sábado, 30 de outubro de 2010

NO SÍTIO DO PICA PAU AMARELO

Nasci em 1950 numa casa triste. Meus pais eram judeus imigrantes e emboram tenham chegado ao Brasil bem antes da Segunda Guerra, era tudo muito recente e na minha casa se respirava um ar rarefeito. Fui uma criança solitária. Mas havia um lugar mágico onde eu respirava e era feliz: o Sítio do Pica Pau Amarelo. Na verdade era no sítio que eu morava. Eu não tinha os livros, mas todos os dias ia até a casa da minha amiga Sheila para ler. Lia todos e recomeçava. Claro, tinha meus preferidos: Narizinho e Viagem ao Céu. Também era apaixonada pelos Doze Trabalhos de Hércules.
Agora o Conselho do MEC quer proibir que as escolas recebam o livro Caçadas de Pedrinho, por conter expressões racistas contra Tia Nastácia. Ao invés de privar as crianças de uma obra-prima, não seria melhor explicar que eram os ares da época? Sou contra a censura e o patrulhamento ideológico. Sou a favor da liberdade, das discussões, do pensamento. Sou judia e sei o que é preconceito. Mas não sou a favor de que se proíba nenhuma obra por anti-semita. Que tal aproveitar a ocasião para se discutir a situação do negro na época em que o livro foi escrito? Tenho pavor dos censores.

9 comentários:

  1. Bom Dia Querida ! Ótimo post!! Concordo plenamente ,cresci lendo, assistindo essa obra maravilhosa . Não acredito que nenhuma leitura irá influênciar negativamente o comportamento dos jovens. A Educação da família ,e da Escola essa eu considero fundamental!! O preconceito no Brasil e no Mundo começa dentro de casa. Meus parabéns pela abordagem. UM belo fim de semana!!

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  2. Olá Roseana! Também fiquei muito contrariada com essa escolha do MEC, acho que essa decisão só faz ressaltar a falta de esclarecimento que ainda falta aos nossos governantes, sobre o principal objetivo da educação na vida de um ser humano. Postei minha opinião lá no blog, se quiser dar uma olhadinha... http://trasnformandovidas.blogspot.com/

    abraços!

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  3. A questão não se resolve tão facilmente assim carríssima Roseana. Se fosse somente uma questão de explicar não seria necessário um decreto/Lei, que prevê a obrigatoriedade do ensino da História e Culturas africana e afrobrasileira nas escolas brasileiras, ter sido sansionado em 2003. Os professores e professoras, deste país, pensando princialmente no ensino fundamental, não recebem uma educação que contemple as diferenças. Digo isso pois passei pela Faculdade de Educação da UFMG e somente tive uma disciplina que tratou dos temas: racismo no brasil, preconceito racil, descriminaçcão e afins. E pensando nas várias pesquisas sobre o assunto (Rosemberg, Paraíso, Gomes.)A maior parte dos professores do ensino fundamental não está bem preparada para trabalhar Literatura infanto-juvenil em suas salas. O que dizer então se, um professor que vive numa sociedade marcada pelo racismo e que não aprendeu o bastante sobre o contexto histórico das obras de Lobato... Será que o posicionamento deste professor dará conta de não permitir a contínua reprodução das expressões racistas pelas crianças, pior sua assimilação psicológica? Democracia não rima com censura, mas o tema é complexo!
    abraço!
    Kelly

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  4. Kelly, será que não seria o caso de se preparar melhor os professores? Fazer do professor um leitor crítico deveria ser preocupação de qualquer governo. E acho que a Fundação do Livro Infantil e Juvenil deveria se posicionar sobre o assunto.

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  5. Concordo com você Roseana. A entrevista que li ontem mencionava que só os professores que conhecessem a história poderiam utilizar os livros em sala de aula. Ora! Que governo é esse que nem sabe que conhecimentos estão sendo ministrados aos seus educadores!? Mais uma falha em nosso sistema!

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  6. Acho que privar nossas crianças e jovens do grande Monteiro Lobato não é o melhor caminho. melhor seria fazer um prefácio explicativo para o livro, uma pequena aula de história mostrando como era a situação do negro na época, o que mudou, o que falta mudar. Acho muito bom que se leia o livro com perspectiva histórica.

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  7. Sim, tens razão quanto a preparar melhor o professor. Entramos no território das Políticas Públicas para a educação, onde muita coisa vem acontecendo nos últimos anos.O que não pode é deixar o professor se guiar por seu próprio discernimento e por sua parca formação em relação ao tema, pois a sociedade inteira está passando por uma re-educação para as relações raciais. O que se deseja é o fortalecimento de discursos em favor do esclarecimento e contra a disseminação de discursos potencialmente racistas. O nosso passado ainda lateja.
    Boa discussão!

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  8. Então por que não se cria nas escolas um Forum Permanente de Pensamento? Fica a idéia.

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