quarta-feira, 4 de julho de 2018

PARTIDA

Estou de partida para a montanha.
Mergulharei na mata com todos os meus sentidos, pois realmente estou precisando parar o mundo e virar árvore.
Anseio pela noite escura e sua respiração.
Anseio pelas manhãs geladas.
Evoco o livro da Bella Chagall, Luzes Acesas, ela conta suas incursões solitárias pelo bosque quando criança e seu maravilhamento, quando a leio, é o meu.
Mas quando criança, eu morava no Grajaú, no Rio de Janeiro e não tive nenhum contato com fazendas ou matas ou sítios. Não tive essa sorte. Entretanto, recuperei o tempo perdido.
Várias vezes morei na montanha: Com meus filhos pequenos e depois quando me separei do primeiro casamento..
Não é fácil viver em isolamento. Mas nada pode nos ensinar tanto. Sei que muito do que sou foi forjado ali. Hoje tenho luz e todas as facilidades, mas no passado, sem luz e sem quase nada que tornasse a vida cômoda, viver ali era o exercício mais precioso de virar poeta.
Muitas vezes pensava: Se um antepassado chegasse, por alguma brecha do tempo, de algum tempo paralelo onde ainda vivesse, se sentiria em casa, com poucas diferenças.  Então me sentia próxima a pessoas de um álbum de família inexistente, pessoas que são feito as sombras da tarde quando a luz se esvai, não podemos nomeá-las, mas quem sabe o que deixaram em nós, em nossos genes.
Acabo de reler De Repente Nas Profundezas do Bosque, de Amós Oz e estou pronta para entrar no bosque e tentar ouvir, com ouvido afiado, a aranha em sua teia.

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