quinta-feira, 27 de outubro de 2016

VINTE E SETE PROFESSORAS DE ITABORAÍ (BASTIDORES)

Receber vinte e sete professoras para o Café, Pão e Texto, é tarefa maravilhosa. Há toda uma preparação prévia. Encomendo o empadão de legumes alguns dias antes da Liliam, filha da Vanda, a minha caseira. Samuel vai buscar o empadão de bicicleta.
Acordo muito cedo para fazer o pão. Quero que saia do forno às 8.30 h, para que comam o pão quentinho. Hoje ralei tomate para passar no pão, receita espanhola, muito simples: rala-se o tomate no lado grosso com casca e tudo. A casca fica inteira na mão da gente, e então, a gente põe azeite e sal.
Bolos e café com leite, sucos também. Ah, a toalha mais linda, que comprei em Olinda com Joana Cavalcânti e Conceição Cavalcânti, num domingo inesquecível.
Separo os livros .Estão ao alcance da mão. Mas nunca tenho um roteiro prévio. Tudo vai se desenrolando naturalmente. Vou puxando o fio da meada.
Todo mundo quer fotos. Todo mundo quer abraços. Todo mundo quer carinho e autógrafos.
Falamos poesia, falamos vida. O que podemos fazer, o que está ao nosso alcance.
E assim, juntando um poema no outro, um desejo de mudança no outro, uma inquietação na outra, um assombro no outro, o tempo escorre das nossas mãos e já fica um gosto de sabor indefinido, uma certa nostalgia : saudade.    

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

OUTRA VEZ A MALA ABERTA

Fui ao Recife e voltei. Foi tudo tão maravilhoso que parece que foi um sonho bom. Dois eventos que tiraram a Terra de sua órbita sossegada e a emoção era tanta que não podia nem dormir à noite. Joana Cavalcânti criou uma atmosfera real e onírica ao mesmo tempo. Eu e William Amorim inauguramos a série de Saraus da Editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco e inauguramos a Casa Azul, simbolicamente na Livraria Cultura, que logo começará a funcionar em sua sede. Será um Centro irradiador de literatura e arte.
Mas já estou novamente com a mala aberta. Sexta-feira bem cedo vou para Visconde de Mauá, para a minha casinha da montanha.
Dentro da mala levo uma tonelada de saudades da família. Faz muito tempo que não nos vemos. A viagem é muito longa, pois não se trata apenas de estradas. Mas é preciso passar de uma dimensão para outra. De uma atmosfera para outra. De um perfume de algas para os cheiros magníficos da montanha.
Gosto mais do que tudo do cheiro da terra quando a chuva cai. E do cheiro da lenha quando acendo o fogão e inunda a casa. Gosto do cheiro da manhã e da noite. Gosto do breu da noite.
Quando vou subindo a serra uma alegria selvagem começa a me inundar.
Tudo isso eu já sei ao olhar para a mala aberta.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

NORDESTE

Parece que os ventos estão me levando para o Nordeste. Amanhã vou para o Recife fazer dois eventos que me enchem de alegria: Um encontro com professores dia 21 na Fundaj e o Sarau Residência no Ar, a primeira apresentação do meu livro Delírios, que será feita por William Amorim, escritor e psicanalista de S.Luis, na Livraria Cultura Paço Alfândega. O Sarau é a inauguração da Casa Azul de Joana Cavalcânti, um espaço de arte e sonhos.
Esse nome Paço Alfândega é lindo e mexe com a minha memória:
Quando eu era criança, meu pai muitas vezes me levava até o porto, na Praça XV, ou para se despedir de alguém ou para receber alguém. Naquela época as pessoas vinham de outros países de navio e tinham, claro, que passar pela alfândega. Uma parada obrigatória.
Eu era fascinada com um homem gordo, que ficava sentado atrás de uma mesa com uma tabuleta onde se lia POLIGLOTA.
Eu o imaginava falando todas as línguas do mundo e jamais o esqueci.

 Deve ser por isso que meu gato se chama Babel, que o restaurante do meu filho se chama Babel. Adoro uma mistura de línguas!!!

terça-feira, 18 de outubro de 2016

CAFÉ, PÃO E TEXTO

Recebi a E.M.Natércia Rodrigues Rocha, de Itaboraí, para o penúltimo Café, Pão e Texto do ano, pelas mão das professoras Élida, Raquel, Eveline, Geruza e Carmem Valéria.
Vieram crianças de várias séries misturadas e deu muito certo! As dinâmicas com os poemas saíram lindas, as crianças eram vivas, maravilhosas.
Conversamos sobre muitas coisas, sérias e engraçadas.
Com meu livro Colo de Avó, muitos falaram da sua avó e do que ela gostava de fazer. O amor que sentem pela avó transborda. Uma disse que a avó gostava de costurar e li o poema Máquina de Costura. Foi lindo ver como o poema se encaixava na sua avó.
Foi lindo ver como dando linha, a pipa da imaginação deles vai muito longe na apreensão do poema.
As professoras eram tão amorosas, o encontro foi tão bom, as crianças nunca querendo ir embora, que agora estou em pleno voo.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

CACHOEIRA; BAHIA; FLIQUINHA

Poucas cidades me impactaram tanto quanto Cachoeira na Bahia. Já do aeroporto até lá, o verde enche nossos olhos. Assim é o Recôncavo, diz o motorista que me buscou em Salvador. Passei por dentro de Santo Amaro. Ao chegar na cidade, já a Pousada, dentro de um antigo convento, dá vontade de chorar de tanta beleza. O casarão de 1765 impressiona.
Saí andando e o casario e o rebuliço de gente me deixou extasiada.
A Flica e a Fliquinha fazem a Festa Literária mais bonita do mundo. Gente se apresentando na escadaria da Igreja, o Projeto ler na Praça com centenas e centenas de livros para quem quiser ler, seu Museu do Cinema, uma preciosidade, com Roque Araújo, que foi câmera de todos os filmes de Glaber Rocha, memória viva do cinema brasileiro, que atende cada pessoa como se fosse única, as barracas vendendo livros e comidinhas, a casa poesia do poeta Damário da Cruz, que já se foi para as estrelas, mas deixou sua poesia inscrita em Cachoeira.
A cultura negra corre forte junto com o rio Paraguassú e infelizmente não tive tempo de visitar nenhum quilombo. A Flica levou grandes nomes. A Fliquinha era uma alegria só. E havia povo na rua. Uma festa nada elitista: para todos.
Minhas duas apresentações foram lindas. Com as crianças, e a plateia estava lotada, num espaço maravilhoso, dentro do cinema. À noite, com os adultos, houve um entrelaçamento de magias. Passamos o vídeo Visita à Casa Amarela, do Caó Cruz Alves, que está no meu site e depois fui falando meus poemas, contando a construção de cada livro e ninguém queria ir embora. Um jovem que veio de longe falou seu poema que era a síntese perfeita de tudo o que havia acontecido.
Para o meu livro Abecedário (Poético) de Frutas pedi que me dessem alguma memória afetiva de uma fruta da infância. Muitos me contaram e um dos que havia falado, de repente me deu um pote de tamarindo cristalizado sem saber que tamarindo era a fruta querida da minha infância, já que eu andava pela Alameda Engenheiro Richard no bairro do Grajaú, apaixonada pelas árvores de tamarindo e suas frutinhas que catava no chão. Como ele poderia saber?  Pura poesia.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

FLIQUINHA

Amanhã vou para Cachoeira, na Bahia, participar da Fliquinha, Feira de Livros. Terei dois encontros, um com o público infantil e outro com o adulto.
Estou feliz. A Bahia sempre me deixa feliz, aliás o Nordeste. Gosto do cheiro do vento de lá. Gosto do calor humano. Gosto da fala tão musical. Gosto da comida. Fiz amigos maravilhosos na Bahia e talvez encontre algum por lá. Caó, desenhista, cartunista, cineasta, talvez apareça num pé de vento, se tiver carona, pois mora em Salvador. Vamos passar o seu documentário, Visita à Casa Amarela. Malena, que mora em Feira, disse que ia. Malena tem um projeto maravilhoso  de leitura em  Feira de Santana. Vai faltar Verbena, mulher com jeito de flor, minha grande amiga irmã, que está na Espanha.
Sou africana por dentro e a Bahia, pra mim, é um pedaço da África. Infelizmente não vou poder ficar mais tempo pois na sequencia vou pro Recife, quase o tempo de chegar em casa, tomar um banho e trocar de roupa...

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

E BOOKS


Agora estou focada nos meus e books. Sinto uma energia tão grande nesse projeto que parece que vou partir para uma grande viagem, rumo a um planeta desconhecido.
Não consigo publicar meus poemas dirigidos ao público, digamos, adulto. Nenhuma editora se interessa. Então resolvi publicar as minhas coletâneas em formato digital , sem nenhum lucro. Qualquer pessoa pode acessar gratuitamente.
Mas, para não perder a dignidade, mandei fazer 50 exemplares da coletânea DELÍRIOS,, numa edição artesanal, com técnica do século XVII, por Domingo Gonzáles, o que me provoca uma grande alegria. Imagino que poderiam ter sido produzidos na pequena gráfica onde trabalhava Natanael, maravilhoso personagem do livro Como a Água que Corre, da Marguetite Yourcenar, que lemos no Clube. E assim, apago as fronteiras do tempo, apago as fronteiras entre realidade e ficção.
O livro em papel ficou lindo. Mas a edição digital será maravilhosa também, com desenhos feitos em cerâmica pela minha irmã Evelyn Kligerman. Em dezembro estará accessível.
E então aconteceu  uma alegria inesperada, já que a vida é uma caixinha de música, mas ao contrário das caixinhas com a bailarina aprisionada para sempre nos mesmos acordes, a música nunca se repete:
Joana Cavalcânti me convidou para a inauguração da sua Casa Azul, em Recife. E aí vou apresentar meu livro novo, Delírios, com a voz do William Amorim, grande amigo, psicanalista e escritor, que fala poesia lindamente. Ele irá de São Luis ao Recife especialmente para isso e para dividirmos o palco na Fundaj, num evento lindo para professores .
Depois farei um lançamento do Delírios em Mauá, no Babel Restaurante do meu filho André Murray e então, quem sabe terei novamente a voz do William e a presença da Joana. Vou dando corda na minha caixinha. 


domingo, 9 de outubro de 2016

COMO A ÁGUA QUE CORRE

A CASA AMARELA

Essa casa tem cheiro
de algas,
de maré cheia,
de lua entornada.
Essa casa
é uma senhora
que me deixa
dormir
em suas madeiras,
na memória
dos dias acumulados.
Essa casa
tem gavetas
cheias de sol,
janelas e portas
abertas,
por onde entram
borboletas e amigos
cheios de sinos.
Essa casa me habita.

Os amigos vão chegando e enchendo a varanda, transformando o ar em alegria.
De dois em dois meses nos reunimos, o Clube de Leitura da Casa Amarela, para celebrar a literatura, que nos ajuda a viver, para celebrar a amizade e a vida.
Às vezes vem alguém de longe, como o Maximiniano, que veio de Salvador.
Alguns chegam do Rio, como Cristiano e Ana. André e Christiane moram em Niterói.
O livro Como a Água que Corre, da Marguerite Yourcenar, é uma obra prima. São três contos, sendo que o segundo, longo, é uma novela.
O primeiro conto, Ana Soror, fala de uma paixão imensa entre dois irmãos. Amor, desejo, interdição. Em pleno século XVI, numa atmosfera sufocante, de uma religiosidade doentia, que beira a alucinação, Marguerite constrói com poesia e uma maestria absoluta, esse belo , belíssimo relato, de onde saímos transtornados.Pouco a pouco, cada um trazendo a sua parte de leitura, como num mosaico, o conto vai se ampliando, crescendo, transbordando e muitas pessoas disseram que iriam reler o conto depois da discussão.
Um Homem Obscuro, nos traz um dos personagens mais belos da literatura, Natanael. Um homem do século XVII, absolutamente singular, pois a sua mente é atemporal e sua sensibilidade oceânica. Natanael nos contamina com sua bondade , simplicidade e beleza. Vivemos junto com ele os seus amores, a sua maneira de se relacionar com as pessoas, os animais, a sua aceitação sem preconceitos de tudo o que é humano.  Obscuro por excesso de luz?
Da relação de amor de Natanael com a prostituta Saraí nascerá Lázaro, com quem Natanael não conviveu. Mas Marguerite nos oferece a dádiva desse desdobramento de Natanael em Lázaro, no terceiro conto,  e então voamos , e não existe mais nenhuma fronteira entre a realidade e o sonho.
Lázaro é ator, faz papéis femininos, é um menino que vai se transmutando, de personagem em personagem, ele é toda a humanidade, e a morte puxa a carroça, a vida segue, como a água que corre.
Para terminar lemos belíssimos poemas de Murilo Mendes.
O almoço foi esplêndido, parecia que também estávamos na carroça com Lázaro e sua trupe, e logo ali, era a curva fora do tempo, onde a alegria é amarela.
O próximo encontro será dia 17 de dezembro e vamos ler Eça de Queiróz: A Relíquia e As Cidades e As Serras. Cada um deve trazer um poema do Fernando Pessoa.     

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

VISITA ESPECIAL

Amanhã é o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Receberemos uma visita muito especial Maximiniano , que faz sua tese sobre leitura, veio de Salvador para Saquarema apenas para participar do Clube.Ele estuda dinâmicas sensíveis de formação do leitor.
Tem vindo gente de longe. Nosso Clube já escapa e quando vejo atravessou o portão e brilha lá longe no horizonte.
É uma das minhas grandes fontes de alegria.
Este mês de outubro parece que quer me levar pelos ares até onde não sei, de tanta emoção.
Semana que vem vou para Cachoeira, na Bahia, onde faço um encontro com meus leitores no dia 14, na Fliquinha.
E dia 20 vou para o Recife, onde tenho duas atividades maravilhosas.
O meu  primeiro Café, Pão e Texto Itinerante, dia 21 na Fundaj, para os professores, às 18:30h e dia 22 o Sarau Residência no Ar, na Livraria Cultura, Paço Alfândega, representando a Casa Azul da Joana Cavalcânti.
William Amorim apresentará meus poemas do novo livro Delírios.
Alguns momentos são especialmente luminosos em nossas vidas. Este é um deles.  

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

ITABORAÍ

Amanhã será um grande dia: irei a Itaboraí com a Prica Mota, para a culminância de um projeto de leitura imenso e belo. Durante meses, mais de oitenta escolas de Itaboraí estão lendo meus poemas. Muitas escolas vieram até a minha casa participar do Projeto Café, Pão e Texto. Recebi professores absolutamente envolvidos com a leitura. Cada encontro foi mais maravilhoso que o outro.
Amanhã estarei com 250 crianças pela manhã e muitos professores à tarde.
O esforço para superar dificuldades, o entusiasmo, a arte e criatividade dessas professoras e professores me fazem acreditar que sim, se pode fazer uma educação que faça toda a diferença, baseada em leitura e arte.
Estou muito emocionada.Nem consigo imaginar que da minha mesa de trabalho a minha poesia escapa para invadir tantos corações.
Levarei minha neta espanhola Kira, que sábado voltará para Barcelona. Ela terá uma menina de 10 anos como anjo da guarda.É Clarice, a filha da Diretora do Departamento de Leitura, Paula Botelho.
Kira não fala português e está animadíssima e ansiosa com a experiência que viverá.
E eu agradeço essa cachoeira de amor.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

VIAGENS

Meu primeiro livro de poesia para adultos se chamava Viagens e houve apenas uma edição , pela extinta Editora Memórias Futuras, em 1984.
Alguns poemas aproveitei em outros livros.
Um deles , apesar de tão antigo eu adoro. O poema se chama Residência no Ar e define um estado de espírito.
Em minha próxima viagem ao Recife, além do encontro com professores na Fundarj, no dia 21, teremos um sarau de poesia na Casa Azul, idealizada por Joana Cavalcânti. Joana me conta: a Casa Azul será um Centro de Artes, Encontros, Terapias onde muita coisa acontecerá. Mas por  enquanto é ainda uma residência no ar, pois a casa não está pronta, mas simbolicamente já está. E o sarau será no dia 22, na Livraria Cultura, Paço Alfândega, que estará representando a Casa Azul.
Estarei apresentando em primeira mão os poemas do meu livro Delírios, que serão falados por William Amorim.

RESIDÊNCIA NO AR

Não sei o que me convém,
se uma casa segura,
janelas, quartos e trincos
ou se as portas
todas abertas,
se residência no ar.

Não sei o que me convém,
se uma casa encerada,
a família pro jantar
ou se ventania na estrada,
se residência no ar.

Não sei o que me convém,
se uma casa caiada,
com horta, jardim e pomar,
ou se andarilha no mundo,
se residência no ar.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

LIVROS

O filósofo George Steiner, de 88 anos , diz numa entrevista que lê todos os dias algum trecho de livro em cada língua que domina, para prevenir do Alzheimer.
Eu faço quase isso, leio bastante nas línguas que sei, porque tenho pânico de perdê-las. Não há prazer maior do que estudar e saber outro idioma. Ler em outro idioma. O milagre de já não se saber que se está lendo em outra língua.
Ele também diz que onde houver um livro, uma caneta para fazer anotações e um café, já está pronto o território para o voo. Eu não preciso de quase nada. Os livros me dão quase tudo.

LIVROS

Uma vida é tão pouco,
melhor seria viver mil
vidas, mil e uma noites
e histórias.
Nosso tempo é tão pouco,
melhor seria viajar
no tempo.
Mergulhar nas páginas
de um livro e se perder
para se achar.

in Cinco Sentidos e Outros, Lê Editora.