quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

NATAL

O natal serão perus recheados
ou a nostalgia de uma neve
longínqua que nossos pés nunca tocaram?
Serão presentes embrulhados
em papel azul
e a alegria com hora marcada?
Serão famílias bucolicamente
sorridentes com seus corações
de lava fria?
Os pés de um homem tocaram
a terra para mudar a Terra
e deixaram um rastro de amor
e sangue.
Seu nome é mistério e senha.
Por que o homem precisa da desculpa
de um outro homem
para mergulhar as mãos no mel
e no horror?
penso nas mulheres queimadas
em seu nome, amém.
Penso nas guerras, conquistas, mentiras,
intrigas, em seu nome, amém,
quando o seu maior milagre
foi equilibrar-se na superfície
escorregadia dos sonhos.

in O Silêncio dos Descobrimentos, ed. Paulus.

O Natal seria a lembrança de um homem que disse:" Imitai os lirios do campo vestidos por Deus e nem Salomão em toda a sua glória vestiu-se como eles". Jesus pregava a simplicidade , o gesto limpo, o não consumismo. Como justificar o furor que se apossa de todos? As compras enlouquecidas, carrinhos transbordando, as pessoas se endividam, presentes para os amigos, inimigos, as famílias fraturadas precisam sorrir diante de uma árvore enfeitada. Eu e Juan celebramos um antinatal. Reafirmamos nossa crença no que realmente acreditamos: o natal cotidianamente celebrado quando estendemos a mão para o outro e nosso coração bate em uníssono com o coração do universo.

2 comentários:

  1. Você existe? Ou em meus sonhos de humanidade...
    Hoje chorei no silêncio da descoberta de seus poemas.

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