quinta-feira, 26 de março de 2015

A VIAGEM

A minha viagem rumo à montanha começou no dia 17 quando o Dr. Schettino, que operou a minha coluna disse que sim, eu poderia viajar. Perguntei se podia dançar e ele disse : _Valsa!
Dia 18 eu e Monica fomos para Resende. Era uma quarta-feira. Eu e meu neto enlouquecemos de felicidade! A Atrium, Escola de Música, já estava a mil por hora quando chegamos. A família toda almoçou no Babel Bistrô, do meu filho Chef e passei a tarde com a Gabriela, a outra neta. Gabriela tem um ano e quatro meses e fala uma lingua bem complicada, mas lá no meio a gente entende uma frase inteira.
Passei 24 horas em Mauá com a Monica. Chegar na minha casinha depois de cinco meses de ausência foi uma emoção avassaladora . Era fim de tarde. Quando acabamos de arrumar tudo nos sentamos na varanda e já era noite e chovia. Abrimos um vinho. A vida era simples. A mata, escura e respirando em nosso corpo.
Dia 21 a Atrium, em Resende, recebeu umas 120 pessoas para o lançamento do livro da minha nora Patricia de Arias, "Uma Ideia no Bolso", ed. Rovelle, e um café da manhã. Monica foi a fotógrafa oficial. Houve uma contação de história, as crianças emudecidas de tanta atenção. O espaço lindíssimo que é o da aula de teatro e musicalização, abarrotado. Eu era a pessoa que mostrava o livro e passava as páginas para a Contadora de Histórias.
Então voltei para a montanha. Monica foi rever amigos em outro lugar. E as primeiras 24 horas, quando então voltei para Resende, nem notaram que houve uma interrupção.
No domingo recebi minha amiga Leila. Nosso projeto era dedicar bastante tempo para a meditação.
E foi o que fizemos. Meditamos juntas várias vezes ao dia. Fogão de lenha aceso, frio e neblina, tudo o que eu desejei ardentemente durante os cinco meses em que não pude vir.
Na minha casinha nem o celular recebe sinal. Para telefonar tenho que andar até o Babel Restaurante.
Ontem viemos para Maringá-Rio passar o dia com a minha irmã Evelyn em seu belíssimo, estonteante Ateliê de cerâmica , o Ateliê Kligerman-Mérigo.
Eu e Leila dormimos na Pousadinha Cruzeiro do Sul, atrás do ateliê, pois aqui não há lugar para dormir. A Pousada é de uma simplicidade que emociona. Parece um quadro naif, os jardins tão bem cuidados, os cheiros de frutas no pé, de grama cortada, de terra densa , bem preta, me deixam em êxtase.
Ontem almoçamos no Restaurante Trem de Minas, comidinha caseira, deliciosa, bem de roça. Hoje voltaremos ao restaurante e uma amiga querida virá ao nosso encontro.
Depois do almoço subo para a casinha e os laços com o mundo se cortarão outra vez. Desaparecerei um pouquinho outra vez.

segunda-feira, 16 de março de 2015

MALAS NA VARANDA

Acordei para viajar. A felicidade pessoal é como uma orquídea , há que saber cuidar. Com palavras, gestos e principalmente há que alimentá-la com o olhar. A felicidade é o vento bom que nos inunda quando sabemos viver as pequenas coisas com intensidade, pois tudo passa como um sopro. A felicidade não depende de grandes aparatos, grandes arquiteturas e engenharias. E é possível separar a felicidade pessoal da dor do mundo, a que carregamos com esforço.
Acordei para viajar e o céu estava maravilhoso. Escrevo quando puder.Não se esqueçam de mim!

domingo, 15 de março de 2015

MANUAL DA DELICADEZA

A ed. FTD fez uma edição nova do meu livro Manual da Delicadeza. São as mesmas ilustrações da Elvira Vigna, mas o formato é diferente. Antes era um livro comprido e agora é um livro pequeno. O tamanho do livro mudou a minha percepção das ilustrações. O livro diminuiu e elas cresceram muito. E os poemas cresceram junto.

A nossa sociedade hoje está crispada, tensa, violenta. Nada delicada. O século XXI é duro, com guerras por intolerância religiosa. Jovens desertam de suas vidas, de seus países, para ingressar em movimentos terroristas que matam da maneira mais cruel, destroem, nos levam para as ruelas inundadas de sangue da antiguidade.

Há uma falta generalizada de delicadeza. E ela é o exercício mais necessário para que possamos exercer a nossa precária humanidade que se inaugura quando me reconheço no outro mesmo que ele seja diferente.
A intolerância e a brutalidade tornam a vida áspera.
Uma parte do país foi para as ruas defender o Governo e felizmente tudo aconteceu em paz. Hoje outra parte sairá para protestar e esperemos que tudo ocorra em paz. Todos, cada um de nós, tem o direito de pensar de uma maneira ou de outra. Sem bombas ou destruição.

MOINHO

São as águas
da delicadeza
que movem o mundo.

Uma palavra amorosa,
um gesto,
uma carícia,
fazem a Terra
mais azul
e mais leve,
trazem à pele
a memória mais antiga:

Também somos um grão
de estrela e de infinito.

sábado, 14 de março de 2015

UM CAMINHO NO OUTONO

Levo comigo um pequeno livro do Kafka , uma espécie de diário, onde anotava seus pensamentos,indagações, discussões sobre o pecado, o bem e o mal. Muitas vezes são páginas lindíssimas, fazem o coração disparar. Às vezes uma pequena frase e me desprendo de mim e voo. "Cuadernos en Octavo", não sei se existe em português. 
No dia 6 de novembro de 1917 ele escreve:" Como um caminho no outono: acabam de limpá-lo e já está outra vez coberto de folhas secas". Logo em seguida escreve: " Uma jaula foi em busca de um pássaro."
Estas duas frases me inquietam. Porque a vida é este caminho coberto de folhas secas que uma e outra e outra vez temos que limpar, nas tarefas miúdas do cotidiano e só quando a vida corre perigo, vemos a beleza deste gesto que se repete desde o começo do mundo. Além disso, um caminho coberto de folhas secas no outono enche meus olhos de dourado e a sensação dos pés que fazem música pisando nas folhas que estalam,  fazem  meu corpo se fundir com a terra.
E "uma jaula foi em busca de um pássaro", além de uma pintura me fala sobre o nosso desejo de conforto,m de aprisionamento, de um vestir-se de clichês, frases feitas, porque a verdadeira liberdade dói. Porque o céu é demasiadamente imenso e quando livres temos a perfeita dimensão da nossa insignificância. 

sexta-feira, 13 de março de 2015

HONRA

Acho que recebo de Saquarema muito mais do que mereço, sem estar fazendo demagogia ou dizendo isso para que vocês respondam aquilo. Mas ontem fui incluída pela Secretaria de Educação e Cultura entre as 14 pessoas homenageadas porque fizeram e fazem parte da história de Saquarema.
Eu simplesmente existo aqui, quietinha no meu canto. Tento fazer algo pela leitura nas escolas, porque tendo participado de tantos projetos de leitura acabei aprendendo alguma coisa sobre a formação do leitor.E é o mínimo que posso fazer.
É uma honra muito grande você ficar sabendo que faz alguma diferença na sua cidade. E ao dizer isso para o Nelsinho, pintor e figura maravilhosa ontem à noite, que tanta gente merecia mais do que eu estar ali, ele me disse a frase mais linda: _ mas você está aqui, entre a gente, escolheu estar aqui.  
Entre os que já não vivem na Terra, meu grande amigo Latuf, que foi embora me deixando órfã de uma das mais belas amizades que já vivi, estava entre os escolhidos. Ele era mais velho do que eu, mas ele dizia, eu era a sua idiche mami. Com bolo e café com leite para a merenda.
Minha amiga Fátima Alves, por exemplo, constrói uma história tão bela aqui no Município, com o seu Educandário do Bem. Silenciosamente ela transforma a vida de muitas crianças e jovens. Ela oferece Oficinas de Capoeira, Rodas de Leitura, Dança, Percussão e ainda outras, que são fruto de parcerias. Funciona no contra turno escolar, apenas para quem está matriculado em Escolas Públicas. São mais de cem crianças, todos os dias! E com lanche e numa casa linda que transborda amor.
Fátima não faz alarde do seu trabalho E precisa muito de colaboração. Tem gente que se oferece para cortar o cabelo das crianças, para pintar a casa, consertar, remendar. Tem gente que contribui com pequenos valores mensais que ajudam a pagar as contas de água e luz.
É emocionante alguém fazer um trabalho tão imenso e que dá tanto trabalho, apenas para fazer um bem!
Quem quiser colaborar com a sua gotinha de chuva que ao se somar com outras gotinhas e receber um raio de sol, farão o mais belo arco-íris, deixo aqui o telefone e o endereço do Educandário do Bem.
Tele: 22 26532501
Endereço: Rua Cananéia número 02 (final da Rua Pereira), Bairro da Raia, Bacaxá, Saquarema.
E agradeço aos que me escolheram para estar entre as pessoas que fazem a História de Saquarema, tamanha honra.

quinta-feira, 12 de março de 2015

LANÇAMENTO

Estou quase de malas prontas. Farei uma viagem cheia de surpresas. Primeiro vou para a casa da Monica no Rio, onde uma braçada de afetos me espera. Pipoca, sua linda viralatinha, já mandou dizer que está com saudades. Urso e Polar também. Além da minha amiga tem a sua netinha, filha da Louise, que adotei em meu coração, tem a Letícia, o Bruno, A Dôra que faz comidas maravilhosas... é muita gente amada. Depois de alguns médicos e a algumas visitas, sigo para Resende levando a minha amiga junto.
E lá em Resende, filhos, noras e meu neto Luis e minha neta Gabriela.
Gabriela, com um ano e quatro meses falou a sua primeira frase: "neném quer papar", sendo filha de dois cozinheiros...
Meu neto Luis, como mora dentro de uma escola de música e artes, faz todos os cursos para a sua idade. E agora também faz aulas de hiphop e está amando.
Viver longe dos netos é um suplício. Cada vez que nos encontramos eles já mudaram demais.
Sábado dia 21 minha nora Patrícia de Arias lança seu terceiro livro , Uma Ideia no Bolso, com ilustrações de Elizabeth Teixeira , ed. Rovelle. O livro é uma graça. O lançamento será no casarão da Atrium  Escola de Música, no Centro Histórico de Resende, Será um Café da Manhã com contação de histórias. Estarei lá, super orgulhosa da minha nora, excelente poeta. Sou sua tradutora e se alguém quiser conhecer a Patrícia, estar um pouco comigo, que venha!
E depois... Mauá, minha casinha na Mantiqueira. Mergulhar na mata.

quarta-feira, 11 de março de 2015

GRITO DE GUERRA

O Brasil anda em pé de guerra. O momento é muito delicado. Escuto gritos de guerra e gostaria de me posicionar. Porque um político disse que era preciso dar porrada nos burgueses. Um ex Presidente diz que é preciso botar o exército dos Sem Terra nas ruas.
Tenho amigos de todas as idades e de todas as cores. De todas as camadas sociais. Da Classe A a Classe Z. E de todos os matizes políticos . Pois entendo que qualquer ser humano, desde que respeite o seu semelhante tem direito de pensar do jeito que quiser. Tenho 64 anos, brasileira, profissão poeta, branca, burguesa, de elite. Já que tenho casa própria, seguro de saúde e posso comer e viajar. Não sou consumista por filosofia de vida. Prefiro usar o que ganho para ajudar quem posso. Na nossa casa empregamos um casal. Ele é diarista, jardineiro e vem duas vezes por semana. Samuel, um ser humano maravilhoso. Ela é a nossa caseira,Vanda. Trabalha meio expediente, mas ganha mais que o salário mínimo. Além dos encargos, todos os meses deposito seu FGTS. Nossos empregados comem na mesa com a gente e trabalhamos num esquema de cooperação.  Sofremos, eu e meu marido, de empatia crônica. Todos que nos conhecem sabem disso.
Mas como sou branca, burguesa e de elite, e discordo completamente do Governo em ação e do seu tom belicoso e estridente, mereço levar porrada. 
Sou pacifista. Prego o entendimento. A delicadeza em todas as esferas. Claro que eu seria hipócrita se dissesse que falamos a verdade o tempo todo. Mas há limites para a mentira e para o engano.
Não gosto deste clima de guerra e de ver  quem não pensa como eu como um inimigo a ser exterminado. Tenho horror, por motivos genéticos, da palavra extermínio.

terça-feira, 10 de março de 2015

O AMOR É VERMELHO

Ganhei de presente o livro O Amor é Vermelho, da poeta Suzana Vargas com fotografias belíssimas de Antonio Lacerda, ed. Garamond.
Para a poeta o amor é vermelho, é sangue, pele, corpo. Às vezes é áspero,  e o outro inalcançável. Às vezes é pedra, sombra, numa poesia de arquitetura perfeita, numa trama espessa.

COMO SEMPRE
Na minha estrada há sempre um trem partindo:
trilhos, acenos, lenços,
lembranças me esmagando, muitos sóis.

Há sempre um ocaso ameaçando
as fotos novas que prego
em meus murais.

Tu és mais um adeus
neste caminho
que acomete diamantes,ouro
tardes tardes e mais sol
enquanto eu passeio muda
                                pelas sombras.

segunda-feira, 9 de março de 2015

MORTE EM VENEZA

No último encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela discutimos dois livros que se entrelaçam e são opostos. Marca D'Água de Joseph Brodsky é um mergulho do olhar na beleza, não uma busca pela beleza, pois simplesmente ela está em tudo e o poeta e suas entranhas navegam sem tensão.
Se Marca D'Água se passa no inverno, Morte em Veneza de Thomas Mann se passa no verão, num calor que tudo apodrece, até mesmo o mundo interno tão bem construído do personagem escritor.
Falamos das premonições, Cristiano lembrou que se em Marca D'Água o poeta é o narrador e personagem, em Morte em Veneza temos o narrador separado do personagem.
A busca pela beleza em sua escrita, em sua vida, é cheia de tensão, o escritor nunca relaxa, ele não é um poeta que mergulha  que se deixa perder, mas um caçador. Disciplinado, atento e tenso. Sua vida até então é uma arquitetura muito bem construída que começa a ruir já na escolha do seu destino, quando o destino se impõe. E rui definitivamente quando encontra Tadzio, o menino de beleza deslumbrante.
Fernando pergunta: " a sua paixão por Tadzio é homossexual ou apenas a busca da beleza perfeita"?
Todos achamos que é uma mistura das duas coisas. Maria Clara fala do mito de Narciso. E diz que o amor homossexual é narcísico, o que gerou muita discussão.
Cristiano trouxe dados concretos da vida de Thomas Mann.
E falamos do contraste entre a "velhice" do escritor e a extrema juventude de Tadzio, apenas um menino. E como tudo se soma para desembocar na morte.
Falamos muito. É um livro muito rico. Magnificamente estruturado.
Discutir dois livros tão belos dá fome. Um almoço maravilhoso preparado pela Vanda, nossa caseira, vinho e pão feito em casa (por mim). E no final uma homenagem aos que fizeram ou fariam aniversário. Na verdade, Suzana e Leila, mas muitos também quiseram a homenagem e foi divertido. Cantamos parabéns, e já somos uma família.
Próximo encontro: dia 16 de maio às 11hs
Livros: As Cidades Invisíveis, Italo Calvino, alguma crônica do Rubem Braga e um poema da Elizabeth Bishop.

  

 

domingo, 8 de março de 2015

ENCONTRO



Ontem aconteceu o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Recebemos uma convidada muito especial: Suzana Vargas, poeta, criadora do espaço Estação das Letras no Rio de Janeiro.E Cristiano Mota Mendes, músico, ator, diretor de teatro, leitor extraordinário, que de vez em quando aparece.
O grupo é bastante heterogêneo, o que torna a leitura de um livro extremamente rica, são tantos olhares diferentes .
Começamos com Marca D’Água de Joseph Brodsky, que nos leva com seus olhos de poeta por uma Veneza no inverno, que eu achava em preto e branco, mas Maria Clara me chamou a atenção para os dourados delicadíssimos na luz do inverno. Maria Clara também nos diz que pelo fato de ter voltado a Veneza 17 vezes, a intimidade do poeta com os labirintos venezianos o torna quase um ser aquático.
Adelaide, Janaína, César e Maria Clara comentaram sobre a dificuldade de entrar no livro e eu diria que há que atravessar o primeiro nevoeiro, pois não é um romance, não é um livro de poemas. É uma divagação, um quase sonho. Hélio diz que é uma prosa poética e romântica.
Juan falou sobre dois momentos do livro que também aconteceram com ele em viagens a Veneza. Juan é, como Brodsky, um amante de Veneza, de tal maneira, que Felipe Gonzalez, quando estava no poder, lhe ofereceu o cargo de Cônsul Honorário O passeio de gôndola por uma Veneza desconhecida onde o gondoleiro pediu que se deitasse no fundo do barco e o encontro com a viúva de Ezra Pound.
No livro Brodsky faz um passeio impressionante de gôndola à noite.
Leila nos diz que fez um passeio de gôndola bem turístico, mas completamente emocionante. Ela encontrou a paz, e também um novo olhar sobre a cidade.
Ninguém conhece a origem das gôndolas, diz Juan, e Chico conta das gôndolas em Las Vegas, para mim, algo completamente estranho. Como uma baleia num aquário. Juan completa: ao conhecer uma fábrica de gôndolas em Veneza, lhe contam que os maiores compradores são americanos.
Angela e Helio leram trechos belíssimos.
Todos falamos sobre a beleza que o olho encontra naturalmente em cada lugar que pousa. Assim também a escrita de Brodsky, maravilhosa.
Falamos dos espelhos e da água.
Da água calma e lacustre e então passamos para o mar, para Veneza no verão, para Morte em Veneza.
Continuo amanhã a nossa viagem.

quinta-feira, 5 de março de 2015

CINEMA

Já que em Saquarema não temos cinema, vou vendo os filmes que caem nas minhas mãos. Muitas vezes pesco filmes maravilhosos na TV fechada. Ontem vi London River, a história de uma mulher que vive numa ilha britânica e de um guarda  florestal africano que trabalha na França. Seus destinos se cruzam na busca pelos filhos desaparecidos. O filme é belíssimo, perfeito e muito muito muito triste. 
Uma amiga me manda uma mensagem: "por favor, veja A Cem Passos de Um Sonho" . Vai amar".
Comento com a minha irmã e ela disse que viu e tem o filme e me envia por correio.
Adorei o filme, é uma graça. Amor e gastronomia. Culinária francesa e indiana. Atores maravilhos, muito humor e final feliz. Pronto, uma receita maravilhosa. Vi duas vezes.
Os sabores são uma das melhores chaves para abrir o castelo da memória.

quarta-feira, 4 de março de 2015

SOLUÇÃO

Vocês sabem aquelas bicicletas cobertas , fechadas, lá dos países do Oriente, conduzidas por alguém que pedala?
Pois bem, vi uma reportagem mostrando a mesma condução, mas ao invés de alguém pedalando aquele peso tão grande, a "bicicleta" era elétrica.Cabem três pessoas. E ela salvaria o mundo, as grandes cidades. Sonho: poderia funcionar com energia solar. Já se poderia estar fabricando este veículo aos milhões.
E os carros seriam coisa do passado. Caros, pesadíssimos, poluentes.Atravancadores.
Imagino além: estas "bicicletas" coloridas, bem coloridas, as ruas pareceriam um eterno arco-iris.
E quem adivinha porque isso não é possível?
Porque o mundo anda na contramão do mundo. E não há quem consiga financiar este projeto que colocaria um ponto final nas indústrias de carros, na dependência que temos do petróleo, etc.

Escrevo na varanda.  Escrevo voltada para o jardim. O dia está absolutamente azul.  Os coqueiros dançam. No flamboaiã não há mais flores mas a árvore está cheia, gorda de folhas de um verde macio. E o mar canta nas minhas costas.

terça-feira, 3 de março de 2015

POÇO DOS DESEJOS

Para escrever os poemas do meu livro Poço dos Desejos, ed. Moderna, fiz uma lista de desejos. Perguntava para as pessoas: _Qual o seu maior desejo?
Mas pensando bem, tão importante quanto saber o que desejamos é saber o que não desejamos.
Tenho uma lista do que não desejo. Difícil administrar isso, pois às vezes é necessário dizer não.
Dizer não às vezes é muito importante.
Que cada um um de nós saiba claramente o que deseja. E saiba dizer sim e não na hora necessária.
Mas há um desejo que nunca passa :

DESEJO DE ABRAÇO
Desejo de abraço
nunca passa.
Abraço é o nó mais delicado
que há.
Um braço aqui e outro lá
e o coração se derrete,
o corpo afunda na mais
gigantesca felicidade.

in Poço dos Desejos, ed. Moderna

  
 

segunda-feira, 2 de março de 2015

RECUPERAÇÃO

Hoje faz um mês que fiz uma grande cirurgia na coluna, quando apenas três meses e meio antes havia feito uma grande cirurgia no quadril.
Com apenas um mês já faço quase tudo e não tenho dor. Já assumi a cozinha da casa. Eu sou a cozinheira.
Eu já não tinha a memória de um tempo sem dor.
Agora tenho vontade de dançar.
Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Para o milagre, dois grandes cirurgiões, claro,e uma grande amiga, Monica Botkay, que entrou novamente na minha vida para me conduzir a este final feliz. Mas foi preciso que eu chegasse ao mais fundo do poço.
Voltei para casa muito fragilizada e agora faço meditação novamente com a supervisão de uma terapeuta de meditação healling. Como moro longe, a supervisão é feita por whatsup, usando a tecnologia como suporte.
Aconselho meditação como um remédio muito eficaz. É impressionante como está sendo fundamental na minha reconstrução..
Quando uma pessoa tem dor contínua por vinte anos, diariamente, a dor pauta a sua vida.
Há que aprender a não buscar a dor.
Faço planos, mergulho de cabeça nos meus projetos.
Em breve poderei ir para a montanha. A minha casinha dentro da mata me espera. Onde escrevi o Diário da Montanha.
Numa das meditações que fiz ontem, uma imagem lindíssima: ao fazer contato com o coronário (o lugar onde fica a moleira do bebê) um baobá irrompia de dentro de mim rumo ao céu. Suas raízes eram a minha coluna. Nunca tive dúvidas de que sou humana-árvore. Tem gente que é. Mas com esta linda imagem que meu inconsciente me enviou, fica provado. Só não sabia que eu era um baobá.

domingo, 1 de março de 2015

NA COZINHA

Ratos e baratas, para mim, são monstros. Odeio e dou chilique. Mas, convenhamos , a cozinha deveria ser o último lugar onde estes "monstros" deveriam viver.
Pois bem, li uma matéria ontem de William Helal Filho, que me deixou estarrecida. Uma matéria bem pequena mas que demonstra muito concretamente a falência moral de um país.
Restaurantes e Botequins na Gávea e Leblon, os bairros mais caros do Rio de Janeiro, com ratos e baratas na cozinha, TONELADAS de alimentos estragados, restaurante japonês com quilos de salmão fora do gelo, carne apodrecendo numa hamburgueria famosa... e nós , simples e crédulos mortais, acreditando nos donos destes restaurantes. Pois o princípio de tudo é a confiança. Se vou comer num lugar caro, num bairro nobre, para festejar com amigos, para festejar um aniversário, digamos, eu confio que a cozinha estará limpa, que os cozinheiros tenham muito orgulho do seu trabalho, etc, etc, a matéria prima de primeiríssima qualidade!
Quando o dono do restaurante, em plena consciência, convive com ratos, baratas e alimentos podres, a sua moral também apodreceu. Ele traiu um pacto entre o que cobra e o que oferece. Está enganando, roubando.
Os nomes dos estabelecimentos estão no O Globo de ontem.
Que cada um de nós se proteja e não se deixe contaminar por toda esta onda de lama que assola o país. Que cada um permaneça limpo e ofereça o melhor que tem dentro , o melhor do seu talento, dos seus esforços. É o que nos confere dignidade.
Se cada um de nós fizer o que sabe fazer da maneira mais bela possível, sem enganar, trair, roubar, ainda podemos salvar o país.