quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

EM VISCONDE DE MAUÁ

Aqui estou em Visconde de Mauá, no ateliê-loja-casa da minha irmã Evelyn Kligerman e meu cunhado Luis Mérigo. Chove, faz um certo frio para quem veio do calor escaldante de Resende.
Nestes poucos dias, além de estar com meus filhos e neto Luis, tive duas notícias maravilhosas: Entrei com dois livros no Catálogo de Bolonha: Quatro Jabutis, ed. Lê e Diário da Montanha, ed. Manati. E o livro Fio de Lua & Raio de Sol que fiz com a minha nora Patricia de Arias foi aceito pela ed. Ibep Jr e sairá em setembro.
Agora vou para a minha casinha onde escreví o Diário da Montanha. Lá não tem internet (por enquanto, a civilização digital está a caminho) e volto para Saquarema no dia 5.
Leitores ficam curiosos: O que levo na mala?
Pouca roupa, alguns livros e uma alegria imensa.
Até o dia 6 então.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A MALA DE HANA

Sábado ganhei da leitora do nosso Clube, Ângela Quintieri, o livro A MALA DE HANA, de Karen Levine, ed. Melhoramentos.
O livro é uma pequena jóia. Uma mulher japonesa , diretora do Centro Educacional do Holocausto de Tóquio, a partir de uma pequena mala, reconstrói a história de Hana e de sua família. O livro pode e deve ser lido com alunos e a partir da pequena mala de Hana se pode reconstruir a história da Europa nos anos que precederam a Segunda Guerra.

Ontem li uma entrevista muito interessante com a Diretora da Escola Parque. Ela diz algo tão simples e fundamental: A escola hoje tem que dar ao aluno o que ele não encontra no Google.Este é o desafio.

E hoje leio uma matéria terrível sobre a violência nas escolas, tanto públicas quanto particulares. O diagnóstico: as escolas estão no século XIX, os alunos do século XXI não suportam as aulas entediantes e sua irritação atinge níveis perigosos, além dos problemas emocionais que já trazem de sua casa , do mundo onde vivem.

O remédio: uma mudança radical da escola, o fortalecimento dos laços de afeto, um aluno criativo e com auto-estima não terá vontade de agredir. A arte e a leitura como prática diária mudam completamente a rotina da escola.

E hoje arrumo a minha mala. Vou para Resende amanhã e de lá para Visconde de Mauá, para a minha casinha da montanha.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

SURPRESA NO CLUBE DE LEITURA

Ontem nosso encontro do Clube de Leitura foi cheio de surpresas. Recebemos muitos hóspedes novos para discutir Morte e Vida Severina do João Cabral e Sagarana do Guimarães Rosa.
Às 10 horas a mesa da varanda já estava pronta, 3 mesas juntas, onde se sentariam 24 pessoas. A temperatura estava amena, o dia lindo. E começaram a chegar os convidados. Hélio e Fernando, Edith Lacerda, pela primeira vez no Clube e Maria Clara. Chegaram as duas Ângelas. Isabela e Adelaide, mãe e filha, primeira vez no Clube. Chico Perez, nosso vereador poeta, Felipe e sua amiga-quase-namorada Gisele, Gil de cabelo afro, Aline, (a filha do Samuel, aniversariante ontem, nosso jardineiro e Vanda, nossa caseira), entrou para o Clube e estava linda e eufórica, era a sua primeira experiência do gênero. Chegaram Flora e Héctor.
Começamos sem o  Professor Ivo que chegou logo depois com Rejane e Carmen Regina.
Leila me telefonou do Rio, inconsolável: quando foi estacionar seu carro na Rodoviária do Rio, o vidro explodiu e não podia deixar o carro estacionado  sem vidro, então não veio.
Começamos com uma leitura em voz alta do maravilhoso trecho do livro que o Chico Buarque musicou e então  destacamos os trechos que mais impactaram cada um. Gil falou da sua avó retirante. Maria Clara e Edith falaram da beleza dos ofertórios, os presentes da terra que era oferecido ao recém-nascido. Juan falou da beleza do que é feito com as mãos. Falamos da morte nômade e do final esplêndido em que a vida vence a morte. Falamos do título: não é Vida e Morte, mas sim Morte e Vida. Falamos do nome Severino usado como adjetivo.Fernando falou da vida "severa" que vem de Severino. Aline falou que era uma grande lição: quando se pensa que tudo está perdido vem a vida e nos oferece outra vida.
Já íamos começar a discutir os contos do Sagarana quando chegou a grande surpresa que guardei no fundo da boca, não contei para ninguém. Felipe começava a ler o conto Fita Verde no Cabelo quando chegaram Ana Cristina, Cristiano Mota e Ronaldo Mota. Os dois foram do grupo Hombu. Eles são um duo que canta Guimarães Rosa e trouxeram o violão. Aí pronto, foi uma aula de Guimarães Rosa recheada de canções.
Impossível escrever tudo o que falamos e ouvimos. Foi uma cachoeira de Guimarães, um grande mergulho.
Ana Cristina trabalha no SESC Teresópolis e também é cantora. Eles foram trazidos pelas mãos do Carlos Dimuro que não veio, mas nos deu este presente ao saber que discutiríamos Sagarana.
Messias, nosso amigo mais do que amado, foi o grande ausente. Mas o vento maravilhoso que soprava ontem, foi um pedido especial do Messias. Ele, como a Menina de Lá do Guimarães, faz muitos milagres.
Quando passamos para a mesa, já estávamos mais do que alimentados, mas a Vanda fez uma comidinha bem da roça no fogão de lenha onde era servida: um arroz maluquinho com muitas surpresas dentro, feijão mulatinho com paio e linguiça e farofa de couve e ovo. Na mesa pães feitos por mim, azeite, vinho, salada de trigo sarraceno.
De sobremesa a torta de aniversário do Samuel., pudemos cantar o parabéns com Ronaldo Mota no violão.Flora e Hélio trouxeram pudim.
Nosso próximo encontro será dia 27 de abril e o livro: O Físico, do Noah Gordon . Pedi que todos tragam poemas árabes da Idade Média.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

RETRATOS

A nova edição do meu livro RETRATOS tem um conceito muito diferente da edição anterior. Antes era um álbum de retratos como aqueles de antigamente, inclusive com papel de seda entre as páginas. As fotos não eram da minha família.
Para esta edição recuperei fotos muito antigas da minha família e o projeto gráfico não é o de um álbum de retratos, mas sim de um caderno de anotações.
Com a edição aconteceu um caso curioso que vou contar aqui. Quando fui ao Sul em 1990 receber o Prêmio AGE de Poesia, havia um escritor do Uruguai.  Eu havia levado alguns livros e Retratos acabava de sair. Ele se apaixonou pelo livro e me disse:
_Roseana, vou copiar o teu livro, vou fazer um igual, com meus textos.
Eu não disse nada, o que poderia dizer.
Um dia recebi em casa o seu livro, idêntico ao meu, mas sua capa era amarela. Não contei para a minha editora, fiquei  com vergonha, era a Antonieta Cunha, da Miguilim. Mas acontece que Antonieta ou foi ao Uruguai ou em algum outro país ela viu o livro. Recebi seu telefonema:
_Roseana, você sabia que copiaram o Retratos?
Eu sabia, mas o que podia dizer?
Agora a nova edição me oferece muita felicidade, tenho poucas fotos da minha infância, da minha família e  aí estão meus avós, meu pai e minha mãe apaixonados, minha mãe grávida de mim. E o texto continua lindo e atual, leve e poético.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

LEMBRANÇAS

Ontem recebi duas fotos que me deixaram muito emocionadas. Não tenho quase nenhuma foto desta época, a década de 70. Não tinhamos máquina fotográfica. Não tenho nenhuma foto da casa onde morei na Tijuca, na Rua Henrique Fleiuss. Mas eu a tenho na memória, com todos os cantos e cheiros, eu a amava perdidamente. Deixamos a casa e nos mudamos para Visconde de Mauá em 77 , com os filhos pequenos. E numa sinfonia não ensaiada, levas de pessoas foram chegando e não havia uma escola alternativa para as nossas muitas crianças, os filhos de um bando de artistas meio loucos. Então foi criada a Escolinha da Terra, no Vale da Santa Clara. Muitos professores eram os próprios pais. O recreio era na cachoeira. Havia aula de circo, de música, de construção, além do currículo normal. Eu contava histórias.Uma vez uma vaca entrou na sala de aula, quem sabe uma vaca leitora...Até hoje muitas daquelas crianças continuam amigas num elo indestrutível. Desde aquela época, tão nova, eu já sabia que aquele modelo de educação era magnífico. A alfabetizadora havia trabalhado com o Paulo Freire.
Foi em Mauá naqueles anos, que comecei a escrever poesia. E foi morando ali que publiquei meu primeiro livro o Fardo de Carinho, pela extinta ed. Murinho.
Estou na foto acima, à esquerda da moça de trança. Era uma apresentação da aula de Circo e meu filho Guga estava se apresentando.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A FORÇA DAS PALAVRAS

Nunca li o blog da cubana Yoani Sanchez. Mas li sobre a recepção horrososa que teve no Brasil, por segmentos hostis a ela, com agressões físicas e verbais. Fico envergonhada, quer se concorde ou não com suas opiniões ou com o que escreve, o Brasil tem a tradição de receber bem os seus visitantes.
Fica então comprovada a força da palavra. Como pode um blog representar tanto perigo a ponto de sua autora ser agredida em outro país?
Reafirmo minha paixão pela liberdade, de culto, de expressão, de afeto, liberdade política. Os tempos da ditadura já se foram, nós, os que vivemos aquele tempo, carregamos algum morto na algibeira, carregamos alguém que enlouqueceu ou desapareceu.
A força das palavras. Não é por acaso que as ditaduras queimam livros, a Alemanha enlouquecida queimou todos os livros do Freud. Mas as palavras queimadas sempre renascem.
O Brasil , de todas as cores e matizes, não pode receber assim os seus visitantes.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

LIVROS NO FORNO

Quando faço um pão coloco alecrim por cima para que ao assar perfume a casa. Aqui em casa não compramos pão:

RECEITA DE PÃO

é coisa muito antiga
o ofício do pão
primeiro misture o fermento
com água morna e açúcar
e deixe crescer ao sol

depois numa vasilha
derrame a farinha e o sal
óleo de girassol manjericão

adicionado o fermento
vá dando o ponto com calma
água morna e farinha

mas o pão tem seus mistérios
na sua feitura há que entrar
um pouco da alma do que é etéreo

então estique a massa
enrole numa trança
e deixe que descanse
que o tempo faça a sua dança

asse em forno forte
até que o perfume do pão
se espalhe pela casa e pela vida

in Receitas de Olhar, ed. FTD

Tenho vários livros inéditos no forno e de longe já perfumam a minha vida:

Abecedário Poético de Frutas, ed. Rovelle;
Quem vê cara não vê coração, ed. Callis/Instituto Houaiss
Carta na Manga, ed. Manati;
Retratos, ed. Ibeppe, reedição com novas fotos

Agora busco editora para o belo livro que fiz com minha nora, a poeta andaluza Patrícia de Arias:
Fio de Lua&Raio de Sol. Patrícia fez os poemas de lua e eu fiz os de sol numa amorosa tapeçaria.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

METEORO

Um meteoro cai na Rússia e no seu rastro  nos diz o quanto somos frágeis, como a vida é sempre por um triz, como de um segundo para outro podemos cair do trapézio que se balança sobre o infinito.
Convém, então, beijar quem a gente ama, filhos, nosso homem ou mulher, netos, cães e gatos, ,  não economizar afeto, não economizar palavras e abraços para dizer o nosso amor.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

AGENDA

É noite ainda, nenhum sinal da manhã. Sopra um vento fresco, vem da montanha. Já tomei café e apanho na estante um livro de poesia  ao acaso. "Sísifo desce a montanha" do Affonso Romano de Sant'Anna e fico sabendo que o Affonso adora fazer listas. Eu também. Faço listas de tudo, de coisas para fazer, de planos para depois, listas de desejos, de livros, de palavras. Quando anoto uma viagem na agenda , a página já fica impregnada de cheiro e as vozes das pessoas que irei encontrar já ecoam , soam como sinos.
Anoto na agenda que dia 26 irei para Resende-Mauá ver o meu neto, meus filhos, minha irmã.
Espero conseguir, pois o meu corpo não está me obedecendo, parece um cavalo brabo, mas ao anotar na agenda, a viagem já vai se fazendo.
Divido o poema do Affonso com vocês:

AGENDA

Toda manhã
anoto uma lista
de coisas por fazer:

contas a pagar
cartas, e-mails, telefonemas
carinhos que responder
livros, palestras, entrevistas
ginástica, compras
remédios, terra, flores
consertos domésticos
desculpas, culpas
livros que ler e escrever.

Olho o que arquivo:
- o ontem só cresce
não há pasta que o contenha.
Melhor seria dissolvê-lo
ignorá-lo sem etiqueta
sem tentar decodificá-lo
entendê-lo.

Vai começar a girândola
de um novo dia.
Ponho o sol na alma
vejo da janela
                      - a lagoa e o mar.

Olho o presente, o futuro.
Mas o passado, que não passa
como agendar?

Affonso Romano de S'Antanna, in Sísifo desce a montanha, ed. Rocco.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

INVEJA

Com tantos problemas na minha coluna operada, com uma quantidade de dor difícil de administrar, tenho inveja das coisas mais prosaicas: gente caminhando pela praia, entrando no mar com ondas, gente andando de bicicleta...
e digo como Manuel Bandeira em Pasárgada, na terceira estrofe:

"E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no Pau de Sebo
Tomarei banhos de mar !
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou me embora pra Pasárgada"


O mundo anda esquisito, testes nucleares, meteoros que quase esbarram na Terra, ainda bem que a poesia , a de todos os dias, a beleza desta manhã, os pássaros, a vida, ainda bem que a poesia nos salva.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

FILHO DO FILHO

Quem são meus antepassados? Pouco ou nada sei das mulheres que me antecederam. Minha mãe me contava que não se lembrava do navio em que veio da Polônia. Que não se lembrava da viagem. Para a minha avó, mãe da minha mãe, nunca perguntei nada, ela era tão recolhida, parece que a vida não a tocava, imersa em suas orações. A mãe do meu pai morreu quando eu ainda era muito nova, ela é apenas um nome, uma sombra. Quanto do que foram corre em minhas veias?  

EL HIJO

No soy yo quién te engendra. Son los muertos.
Son mi padre, su padre y sus mayores;
Son los que un largo dédalo de amores
Trazaron desde Adán y los desiertos
De Cain y de Abel, en una aurora
Tan antigua que ya es mitología,
Y llegan, sangre y médula, a este dia.
Del porvenir, en que te engendro ahora,
Siento su multitud. Somos nosotros
Y, entre nosotros, tú y los venideros
Hijos que has de engendrar. Los postrimeros
Y los del rojo Adán. Soy esos otros,
También. La eternidad está en las cosas
Del tiempo, que son formas presurosas.

Jorge Luis Borges - Obra Poética

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

AQUARELAS

Meu destino se cruzou com o da aquarelista Cláudia Simões em 1980, quando saiu meu primeiro livro Fardo de Carinho. Naquela época eu morava em Visconde de Mauá e era amiga do grande Maestro Nelson Ayres que também tinha uma casa em Mauá. Um dia ele chegou na minha casa e disse: comecei a namorar uma moça que tem dois filhos pequenos , cheguei na sua casa e para minha surpresa encontrei o Fardo de Carinho, eu não havia falado de você. Ela não me conhecia  e deve ter sido uma das primeiras pessoas a comprar o Fardo de Carinho de uma autora totalmente desconhecida. Nos conhecemos e ficamos amigas.
Ela e Nelson se casaram, tiveram filhos e se separaram e nós duas fomos, cada uma,  para um lado da vida e  estávamos bastante afastadas. Eu sabia que ela havia estudado aquarela com seriedade, com os maiores mestres japoneses de São Paulo. Sabia que fazia exposições pelo mundo afora.
Depois de anos sem nenhum contato, nos vimos em Mauá em 2011. Assim nasceu o desejo de fazer uma parceria. Ela nunca havia ilustrado nenhum livro.
E agora, dia 4 de abril, sairá nosso livro, ABECEDÁRIO POÉTICO DE FRUTAS, pela editora Rovelle. Faremos um grande lançamento em Mauá , no Centro Cultural, com o Maestro Nelson Ayres tocando, para juntar as duas pontas do tempo. Como num círculo. As aquarelas da Cláudia para o livro são estonteantes. E como numa galeria, suas aquarelas estarão em exposição e poderão ser compradas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A RENÚNCIA DO PAPA

A renúncia do Papa Bento XVI pegou o mundo de surpresa. Não sou católica, mas acho que a grande mudança da Igreja virá quando os revolucionários ensinamentos de Jesus forem levados ao pé da letra. Um Papa que mudasse algumas coisas fundamentais: acabar com o celibato e com toda a riqueza e ostentação da Igreja. Além disso o Vaticano é um Estado doado por Mussolini. O Papa é um Chefe de Estado, aperta e mão de ditadores! Isso é um absurdo. O Papa deveria ser apenas um líder espiritual. A Igreja é lenta e é muito difícil que mude repentinamente. Mas que um Papa como João XXIII, um homem bom, livre e bem humorado, que plantou sementes impressionantes,  seria muito propício, com certeza.

Quando eu era adolescente estudei no Hebreu Brasileiro. Tive uma professora de hebraico que passou a infância escondida num convento na Polônia. As freiras não tentaram convertê-la. Isso é cristianismo em estado puro. Conheço freiras maravilhosas, os ensinamentos de Jesus correm de maneira cristalina por suas veias. São despojadas , educadoras, amorosas e não ostentam nada. Já quando vejo a pompa da elite da Vaticano, fico pensando: o que é que tudo isso tem a ver com Jesus? 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

LONGE DAQUI

Li um romance bem curioso. LONGE DAQUI, de Amy Bloom, ed. Nova Fronteira , me levou até a velha Rússia dos tzares onde a vida dos judeus nos povoados era muito dura. De vez em quando os russos faziam uma matança, os pogroms, para quebrar a monotonia, para roubar. O livro começa com um pogrom em Turov e uma mulher vê toda a família ser assassinada. Mas ela ainda tem tempo de jogar a filha de três anos pela janela e lhe recomendar que se esconda no galinheiro. Ela escapa e ao buscar a filha já não a encontra. Muitos dizem que viram o cadáver da sua filha deslizando pelo rio. Ela vai para a América onde tem uma prima. Mas um dia chega até ela a notíicia de que sua filha está viva. O livro é a procura desesperada da  filha , a sua louca viagem até a Sibéria. A estrutura do romance é muito interessante, a tradução da Adriana Lisboa é primorosa. Além disso é uma belíssima história de amor.

Releio um livro da minha juventude e é um verdadeiro deleite: La Llama Doble do Octavio Paz (A Chama Dupla), ed. Seix Barral . Tenho que ler aos poucos, tamanha a sua beleza. Transcrevo da página 11:
"   La disposición lineal es una característica básica del lenguaje; las palabras se enlazan una tras otra de modo que el habla puede compararse a una vena de agua corriendo. ( Como é lindo isso, já é poesia!)
En el poema, la linealdad se tuerce, vuelve sobre sus pasos, serpea: la línea recta cesa de ser el arquetipo en favor del círculo y la espiral. Hay un momento en que el lenguaje deja de deslizarse y, por decirlo así, se levanta y se mece sobre el vacío; hay otro en el que cesa de fluir y se transforma en un sólido transparente - cubo, esfera, oblelisco - plantado en el centro de la página. "

Assim, o poema é este objeto sólido e transparente, feito de ar e palavras e habita a página como uma estrela o firmamento. Ou como um fogo fátuo. Impossível apreender todos os seus sentidos.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

AMANHECER

Hoje às 4:30hs já estava tomando café na varanda. Ver e ouvir o amanhecer para mim é como uma sinfonia em homenagem à vida. Parece que vou me abrindo junto com o dia, vou me expandido junto com as primeiras cores.
Acendo as pequenas lâmpadas coloridas do jardim e as plantas flutuam, féericas, dentro do escuro, abaixo da varanda.
Bebo o silêncio entre as ondas do mar junto o café.
E a luz se alarga e pronto , já amanheceu.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

NOTÍCIAS DO CÉU E DO JARDIM

Hoje as gaivotas decidiram apresentar uma nova dança. Sentada no jardim olhei para o céu e a coreografia das dezenas de gaivotas era lindíssima. Como quando era criança eu pensei: estão dançando para mim.
Orquídeas novas abriram seus botões. As roseiras também florescem. E os jabutis passeiam e namoram por todo o jardim. Passarinhos semeiam os canteiros  de cantos, são poemas sonoros.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

CARNAVAL

Tentarei envolver a casa em alguma tranquilidade no carnaval. Preciso de silêncio como de ar e o carnaval aqui é avassalador, mas este ano não consegui fugir para a montanha.
Aqui levamos uma vida muito simples. Cozinho eu mesma todos os dias (quando não estou viajando), faço pão em casa, às vezes cozinho no fogão de lenha, como fiz ontem, já que a temperatura estava muito agradável.. O mar é presença absoluta, sua música corre em minhas veias. O fogo e o mar se entrelaçam dentro de mim enquanto cozinho. Leio, contemplo, medito, escrevo (pouco). O carnaval com sua multidão , música a toda altura, estilhaça a paz da casa.  Sobreviverei lendo.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

DUAS AMIGAS

Recebo a quarta edição do livro Duas Amigas, pela ed. Paulus. Texto antiquíssimo e com uma grande carga emotiva. Pois fala de amizade, separação, reencontro. Edmir Perrotti, quando recebeu o texto, me enviou uma linda carta que está na quarta capa. Até hoje sua carta me emociona.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA COM BILL GATES

Ontem assisti a uma entrevista com Bill Gates, o segundo homem mais rico do mundo e fiquei muito comovida e impactada. Ele vai doar toda a sua fortuna em vida investindo seu dinheiro em causas lindíssimas: a erradicação da poliomielite no mundo , em lugares onde ainda persiste: India, África, Afganistão. Em programas contra a fome, inclusive tem uma parceria com a Embrapa para a fabricação de sementes que irão para a África. Em educação. Todos os projetos estão em andamento. Ele usa a tecnologia para não deixar que o que é enviado , vacinas, comida, dinheiro, seja desviado.
Ao ser perguntado sobre como o Brasil que já avançou tanto poderia melhorar, ele respondeu que a educação no Brasil é um copo cheio apenas pela metade. Enquanto não tivermos ESCOLAS PÚBLICAS maravilhosas para todos, continuaremos patinando, em franca defasagem com países do Oriente que estão muito na nossa frente.
É chocante a clareza das suas idéias se confrontada com a hesitação das nossas políticas educacionais. É chocante o seu envolvimento com causas para melhorar o mundo, comparado com o descaso, o deboche , a incompetência dos nossos políticos que só sabem trabalhar em causa própria, maquinando seu enriquecimento pessoal , movendo as peças com notável cinismo no tabuleiro do poder (as exceções são poucas ).
Bill  Gates se diz um otimista impaciente. Ele nos dá uma aula de humanidade.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

FELICIDADE

A sensação de felicidade é muito pessoal. Difícil definir. Um instante em que nos sentimos latejando de vida, plenos, em que nossa existência faz sentido, em que nos misturamos com a existência do universo. Em que somos nós mesmos .  Nossa sociedade de consunmo ao inventar novos desejos a cada minuto, necessidades que não existem, cria uma sensação de falta. Mas a falta faz parte do que somos: humanos. E não podemos suprir nosso desejo de imortalidade com coisas. A música do mar, um cheiro, uma árvore florida, uma voz amada, uma carícia, por algum tempo nos completa. E nos intervalos? Quando a consciência do mundo é uma faca enterrada em nossas gargantas? Tentar fazer algo por alguém sempre acrescenta, nos devolve a plenitude.

Hoje recebo de presente o lindo poema da Cecília Meireles:

Encomenda


Desejo uma fotografia

como esta — o senhor vê? — como esta:

em que para sempre me ria

como um vestido de eterna festa.


Como tenho a testa sombria,

derrame luz na minha testa.

Deixe esta ruga, que me empresta

um certo ar de sabedoria.


Não meta fundos de floresta

nem de arbitrária fantasia...

Não... Neste espaço que ainda resta,

ponha uma cadeira vazia.

  

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

COTIDIANO

Estou lendo um livro muito interessante: O PODER DO HÁBITO de Charles Duhigg, ed. Objetiva e recebo hoje um artigo do jornal Estado de São Paulo falando coisas bem parecidas. O cérebro economiza. Quando fazemos algo pela primeira vez nossa mente está atenta e vivencia tudo com muita atenção. Quando o que fazemos já é um hábito, o cérebro já sabe e economiza, entra no automático e não precisamos mais de atenção. Logo , a experiência do que estamos fazendo não é vivida. Um dos antídotos é fazer sempre coisas novas, outra é colocar uma atenção especial e extrema no que estamos fazendo e a meditação ajuda . A poesia ajuda. Ela subverte a linguagem e nos faz pensar diferente.
Retirar a névoa espessa do hábito que nos impede de ver como se fosse pela primeira vez, é o grande segredo.

Recebo um lindo postal dos meus amigos virtuais japoneses Kats e Yuki: a montanha de Iwate que o poeta Takuboku Ishikawa contemplava. Já publiquei um poema seu aqui no blog mas repito:

Fumaça que se desfaz no céu azul
fumaça que se desfaz melancolicamente
meu espelho

Hoje fiz meditação na praia . Deixei que a sinfonia imensa do mar ocupasse todo o meu corpo por dentro, inundasse o meu coração.