domingo, 24 de outubro de 2010

INUTENSÍLIO

Lá em Curitiba, num bate-papo com Marina Colasanti e Gloria Kirinus, citei Manoel de Barros: O poema é antes de tudo um inutensílio. Marina discordou e disse que a poesia sempre tem uma função. Eu acho que a poesia vem primeiro e a função, se houver, vem depois. Como se você encontrasse uma pedra negra e bela, rara, e a usasse como ferramenta. Ela não tinha a função-ferramenta. Ela era apenas uma pedra. Mas deixo a discussão com vocês. Não mudei a minha opinião, para mim o poema continua sendo um inutensílio:

IX

O poema é antes de tudo um inutensílio.

Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.

Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta
Uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
Enquanto vida houver

Ninguém é pai de um poema sem morrer.

MANOEL DE BARROS
in Arranjos para Assobio, ed. Civilização Brasileira

7 comentários:

  1. Que bom saber que o poema pode ser um inutensílio, dá mais liberdade para criá-lo! Adorei o post, Roseana!
    Anh! Quando puder venha me visitar: http://pensamentosvalemmaisqueouro.blogspot.com/
    Abraço.

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  2. Roseana, ao ler seu post, lembrei-me de oscar Wilde no livro O retrato de Dorian Gray: "Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele a não admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente.Toda a arte é absolutamente inútil"
    É o total inutensílio!!! Abraço.

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  3. Maravilha Luiz. Viva a poesia e a inutilidade!!!

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  4. ela é como o Moloi, gosta de discordar...

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