Continuando o conto:
Bella me transformou. Sua escrita delicada construiu pontes de silêncio dentro de mim. Seu jeito de olhar a vida, os objetos, as pessoas, foi uma revelação quase religiosa. Ah, se ela soubesse que andaria assim pela minha vida, pelas minhas ruas, dentro do meu sangue, tão longe no tempo e no espaço da sua Vitebsk natal! Enquanto eu a leio, as palavras que contam a sua vida vão fazendo em minha alma um mosaico de músicas, imagens, cheiros. Não conheço a Rússia e com certeza a cidadezinha onde viveram Bella e Marc Chagall não existe mais ou se existe ninguém daquela época a reconheceria hoje. Mas eu a reconheço e a umidade que se desprende do rio, assim como o pátio das casas.
Durante muitos anos, este pequeno livro de capa azul andava sempre em minha bolsa, em minhas mesas. Quando eu estava triste eu o abria ao acaso e deixava que Bella conduzisse minha alma. Dentro de mim, essa mulher que nunca conheci, que morreu tão jovem, essa mulher feita de palavras, arruma os castiçais. Suas velas nunca se apagam. As palavras não morrem.
FIM
terça-feira, 9 de julho de 2013
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