matéria impressionante:o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis que lança um livro na Flip, nos fala de um futuro próximo onde cérebros estarão conectados diretamente com o computador e com outros cérebros. A força do pensamento ajudará tetraplégicos a andar com uma veste robótica... e ao mesmo tempo leio no El País que as mulheres no Afganistão, depois de 11 anos da suposta extinção do Talibã, vivem a pior situação imaginável. A expectativa de vida é de 43 anos apenas, morrem como moscas e sofrem todos os tipos de violência. Por favor, juntem as duas notícias. Que mundo é esse onde a ciência nos leva por caminhos surpreendentes e nós, humanos, continuamos a viver numa idade anterior à Idade da Pedra?

Continuo sem conseguir responder ao único comentário que foi postado pela leitora Maria Neuza ontem. O blog está com problemas e não sei o que fazer. Leitores me escrevem dizendo que não conseguem inserir seus comentários.Enquanto isso podem me escrever: roseanamurray@yahoo.com.br

quarta-feira, 15 de junho de 2011

SÃO BENTO DO SUL E TERESINA

Só hoje consigo escrever pois não tive nem um minuto livre nos dias de viagem.
Cheguei a Joinville no dia 9 e Silvane, diretora da E.M Herman Müller e amiga querida, já estava me esperando. Subimos a serra com o escritor Carlos Henrique Schroeder que escreveu o livro de contos As certezas e as Palavras, (Editora da Casa e Prêmio Clarice Lispector 2010).Chegamos no belíssimo hotel Stelter em São Bento do Sul e o frio era tão intenso que o hotel parecia uma alucinação. O prédio é de 1906, completamente conservado e ainda bem que o quarto tinha calefação! Nosso encontro pela manhã foi no Clube de Tiro, um lugar bastante estranho para um encontro de poesia, mas como o auditório era grande, imagino que foi este o motivo. Carlos estava comigo no palco e me deixou muito relaxada para fazer brincadeiras e dinâmicas com 350 crianças ao mesmo tempo. À tarde repetimos a dose, mas antes fui com Silvane e a Salete, a Secretária de Educação comprar um casaco de verdade para que eu pudesse aguentar o frio. A cidade é linda demais, pequenininha. No final do evento, quando fomos tomar um café, Carlos me deu uma notícia terrível: o aeroporto de Joinville estava fechado! Mas não desistí de ter esperanças de chegar ao meu destino, Teresina e fui dormir em Joinville, perto do aeroporto, pois meu voo era muito cedo. Milagres existem e o aeroporto abriu.
A viagem para Teresina foi dura, pois o avião empacou em Brasília. O aeroporto estava um caos, a sala de embarque era um formigueiro desesperado e meu avião saiu com 3 horas de atraso. Ao todo levei doze horas e meia para chegar de Joinville a Teresina.
Socorro, que foi meu anjo da guarda, me esperava no aeroporto. Fazia muito calor e eu carregando um casacão da Sibéria!
No dia seguinte Socorro me buscou bem cedinho e logo ao chegar no lugar do encontro, um senhor me entregou um livro enquanto muitas professoras faziam fotos comigo. Abri o livro ao acaso e a poesia de Cineas Santos, belíssima, me surpreendeu:

COCHICHOS
-De que vive o beija-flor?
-De beijar, respinde a flor.
-Isso não tem cabimento,
protesta, irritado, o vento.
-Isso não é uma profissão,
murmura, baixinho, o chão.
E a sorrir, explica a flor:
-Quem beija vive de amor.

(Cinéas Santos, in Ciranda Desafinada, ed.Escala Educacional)

Fui recebida pelo Prof.Wellington e pelo premiadíssimo poeta Salgado Maranhão. Cinéas e Salgado Maranhão ficaram comigo no palco e nosso bate papo fluiu com a participação de muita gente e foi muito bom. À noite fui ao encerramento do Salipi, na praça e o conjunto Valor de Pi me cativou. Dancei na praça! Amo o nordeste com todas as letras e nunca vi povo tão amoroso e festeiro.
No dia seguinte passei todo o tempo na Escola Sagrado Coração de Jesus. O prédio é belíssimo, com mais de cem anos. Autografei uns 500 livros. As crianças, maravilhosas, apresentaram meus poemas, declamados e cantados. Foi tudo muito bonito e emocionante. Outra Socorro, da Casa Dom Barreto, com um projeto que se chama Fábrica de Gente, foi ao meu encontro. E Caio, leitor dos meus poemas, foi também ao meu encontro com seu livro de poemas Sobras do Dia:
uma ferida
vinho para a noite
-nasce um poeta -

E depois me levou sua filha para que eu a conhecesse. Foram tantas manifestações de carinho que nem sei como agradecer. A Irmã Teresinha foi comigo escolher uma rede com toda a paciência do mundo, ela exala amor. A rede ficou belíssima na nossa varanda.

Agora cheguei em casa e volto ao meu cotidiano, minhas pequenas tarefas: colocar frutas nas árvores, água para os passarinhos, cozinhar, me dissolver na espuma do mar .

quinta-feira, 9 de junho de 2011

COMENTÁRIOS

Vários leitores se queixam de que não conseguem postar comentários aqui no blog. Eu também não consigo postar as respostas. Consultei o Gabriel que cuida do meu site e ele pesquisou e encontrou a resposta: é um problema do sistema do blog e eles estão trabalhando para solucionar.

Estou saindo para o aeroporto, embarco para São Bento do Sul.De lá vou para Teresina e serão vastas emoções, sei disso.

Não terei tempo para escrever no blog, acho, pois a minha programação é muito intensa. Em todo caso, tentarei.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

HEMEROCÁLLIS E JORGE SEMPRÚN

Acaba de me acontecer uma coisa extraordinária: em novembro serei transformada em flor, mais precisamente uma hemerocállis, um daqueles maravilhosos lírios coloridos. Os criadores de novas modalidades inventarão uma com o meu nome, por causa da minha poesia. Transcrevo a carta que recebí da Silvane, Diretora da E.M.Hermann Müller:

MINHA LINDA FLOR!!

Estou saltitante!!!
Preciso relatar o que acabou de acontecer...
Recebemos a pouco Sr Dário e Neuza, sua esposa, proprietários da AGRÍCOLA DA ILHA que cultiva Hemerocállis.
Visitaram a escola...cada espaço, me ouviram com toda a atenção, degustaram um café gostoso e então assistiram emocionados a um Recital de Poesias...suas poesias!
Para finalizar, Matheus foi o portavoz do pedido..."Transformar a nossa Roseana Murray em Flor"...
Pedido atendido...em novembro um Hemerocális receberá o teu nome!!!
As crianças vibraram, aplaudiram...estamos todos muito felizes...!
Você merece!!!
Faremos um canteiro repleto de "Roseana Murray"...

Estarei te esperando no Aeroporto de Joinville...mal posso esperar!

Abraços floridos!!!

Silvane



E Jorge Semprún, um dos grandes homens do século XX, escritor espanhol, herói da Resistência francesa, sobrevivente do Campo de Concentração de Büchenwald, ontem nos deixou, virou estrela. Sua mente cristalina, suas mãos limpas, sua escrita precisa, brilharão para sempre.Semprún é um dos meus ídolos e faz pouco tempo assistí a uma entrevista sua, homem belo e lúcido até o final.
Transcrevo um trecho do artigo que foi publicado ontem no El País sobre ele:

Con Jorge Semprúnl, sin embargo, desaparece un recuerdo que no cabe en los libros: el del olor a carne quemada. Lo dijo él mismo en 2000, en una entrevista. Lo que más le preocupaba del porvenir era esa precisa memoria: "Están desapareciendo los testigos del exterminio. Bueno, cada generación tiene un crepúsculo de esas características. Los testigos desaparecen. Pero ahora me está tocando vivirlo a mí. Aún hay más viejos que yo que han pasado por la experiencia de los campos. Pero no todos son escritores, claro. En el crepúsculo la memoria se hace más tensa, pero también está más sujeta a las deformaciones. Luego hay algo... ¿Sabe usted qué es lo más importante de haber pasado por un campo? ¿Sabe usted qué es exactamente? ¿Sabe usted que eso, que es lo más importante y lo más terrible, es lo único que no se puede explicar? El olor a carne quemada. ¿Qué haces con el recuerdo del olor a carne quemada? Para esas circunstancias está, precisamente, la literatura. ¿Pero cómo hablas de eso? ¿Comparas? ¿La obscenidad de la comparación? ¿Dices, por ejemplo, que huele como a pollo quemado? ¿O intentas una reconstrucción minuciosa de las circunstancias generales del recuerdo, dando vueltas en torno al olor, vueltas y más vueltas, sin encararlo? Yo tengo dentro de mi cabeza, vivo, el olor más importante de un campo de concentración. Y no puedo explicarlo. Y ese olor se va a ir conmigo como ya se ha ido con otros". Hoy esas palabras son más ciertas que nunca.
Una literatura de la memoria
"Tengo más recuerdos que si tuviera mil años". Las palabras de Baudelaire que Jorge Semprún utilizó en Adiós, luz de veranos... describen certeramente la vida de un hombre cuyas ocho décadas de existencia pueden rastrearse en su obra narrativa, que contiene ficciones como La montaña blanca, Netchaiev ha vuelto o Veinte años y un día pero que pasará a la historia por uno de los grandes ciclos autobiográficos de la literatura contemporánea.
Como la propia memoria, la obra memorialística de Semprún no funciona como una línea recta sino como una espiral: a veces los mismos episodios se cuentan en distintos libros con intención diversa. "Porque mi vida no es como un río", se lee en Aquel domingo, "sobre todo como un río siempre diferente, nunca el mismo, en el que no se puede bañar uno dos veces: mi vida es completamente lo ya visto, lo ya vivido, lo repetido, lo mismo hasta la saciedad, hasta convertirse en otro, extraño, a fuerza de ser idéntico".

terça-feira, 7 de junho de 2011

CHEGADA

Cheguei em Saquarema muito cansada. Dormi a tarde inteira e às 17:30has já estava dormindo até hoje de manhã! Ainda estou muito gripada e comecei a tomar um antibiótico. Preciso melhorar até São Bento do Sul! De lá me escrevem contando como estão felizes com a minha ida e isso emociona muito.
Chego em casa e uma tonelada de trabalho acumulado me espera. Vou como o personagem Beppo do livro Momo do Michael Ende: varrendo aos pouquinhos as tarefas.
Desisto de voltar para a Europa em setembro: não tenho estrutura física para outra longa viagem. Meu filho virá em dezembro.
Se algum leitor do blog vive em Natal , por favor entre urgente em contato comigo. Explico: fui convidada para ir em setembro e como ia para a Espanha não aceitei. Mas agora estou livre e posso ir, só que perdi o e-mail. Se a viagem estiver no meu destino, ela aparecerá!

domingo, 5 de junho de 2011

EM MADRID

Ontem, em Granada, assisti a passagem da procissão da Virgem do Rossio. Eram centenas de cavalos e carroças enfeitadas de flores e azulejos. Em muitos cavalos, além dos cavaleiros iam mulheres vestidas com roupas flamencas, flores e leques: uma beleza.
Cheguei em Madrid hoje cedo e vim para a casa dos meus amigos Andrès e Ines, que por coincidência vivem no mesmo bairro em que eu vivia em 98. Possuem uma casa linda , flores e luz produzem muito bem estar. Fomos almoçar no Pardo, que é um parque, uma reserva de veados e fui acalmando, pois despedir-se do meu filho e neto foi muito forte. Agora espero a hora de ir para o aeroporto. Já tenho em espanhol o livro O Amor nos Tempos do Cólera e já comecei a reler: é uma cachoeira de sensações. Em agosto teremos nosso encontro do Clube de Leitura.

Saquarema já se aproxima, quase posso sentir o cheiro do mar

sábado, 4 de junho de 2011

VOLTA

Hoje passamos toda a manha na rua e almoçamos no centro de Granada. Amanha embarco cedo para Madrid, onde passarei o dia com meus amigos Andrès e Ines, já que meu voo é bem tarde. Meu coraçao está partido em mil pedaços, deixar meu filho e meu neto tao longe é doloroso e ao mesmo tempo é tudo tao perto, apenas uma noite nos separa e a vovó do Luis vai sair do mundo real e voltar para dentro do computador outra vez. Acho que o Luis vai entender.
A rua do Guga, Calle Vista Blanca, é sem saída e no final há uma espécie de pracinha onde os carros nao podem entrar. Aí brincam todos os dias crianças de todas as idades e os cachorros. Os brinquedos sao coletivos. A harmonia é total. As maes sao amorosas, comunicativas e festeiras. É algo bastante particular. Fico feliz em saber que meu neto brinca na rua, mora quase no campo e tem muitos amigos. Hoje isso é um grande privilégio. Muitas vezes os pais também brincam na pracinha, jogam futebol com os meninos.
Quando abrir o blog outra vez já estarei em Saquarema.

CONCERTO

O concerto de jazz-flamenco foi emocionante, ontem â noite. A fusao era perfeita e para mim inimaginável. Era um grupo de jazz, piano, baixo e bateria e um cantor de flamenco e a bailarina. Mas como um gênero estava dentro do outro, convivendo , conversando, flutuando! A bailarina, com uma roupa trivial, calça jeans e camiseta, era arrebatadora e levava a platéia ao delírio. Ela conduzia, com sua força, sensualidade, precisao, todo o grupo. Foi uma grande experiência.
Granada à noite é linda, cheia de gente, os bares lotados. Mas voltamos correndo para casa, já que o Luis , meu neto,nos esperava.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

FLAMENCO

A última vez que Guga, meu filho foi ao Brasil, seus amigos Jesus e Concha foram com ele e os dois filhos , amigos do Luis, meu neto. Ficaram alguns dias conosco em Saquarema. Jesus é músico também e eles tocam juntos muitas vezes. Mas hoje Jesus toca com seu grupo "Bojaira" no Teatro Isabel La Católica, uma fusao de flamenco com jazz e como Guga nao faz parte do grupo, iremos juntos . Amanha é meu último dia em Granada. Hoje Juan me disse: - Já chega! Já está de bom tamanho, volta logo! E me conta da ressaca imensa que houve e acabo de ver na TV um programa sobre o afundamento de Veneza e dá uma ponta de medo: o mar está subindo e eu moro quase dentro do mar.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ZOCO

Hoje, eu e Patrícia, minha nora, deixamos o Luis na creche, deixamos o carro estacionado aqui no nosso "pueblo", pegamos o ônibus 33 para Granada e passeamos pelo centro maravilhoso, indescritível. Tomamos um café com churros na Praça Bib Rambla, passamos pela Capilla Real, onde estao enterrados os Reis Católicos Isabel e Fernando. Em frente fica La Madrassa, a primeira Universidade de Granada, de 1300, onde se estudava o Corao. Ainda se encontram algumas coisas da época dentro da Madrassa. Entramos na Alcaicería , que era o antigo "zoco" (mercado, em árabe) , na época de grandes proporçoes e hoje uma série de ruelas estreitas e cheias de lojinhas com suas mercadorias expostas do lado de fora. Passamos pela enoteca do Guga, meu filho, na Calle Molinos, no Realejo. A sua lojinha é mínima e linda e se chama Evohé. Guga trabalha apenas com vinhos muito exclusivos, com pequenas produçoes, seu acervo de vinhos é bastante especial. Guga se divide entre os vinhos e a música e tudo o que faz é com bastante seriedade. Foi uma manha maravilhosa.

Hoje recebí uma das cartas mais lindas de toda a minha vida. Reproduzo, para dividir com meus leitores a emoçao que sinto:

"Roseana:
Que felicidade te encontrar!! Sou médica, moro em Manaus-Am, tenho um filho de 8anos que se chama André! Ele nasceu prematuro em dezembro de 2002, e quando ele tinha 1a6m, fizemos nossa primeira viagem! Fomos a Natal-RN, uma viagem cansativa, chegamos de madrugada, eu nessa época estava muito ansiosa, preocupada, seria a primeira viagem do meu bebê prematuro! Ao chegar no Hotel Belo Horizonte, tão aconchegante, percebi logo na recepção um livro de poesia chamado Fruta no Ponto. Era como se ele me olhasse...mas não o peguei. Ao amanhecer, acordei com André e fomos passear e conhecer o Hotel; e daí tomar o café da manha, só nós dois, meu marido ainda dormia. Ao chegar no café. o livrinho estava lá, alguém o havia trazido. Olhei novamente e não o peguei. E após o café resolvi folheá-lo e me deparei com a poesia mais linda do mundo: "Carta ao meu filho André". Ela dizia tudo aquilo que eu queria dizer p/ o meu filho, p/ o meu prematuro André! Sabe aquele livro de recordação que todo bebê tem? pois é, eu o havia preenchido totalmente mas havia um espaço onde eu deveria escrever algo p/ meu filho e até aquele dia o espaço estava em branco, pois eu queria muito escrever algo tão lindo. E então, nunca mais esqueci a poesia! ela está gravada p/ sempre na minha vida e do André. Agora em junho/11 retornaremos a Natal, nos hospedaremos no mesmo hotel e espero que tudo seja tão mágico como da primeira vez. Um grande abraço. Ana Wanda, mãe do André!"

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DO OUTRO LADO OCEANO

Do outro lado do oceano amigos me escrevem: Silvane, diretora da E.M.Hermann Muller, para me dizer que espera que minha gripe melhore (hoje estou muito melhor!) e me diz que leve casacos para Sao Bento do Sul, para onde irei no dia 9, pois está muito frio. Ela irá ao meu encontro e será uma grande alegria. Dezenas de pequenos leitores já me escreveram , estao se preparando para a minha chegada.
E de Teresina , para onde irei diretamente de Sao Bento do Sul, me escreve Caio, leitor que nao conheço, para me contar que vai me levar para conhecer a cidade e me pergunta o que como. Sao tantas delicadezas!!! Maria Neuza, leitora do blog, me escreve dando uma receita de chá de limao com alho para a gripe. Como nao tinha limao fiz com laranja e acho que ajudou.
Amanha acredito que finalmente conseguirei descer até Granada para ir ao mercadinho árabe e caminhar pelo Realejo. E entrar numa casa de chá com seus aromas tao especiais , ecos de um tempo passado.