quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DILAR

Ontem passei o dia em Gojar, o pueblo depois de Ogíjares, com Maria José, minha sobrinha, Rogelio e seus filhos Pablo e Marta. Pablo fez um gesto apontando vagamente um lugar distante de sua casa e disse: "ali é minha casa secreta" ... Depos do almoço fomos a Dilar.
Dilar é uma cidadezinha maravilhosa, fica entre a vega (várzea) e a montanha. As casas são brancas, antigas, de paredes grossas para o frio da montanha ficar do lado de fora. Parece que entramos num conto de fadas. Abrimos a porta de uma lojinha de doces, um homem de antigamente servia no balcão balas coloridas. Comprei pão de mel . Será que Dilar existe ou fica fora do tempo, em outra dimensão?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ABECEDARIA

Luis, meu neto, dia 5 de novembro, quando terá 3 meses, começará a sua vida de artista. Viajará com seus pais para o Circuito Abecedaria. Guga, meu filho músico, apresentará 37 concertos, em 18 cidades diferentes, em toda a Andaluzia. Seu espetáculo " Paisajes acrónicos - La partitura del tiempo " foi contratado pela Prefeitura da Andaluzia que promove concertos didáticos para as escolas de toda a região.
Guga nos diz : " Quatro paisagens do ocaso: os elementos emergem do silêncio, permeáveis, dinâmicos. O ar que alimenta o fogo, que sai da terra e libera a água. Gestos que geram sons e sons que revelam o movimento."
O espetáculo é constituído de uma pirâmide de alumínio e a música está representada em cada uma das faces da mesma por signos sonoros conectados uns aos outros por fios. Cada músico, com seu instrumento, cada instrumento remetendo a um elemento, água, fogo, terra e ar. No meio, uma bailarina é a própria partitura, pois é com seus movimentos que ela fabricará a música. Visualmente a própria pirâmide já é um espetáculo. Para esta turnê, há um espírito saltimbanco no ar. Ficarão hospedados em casas rurais, uma furgoneta carregará o equipamento e aguns músicos e Luis a bordo, com sua mãe Patrícia, lembrará a todos que a vida recomeça cada dia e puxará a caravana.

domingo, 27 de setembro de 2009

GUEJAR SIERRA

Subindo a estradinha que vai para Sierra Nevada, uns dez kilometros depois de Cenes de La Vega, onde estou hospedada na casa do meu filho Guga, chegamos em GUEJAR SIERRA. Como se abríssemos um livro muito antigo, como se andássemos cem anos para trás, assim é Guejar, a cidadezinha mais genuína, autêntica, que já conheci. Há em Guejar uma vida verdadeira, já que vi apenas um casal de mochileiros dormindo na praça. A população ocupa alegremente as ruas, sentados na frente das casas, nos bancos, mulheres de meia idade, gordinhas, com seus aventais de cozinha varrendo a calçada. As casas são antigas, casas de pueblo, muito bem conservadas e o conjunto é belíssimo.Ruelas que sobem e descem, becos sem saída com suas casinhas abarrotadas de flores, escadarias, e uma igreja do século dezoito na praça onde um plátano secular toca as cordas dos nossos sonhos. Um ceramista fabrica sua cerâmica ali mesmo, no segundo andar da casa, suas peças são lindas, limpas, lavam o nosso olhar. Comprei um pequeno pote, assim guardarei Guejar em meu armário mineiro em Saquarema, junto com a louça de cerâmica fabricada pela Evelyn Kligerman, minha irmã. Entramos num bar para unas tapas , eu e Guga, tomamos um vinho esplêndido, um Rioja e nos deram peixe frito e pimentões assados. O bar estava lotado de homens mais velhos, camponeses curtidos pelo frio da serra, alguns de chapéu. Eu era a única mulher e nós éramos os únicos estrangeiros. Como pude viver até hoje sem ter conhecido Guejar? Me apaixonei tão perdidamente que ficaria aí por uns meses, numa das casinhas lindas cheias de gerânios e cortina na porta, esse maravilhoso hábito andaluz que dá um colorido todo especial aos pueblos: no calor se pode deixar a porta aberta e preservar a intimidade.

sábado, 26 de setembro de 2009

OGÍJARES

Ontem fui ao pueblo de OGÍJARES. Os pueblos de Granada são lindíssimos e possuem uma raíz muito antiga. Alucino com os nomes. Este lugar foi antes um assentamento árabe. Mas a origem do nome é latina: Hortum Sacrum, que em árabe ficou Ortexica, Oxijar. Eram dois povoados e se juntaram, daí o plural Ogíjares.
Fui ao aniversário de Guillermito, meu sobrinho-neto, filho da Célia, sobrinha do Juan, meu marido . A família é grande, estavam todos aí. Na Andaluzia as famílias são tribais, um eco das famílias árabes e judias . Judeus e árabes foram expulsos em 1492 mas a Espanha em sua camada mais profunda, ainda é árabe , ainda é judia. Como num palimpsesto, basta raspar um pouquinho o seu verniz que podemos sentir pulsando costumes antigos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

LAS ALPUJARAS

Ontem minha sobrinha Maria José, seu marido Rogélio e os filhos Pablo e Marta vieram até aqui para me buscar. Fomos passar o dia nas Alpujaras, linda montanha onde se penduram povoados brancos. Saímos da estrada principal e começamos a serpentear rumo ao nosso destino.Passamos por Lanjaron, depois Órgiva, Pampaneira, paramos em Bubion para tomar uma cerveja com tapas (cortesia da casa: peixe frito e azeitonas do lugar), entramos numa lojinha onde o pequeno Pablo se apaixonou por uma almofada do Tibete. ¨É para a minha casa secreta¨, ele disse, e comprei a almofada para o Pablo sem ter idéia de onde fica a sua casa secreta. Mas a sua felicidade era contagiante. Finamente Capileira , a cidadezinha mais bonita do mundo, minúscula, toda branca, com suas ruas empedradas, num sobe e desce que faz um buraco no tempo: aí viveram os godos, os romanos, os árabes e cristaos. Diz a lenda que aí se escondeu Boabdil, o último rei árabe de Granada antes de fugir para o norte da Africa. Os telhados das casinhas, de terra, com suas lindas chaminés , parecem desenhados. As lojinhas expoem tapetes belíssimos e sobre algumas casas um cartaz que me faz sonhar: vende-se lenha e azeite. Sempre que encontro uma cidade assim quero viver aí por uns dias. É muito fácil e barato alugar uma casinha nas Alpujaras. Da outra vez em que estive aqui quase alugamos uma, mas anunciavam uma tempestade de neve e a estrada pode ficar interrompida, tivemos medo. Almoçamos um prato bem espanhol e alpujareño: papas a lo pobre. Batatas meio fritas e meio cozidas no azeite, comida dos deuses. Pode-se acrescentar o que estiver por perto, presunto,choriço, ovo, etc. Assim, em épocas duras, de guerra e fome, a batata salvava a vida de muita gente.
Hoje estou em casa. Luis, meu neto, cresce a cada minuto.Estou terminando de ler o delicioso livro Entre Limones de Cris Stewart e foi incrível passar dentro dos lugares que ele cita no livro. É como andar dentro do livro!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

TUDO PARA O LUIS

Ontem descemos até o povoado de Cenes de la Vega para levar o Luis, meu netinho que já tem 23 dias, até a farmácia que tem uma balancinha de pesar bebes. Ele engordou 125 gramas em uma semana e ficamos radiantes, pois só mama no peito. É muito difícil amamentar no peito e a mulher tem que estar muito segura dos benefícios que isso traz, do contrário certamente desistiria. A casa inteira vive em torno do Luis, é tudo para o Luis. Guga, meu filho, que no Brasil mantém um trio, o Trio Vira Lata, está compondo uma série de músicas para bebes, pois o gaitista premiadíssimo do trio, o Vitor Lopes, também teve um filho agora, e os dois músicos passam o dia compondo para os filhos.Vao gravar um CD. (desculpem a falta do til e do acento circunflexo, pois o teclado é espanhol) Fiz um poema e pedi para o Guga musicar:

Agora é tudo
pro Luis,
passarinho, borboleta
e as cores do planeta,
a luz do sol,
a luz da lua,
toda a casa
e toda a rua.

Agora é tudo
pro Luis,
todo o céu e todo ar,
e o que existe na terra
e o que existe no mar.

Agora é tudo pro Luis.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

REALEJO

Ontem fui almoçar num bairro de Granada que amo: o Realejo, antigo bairro judeu. Mais acima o Al Baysin, bairro árabe e o centro da cidade era católico. Em Granada, houve um dia em que as tres religioes se entrecruzaram. Os árabes dominavam mas eram tolerantes. Todos podiam exercer a sua fé livremente. Sempre achei que a fé é algo muito íntimo. É inacreditável alguém ou um povo inteiro achar que suas crenças sao melhores ou mais verdadeiras. O que nos une, a todos, nao é a fé nem as religioes mas o fato de que somos mortais e algum dia perderemos alguém que amamos e para isso nao há resposta.
Fui com os sobrinhos do Juan Arias, meu marido, o restaurante fica no Campo del Príncipe e se chama La Nynfa . De entrada pedimos um prato de pimientos de padrón. É muito divertido: um prato cheio de pequenos pimentoes assados, alguns muito fortes como se fossem pimenta e outros nao. É como um sorteio e todos ficam esperando: quem será quevai mastigar um pimentao ardido? Fui sorteada com apenas um e para isso temos um pao maravilhoso na mesa e azeite. Estar na Espanha é mergulhar na cultura do azeite. Todos querem me presentear com cinco litros de azeite caseiro... mas como iria carregar?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

VIAGEM

A minha viagem para Granada foi perfeita. Li durante a viagem o livro A Volta para Casa de Bernhard Schlink, o mesmo autor do O Leitor. Ele trata da justiça, da culpa, do mal e do bem. Amei. Estava com muito medo de chegar em Madrid e perder o voo para Granada, mas deu tudo certo. Quando cheguei meu filho Guga já estava no pequeno aeroporto de Granada me esperando. Depois da loucura que é o aeroporto de Barajas em Madrid, me senti em casa. Viemos direto para Cenes de La Vega, seu pueblo, Calle de la Vista Blanca , sua rua. Aqui o silencio é total, pois estamos praticamente no campo. Só hoje, dois dias depois fui até a pequena vila, tomamos um vinho tinto de Granada, maravilhoso, com unas tapas, o bar é que escolhe o que vai mandar para a mesa (grátis). Recebemos uma porção de bacalhau fresco ao vinagrete.
O Luis, meu neto, me reconheceu na hora. Já no meu colo, estava completamente uno comigo e meus pensamentos. Ele é lindo, filho do meu filho!!! Hoje estamos no paraíso, ele dorme o tempo todo. Para dar cor local, estou lendo um livro que é um relato verdadeiro de um ingles que veio mrar aqui nas Alpujaras, a montanha maravilhosa de Granada. Chris Stewart é seu nome e o livro se chama Entre Limones . O livro é leve e divertido e diz minha nora que ele morá lá e recebe em casa seus leitores. Vou passar um dia nas Alpujaras e gostaria de conhecer sua propriedade mas acho que é bastante difícil o seu acesso.
Prometo a todos que irei contando as minhas aventuras granadinas.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

GRANADA

Tenho uma longa história de amor com a Espanha desde que ouvi o Concerto de Aranjuez com o Mile Davis na minha juventude e quase virei pedra de tanta emoção. Depois , em 1994, fui a Sevilha receber meu diploma da Lista de Honra do I.B.B.Y. A Andaluzia me impactou muito por ser tão árabe. No Brasil não temos contato com a cultura árabe. Durante a noite fui despertada por uma saeta , aqueles cânticos maravilhosos que ouvi no disco do Miles Davis.
Em 1997 voltei a Madrid e fui com o Juan até Lanzarote, nas Ilhas Canárias, entrevistar José Saramago. Fiquei apaixonada por Madrid, completamente. Em 98 morei em Madrid por seis meses com o Juan, enquanto esperávamos sua vinda definitiva para o Brasil. Então fomos a Granada. Granada é maravilhosa, com a Alhambra e seus bairros árabes.
Agora volto pela quarta vez até a cidade que é um pouco minha, pois aí nasceu meu neto Luis em 30 de agosto. Meu filho mora no caminho que vai para a Serra Nevada, depois do seu prédio começa a montanha , a estradinha de terra serpenteando com a vista da Serra cheia de neve eterna. Guga e Patrícia buscaram um lugar assim para morar, algo que de alguma maneira lembrasse Visconde de Mauá, onde a família tem um sítio. Granada tem histórias maravilhosas, tantas histórias de amor. De Jaén, ao lado de Granada, saiu meu escritor espanhol favorito : Antonio Muñoz Molina, com seu esplêndido livro SEFARAD. E perto de Granada, as Alpujaras, montanha onde os últimos árabes se esconderam quando tiveram que entregar Granada com a reconquista espanhola. Quero ir outra vez até essa montanha mágica, com suas casinhas brancas incrustadas nas encostas.
Continuarei escrevendo no blog desde Granada. Até breve.

domingo, 13 de setembro de 2009

FLORESTA DE LIVROS

Não pude ir até a Bienal este ano, mas tive dois livros selecionados para a Floresta de Livros: Arabescos no Vento, ed. Prumo e Poemas de Céu, ed. Paulinas. Fiquei radiante, achei a idéia da floresta maravilhosa. O tempo todo há que pensar em estratégias para pescar o leitor e melhor começar com o pequeno leitor para que ele cresça lendo.
Finalmente tive o insight completo de como gostaria de criar um Clube de Leitura para os professores e pretendo começar em março . Tenho o nome: Clube de leitura da Casa Amarela. Espero que a Secretaria de Educação daqui de Saquarema me ajude como sempre. Pretendo fazer uma vez por mes um almoço para discutirmos um livro que todos terão lido. A senha para participar do almoço é ter lido o livro inteiro. O primeiro vou indicar e para os próximos chegaremos juntos a um acordo. Será num sábado. Transformar o professor não leitor em leitor é a tarefa primordial. Já tenho a indicação para a primeira leitura: O LEITOR de Bernhard Schlink, um livro maravilhoso que deu origem a um filme também maravilhoso. São muitos os temas que o livro aborda, temas eternos e também históricos, datados. O autor é um dos mais importantes escritores alemães da atualidade. O Clube estará aberto para amigos , para todos. A presença terá que ser confirmada com antecedência por questões estratégicas, pratos, talheres, quantidades, etc. É engraçado como uma idéia vai tomando corpo dentro da gente mesmo quando não estamos mais pensando no assunto.

Já fiz a mala para Granada, Espanha. Vou levar apenas uma bagagem de mão, uma pequena mala de aeromoça e uma mochila pequena também. É incrível como sempre carregamos o dobro do que precisamos, pois na minha mala coube tudo , mas se tivesse uma mala grande eu a encheria. Ser minimalista em tempos de desperdício é quase meditação. Já recebi 3 fotos do meu neto Luis mas não faço idéia do que vou sentir quando nos olharmos pela primeira vez.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

PRÊMIO COMUNIQUE-SE DE JORNALISMO 2009

Meu marido Juan Arias, correspondente do jornal El País da Espanha no Brasil desde 1999, está entre os três finalistas do Prêmio COMUNIQUE-SE 2009 de jornalismo na categoria correspondente estrangeiro. O prêmio é considerado o Oscar do jornalismo brasileiro. Soubemos no final da tarde de ontem. Eu havia passado o dia transcrevendo as fitas da entrevista com a Marina Silva e o Juan ia traduzindo para o espanhol. Tarefa árdua e maravilhosa, pois, com os fones no ouvido, a Marina falava para mim! Suas idéias são claras.
Ficamos radiantes com a notícia , estar entre os três finalistas já é um prêmio. Os votos são dados por jornalistas e agora torcemos pelo resultado. Juan é de uma dedicação completa, trabalha todos os dias o dia inteiro depois da sua caminhada pela manhã. Ávido por notícias, pelo mundo , pela vida, Juan é a memória viva do jornalismo da Espanha desde o tempo do franquismo quando escrevia no jornal Pueblo, o único que conseguia insinuar algumas críticas nas entrelinhas. Juan nunca teve medo nem se deixou ameaçar. Sempre crítico do poder, sempre limpo, além de amá-lo eu o admiro como uma das melhores pessoas que já conheci. Juan foi padre mas quando conheceu o Vaticano por dentro saiu da igreja. Mas sua vocação foi sempre estar do lado dos desfavorecidos. Juan ama a natureza e todos os bichinhos, é mãe das nossas gatas. Juan é um otimista incorrigível, ( quem conhece seu livro os 50 motivos para amar o nosso tempo, ed. Fontanar/objetiva pode entender o que estou falando) sempre acha que tudo vai dar certo e nos rimos muito, porque como boa judia, eu sempre acho que tudo vai dar errado. O destino me deu Juan de presente. Agradeço.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PERGUNTA

Ontem alunos do Centro educacional Nossa Senhora das Graças , Jacareí, São Paulo, me enviaram uma entrevista por e-mail.
Uma pergunta me emocionou demais : "O que fazem os teus poemas ser tão bonitos?" da aluna Carol.
Carol adivinhou: persigo a beleza, farejo a beleza, acho quem sem o belo não se pode viver. Em 1985 Antonio Carlos Sechin , professor e crítico de poesia me disse: "Teus poemas são belos". Acho que a beleza é instável e relativa, fruto do nosso olhar, mas é o que nos emociona. Às vezes a beleza é tanta que quase não aguentamos. Rilke nos diz em Elegias de Duíno: "O belo é terrível" . Beleza é o que faz a alma se expandir e doer.
Obrigada, Carol, por me fazer uma pergunta tão difícil e bela .

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

BABEL

Babel era nossa gata. Vivemos juntas por doze anos. Um dia Babel foi embora. Simplesmente pulou o muro e nunca mais voltou. Em 2000 publiquei um conto no site Doce de Letra que já não existe mais. Era um e-book lindamente ilustrado, um luxo. O conto está publicado no livro "Pequenos Contos de Leves Assombros" . Babel é um poema do livro "Caixinha de Música" que fiz com meu filho Guga. Mas Babel também é o Babel Restaurante em Visconde de Mauá,no Vale do Pavão, do meu filho, o Chef André Murray e minha nora , a Chef Dani keiko. Quando nos pediram sugestões para o nome do restaurante, Babel, tão amada e festejada, piscou seus olhos azuis e entendemos: ela queria virar restaurante.
Agora Babel virou uma Escola de Cozinha em Resende , num belíssimo casarão antigo. O Babel, Oficina de Gastronomia e Artes pretende juntar no mesmo espaço oficinas de música, exposições, concertos. É uma linda idéia, um verdadeiro caldeirão de arte. Quem estiver perto de Resende e quiser conhecer a escola de perto pode agendar pelos telefones : 24 33545936 , 24 99998121
Babel, onde estiver, sabe que está viva, pulsando arte, como uma verdadeira gata-estrela.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

ESPERANÇA

Muitos são os que carregam
água na peneira,
como disse o poeta Manoel de Barros,
e esperança como estrela
na lapela.
Muitos são os que acreditam
em coisas simples e limpas,
em coisas essenciais,
amor, amizade, delicadeza,
paz,
e tantas outras palavras,
antigas e urgentes.

Manual da Delicadeza de A a Z, ed. FTD


Hoje, meu marido Juan Arias, vai a Brasília entrevistar a senadora Marina Silva para o jornal El País. Marina traz novamente um cântaro cheio de esperança. Marina é da tribo dos que carregam água na peneira. Marina nos traz água limpa outra vez.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

LEJBUS KLIGERMAN

Meu pai escolheu a data de 7 de setembro para o seu nascimento. Explico: meu pai nunca soube em que dia nasceu. Assim, quando chegou ao Brasil escolheu o dia da independencia para festejar o seu aniversário. Não sabemos quantos anos teria se estivesse vivo pois existem contradições quanto ao ano do seu nascimento. Tenho um papel em mãos que me diz a data de entrada no Brasil: 25 de abril de 1930. O Consulado do Brasil forneceu o visto em Varsóvia em 3 de abril de 1930. Então a travessia durou uns vinte dias. Minha avó se chamava Chava e fico sabendo que residia em Denkow, distrito de Kielce e que nasceu em Zawichost em 1883. O documento que tenho em mãos a descreve: estatura mediana, rosto alongado, cabelo escuro, olhos azuis. Mas não fala dos seus sentimentos, do medo que deveria sentir na hora de embarcar . Eu a perdi muito cedo, não lembro da minha avó.
Meu pai traduziu seu nome para Luis e me deixou um legado imenso: amor, compaixão, curiosidade pelo outro, meu semelhante. Meu pai amava os escritores russos, música clássica, cinema, a vida. Era alegre e comunicativo, gestos largos, sorriso amplo. Meu pai era belo. Mas, às vezes era triste, arrastava as suas sombras . Hoje é o dia que escolheu para nascer. E nasce todos os dias dentro de mim.

Hoje é o aniversário do meu grande amigo Latuf que está em Belo Horizonte junto com sua família. Obrigada Latuf, por existir .

sábado, 5 de setembro de 2009

FEIJOADA



Ontem, dia 4 de setembro, vivi uma das experiências mais impactantes da minha vida: recebemos em nossa casa um ônibus da prefeitura de Duque de Caxias com 38 crianças e alguns adultos para uma feijoada. Eram alunos da Escola Municipal Pedro Paulo da Silva, de Santa Cruz da Serra. Nós nos conhecemos no Salão do Livro e na ocasião eu os convidei. Sob a batuta da diretora Lourdes, a orquestra para o acontecimento começou a afinar seus instrumentos. Foram muitas cartas e telefonemas até que o ônibus parou na frente da minha casa. Na hora em que o ônibus parou e as crianças começaram a gritar de felicidade, o sol apareceu. Antes o tempo estava feio e encoberto, prometendo chuva.Eu, como sempre ,pedindo um milagre. A varanda já estava arrumada, toalha de renda na mesa, flores apanhadas no jardim e o fogão de lenha estalando de felicidade . O feijão já estava no fogo desde cedo. Eles se perderam dentro de Saquarema e ficaram dando voltas e mais voltas, não encontravam o mar!!! Chegaram às 11:15hs. Correram todos para o jardim e como são de uma zona rural, identificaram todas as árvores, até a árvore de romãs. Depois nos sentamos na varanda e lemos juntos vários poemas. Eles me trouxeram 3 presentes muito especiais: uma camiseta assinada por todos, um quadro imenso com a assinatura e a foto de todos e um caderno com poemas e agradecimentos. Fizemos várias brincadeiras com meus poemas. Li um livro que fiz com a ed. DCL, "O que cabe no bolso?" e depois eu perguntei: se vocês pudessem guardar um desejo no bolso, qual seria? Todos queriam guardar amor ou poderes para salvar o mundo.
As professoras (Andréia Berg, Ivone, Regiane e Nilce, supervisora da escola) eram de uma delicadeza, exerciam seu carinho nos dando uma grande lição de como se pode ao mesmo tempo dar amor e limite sem nunca elevar a voz.
Então foi servida a feijoada. Fizeram uma fila em frente ao fogão de lenha, cada um com seu pratinho e iam se sentando no chão... Comeram sem deixar cair um grão de arroz. Nunca vi crianças mais doces e educadas. Elogiaram e aplaudiram a Vanda, autora do almoço.
Depois do almoço fomos ao mar. O mar estava muito forte, era impossível entrar. Grande parte das crianças nunca havia visto o mar! Foi um espetáculo impressionante. Pareciam aqueles passarinhos na beira do mar que correm quando a onda vem. As ondas eram imensas e vinham buscá-los na areia. Eles corriam para lá e para cá gritando de alegria. Catavam conchas e tatuís. Na volta Samuel , nosso caseiro, lavou os pés de cada um no jardim e chegou a hora da despedida. Choramos todos de emoção. Que grande presente poder dar assim um dia lindo para essas crianças.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A VIDA NO PARAÍSO

Estou em Teresópolis onde vive e trabalha minha irmã Evelyn Kligerman, ceramista e escultora. Agora , em seu atelier, está preparando um Mural Coletivo para o Colégio Estadual Campos Salles. Ela foi até a escola e os alunos fizeram 27 placas de barro previamente preparadas. Agora, dos 27 azulejos ela reproduzirá 600 a partir de moldes. O processo é lento, artesanal e muito trabalhoso. O resultado é belíssimo, pois ela trabalha com alta temperatura e os azulejos prontos e esmaltados emocionam. A escola inteira está envolvida e os pais sob a regência de um mestre de obras ajudarão a fixar os azulejos no muro da escola. A criação de um mural coletivo tece uma rede de afetos e alegria. Em dezembro o mural estará colocado e haverá uma grande festa de inauguração .

Ontem, eu , Evelyn e Manuela, de quem sou fada madrinha e que saiu de Saquarema e está vivendo aqui com minha irmã, vimos um filme sueco muito impactante: A VIDA NO PARAÍSO
do diretor Kay Pollak. Um maestro muito famoso abandona toda a sua vida de agenda lotada pelo mundo e volta para a sua cidade natal depois de um enfarte. Passa a reger o coral da Igreja e pouco a pouco transforma a vida de cada um e de toda a cidade . A partir do encontro com a arte as pessoas reavaliam suas histórias, encontram coragem para mudar . Ele faz com que cada um encontre a sua música interna. Essa é a função da arte.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

DEUS E SEXO




Soube pelo El País, jornal da Espanha: as duas palavras mais acessadas na internet são DEUS e SEXO. Não lembro os números em torno de milhões, mas são quase iguais, quase o mesmo imenso número.
Buscar Deus é uma tarefa árdua e perigosa, já que nossa mente não tem como entender o conceito de Deus. Deus seria sempre outra coisa, não o que pensamos. Deus nos escapa sempre. No entanto o homem faz essa busca desde o príncipio do mundo .
Assim como buscamos Deus buscamos o outro. Nossa existência não se faz sozinha. Sem o outro, meu semelhante, não existo. Fazer sexo com o outro , entrar em seu corpo, não seria o desejo de tocar nossa alma sempre na beira do abismo?