terça-feira, 30 de dezembro de 2014

NÓS

Todos os especialistas em todas as áreas dizem que 2015 será um ano difícil. Então, para que tudo fique mais fácil, desamarre os nós, aqueles que nos prendem a tantas coisas inúteis:

RECEITA DE DESAMARRAR OS NÓS
desamarre os nós do sapato
depois desamarre os pés
desamarre os laços inúteis
os nós do que não serve mais
desamarre o barco do cais
os nós das janelas
e então deixe que o vento...

domingo, 28 de dezembro de 2014

ESTRANHOS NO NINHO

Se me pedissem para trabalhar como arqueóloga ou astrônoma, embora sofra de paixão perdida por estes dois temas, não poderia, simplesmente porque não sei nada sobre o assunto.
Não sou educadora, mas embora também nunca tenha sido boa aluna em matemática, há uma equação muito simples, essa eu entendo:
+ educação de qualidade+leitura+artes+esportes= um salto sobre o fosso social que separa brasileiros uns dos outros.
Então, seguindo o fio deste pensamento, sabendo que no Brasil não há nenhum planejamento em relação à uma educação realmente transformadora, fiquei estupefata com a escolha de um Ministro despreparado . Nunca ouvi falar que o Sr. Cid Gomes tenha exposto suas ideias inovadoras sobre educação. Mas ele disse que , (se não me engano) Professor não deveria pedir aumento de salário mas sim trabalhar por amor. Por que o EXMO futuro Ministro não tenta ocupar alguma pasta onde domine o assunto e não troque o seu salário pelo mesmo valor do salário de um professor? E que até o fim do seu mandato trabalhe por amor sem pedir aumento?
Como cidadã brasileira, carioca, saquaremense, fica minha singela sugestão, em nome dos meus milhares de leitores professores, que, tenho a intuição, concordam comigo. Mas quem não concordar pode deixar aqui o seu protesto.   

sábado, 27 de dezembro de 2014

MEU ANIVERSÁRIO

Abro o computador e recebo dois presentes. O belo livro de poesia do Hammu. E um texto do Talmud, que Angela copiou para mim: 

"O Talmud (livro sagrado dos judeus) nos diz que na data do aniversário judaico o mazal, sorte, da pessoa é dominante. É certamente mais que uma ocasião para receber presentes; é uma chance de festejar, agradecer e refletir sobre o que está realizando atualmente em sua vida. Este é o dia em que você nasceu, em que a sua vida começou e é também o dia em que sua vida pode mudar."
Hoje é meu aniversário. Minha mãe me contava como nasci, prematura de sete meses. Ela foi tomada por uma compulsão por limpeza e estava abaixada passando palha de aço no chão quando sua bolsa arrebentou.
O Talmud me diz para agradecer. Todos os dias agradeço tudo: estar viva, ter o Juan, os filhos, os netos, minha irmã, enfim, ter esta família de artistas maravilhosos. E a Vanda e o Samuel, nossos caseiros que cuidam da gente e da casa com tanto amor e nos deram uma segunda família.
Agradeço o dom da poesia, agradeço ser leitora, agradeço os amigos magníficos que tenho. Agradeço o jardim. Cada flor, cada árvore , agradeço a casinha na montanha, que está lá, me esperando dentro da mata, até quando eu ficar livre da recuperação e puder ir ao seu encontro.
O Talmud me diz para refletir sobre o que estou fazendo atualmente. Estou me recuperando de uma cirurgia e caminho por dentro de mim, por algumas ruas claras, outras escuras, em busca da cura possível, poder andar, já que por enquanto só posso voar.
A minha felicidade é fabricar felicidade para todos os que chegam perto de mim. 
E desejo que a nossa casa, a Casa Amarela, continue fabricando encontros maravilhosos.
Hoje Juan está de Chef e fará um arroz caldoso, um prato espanhol, absolutamente divino. Uma bela mesa com dois amigos , Hélio e Fernando, minha irmã e nossos caseiros Vanda e Samuel (eu disse para a Vanda que hoje é dia de Madame, a Dona Maria Vassourinha fica em casa) , pão feito em casa pela minha irmã Evelyn e vinho para celebrar o dia em que nasci para fazer poesia com tudo o que aparece na minha frente.  
 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

PAPA FRANCISCO

O Papa Francisco é um iluminado realmente. Falou aos Bispos toda a verdade que não era dita desde tempos imemoriais . Os Bispos parecem múmias. Nenhum contato com a vida. Basta olhar os seus rostos tristes e petrificados.
Então o Papa veio e fez um grande pedido. Interpretei o seu pedido assim: sejamos coerentes com o que dizemos e a nossa vida .
Apesar de ser judia sei muito bem o que Jesus pregava. E Jesus era judeu. Pregava a alegria, a aceitação dos diferentes, de quem a sociedade rejeitava. Pregava a paz, quando nos diz para dar a outra face em contraponto ao olho por olho dente por dente. Dar a outra face ao inimigo é buscar o diálogo.
Então que cada vida acrescente algo ao planeta. E vamos seguir pensando na palavra sinceridade e na palavra paz. 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

PRESENTE DE NATAL

Minha neta veio. Agora está com um ano e um mês. A última vez que a vi tinha una 8 meses. Então entrou uma pessoinha na minha casa que não era aquele bebê que eu havia visto. Desde sexta-feira até domingo fiz uma imersão total na Gabriela. Ela é fantástica e conversamos tanto e brincamos tanto que acho que não se esquecerá de mim. Paixão por neto não se pode explicar. Sinceramente deve haver uma fábrica de um amor intenso e luminoso dentro da gente à espera. Só germinando. Lembro que quando fui para a Espanha ao encontro do meu neto Luis, então com quinze dias, desconhecia o tamanho desta avalanche. Mas já, ao olhá-lo no berço, senti as águas do amor se avolumando dentro de mim, até tomar conta de tudo, da minha pele, meus órgãos, cada mínimo pedaço do meu ser. Hoje meu neto tem cinco anos e somos muito amigos.
_ Vamos lutar, vovó? Como explicar que sou pacifista? Se ele é um Super Herói?
Eu digo, Luis, mas e a minha coluna, vai doer! Ele responde: _ Puxa, vovó, você nunca vai ficar boa?
Trocamos cartas, ele me manda desenhos lindos eu mando adesivos e livros.
A Gabriela ainda fala numa língua que só os bebês entendem. O dicionário é o nosso coração, então a gente adivinha. Ela fala muito e seu idioma é belíssimo.
Então o meu maior presente de Natal são meus dois netos.    

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

IDADE

Li um artigo muito bom. Uma pesquisa feita com gente acima de 60 anos dizia o seguinte: a idade que você tem não é a que você sente. E se você tem 65 mas se sente com 20 ou 30, melhor para você, pois está comprovado que você viverá.mais alguns anos, já que tem sonhos, projetos, cuida da saúde, faz exercícios , quando pode viaja, se interessa por muitas coisas.
Todo mundo que não morre jovem, vai envelhecer. Mas enquanto sonha e se interessa por alguma coisa ao invés de ficar sentado se lamuriando e vendo novela , a chance de viver mais e com qualidade de vida, é maior.
Então a atividade física e mental é importantíssima. Leitores estão mais protegidos de doenças degenerativas do cérebro.
Acho maravilhoso não se intimidar com a idade que está escrita na carteira de identidade. Meu marido Juan tem 82 anos, caminha duas horas todos os dias, faz bicicleta ergométrica, lê e escreve para seu jornal continuamente, faz planos, sonha e portanto, não tem mais do que 30. E isso consta dos seus exames anuais.
Eu vou fazer 64, mas sou criança , adolescente, o que precisar. As crianças ficam muito bem comigo, pois viro criança. Os jovens também, pois embora desconheça os jargões do momento, posso entender perfeitamente seus anseios.  Não tenho idade. Tenho todas as idades.

Começo a ler um livro de Juan Marsé , escritor espanhol que não conhecia. Prêmio Cervantes entre outros e que logo no comecinho, já vi que é maravilhoso. Se chama  Caligrafia de Los Sueños.
E assim imagino que tenha que ser a vida: Uma caligrafia dos nossos sonhos, que passam por mil e uma noites, pontes invisíveis, amores, encruzilhadas, lindos caminhos de flores selvagens...

  

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

LIMITE

Qual o limite entre o ser humano e algo que não se pode nomear? Ontem aconteceu algo inominável com seres que não são humanos, não são bichos, não sei o que são. Tomam a forma do horror em estado puro.
No Paquistão imagino a dor se espalhando feito um incêndio.
Por que nosso planeta abriga seres que não conseguimos reconhecer?  
Como é que se pode matar em nome de algum Deus, alguma religião? Não conheço o Corão mas certamente deve haver um erro de leitura, ou os muçulmanos que sabem ler deveriam corrigir o mal entendido. Maomé manda matar? Jeová manta matar tantos inocentes numa guerra insana?
Voltamos no tempo e estamos vivendo entre as atrocidades que se cometiam em nome da religião, por toda a antiguidade?
Que Deus seria esse que manda matar crianças?

Não posso entrar no coração
das mães, dos pais, dos tios,
avôs e avós
das 132 crianças
que desapareceram para sempre.
Não posso enxugar as lágrimas
que molharão seus rostos
para sempre para sempre.
Não posso pisar em suas
casas distantes onde um silêncio
espesso ocupará um lugar na mesa
na cama na sala nas conversas
no quintal
para sempre para sempre.
E não existe nenhuma explicação
possível para a ausência
que durará para sempre
noites e dias e noites
até a eternidade.
 



terça-feira, 16 de dezembro de 2014

NA FEIRA

Quando era criança minha maior paixão era a Feira Livre. Uma vez por semana ia com a Eunice, minha babá. Ela tinha os seus "fregueses" como ela dizia, invertendo os papéis. Era tudo tão lindo e colorido! Eunice era brigona e se alguma senhora branca encostava o carrinho nela, pronto, já estava armada a confusão. Em cada barraca de um velho conhecido seu ela parava, apalpava a mercadoria, pedia desconto e me apresentava como a sua filha. Eu ganhava frutas e Eunice comprava para mim um quebra-queixo, maravilhoso doce que nunca mais vi. Todos apregoavam a mercadoria aos gritos, era uma linda confusão, eu amava. E ainda tinha a barraca das flores!
Hoje , o que vemos no Brasil é uma horrenda e macabra Feira Livre. Nenhuma semelhança com as feiras da minha infância.
Cada possível ou provável candidato a Ministro quer o cargo onde haja uma verba maior. Para que? Pelo que vemos na Petrobras dá para desconfiar. Para boa coisa não é.Não há nenhuma timidez. Falam abertamente. E os partidos exigem, batem o pé. O governo virou um embrulho envenenado. Nada das frutas e flores da minha infância. Dentro do embrulho há um pântano. Os possíveis ou prováveis ministros nunca são escolhidos pela sua capacidade. Na maioria das vezes não sabem nada do assunto.
Será que chegará o dia em que se governará verdadeiramente para o bem estar do cidadão? Que cada Ministro será escolhido por sua capacidade e conhecimento do assunto da Pasta que assumirá?
E tudo é feito às claras, de dia, como nas maravilhosas Feiras da minha infância. Mas infelizmente é uma Feira de Horrores.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Dia 15

Hoje, dia 15, pela primeira vez,  meu corpo começou a responder aos exercícios para soltar o ciático. É o primeiro dia em que estou bem, podendo sentar, caminhar e ficar em pé sem o nervo gritar (e às vezes eu também)
Comemoro com a meditação no jardim. Eu não descia ao jardim pois os degraus são altos.
De olhos fechados eu estava realmente no meio de uma orquestra de passarinhos. Uma orquestra para flautas e violoncelo (o mar). Tirei os sapatos antes da meditação e a grama era um tapete maravilhoso, molhado e vivo, sob os meus pés. A minha terapeuta me pediu para colocar violeta na coluna e imaginar cada vértebra se abrindo, abrindo espaço. Ela está me ensinando a fazer as pazes com o meu corpo que desde 1993 é o território da dor. Eu não fixo no corpo as memórias boas , por exemplo, molhar os pés na água do mar. Tenho que fazer um esforço para me lembrar da sensação.O corpo só guarda os momentos de dor. E fixando os momentos bons, eu posso alargá-los, impregnar o corpo com estes momentos. Parece que o corpo tem uma memória toda própria, estou tentando mexer nessa memória com a meditação.
Conto tudo isso porque sei que com meus relatos posso ajudar quem tem dor contínua .
Uma das cenas mais maravilhosas do nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, que não foi na casa amarela, mas sim numa chácara lindíssima, foi a chuva caindo na hora de ir embora. Era uma chuva tão linda, tão impregnada de poesia, no meio da natureza exuberante, o cheiro de terra molhada enchia cada espaço de alegria. E como aqui em casa também choveu no sábado, o jardim está pulsando, exalando amor;.

domingo, 14 de dezembro de 2014

A PONTE INVISÍVEL

Ontem o Clube da Casa Amarela foi recebido na Chácara do Hélio e Fernando.
Primeiro Felipe espalhou meus livros sobre o tapete, eram muitos, setenta e sete. Faziam um outro tapete, colorido, vibrante e ali estava o percurso da minha vida. Felipe presentou cada um com a sua dissertação de Mestrado e me pediu meia hora para falar. Fiquei entre orgulhosa e constrangida, afinal a plateia era toda de amigos.
E então entramos na leitura do livro A Ponte Invisível de Julie Orringer.
O livro se passa na Hungria, no momento antes da Guerra e durante a Segunda Guerra. 
Maria Clara começou dizendo que a autora aprendeu a escrever numa Escola de Escritores e que o livro foi escrito para ser um best-seller. Ela disse que o livro não conseguiu arrebatá-la e que ela achava os personagens muito bonzinhos e que ficava muito em primeiro plano uma ética judaica e a única que saia deste esquema era a filha da Klara, a bailarina.
Eu discordei, outros personagens também saiam da norma. O irmão meio clown, o amigo homossexual, o primo dândi .
Mas pouco a pouco fomos passeando pelo livro, pelas personagens mais tocantes. A reconstrução perfeita de Budapeste, a vida em Paris. E comentamos como o destino de uma pessoa pode caber numa carta!
Pois foi o acaso que colocou Andras em contato com a mãe de Klara, o que o levou a transportar uma carta secreta, que colocou no correio em Paris, mas por coincidência ele veio a conhecer  a destinatária , Klara, bailarina, húngara, dez anos mais velha e um amor indestrutível nasce entre os dois.
Klara tem um segredo e todos comentamos que mulher forte teve que ser para sobreviver a tudo o que passou. Com quinze anos foi estuprada, seu namorado e partner assassinado e ela matou um policial, portanto teve que fugir.
Klara teve a criança que afinal era filha do seu estuprador e não do seu namorado.
Hector comentou a beleza e a fidelidade com que a autora criou as aulas de arquitetura, pois ele é arquiteto.
Todos destacamos a força de tantos personagens. Muitos choraram com tudo o que os personagens passam na Segunda Guerra.
Fernando disse que aprendeu muito, que não sabia que os judeus na Hungria trabalharam e depois lutaram junto com os húngaros, a favor de Hitler.
Na Hungria os judeus foram deportados tardiamente , já quase no fim da guerra e puderam desfrutar de uma sobrevivência maior.
Hélio destacou que a época em que vivemos, nosso mundo, foi moldado a partir das consequências da Segunda Guerra .
Enfim, todos estivemos de acordo que o livro é riquíssimo em detalhes,a autora reconstrói magnificamente tanto Budapeste, quanto Paris, os campos de trabalho, a frente de batalha. Parece que tudo se desenrola feito um filme diante de nossos olhos. Adelaide falou do jornal que circulava no campo de trabalho e como isso foi fundamental para a sobrevivência psíquica de todos, mesmo colocando a vida de Andras e Mendel em risco. Sonia disse que parou de ler o livro por uma semana quando Mendel morre, tamanha a sua dor.
César falou do título, A Ponte Invisível seria o desejo de sobrevivência, bastaria atravessá-la e se sairia vivo do outro lado.
Andras sobrevive e ao chegar a Budapeste todas as pontes da cidade estão destruídas
O reencontro com Klara e os filhos é lindíssimo.
Fechamos com o belo poema da poeta polonesa Prêmio Nobel , Wislawa Szymborska, que Maria Clara leu. Hélio leu um belo poema do Fernando.
Antes do almoço os donos da casa serviram champagne para comemorar a vida.
E o almoço na varanda foi absolutamente esplêndido , uma Festa de Babette e as sobremesas um delírio. Angela, que vem do Rio, além do livro que trouxe para sortear, trouxe uns doces maravilhosos que distribuiu entre todos. Hélio e Fernando nos presentearam com uma toalha de mão bordada e um sabonete. E já é tradição no Clube que uma vez por ano, em dezembro, o encontro acontece na Chácara e em julho em Mauá
O próximo encontro será dia 7 de março e os livros serão: .Morte em Veneza, Thomas Mann e Marca D'Água de Joseph Bronsky. Aconselhei , se alguém quiser ler por fora, 1000 dias em Veneza, de Marlena de Biasi, uma leitura leve e divertida sobre Veneza.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

UMA IDEIA NO BOLSO

Estava no Rio e recebi a visita da minha editora da Rovelle, a Carolina.
Ela me trouxe de presente o livro da minha nora Patricia de Arias, Uma ideia no Bolso, com ilustraçõies lindas da Elisabeth Teixeira. Acaba de sair.
Eu traduzi o livro e realmente o texto é delicioso. Um jogo de um menino com a sua mãe. Ele guarda uma ideia no bolso, diz. Mas cada vez que a mãe pergunta qual é a ideia, ele diz que antes tem que fazer não sei o que. As coisas que o menino faz são absolutamente maravilhosas. Elas traduzem o dia a dia da criança, suas brincadeiras, sua imaginação. E a mamãe tão curiosa, continua a perguntar, até que ... Não vou contar o final.
Conheci Patricia em 1999, em Granada, na Espanha. Ela me mostrou seus poemas. Como eu poderia imaginar que ela se casaria com meu filho? Que eu seria sua tradutora?
É uma delícia a poesia da Patricia. Este é o seu terceiro livro. E espero que seu livro, cheio de ideias no bolso, encontre o caminho das escolas.

Amanhã é o  encontro do nosso  Clube de Leitura Amarela. Depois conto tudo!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

FORÇA DE VONTADE

Escrevo na varanda, com um vento maravilhoso que vai derrubando tudo, a caneta, o bloquinho de anotações, a garrafinha de água. Ouço a música das palmeiras e coqueiros e quando viro a cabeça para a esquerda o flamboyant enche meus olhos de um vermelho alaranjado brilhando de sol. O céu está como gosto, cheio de nuvens, portanto o sol vai e vem, bricando de fazer sombra, brincando de mudar a luz.
Leio no El Pais que um psicólogo , Roy Baumeester, não sei a sua nacionalidade, diz em seu estudo acadêmico, que a força de vontade é feito um músculo , devemos exercitá-la. E acordar cedo, é a melhor coisa do mundo para a saúde e também para exercitar a força de vontade.
Conheço bem o que ele está falando, pois acordo todos os dias, espontaneamente,  às cinco horas da manhã, às vezes antes.
Ele diz que se deve fazer exercícios físicos bem cedo e a meditação também, para quem medita.
Bom, estou em casa, desde a cirurgia, desde o dia 14 de outubro. A recuperação da cirurgia foi excelente, mas infelizmente quando comecei a andar, o nervo ciático foi pinçado e estou aqui sem quase poder andar, menos ainda fazer qualquer exercício. Faço alongamento. Mas sinto muita falta do pilates. Havia feito planos para passar o Natal com filhos e netos em Resende ou Mauá , mas todos acham melhor eu não ir.
Enquanto isso faço tudo o que posso, exercendo a força de vontade. Concordo que sim, é algo que tem que ser exercitado. Se você pensa em fazer alguma coisa, vai lá e faça. Ainda mais para quem não tem impedimento físico.
As coisas que eu farei quando melhorar: dançar sozinha na sala, descer até o mar, pedalar na bicicleta ergométrica e comprar um triciclo, para mim o supra sumo do sonho de consumo.
Comecei um tratamento com uma osteopata maravilhosa no Rio de Janeiro. Vou soltar o ciático. Ah, se existisse uma ferramentinha para soltá-lo! Um simples nervo é a minha prisão! Transformo a minha prisão na melhor coisa do mundo para ficar feliz.
Minha antiga terapeuta Heloísa me ensinou a fazer sempre contato com as coisas boas e as realizações.
Então, a minha prisão é o meu corpo e busco a chave para a saída.
Vivo dentro da natureza e peço ajuda às árvores e flores. Minha gata Luna me ama. ( A nossa gata Luna parece que só ama o Juan) Meus amigos me amam, não me faltam livros para ler, nem beleza para ver . Também peço ajuda ao mar.  Sei que com meu olhar posso ir até a África.
Mas para fazer isso tenho que ter a força de vontade treinadissima e muita meditação!
Concordo então com o psicólogo e conto tudo isso para animar vocês.
Alguém quer fazer aula de tango? vá lá e se matricule.
Quer doar algumas horas de sua vida para alguma instituição que precise de ajuda ou mesmo para uma escola perto de você? Quer doar algum dom que você tenha? Procure a instituição hoje mesmo e ajude.
Quer plantar uma árvore ? mudar a cor do cabelo? Aprender uma nova língua ? Apadrinhar uma criança?
A maior felicidade é doar felicidade. A maior felicidade é a gente conseguir fazer o que quer fazer, o que sonha, o que ama.

domingo, 7 de dezembro de 2014

SONHANDO COM VENEZA

Decidi finalmente o livro do nosso próximo encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Aliás, os livros. Andam reclamando muito do tamanho dos livros que escolho. Normalmente não me preocupo com o tamanho do livro, pois os leitores têm dois meses para ler o livro.
Mas agora escolhi dois livros maravilhosos e finos. Porque estou com saudades de Veneza. Um é Morte em Veneza do Thomas Mann e o outro é Marca D'água de Joseph Brodsky, ambos sobre Veneza em épocas diversas.
Ando precisando de uns cinco leitores novos. Joguei a isca no encontro dos professores aqui em casa, mas o silêncio que se seguiu ao meu convite foi sepulcral.
Mas quem sabe alguém de vocês que está me lendo mora aqui perto e se interessa?
E trago um poema bem bonito de um poeta desconhecido por mim, cubano, mas que chegou às minhas mãos e olhos hoje:
Paralelos

A esta hora
todas las palomas del mundo
se posan en la plaza d San Marcos.
La niebla barre las ciudades de Occidente
y un pájaro cruza los bosques en llamas del otoño.
A esta hora
como el mar
embistiendo los flancos destrozados de la isla
mi corazón golpea.

Orlando Julián Coré Fernández

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

PRESENTE

Os dias são tão variados... Fico aqui, quietinha no meu canto e de repente acontece alguma coisa que muda a cor do dia.
Recebi a dissertação de Mestrado do Felipe Lacerda sobre a minha obra. Agora ele já é Mestre pela UniGranRio, falando de mim! É a segunda dissertação de mestrado sobre a minha obra.
Ele fala coisas tão belas sobre a minha poesia, tomando como partida o livro Pera, Uva ou Maçã . Diz ele que aí neste livro estão contidos todos os meus livros, pois abordo todas as temáticas que serão constantes nos meus 100 livros.
Acontece que eu escrevo um livro só, desde o primeiro. Sou Penélope tecendo poesia incessantemente. Eu não me preocupo com nada, vou escrevendo como vivo, como respiro. A poesia sai de mim naturalmente, é uma extensão de mim.Ele diz que sou uma das pioneiras, junto com Henriqueta Lisboa, Cecilia, Vinicius, José Paulo Paes e Sergio Caparelli, a fazer poesia de uma maneira diferente, não moralizadora para as crianças.. Diz que sou a única poeta que recebeu o Prêmio Odylo Costa Filho da F.N.L.I.J por quatro vezes. Diz que eu não faço concessões ao meu leitor, as minhas imagens são inesperadas e fazem o leitor pensar, pequeno ou grande. Diz que estou em terceiro lugar nas inserções de poemas em livros didáticos. E meus leitores são muitos pois quase todas as bibliotecas possuem alguns livros meus. Diz que ano que vem eu faço 35 anos de poesia e eu digo que gostaria de fazer mais 35.
E ele fala um pouco da minha poesia formando leitores.
Fico aqui quietinha na minha casa fiando e recebo um espelho assim tão generoso. Que bom.
A outra surpresa, soube agora , é que minha neta Gabriela, que acaba de fazer um ano vai fazer sua primeira apresentação em público na festa da Atrium Escola de Música, junto com os bebês da sua aula de musicalização. Ela vai dançar!!!
Aí sim, eu queria sair de casa, ir a Resende ver esta maravilha. E meu neto Luis se apresentará numa peça de teatro!!! Somos todos saltimbancos nesta família ripinica.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

PROFESSORES NA VARANDA

Ontem tivemos o encontro com 30 professores da Rede Municipal de Saquarema aqui na nossa varanda.Não era dia do nosso jardineiro Samuel vir trabalhar aqui, então as professoras ajudaram a afastar a mesa, a buscar as cadeiras, a arrumar a roda bem perto do fogão de lenha. Fizemos uma roda bem apertada, todo mundo bem juntinho mesmo. A Secretaria de Educação e o Vice Secretário, Ana Paula e Valdinei vieram, ao encontro. Valdinei fotografava o tempo todo e Ana Paula participou de tudo o que propus.
Comecei pedindo que todas, e um professor, único homem, fechassem os olhos para ouvir todos os barulhos, do mar, das palmeiras, dos passarinhos, só sentindo a sua respiração. Foi bom, todas disseram.
Depois eu havia pedido que trouxessem um poema para dedicar a alguém, presente ou ausente, vivo ou habitante das estrelas. Cada uma se levantava e lia um poema. Alguns poemas eram lindíssimos, Drummond, Quintana, Clarice (não posso confirmar se os textos eram mesmo dela). Alguns poemas eram dos seus alunos e o professor leu um poema de sua autoria. Chico Peres teve dois poemas lidos e foi um dos que mereceram uma dedicatória. As homenagens eram lindas e cheias de emoção.Muita gente chorou, muita gente dedicou para quem estava presente e aí eram abraços e beijos, pura emoção.
Uma professora veio com uma camiseta dizendo:"Eu apoio a família tradicional e um desenho de pai , mãe e filhos". E atrás mensagens de Jesus.
Protestei com veemência . Eu apoio a nova família que é formada de outras maneiras e da tradicional também. E Jesus apoiava todo o underground da sua época.  Sou publicamente contra o preconceito e a intolerância.
Para terminar li meu poema Ciranda do livro Brinquedos e Brincadeiras,(ed.ftd) e cantamos a música da nossa infância Ciranda Cirandinha. Foi LINDÌSSIMO!!!!
A mesa estava farta, pães, sucos , bolos, requeijão, tudo trazido pela Secretaria. Para estes encontros dos professores dou apenas o Café com Leite.
Sobrou muita coisa e não quiseram levar de volta , então a Vanda , nossa caseira, levou para distribuir no seu bairro que se chama poeticamente de "Jardins".
Juan assistiu a tudo do meu lado e depois me disse: se fosse na Europa as professoras iriam rir de você. Não aceitariam nenhuma das propostas que você fez. É por isso que amo o Brasil.



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

DE UM MUNDO PARA OUTRO

Ontem soube de uma pesquisa feita nos Estados Unidos comparando os jovens na década de 80 e os jovens de hoje, da geração Y. O resultado: os jovens de hoje têm menos amigos "reais", mas não se sentem sozinhos por causa dos amigos virtuais. Diz a pesquisa que na década de 80 os jovens tinham muitos amigos e se encontravam mais. Mas hoje não saem das redes sociais e estão sempre acompanhados.
Eu acho que hoje todos temos  estes dois mundos , estas duas dimensões e é maravilhoso. Saber transitar de um mundo para outro é importante. Hoje todos nós dividimos tudo com nossos "amigos", gente que conhecemos  "de verdade" e gente que conhecemos apenas através das suas histórias. Dividimos fotos,textos, experiências, passeios, dramas, tristezas, conquistas. O tempo todo estamos contando alguma coisa, falando também das nossas convicções. Este ímpeto de contar, tão humano, encontra um porto.Na história da humanidade nunca tanta gente falou tanto ao mesmo tempo. Mas de vez em quando há que deslizar deste mundo mágico para o real e abraçar de verdade, ouvir a voz, tocar, afagar.
Às vezes alguma pessoa que não conheço me conquista com a sua história e sinto muita vontade de conhecer esta pessoa. Às vezes algum amigo que estava perdido, chega novamente através de um contato virtual.
Não precisamos, como no poema Ou Isto Ou Aquilo da Cecília, escolher.Temos os dois mundos. Mas o mundo real está aqui. Ouço o mar. O vento com cheiro de algas. Vejo o flamboyant florido, uma cascata de flores vermelhas.Minha gata Luna já está ali, no meio do jardim. Na entrada da casa flores azuis. Os passarinhos e sua orquestra e os bem-te-vis contando as novidades.Daqui, de onde escrevo, vejo os telhadis das outras casas . Não sei porque sou tão apaixonada por telhados. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CONFLITOS

Parece que o mundo inteiro está em conflito. Os números da violência no Brasil equivalem a uma guerra.
Talvez o Natal seja uma boa hora para repensarmos tantas coisas, já que Jesus trouxe uma mensagem de amor e perdão.
Já que não podemos mudar o mundo, que pelo menos em nosso entorno haja paz e harmonia.
No natal , não sei porque, as pessoas trocam presentes. Mas Jesus era extremamente pobre. Então acho que devemos escolher presentes simples e significativos. Comprar, livros, artesanato, ou mesmo fabricar com as mãos alguma coisa. E soprar amor nos presentes.
Não entendo as lojas apinhadas , pessoas como formigas ou baratas tontas obedecendo à ordem compremcompremcomprem. Temos o ano inteiro para lembrar-nos de alguém amado e escolher com calma que livro dar, que vinho , que lenço bordado à mão, que poema, que música, que toalha bem linda para cobrir o pão. E ir guardando os presentes, num lugar escondido (dentro do armário) até a data certa.

Se Jesus voltasse hoje imaginem a sua tristeza ao ver e sentir o ódio em Jerusalém.
Uma escola bilíngue onde estudam 600 crianças palestinas e israelenses, numa experiência bem sucedida de convivência entre os dois povos, foi atacada e destruída . Não posso acxreditar, neste mês de dezembro de 2014 que o ódio prevalecerá, quando todos os povos deveriam viver em paz.
Sonhar ainda é permitido. A escola bilingue era um sonho. Tomara que ela seja reconstruída para que as crianças cresçam juntas, brinquem juntas.
Somos todos humanos e mortais. Jesus aceitava os diferentes, os excluídos, mulheres, prostitutas, adúlteras, leprosos, samaritanos. Aceitar o outro, o diferente, o que não pensa como eu, aquele de outra religião, o que não sou eu, é a mensagem mais bela de Jesus, o Nazareno.
Pensar nisso é vital, pois os conflitos do mundo decorrem da não aceitação do diferente. Como alguém mata só porque o outro professa outra religião?
Acho que se Jesus chegasse hoje em Jerusalém, faria uma Ceia para que todos conversassem e quem sabe exista uma saída.
Quem sabe exista uma saída para o mundo, uma ponte para atravessar a violência, as guerras, o ódio, as desigualdades, a fome, as doenças, e lá do outro lado a gente encontre um mundo mais justo como queria e sonhava Jesus.
O Natal se aproxima.