sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MEMÓRIA

Voltar a um lugar depois de certo tempo e reconhecer uma loja, uma padaria, uma livraria, um restaurante, nos dá uma sensação de conforto e segurança. A marca da nossa época é a fluidez, tudo nos escapa das mãos e dos olhos. Então , voltar a uma cidade e reconhecer lugares que nos marcaram é maravilhoso.
Sou aventureira e conservadora ao mesmo tempo. Adoro o meu bairro que muda tão pouco desde que cheguei aqui. O Seu Teixeira sempre na porta do mercado da esquina, mercado péssimo, não tem nada e assim me obriga a comer frugalmente e a economizar, o Moisés da farmácia , sempre com um sorriso e uma delicadeza para nos oferecer como caramelos. Ele melhorou a farmácia, está linda, mas continua ali, no mesmo lugar. As duas pensões de comida caseira. Uma mudou de um lugar para outro a cinco passos de distância. O bar da esquina que muito amavelmente coloca cadeiras na calçada para que os passageiros irritados com a demora dos ônibus possam esperar sentados e na sombra. Todas estas coisas que estão sempre ali, todos os dias, me dão uma sensação de continuidade, parece que irei viver para sempre. E já fazem parte do meu acervo de memórias.

MEMÓRIA

Há pouco tempo,
aqui havia uma padaria.
Pronto - não há mais.

Há pouco tempo
aqui havia uma casa,
cheia de cantos, recantos,
corredores impregnados
de infância e encanto.
Pronto - não há mais.

Uma farmácia,
uma quitanda.
Pronto - não há mais.

A cidade destrói, constrói,
reconstrói.
Uma árvore, um bosque.
Pronto - nunca mais.

in Paisagens, ed. Lê.

5 comentários:

  1. Boa tarde, Rosana. Gostaria de conversar contigo sobre a publicação de um poema de sua autoria em um livro didático. Se possível, me escreva no: karina.tengan@gmail.com
    Grata,
    Karina

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  2. O que é autora do poema quis dizer com idade destrói e reconstrói

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  3. Pq provavelmente as modificações ocorrem? E qual as transformações que vão acontecendo nos espaços urbanos são boas e ruins Pq?

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