segunda-feira, 30 de abril de 2012

NOTÍCIAS DA CHEGADA

Ontem o dia foi muito longo em Bogotá. Fomos para Uzaquen, um bairro lindo, preservado, parece uma aldeia da Andaluzia. Havia um mercado de artesanato na rua, ocupava todas as ruas. O que vendiam era de encher os olhos. Era uma verdadeira maravilha, produto de várias etnias indígenas. Havia gente cantando e grupos de música. Havia uma energia linda, uma alegria. Almoçamos num restaurante bem popular, comida colombiana e comi uma espécie de panqueca dura de banana , maravilhosa!
Voltamos para o hotel e esperamos o carro que nos buscaria para o aeroporto que é um caos. O Tom Jobim fica uma belezaa perto da loucura que é o aeroporto de Bogotá. Na sala de espera nos sentamos ao lado de uma mulher muito interessante que voltava do México e nos contava os horrores que o tráfico e a polícia fabricam aí. Mas conhecemos bem esta história.
Voltei de Bogotá com um desejo imenso de saber mais sobre a Colombia, fiquei muito impactada.
Em Saquarema faz frio, chove, sopra um sudoeste bem forte, o mar está violento, tudo do jeito que eu gosto. Os ventos vieram me receber.

domingo, 29 de abril de 2012

ÚLTIMO DIA EM BOGOTÁ

Ontem fomos para a Feira mais cedo. Eu queria comprar um livro do grande escritor colombiano Álvaro Mutis. O encontro com o público às 14hs foi muito bom. Um casal de professores , super atentos, saiu correndo antes que eu lesse o último poema e achei estranho. Quando acabou eles voltaram e vieram falar comigo. Foram procurar algum livro meu para comprar e não havia nenhum. É uma pena, pois falamos, cativamos as pessoas e elas gostariam de levar um livro autografado para casa mas nenhuma editora trouxe nenhum livro.Dei para eles o Poemas e Comidinhas e Caixinha de Música. Aliás , meu filho André me conta que o programa da TV Rio Sul para o Dia das Mães será feito em sua escola de cozinha com o Poemas e Comidinhas. Aqui o governo não compra livros para as escolas. Deduzo que as escolas não possuem bibliotecas ou Salas de Leitura. Que horror!
Os contrastes são gritantes, como no Brasil.
 À noite fomos ao restaurante mais bonito que já fui em toda a minha vida. Não está em Paris ou Madrid, mas em Bogotá. É um palácio de uma beleza impressionante e o bar, na entrada, ao contrário do resto da casa é totalmente louco e contemporâneo. Do segundo andar, onde comemos uma comida fantástica, se pode ver a cozinha lé embaixo, toda envidraçada. Se algum dia algum de vocês vier a Bogotá não pode perder. Se chama Harry Sazon e fica na Carrera 9 #75-70. Ficamos, eu Ieda de Oliveira e Pedro Bandeira, muito impactados. E o preço é um terço do que seria no Brasil.
Hoje temos que sair do hotel às 12hs e um carro vem nos buscar às 19hs para o aeroporto.
Vamos para  a rua e amanhã, Brasil.

sábado, 28 de abril de 2012

EM BOGOTÁ

Ontem pela manhã demos uma entrevista na Rádio Caracol com uma audiência de dois milhões de ouvintes. Eu e Pedro Bandeira. Foi uma escolha de Sofia, pois éramos três, na verdade a entrevista seria apenas minha mas consegui que abrissem um espaço para os meus amigos. Na última hora eles disseram que no estúdio só cabiam dois e o Pedro e a Ieda decidiram pelo Pedro. Foi espetacular, a Ieda ouviu de fora da cabine e nos disse que demos um show. À tarde, um antropólogo foi ao meu encontro por causa do programa do rádio. No espaço da Fundação a sala estava repleta e felizmente eu tinha dois livros de poemas em espanhol e houve muita empatia com a platéia, foi mágico. Saí esgotada e faminta e comprei um saco de pipocas! O Pedro se saiu muito bem depois de mim e hoje repetimos a dose, só que hoje a Ieda irá falar também.
À noite fomos a um restaurante belíssimo, numa casa senhorial, a comida espetacular com sabores para nós inusitados. Ah, antes, na hora do almoço fomos comer no restaurante da mais famosa Chef de Bogotá, o restaurante se chama Leo, cava y cena, eu acho, O da noite se chama Club Colombia e a proposta é recuperar a comida das avós, da Colombia profunda. Ou seja, como mãe de Chef (André Murray) tenho mesmo que fazer uma viagem gastronômica e como mãe de dono de uma enoteca (Guga Murray) tenho que beber um bom vinho!
Hoje vou cedo para a Feira pois quero ver a exposição da Cora Coralina no espaço do Brasil e quero comprar alguns livros .
Amanhã temos que passar o dia na rua, pois nossa conta no hotel fecha às 12hs e nosso voo é às 23hs!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

DE BOGOTÁ

Ontem passamos a manhã no Centro Histórico. Fomos ao Museu do Ouro e ao Museu Botero que está com uma exposição lindíssima, a sua e a do seu acervo particular. Vimos Chagall, Picasso, Dali, Toulouse Lautrec, Klimt e muitos muitos pintores maravilhoisos. Entramos em milk lojas de artesanato e é tudo colorido e lindo. Voltei ao aeroporto e consegui recuperar meu casacão, fiquei radiante, mas não está fazendo frio, a temperatura está amena e deliciosa. A cidade é caótica, seu trânsito horrível como o do Rio, no café da manhã vejoo noticiário na TV e leio o jornal El Tiempo:  as Farc continuam aterrorizando e há muita violência. Mas o povo é maravilhoso, doce, amável, atencioso e belo.
Vou agora dar uma entrevista na Rádio Caracoil , consegui a entrevista através de amigos e levo comigo a Ieda de Oliveira e o Pedro Bandeira, faremos um trio.
Depois do almoço vamos os três para a Feira de Livros para nossos encontros com o público.
Li no jornal que em Moscou fizeram uma homenagem maravilhosa para Gabriel Garcia Márquez: um vagão do metrê coberto com seus poemas, retratos, fragmentos dos seus livros. Por que não os imitamos e em cada vagão dos nossos metrôs homenageamos um escritor, um poeta?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

BOGOTÁ

Cheguei a Bogotá com a Ieda de Oliveira já como comnpanhia, nos encontramos no aeroporto. Em Bogotá nos esperavam Pedro Bandeira e as meninas da Fundação. Perdi meu casaco para lugares muitio frios e fiquei muito chateada. Eu o deixei no avião e não consegui recuperá-lo. Eu, Pedro e Ieda fomos jantar num lugar maravilhoso, uma casa antiga, Casa Vieja.Comemos comída típica, eu e Ieda uma sopa divina e o Pedro um prato montanhês, com chouriço, ovo, farofa, banana frita, para derrubar elefante. Mas antes vieram uns bolinhos de milho, "arepa", uma maravilha. O trânsito é caótico como no Rio, mas são todos tão amáveis.Sinto um pouco o mal estar da altitude, um pouco de dor de cabeça.
Tive uma impressão agradável da cidade, já que as montanhas a circundam. Hoje tenho o dia livre e vamos visitar o Museu do Ouro no Centro Histórico e o Museu Botero. Nós três agradecíamos a dádiva do encontro, de não estarmos sozinhos.

terça-feira, 24 de abril de 2012

NO MUNDO DA LUA

Vou hoje para o Rio e amanhã cedo zarpo para Bogotá. Vou com três notícias maravilhosas na bolsa:
1 - "Enriquecimento ilícito de juiz e político deve virar crime" - O Globo
2 - " A primeira mulher presidente da Funai" - O Globo
3 - " Dilma: Brasil tem que ser sexto em QUALIDADE DE VIDA" - O Globo

A primeira notícia pode melhorar e muito a qualidade dos políticos do nosso país que roubam como se aqui fosse a Casa da Mãe Joana, a Casa da Sogra, etc. Seria o começo de algo novo. Já daria para o cidadão comum respirar.
A segunda notícia nos diz que Marta Maria do Amaral Azevedo , antropóloga, assumirá a Funai. Os índios são tratados como lixo. esperemos que mude o foco.

A terceira notícia  nos diz que a qualidade de vida deveria estar no topo das preocupações. Qualidade de vida exclui desmatamento,  corrupção, violência, agressões ao planeta e aos seus habitantes.

Portanto, eu, poeta e caixeira viajante, vou com a mala cheia de esperanças e poesia. Se puder escrevo lá de Bogotá e deixo um poema:

NO MUNDO DA LUA

Vou inventar uma rua
onde se pinte e borde,
se faça e aconteça
se cante e dance,
se plantem corações...
uma rua onde todos vivam
no mundo da lua.

in No Mundo da Lua, ed. Paulus 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

CHUVA E MALA VERMELHA

Choveu muito ontem, finalmente, pois aqui em Saquarema, no mar, chove muito pouco e eu fico imaginando , todos os moradores possuem um poço e se não chove o que poderia acontecer? Dormi com a chuva dentro do sono e tive um sonho lindo , um nascimento. Nascia uma criança e todos festejavam.
Amanhã irei para o Rio, dormirei na casa do meu irmão , pois o voo que me levará a Bogotá sai muito cedo, é impossível ir direto de Saquarema para o aeroporto.
Tenho como princípio viajar com uma mala pequena, vermelha, não importa o tempo em que estarei ausente, as coisas que levo precisam caber dentro da mala. Ela já está gasta mas me identifico com ela, também estou gasta e tento reduzir tudo ao essencial. O osso do osso. Sempre prefiro lojas pequenas onde tenha poucas opções. Odeio espaços imensos, claro que tenho que ir a Feiras de Livros e Bienais, mas não gosto, prefiro livrarias bem pequenas, silenciosas e aconchegantes. Tenho pavor de multidão, sou um bicho do mato, estaria bem na pele de um gato selvagem. Gosto de becos e ruelas, escadarias cobertas com pó de tempo. Olho minha mala vermelha aberta em cima da cama e suspiro, o que levarei?  Há que deixar um espaço reservado para alguns livros, os que comprarei...

sábado, 21 de abril de 2012

O AFERIDOR

Manoel de Barros inventou um aferidor de encantamentos que vai dando nota para todas as coisas. Hoje receberemos aqui em casa Messias e Kátia, nossos grandes amigos. Já estamos preparando a casa, o fogão de lenha e as panelas. O aferidor de encantamentos já não se aguenta de ansiedade, antes mesmo do casal chegar ele já dá nota mil!

 O AFERIDOR
 Tenho um aferidor de Encantamentos.
 A uma açucena encostada no rosto de uma criança o meu aferidor deu nota dez.
 Ao nomezinho de Deus no bico de uma sabiá o aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura o aferidor deu nota vinte.
Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada sentado nas pedras de suas próprias ruínas o meu aferidor deu DESENCANTO.
 (O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai.)

 Manoel de Barros, in Ensaios Fotográficos, ed. Record.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

COMEÇANDO O DIA COM NERUDA

Em 1974 hospedei duas chilenas em minha casa. Elas haviam perdido tudo. Bárbara e Tereza Vicuña, sua mãe e Tatane , a filha da Bárbara, fugiram do Chile para não morrer e por intrincados caminhos chegaram até a minha porta, numa chácara na Tijuca, no Rio de janeiro, onde eu morava. Bárbara foi quem me apresentou Pablo Neruda. Trouxe poucas coisas do Chile , mas entre suas roupas veio um exemplar dos Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada.Vale a pena estudar espanhol para ler Neruda em sua lingua:

SI TÚ ME OLVIDAS

Quiero que sepas
una cosa.

Tú sabes como es esto:
si miro la luna de cristal, la rama roja
del lento otoño en mi ventana,
si toco
junto al fuego
la impalpable ceniza
o el arrugado cuerpo de la leña,
todo me lleva a ti,
como si todo lo que existe,
aromas, luz, metales,
fueran pequeños barcos que navegan
hasta las islas tuyas que me aguardan.
....................................................

O poema continua, é grande e está em Los Versos del Capitán.Tenho uma edição muito bonita da Real Academia Espanhola. Na primeira página leio que Neruda dizia que
" En la casa de la poesía no permanece nada sino lo que fue escrito con sangre para ser escuchado por la sangre". Não há definição mais bela para a poesia.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

VOCÊ É MALUCA TAMBÉM!

Acho que foi no ano de 1990 que Dra.Bertine me convidou para fazer um lançamento de livros no Hospital do Engenho de Dentro, o mesmo onde Dra. Nise da Silveira criou o Museu do Inconsciente. Era uma festa de Natal. Fui sentada numa mesa com meus livros e uma enfermeira tomava conta de mim. Naquela época ainda eram muitos os internos.
Duas mulheres de meia idade, de braços dados, se aproximaram da minha mesa, folhearam os livros. Então uma delas leu em voz alta e leu bem:

Procura-se um equilibrista
que saiba caminhar na linha
que divide a noite do dia
que saiba carregar nas mãos
um fino pote cheio de fantasia
que saiba escalar nuvens arredias
que saiba construir ilhas de poesia
na vida simples de todo dia.

(in Classificados Poéticos, ed. Moderna)

Quando terminou de ler ela pousou o livro na mesa , olhou para mim fixamente e me perguntou:
_ Fala a verdade, você é maluca também, não é ? Para escrever coisas assim tão bonitas...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SINOS NA VARANDA

A minha casa tem sinos na varanda. Os sinos se misturam com o barulho do mar e do vento. Então fiz um haicai:

SINOS NA VARANDA
O RUMOR AZUL DO MAR
MÚSICA DE VENTO

Imagino as sereias , belíssimas, no fundo mar, e quando sentem frio se cobrem com maravilhosos xales:

SEREIAS COSTURAM
COM FIOS DE HORIZONTE
SEUS XALES AZUIS

Olho minhas mãos e suas intrincadas linhas:

NAS LINHAS DA MÃO
UM BARCO SE EQUILIBRA
DESTINO A BORDO

Todos estes haicais estão no livro O XALE AZUL DA SEREIA, Ed. Larousse Júnior.

terça-feira, 17 de abril de 2012

RITUAIS

Todos os dias, pela manhã, os mesmos rituais: abro as portas da varanda, amanhece, olho o mar, faço o café, arrumo a mesa. São momentos preciosos onde parece que a vida recomeça , todos os dias. Onde parece que a vida será sempre assim, para sempre.Os rituais são gestos que parecem conter o tempo como um dique, nos dão a ilusão da eternidade. Rainer Maria Rilke me diz:
......
"Eis minha janela.
Acabo de acordar suavemente.
Parecia estar flutuando.
Até onde alcança minha vida,
e onde começa a noite?"
......

in´Senhor,é tempo. Poemas Selecionados, ed. Posigraf

segunda-feira, 16 de abril de 2012

UM REI QUE MATA ELEFANTES

O Rei da Espanha, em plena crise, quando os espanhóis estão vivendo a época mais difícil de suas vidas desde o fim da era Franco, vai a África matar elefantes pagando 50.000 euros com dinheiro dos cofres públicos. O crime só se tornou público porque o rei levou um tombo com algumas fraturas e um jato particular teve que ir buscá-lo. Se o rei não tivesse caído, o povo espanhol não saberia que enquanto o país desmorona, o seu rei tem como passatempo matar elefantes na África. Os elefantes são seres maravilhosos e estão em extinção. São solidários, amigos, maternos, aliás os grupos funcionam como um matriarcado. Os elefantes são os únicos animais de que se tem notícia que possuem rituais para a morte. A mãe amamenta seu filho de 3 a 5 anos. E os elefantes possuem uma memória prodigiosa.E uma capacidade de amar também prodigiosa. Como alguém pode matar covardemente um elefante?
A monarquia não faz sentido em nossa era. Não se entende como ainda está de pé com suas fofocas, frivolidades, artimanhas e gastos vultosos com dinheiro público. Serve apenas para alimentar uma determinada imprensa que vive disso. Mas já que existe, enquanto existe, um Rei deveria ser um exemplo para o seu povo.Sou casada com um espanhol, tenho uma nora espanhola e um neto espanhol. Amo a Espanha. E me envergonho.

domingo, 15 de abril de 2012

LITERATURA VIVA

Ricardo Barros, pessoa de extrema sensibilidade, me convidou para participar novamente do Projeto Literatura Viva do SESI. Aceitei e fui. Desta vez para São Caetano, Santo André, São Bernardo e Mauá. Acho que passaram por mim umas 700 crianças nos espaços mais variados. Foram quase duas horas com cada grupo fazendo dinâmicas com os meus poemas. Foi maravilhoso. As crianças respondem de uma maneira esplêndida a qualquer estímulo poético e com certeza o nosso encontro continuará reverberando em seus corações (e no meu também).

Em Santo André recebí a visita da Mariana Esteves, minha leitora de São Paulo que já veio duas vezes a Saquarema e Thais Manfrini, que não conhecia, minha leitora de Santo André. Thais é lindíssima e adorou tudo! Levou meu livro Território de Sonhos para que fosse autografado.

Quando voltei para São Paulo, preferi dormir do que viajar durante a noite, a irmã da Mariana me ofereceu sua casa , seu quarto, numa gentileza que até me deixou constrangida. Os pais da Mariana que queriam me conhecer, me levaram para jantar numa cantina enorme, tipicamente italiana, uma comida maravilhosa, beringelas, abobrinhas, cogumelos...

Aqui estou , em casa novamente, colocando a vida em dia...

terça-feira, 10 de abril de 2012

GODOFREDO E BIBLIOTECA

Godofredo, o mais novo habitante do jardim, é lindo. Parece uma pedra.Chegamos do Rio com o God (para os íntimos) numa caixinha onde havia uma banana. Ele veio tranquilo, no banco de trás do táxi, comendo a sua bananinha. Já era noite. Acendemos as luzes do jardim e colocamos o God aos pés de uma goiabeira, com a banana e um pote d'água. Ele ficou imóvel. Fomos dormir. Hoje acordei às 4:45hs e fui direto ao jardim. Ele havia se mudado de árvore, estava aos pés da palmeira majestosa e triangular, a casca da banana comida no meio do caminho. Ele andou uns cinco metros ( a distância entre uma árvore e outra)e ainda não se encontrou com os outros jabutis. Já dá para ver o quanto é calmo e tímido, pois não saiu explorando o jardim, mas vai pouco a pouco conquistando a sua terra. Aqui é um habitat perfeito e acho que ele vai amar. Os cheiros são essência de flores e de mar.

Hoje arrumo a mala para São Paulo. Estou no projeto Literatura Viva do Sesi e farei 4cidades do interior: Santo André, São Caetano do Sul, Mauá, São Bernardo.
Farei duas cidades por dia e talvez me ausente do mundo virtual, pois sei que chegarei morta no hotel à noite. Ficarei sediada em Santo André , indo e vindo.
São Bernardo tem uma Biblioteca grande , numa Escola Pública, com o meu nome, mas sou tão desorganizada que perdi o nome da escola, é uma pena, pois seria lindo visitá-la. Tentarei descobrir quando chegar lá. É maravilhoso ser flor e biblioteca, assim, quando me canso de ser gente, assumo estes outros avatares!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

UM JABUTI DE PRESENTE

Ganhamos mais um jabuti de presente. É um macho. Vou o Rio hoje buscá-lo e vou também ao oncologista munida dos meus exames maravilhosos como cartas de alforria, como cartas marítimas que marcassem ilhas desconhecidas e esplêndidas: o futuro.

PALAVRAS ANTIGAS

Astrolábios, sextantes,
alfarrábios,
arrumo nas minhas estantes
e cartas antigas,
roídas
pelo tempo.

Arrumo luas e ventos,
todos os velhos instrumentos
para enfrentar o sol e a tempestade,
os rumos mais variados.
Parto nesse meu barco
para o país do amor.

Quantos homens, desde o in[ício do mundo,
partiram, assim como eu,
uma bússola e um desejo,
o coração em sobressalto.

Quem, ancorado no cais,
esperará por mim?

in O Mar e os Sonhos, ed. LÊ

domingo, 8 de abril de 2012

CRIATIVIDADE

Leio hoje no O Globo uma entrevista com a psicóloga Shelley Carson , autora do livro O Cérebro Criativo que chega ao Brasil pela ed. BestSeller.
O que ela nos diz é maravilhoso e já sabíamos, mas agora a neurociência fundamenta as nossas intuições: todos , absolutamente todos os seres humanos são criativos, não apenas os artistas. Mas podemos estimular isso, é como um exercício, ginástica para a mente. Com meditação, contemplação, música e ousadia. Todos nós temos direito a algumas "loucuras" , todos nós temos direito a fazer coisas diferentes . Expandir a nossa mente só nos traz alegrias, seja decorando a nossa casa ou mesmo o mínimo espaço do escritório que ocupamos com objetos que nos levem por caminhos agradáveis e inusitados, seja fazendo alguma receita com nossa própria receita, uma colcha de retalhos,um quadro, um poema, a lista é longa e interminável. Nossa mente gosta de fazer associações inesperadas . Vejo o meu inconsciente como a minha fábrica de imagens e o silêncio, a contemplação, a meditação, faz com que eu tenha acesso a estas geografias profundas, com que eu possa colher estas imagens e idéias com mais facilidade.Não há alegria que se compare com a alegria de criar. E a criatividade nos ajuda a encontrar a saída para situações que às vezes parecem tão sem saída.

sábado, 7 de abril de 2012

TRUM-LIN

Quando meu filho André era bem pequeno escreví uma história para ele. Era sobre um menino que criava um personagem imaginário para brincar, se chamava Trum-Lin, mistura de trovão com raio e gotinha d'água. Não pensei em publicá-la e ela se perdeu. Isso foi na pré história da minha existência, eu nem escrevia poesia ainda. Não sei porque, hoje, ao acordar e arrumar a mesa para o café da manhã na varanda, o céu carregado de nuvens, o nome do personagem saiu de algum esconderijo da minha mente e se sentou para tomar café. O que é isso, a memória? Então nada se perde? Quando escrevi a história acho que meu filho Gustavo nem havia nascido! Naquela época como eu poderia imaginar que um dia no futuro teria tantos leitores e que meus poemas voaram por aí como pássaros ciganos ? Escrevo um poema agora e o dedico ao meu neto Luis que faz uma salada colorida com as palavras:

TRUM-LIN

Quando parece que o céu
vira mar
e um raio atravessa a janela,
ilumina a sala de jantar,
é o Trum-lin
que bate seus tambores
em sua fábrica de água.
Só quem é criança pode vê-lo
em seu novelo de luz.

Trum-lin faz música
com redemoinhos
e tempestades
voa pelos telhados
desarruma a cidade.

Só quem é criança pode vê-lo
em seu novelo de luz.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

ASTOR KAI

Dois dias antes do nascimento de Astor, o novo netinho do Juan, filho da Maya, meu neto de estimação, minha enteada teve que ir ao hospital para os últimos exames. Era greve geral na Espanha. Maya andou, com seu barrigão, duas horas por Barcelona. Não havia táxis, ônibus nem metrô. Talvez por isso, seu parto, dia 1 de abril, tenha sido normal, fácil e rápido.

Os astrônomos anunciaram
no dia 1 de abril de 2012
o nascimento de uma nova estrela
de primeira grandeza,
de um azul nunca visto
e com a luz do seu nome,
ASTOR KAI,
corações se iluminaram,
o universo se expandiu
e do mais longínquo infinito
até as profundezas da Terra
acordes perfeitos soletraram
alegria para sempre.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

ACASO

Tudo na minha vida aconteceu por puro acaso. Na década de 70 conhecemos Visconde de Mauá e decidimos acampar com as crianças um final de semana. Gostamos e voltamos algumas vezes. Ficávamos sempre no Vale do Maringá. Mas um dia decidimos mudar e entramos no Vale do Pavão para ver se havia um camping. Aí ficamos. Caminhamos um dia até o final do vale e comentamos com o homem que guardava o camping como estávamos impactados. Ele nos perguntou: _ Por que não compram uma terra?
Não tinhamos nenhuma possibilidade de comprar uma terra , mas ele insistiu em nos mostrar um lugar. Fomos ver a terra. Onde a estrada acabava subimos por uma trilha de vacas. E chegamos ao lugar mais esplêndido que eu jamais havia visto. Então voltamos ao camping, fizemos as malas e descemos a serra em busca de um empréstimo. Nunca havíamos pensado que seria possível ter um sítio. Aí criei meus filhos e encontrei minha essência, minha vida secreta, aí comecei a escrever poesia.

Um dia, não sei como, um pequeno livro do Lorca, com rosas na capa, veio parar nas minhas mãos. Às vezes acho que os livros buscam seus leitores. Até hoje eu o tenho comigo. Eu não lia espanhol, mas li e reli seus poemas umas trezentas vezes, até que eles se misturaram com a minha saliva e pude entender tudo. Amo o Divan del Tamarit.
Transcrevo duas estrofes:

"Poesia es lo imposible
hecho posible. Arpa
que tiene en vez de cuerdas
corazones y llamas.

Poesia es la vida
que cruzamos con ansia,
esperando al que lleva
sin rumbo nuestra barca."

Federico Garcia Lorca, in Divan del Tamarit

quarta-feira, 4 de abril de 2012

AQUARELAS

Cláudia Simões, aquarelista premiada, com exposições pelo mundo todo, irá fazer as aquarelas do meu livro de poemas que a Ed. Rovelle irá publicar. É uma experiência nova, faremos , ano que vem provavelmente, uma exposição com o lançamento do livro numa galeria de arte em São Paulo e ela venderá as aquarelas do livro. Os poemas são muito sensuais e estou curiosa para ver o resultado.

Dia 9 irei almoçar com as minhas editoras Bia Hetzel e Silvia Negreiros, que já me enviaram a arte final do DIÁRIO DA MONTANHA que sairá pela Manati no final de abril ou maio. O livro está belíssimo, fiquei muito impactada com seu visual. Faremos um lançamento no atelier da minha irmã Evelyn Kligerman e Luis Mérigo em Visconde de Mauá. Quem comprar o livro levará uma cerâmica de presente. Queria um violinista tocando, mas o meu violinista não vai poder, assim que se alguém puder me indicar um, eu agradeço . O Babel Restaurante fará o coquetel. Será no dia 2 de julho, ainda falta muito, mas eu já deixo o seu desenho no ar.

Em maio iremos para Veneza passando por Madrid para ver alguns amigos. Ficaremos 10 dias na bela cidade , mergulharei os olhos em tanta beleza que preciso preparar meu coração. Juan ama Veneza , é a sua cidade escolhida entre todas as cidades do mundo e ele quer comemorar aí o seu aniversário. É um menino que fará 80 anos. Uma vez, Felipe González lhe ofereceu o cargo de Cônsul Honorário de Veneza, mas infelizmente ele não aceitou por motivos de trabalho. Veneza é uma aquarela viva.

terça-feira, 3 de abril de 2012

DA MONTANHA PARA O MAR

Da montanha para o mar o caminho é longo e não se conta apenas em horas, minutos, segundos. É um longo caminho dentro de mim. Porque quando estou na minha casinha do bosque, em Visconde de Mauá, não sou apenas a mulher de 61 anos que já atravessou tantas chuvas , tanto sol e tanto vento, tantos espelhos quebrados, mas sou todas as mulheres que me habitam, o passado é palpável, vejo meus filhos pequenos, minha poesia ainda em rascunho.
Cheguei em Saquarema e são pilhas de e-mails, contratos, pedidos, fico tonta.Mas pouco a pouco vou colocando tudo no seu lugar. Em Mauá não tenho internet, o celular não funciona na minha casinha. Então quando volto, uma avalanche me espera.
Revi amigos, festejamos o aniversário do meu filho André, li muito, escrevi um conto para o meu livro de contos. Meu lagarto de estimação, o teiú, não apareceu. Os lírios com meu nome floresceram na minha ausência, quando cheguei já não havia mais nenhuma flor. Comprei uma cadeira de balanço austríaca num antiquário em Resende e aqui estou de volta, com o mar fazendo música atrás de mim, Juan escrevendo, as gatas, os jabutis. É muito bom viver.