segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

KIRA

Tenho uma netinha de estimação, filha da Maya, filha do Juan. Ela vai fazer 6 anos e vive em Barcelona. Fala várias linguas e é muito engraçada, nos divertimos tanto com as coisas que ela diz. Todos os anos vem a Saquarema e sempre se lembra de tudo, do jardins, dos coqueiros, dos jabutis, do Samuel e Vanda, nossos caseiros. Em 2009 fiz um livro chamado KIRA que saiu pela ed. Lê e as ilustrações da Elizabeth Teixeira são as mais lindas que já vi. No livro a personagem é em tudo igual a Kira sem que a ilustradora a conhecesse. Agora Maya e Kira estão fabricando um livro em 3 dimensões em cima do livro original, para mostrar na escola. Maya é estilista e professora do Instituto Italiano de Desenho. Pois Kira já tem um estilo próprio e originalíssimo de se vestir: cheia de colares e pulseiras e roupas sobrespostas. É vaidosíssima e nos pede de presente uma coroa de princesa para o nosso próximo encontro. Juan encontrou em Bacaxá uma coroa de princesa cheia de pedras coloridas, acho que ela vai adorar. Agora Maya nos conta que Kira vai sozinha de Barcelona para Madrid visitar a avó. Sozinha no avião. E ela está felicíssima, super entusiasmada e eu já a imagino dizendo: _ Como soy grande, verdad, mami?

domingo, 27 de fevereiro de 2011

JAPÃO NO CAFÉ DA MANHÃ

Hoje enquanto tomava café da manhã na varanda, Juan Arias me lia uma mensagem que acabava de chegar do Japão. Mas antes de contar, rodo a manivela do tempo para trás. Em 1998 Juan fez um livro de entrevistas com Paulo Coelho. Passamos uma semana indo diariamente a Copacabana, ao seu belíssimo apartamento de frente para o mar. Ficamos amigos. Paulo é uma pessoa simples e generosa, atento ao extremo com seus leitores. Cristina Oiticica, sua mulher, é uma grande artista plástica e uma anfitriã inigualável. O livro saiu em mais de uma dezena de linguas e agora, tantos anos depois, acaba de sair no Japão. Pois bem, seu tradutor do espanhol, Katsuhiko Yaegashi, nos enviou hoje uma carta emocionante agradecendo o privilégio de ter traduzido o livro. Juan escreveu um prólogo lindo para a edição japonesa e a redatora Aya Yoshizumi , ele nos conta, ficou profundamente impressionada. E Katsuhiko e sua esposa querem nos enviar um livro de fotos de Nara, perto de Kioto, fotos das quatro estações. Ele nos diz que as fotos são tão belas que tem certeza de que me inspirarei nelas para escrever lindos poemas. Ele me conhece porque eu estou no livro de entrevistas do Paulo Coelho. Assim, ele pronuncia meu nome numa noite japonesa e ele chega aqui transformado, numa manhã em Saquarema.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO DE BOLONHA

Ontem soube que meus dois livros Carteira de Identidade, ed. Lê e Vento Distante, ed. Escrita Fina, entraram para o Catálogo de Bolonha que é preparado pela Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil para a Feira Internacional de Bolonha. O Catálogo é uma vitrine onde entram os melhores livros e me sinto premiada. Estou muito feliz. Os dois livros tiveram uma gestação bastante complicada: quando tive a idéia de fazer uma coletânea de poemas sobre a identidade, apresentei o projeto para a ed. FTD. Ela adorou e me disse para ir em frente. Qiando tinha 30 poemas enviei o livro. A minha editora, Ceciliany, me pediu que dobrasse o tamanho, ela queria 60 poemas. Entrei em pânico, será que conseguiria fazer mais 30 poemas sobre o mesmo tema? Conseguí e com o livro pronto, a FTD me diz que sentia muito, mas não podia publicá-lo. Fiquei muito triste e fui com o original debaixo do braço tentar alguma outra editora. A Lê tinha reeditado meu primeiro livro Fardo de Carinho com muito sucesso ,então oferecí o original. Lourdinha, a editora, ficou com medo, o livro era demasiado "adulto". Sugerí que ela desse o livro para alguns adolescentes e pedisse a opinião deles. Foi positiva e a Lê publicou o livro com belíssimas ilustrações da Elvira Vigna. Fiquei muito grata.
Agora o livro entra no Catálogo de Bolonha e nos prova que valeu a pena.
O Vento Distante era um pedido da minha editora Laura quando ela ainda era da Rocco e havia produzido o Território de Sonhos. Ela queria uma coletânea de contos de terror. Fiz um 3 contos e ela não gostou. Achou que não produziam nenhuma espécie de medo. Eu os guardei na gaveta, projeto abandonado. Alguns anos depois ela me telefona pedindo um original para a nova editora onde estava trabalhando, a Escrita Fina. Falei dos contos que estavam na gaveta e perguntei se ela não gostaria de reler. E então ela gostou dos contos e me pediu que continuasse. Retomei o trabalho. Entreguei e a Laura quase desistiu: achou muito parecido com o Território de Sonhos. Fiz algumas pequenas modificações e o livro saiu. Agora atravessa o mar.

UMA CARTA

Sentada com uma xícara de café nas mãos, namoro a pequena cômoda de três gavetas. Isa me conta que, quando a cômoda chegou, abriu cada uma delas. Na primeira, encontrou algumas bijuterias antigas, sem valor nenhum; na segunda, havia uma Bóblia em hebraico de folhas amareladas; e a última gavetinha estava trancada a chave. Sem a chave, é claro.
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in Vento Distante, ed. Escrita Fina



ANJO

Em cada precipício me sento
e um anjo me sussurra com calma
as encruzilhadas,
as estradas desconhecidas.

Todos os meus anseios
estão em suas mãos
e com seu hálito me acalma,
me acalanta.

Durma, ele me diz, sentado
na beira da minha sombra,
não tenha medo dos sonhos.

in Carteira de Identidade, ed. Lê.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

PETRÓLEO

A instabilidade política no mundo árabe faz o petróleo escassear. Por mais de 30 anos Europa e Estados Unidos foram cúmplices de terríveis ditadores em troca de petróleo. Talvez já tenha chegado o tempo de sonharmos um mundo sem petróleo. Apenas carros elétricos, aviões movidos a energia solar, silenciosos, espaçosos e agradáveis, bicicletas substituindo definitivamente as motos. Já não haveria poluição nem fumaça. Transatlânticos também usariam energia limpa. E os ônibus dariam lugar aos bondes . Imaginemos também uma mudança radical em nossa relação com o planeta. Protegeríamos as florestas, os rios e cada espécie viva, pequena ou grande. Prefiro este sonho ao vaticínio de alguns cientistas de que em 2050 a Terra será praticamente inabitável.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LABIRINTO

Estou com uma crise de labirinto desde que voltei do Rio. A palavra é tão poética, me remete ao Minotauro, aos labirintos do Borges, me joga no centro do oceano, dentro de um pequeno barco. Pois a sensação é que estou oscilando no mar e se deito, o mundo roda . Tenho também a sensação de que minha percepção fica um pouco alterada já que o chão não está completamente firme dentro de mim.

Ontem ficamos sem luz desde às 14hs até hoje às 6.30hs da manhã. Foi um pesadelo dormir com o labirinto enrolado nos pulsos e calor e mosquito, já que não se podia ligar o ventilador. A noite era pegajosa e imensa, nunca terminava. Finalmente às 4:30hs da manhã saí da cama e fui para a varanda tomar café.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

DR.SIGILIANO

Ontem fui ao último médico da temporada para a revisão , pois em maio fará um ano que fiz uma cirurgia para extrair um tumor maligno da mama. Dr. Sigiliano , que me operou, me recebe de braços abertos , com um imenso sorriso e pergunta pela minha poesia, diz que poetas são mais do que médicos , pois ajudam a curar a alma. Ao invés de falarmos de doenças, falamos de poesia, de vinhos, da Itália, da Espanha, de filhos, de felicidade. Seu consultório é antigo e acolhedor, no Flamengo, com um relógio de pé que bate as horas melodiosamente, com música clássica ao fundo ao invés dos famigerados programas diurnos da TV Globo que somos obrigados a ouvir ou assistir (podemos fechar os olhos) em todos os consultórios e laboratórios.Uma vez já não sei quando, uma escola de Muriaé, onde ele tem uma fazenda, colou meus poemas nos ônibus da cidade. Quando cheguei, a diretora da escola e a Secretaria da Educação me levaram até um ponto de ônibus, me fizeram entrar com o veículo lotado, me mostraram os poemas e me apresentaram como a autora! Fui aplaudida. Elas me contaram as reações das pessoas quando liam os poemas, muito emocionante. Fiquei com um carinho imenso por Muriaé. Aliás, tenho um Mapa do Brasil dentro de mim feito de afetos . São muitas e muitas cidades que me recebem com carinho. Saí do consultório feliz e com a promessa de que em abril o Dr. Sigiliano virá almoçar em nossa casa.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

LAILMA

Ontem recebí uma mensagem impressionante. De uma leitora com um nome de sonoridade rara, um belo nome: Lailma. Ela me contava que meu livro Tantos Medos e Outras Coragens foi inspiração para sua monografia de final do curso de psicologia. O verso " Os medos são como olhos de gato brilhando no escuro" serviu como estopim. É curioso. Escrevemos um poema, um livro, um conto e não sabemos quem será o destinatário, o que a nossa escrita provocará em alguém que não conhecemos. Quando escrevo, escrevo para quem? Não sei. Talvez inconscientemente escreva para alguém que percebe a vida como eu? Alguém que pense a vida de uma maneira completamente diversa entenderá meus versos? São questões intrigantes e sem resposta. E por que escrevo? Escrevo porque sim.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CARNAVAL

Sou do bloco do silêncio, dos que não se identificam com o carnaval. Arrumo uma trouxinha de roupa e fujo para dentro da mata. Semana que vem irei para Mauá e na minha casinha nem sei do mundo. Todas as festas coletivas, as que movem multidões, me deixam quase em pânico.

Estaremos vivendo a era do desaparecimento dos ditadores como vivemos o desaparecimento dos dinossauros? Multidões se movem pelas praças do mundo árabe numa ode à liberdade e nada mais será igual. Fruto da comunicação entre as pessoas e países em tempo real, o silêncio e a imobilidade já não encontram lugar, agora tudo é movimento e tenho esperanças de que o que aparecerá é a face compassiva e bela do islamismo e os ditadores derreterão como bonecos de neve. Agora , no mundo árabe , o povo é protagonista. É uma espécie de carnaval pela liberdade.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

ANIVERSÁRIO

Ontem, noite de lua cheia, levamos nossos caseiros Samuel e Vanda para um jantar dançante na Fazenda Serra Castelhana na zona rural de Saquarema. Era aniversário do Samuel e não queriamos dar nada material, mas alguma coisa que ele guardasse no coração. As 22hs horas , no palco da orquestra chamaram seu nome e com a ajuda dos músicos todos cantaram parabéns. O bolo foi dividido com todos e foi um momento mágico para ele. Samuel e Vanda são nossos parceiros, sem eles, com todos os meus problemas de coluna, eu não daria conta da casa e do jardim. Nós os ajudamos a comprar uma casa linda, a cuidar da alimentação, a entender um pouco do caos que é o mundo. Só não conseguimos, infelizmente, que Samuel soltasse os passarinhos que povoam sua casa, presos em gaiolas. Não há nada que se possa fazer. Mas aqui em casa os pássaros são visitas de gala. Todos os dias coloco frutas nas árvores e água fresca nos potes espalhados pelo jardim.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DESEJO

Desejo água. Um pouquinho de chuva. Uma chuva branda, delicada, no final da tarde, pois o jardim tem sede. Cada pequena planta, cada árvore, nos diz com suas palavras silenciosas e verdes o seu sofrimento. Faz sol o dia inteiro, das sete horas da manhã até quando anoitece. Já estou secando por dentro também. Sonho com neblinas, orvalhos, poças miúdas aqui e ali. Mas que o céu não exagere. Que a chuva venha na medida do meu desejo.

Guga, meu filho me conta uma cena de rua em Granada, na Espanha: 3 ciganos, um poste e uma cabra. Em cima do poste há uma pequena plataforma com um prato em cima e a cabra se equilibra em cima do prato. Um dos ciganos canta e o outro passa o chapéu.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A VOLTA

Chego em casa e quero logo um café com leite. Russo, o motorista que me trouxe de volta de Duque de Caxias veio com a esposa e dois filhos lindos, eles queriam ver o mar. O I Simpósio de Educação de Duque de Caxias foi espetacular. O teatro estava lotado: umas quinhentas pessoas. Discutiu-se os Direitos Humanos na Escola e novas tecnologias na educação. Foram contadas experiências maravilhosas sobre leitura e leitura de mundo. Falei o que penso e li um conto do livro Vento Distante . Algumas pessoas vieram falar comigo no final e fiquei muito emocionada. Fui recebida como uma rainha, com direito a camarim e frutas. Rose, a Secretária de Educação me conta que adora a Região dos Lagos. É uma mulher bonita e de muita garra. Mas da próxima vez que for a Duque de Caxias quero almoçar na casa da Miriam, a Subsecretária de Educação, já que ela me conta que mora numa área muito antiga, meio rural , num casarão com pai e mãe dentro! Meus amigos estavam lá e almoçamos uma comida ótima bem no centro da cidade. Sugerí ao Felipe que a Secretaria concorra ao Prêmio Viva Leitura pelo trabalho diferenciado, apaixonado que fazem. Outra sugestão: que as escolas fizessem uma campanha para que se plantassem árvores na cidade , o calor era brutal e há muito pouco verde. Hellenice, da Secretaria, me presenteou com seu novo livro, um reconto do Negrinho do Pastoreio, lindo! que saiu pela ed. Escrita Fina. E para terminar, uma leitora me disse que salvei sua vida com meu livro Carteira de Identidade, sua terapeuta fez um belo trabalho com ele. Fiquei muito impactada com seu relato.

Ontem dormi na casa do meu irmão. Minha cunhada preparou um jantar maravilhoso , um robalo com salada de endívias e falamos horas sobre filhos e netos. Cheguei cedo e enquanto a esperava, pois ela ainda não estava em casa, fiquei sentada na varanda com uma vista deslumbrante sobre o Aterro, a Baía da Guanabara. Li um pequeno livro precioso sobre o Tibete. Li trechos de um imenso livro sobre Debret, com suas gravuras, telas e comentários. Há um piano na varanda e por um momento senti uma tristeza intensa por não saber tocar.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DUQUE DE CAXIAS

Estou indo para o Rio hoje e amanhã estarei em Duque de Caxias para uma mesa redonda cujo tema é Direitos Humanos na Educação. Estou feliz pois a minha claque toda estará lá: Lurdes, Felipe. Andréa, Cris. Duque de Caxias me surpreende pela garra, pela paixão com que faz as coisas. Fazer cada pequeno gesto com amor faz toda a diferença.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

PINTINHOS

Acabo de receber pelo correio um livro da nossa leitora do blog Maria Neuza. O livro se chama Nossos Animais de Estimação e são historinhas deliciosas sobre os bichos da família. É uma edição independente e eu tenho estimulado meus leitores que escrevem a fazer o mesmo. Em breve teremos o livro da nossa também leitora Angela, sobre a vida do seu avô que era motorneiro de bonde. A coincidência é que eu também tenho um livro dos bichinhos da família e se chama Luna, Merlin E Outros Habitantes e sairá em breve numa nova edição com ilustrações do Caó. No meu livro eu falo da criação de pintinhos que eu comprava na feira quando ia com a Eunice, minha babá. O final dos pintinhos nunca era feliz. Maria Neuza nos conta como era na sua casa:

" Depois do fracasso com periquitos australianos , meus filhos resolveram criar pintos. Estava em moda naquela época em Divinópolis. Em várias esquinas das ruas principais os vendedores ofereciam pintinhos nascidos há dois ou três dias..."

Quem quiser saber o que aconteceu com os pintinhos da casa da Maria Neuza deve encomendar o livro diretamente com a autora.
Acabo de saber que o livro foi escrito pela mãe da Maria Neuza em 1923! Eu achei que fosse dela!

VOLTA

Voltar para casa e ser acolhida pelo cheiro do mar, pelo relógio antigo que bate as horas quando quer, pelas gatas, pelo jardim, ser recebida no portão pelo Juan , caber entre seus braços, é muito bom. Passei alguns dias fora do mundo, tão dentro da mata que eu poderia ser uma árvore também. Juan e Vanda, minha caseira, passaram o primeiro dia comigo em Mauá . Salvador, meu amigo antiquíssimo veio nos encontrar. Juan não conhecia a minha casinha, pois fazia muitos anos que não subia a montanha. Ficou maravilhado. A casinha é quase invisível, muito escondida e é o único lugar do sítio onde se escuta o barulhinho do rio que passa no vizinho. Almoçamos os quatro no Babel, o restaurante do meu filho André e a sensação de paraíso não nos abandonou nem por um minuto. Todos os dias acordei muito cedo, acendia o fogo, fazia meu café e depois chegava meu filho gritando pelo caminho: _ Mãe!!! Tomávamos café de frente para a mata, na minha varandinha. Tudo na casa é minúsculo, é como abrir um livro de contos de fada e por alguns dias viver aí dentro. Eu terminei de ler o livro do Marcelo Gleiser, Criação Imperfeita. No epílogo ele fala do jardim encantado da casa dos seus avós em Teresópolis quando era criança. Visconde de Mauá é meu jardim encantado.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

VISCONDE DE MAUÁ

Dentro de poucas horas estou indo para Visconde de Mauá, onde vivi por tantos anos. É sempre um belíssimo reencontro. Márcia Patrocínio, que conseguiu transformar uma idéia em realidade, o Centro Cultural Visconde de Mauá, pede que eu escreva algumas linhas para o folder que vai publicar sobre o Centro. Fiz muitos lançamentos de livros aí, com escolas e amigos. Márcia faz realmente um imenso movimento cultural em Mauá, leva muitas maravilhas para a montanha. Ela dirige um coral e agora, ela conta, o Centro ganhou um piano. Que o Centro continue irradiando poesia e música.

Volto para o blog no dia 16.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

HORIZONTE

Ontem, no final da tarde, o mar enlouqueceu. As ondas estavam altíssimas e a geografia da praia mudou. O mar cavou túneis, fez lagos que pareciam rios.

HORIZONTE

Se eu apagasse a fina linha
do horizonte
será que o céu cairia
no mar?
E as estrelas e a lua
começariam a navegar?
Ou será que o mar viraria
céu
e os peixes aprenderiam
a voar ?

in Fardo de Carinho, ed. Lê

Escreví este poema em 1980, mas apesar do tempo que nos separa, eu o reconheço.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

FOTOS

Eu e Gisela, minha taxista-fiel-escudeira, saimos de Saquarema às 7:20hs e às 10:30hs estávamos dentro do Estúdio da Gávea para fazer as fotos para o livro Roseana Murray, poemas para ler na escola que sairá pela ed. Objetiva. Eu nunca havia feito fotos em estúdio antes. Havia uma maquiadora que levou meia-hora me produzindo, eu que não uso nada, nunca usei, ela me deixou pronta: era eu mesma? Chegou Isa Pessoa, minha editora, sempre maravilhosa, eu a adoro! e então começaram as fotos, fui logo avisando que só fico bonita sorrindo. Durante duas horas sorri umas 3 mil vezes. O fotógrafo, Bruno , era muito delicado e conseguiu me deixar relaxada. É uma situação íntima, de muita exposição, dá um certo pudor. Mas enfim, chegou uma hora em que ele e Isa concordaram que já estava bom... E aqui estou, exausta, em Saquarema outra vez.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

VIAGENS

Esta semana é de viagens. Amanhã vou ao Rio : pela primeira vez em 30 anos de publicações ininterruptas, uma editora me leva a um estúdio para fazer a foto da capa do livro. Dá um certo medo ou frio na barriga, penso nos antepassados, rígidos em suas melhores roupas, para a foto que os iria levar até o futuro. O livro é da ed. Objetiva , é uma coletânea de mais de cem poemas, se chamará Roseana Murray para ler na escola e deve sair em abril ou maio. E falando em fotos recebo da ed. Ibeppe o CD com as fotos antigas que foram selecionadas para a reedição do livro Retratos. Vejo minha mãe e meu pai abraçados, ela grávida de mim. Me vejo criança, vestida de bailarina. Estou num banco, no fundo da vila onde morava a minha avó. Eu amava aquele banco e o trouxe para um livro de contos.
Quinta-feira vou para Visconde de Mauá ver meu filho André. Primeiro dormimos em Resende na sua escola de cozinha, fazemos a viagem em duas etapas. E então subimos a serra de manhã bem cedo. Minha casinha me espera dentro da floresta. Ela é o meu tesouro .

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O ENCONTRO

Ontem foi um dia luminoso, o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Primeiro chegou Pepito, todo de branco, era seu aniversário e ele está apaixonado . Depois o povo de Duque de Caxias, que amo de paixão. Eles vieram na véspera e dormiram em Saquarema para não perder a hora! Andrea me trouxe um vaso de pimenta roxa, ela me disse: já que o livro é apimentado... Felipe e Cris envolveram a sala em alegria. Angela, professora de Saquarema e sua aluna, Thaís, Evelyn, Luis, Juan, Tia Alice, nosso caseiro Samuel , Francisco, cada vez a sala ficava mais cheia.
Angelo, leitor do blog, poeta, professor de educação física e leitor voraz, chegou com uma braçada de flores, eu não o conhecia.
Para começar Pepito leu um poema em espanhol da sua coletânea de poemas sobre tangos. Angelo falou de cor um poema de sua autoria. Juan, Luis e Pepito leram um trecho do discurso do Vargas Llosa na entrega do Nobel. Então começamos a conversar sobre As Travessuras da Menina Má. Reviramos o livro, os personagens, as situações. Cada um contou alguma história do seu acervo pessoal...Falamos dos amigos espalhados pelo livro, da solidão da Menina Má, do belíssimo personagem que entendia a lingua do mar. Então chegou Angela, leitora do blog e sua cunhada, professora de arte . Chegaram atrasadas porque havia um engarrafamento muito grande. Trouxeram dois bolos, um preto e um branco. Mas ainda puderam participar das discussões. O livro foi unanimidade: todos amaram. Ninguém havia lido Vargas Llosa antes e Francisco já havia comprado Pantaleão e as Visitadoras. Acho que agora todos vão querer ler outros livros do autor.
Já marcamos nosso próximo encontro, dia 30 de abril e o livro é Viva Chama de Tracy Chevalier, ed. Bertrand Brasil. É um romance interessantíssimo que gira en torno da figura do William Blake e a autora é a que escreveu Moça com Brinco de Pérola.
Éramos 18 pessoas numa mesa gigante e brindamos e celebramos a literatura e a vida. Cantamos parabéns para Angela e Pepito. Ontem tinhamos no Clube duas Angelas e um Angelo. Mas na verdade a casa estava cheia de anjos.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

AS TRAVESSURAS DA MENINA MÁ

Hoje é o encontro do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela. Acendí o fogão de lenha bem cedinho, às 5.30hs da manhã. Faremos uma feijoada de frutos do mar. Angela trará um bolo, é seu aniversário e também aniversário do Pepito, meu cunhado. Comprei um vinho branco uruguaio só porque tinha um sol no rótulo, mas deve ser bom. Discutiremos o belo livro do Vargas LLosa, as Travessuras da Menina Má. Talvez tenhamos vinte pessoas para o almoço. Teremos alguns convidados: Luis, o amor mexicano da Evelyn, minha irmã, que já chegou. Pepito, meu cunhado poeta, professor de tango e terapeuta alternativo, minha tia Alice que amou o livro de paixão e vem representando minha mãe, agora habitante de alguma estrela longínqua, Francisco, poeta e procurador do Município, e outras surpresas. Latuf é a grande ausência, mas como está presente em tudo o que vivo, estará aqui, invisível . O livro é uma história de amor nada banal. Discutiremos o amor.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

CRIAÇÃO IMPERFEITA

Leio o livro Criação Imperfeita do cientista brasileiro Marcelo Gleiser. O livro é agradável e às vezes um pouco difícil, já que nunca estudei física, mas de um modo geral consigo apreender os conceitos. Marcelo fala do caos criativo e de como parece que estamos sós no cosmos, já que seria improvável que o mesmo caos que nos criou tenha se repetido da mesma maneira em algum outro lugar. Marcelo é extremamente poético e encontro em seu livro, por uma linda coincidência, um poema do Wiliam Blake, já que o próximo livro do Clube de Leitura é um livro que gira em torno deste poeta:

Ver o mundo num grão de areia
e o firmamento numa selvagem flor
segurar o infinito na palma da mão
e a eternidade numa hora que for.

Marcelo fala da beleza do cosmos, das grandes perguntas: de onde viemos? quem somos? qual o sentido da vida? para onde vamos?

Recebo uma mensagem pedindo ajuda : Marcelo Câmara procura seu amigo Talvani Guedes da Fonseca que foi citado no meu blog por Luciana Pessanha de Itaperuna. Quem souber do seu paradeiro , por favor, dê notícias.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MUNDO ÁRABE

Acompanhamos com o coração por um fio as manifestações populares no Egito. Ontem o ditador mandou seus homens para a rua, pagando 56,00 a cada um. O saldo é terrível. Leio que 80% dos jovens egícios nãob conseguem trabalho. Enquanto isso os ditadores árabes possuem mansões na Europa e riquezas incalculáveis. Torcemos por um desfecho pacífico. O Egito, por sua história maravilhosa, merece. E que, como num jogo de boliche, caiam todos os ditadores do mundo árabe. (Enquanto isso, no Brasil, nossos deputados querem aumento.)
Aproveito para falar de um livro egípcio que li, O Edifício Jacobian, há um filme também. Infelizmente não lembro do nome do autor. O livro é uma obra prima e aí já vemos toda a corrupção, toda a pobreza, toda a desilusão dos jovens, como andam num beco sem saída.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

VERONA

Ontem foi dia de Verona aqui em casa. Logo pela manhã recebemos uma linda carta dos nossos novos amigos italianos Mari e Gianni. Eles chegaram em Verona, onde moram e nos dizem que sentem falta da belíssima luz de Saquarema, pois agora aí é inverno e a luz é sombria. Depois do almoço recebí um embrulho de presente pelo correio: minha grande amiga Maria Amélia, que é psicóloga, escritora, contadora de histórias, oficineira, etc, me mandou o filme Cartas para Julieta que eu não havia visto e que se passa quase todo em Verona! e Siena. Adoramos o filme pois a Toscana é linda e eu amo a Vanesa Redgrave, ela é minha grande paixão desde que vi o filme Julia na década de 80, acho. E falando em Julia, que recebeu este nome por causa do filme, minha sobrinha Julia Kligerman me ligou hoje para contar que agora é oficial: passou em primeiro lugar no concurso da Marinha para psicologia. E como ela só começa em março e a sua residência no Hospital Pedro Ernesto já terminou, eu digo: _ Que bom, Julinha, você agora vai poder descansar. E ela responde: _ Não, tia, estou mergulhada na minha monografia...Então, simbolicamente, Julia será um pouco marinheira.
Sábado é o nosso almoço do Clube de Leitura da Casa Amarela. Faremos uma feijoada de frutos do mar. E vinho branco bem gelado.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

BELA IMAGEM

Ontem vi uma imagem rara e bela: um pescador, no meio da lagoa , dentro de um círculo de garças brancas.
Hoje o mar virou. Novamente , depois de tantos dias de calma, suas ondas enchem a casa. Gosto do silêncio intermitente, o que habita entre as ondas.
Tomamos café no escuro. Ver a primeira luz é uma dádiva. Aos poucos o dia vem vindo. Tomamos café com o canto do galo. É como se o galo, invisível, estivesse no centro da mesa.