terça-feira, 30 de novembro de 2010

UMA GATA NO CORAÇÃO

Em 1997 ganhei uma gata. Era uma mistura de siamesa com angorá. Linda. Juan ainda morava na Espanha e de longe a batizou: Babel.
Quando fui morar em Madrid , eu a deixei em Visconde de Mauá e pedi ao gato negro do sítio, o Noir, que tomasse conta dela. Três meses depois voltamos e Babel estava lindamente grávida. Teve seus filhos de madrugada, na nossa cama. Nos mudamos para outro quarto. Ela foi uma mãe maravilhosa.
Voltei para Madrid e Babel continuou no sítio,em Mauá, no mato. Só quando viemos definitivamente para o Rio, Babel virou uma gata de apartamento.
Juan me deu a Luna , gata persa, de presente, para que Babel não se sentisse tão sozinha. De Madrid trouxemos Rex, o lindíssimo cachorro branco do Juan. O trio viveu muito bem lá no Rio Comprido. Mas o Rex já veio muito velho e um dia morreu.
Nos mudamos para Saquarema com Babel e Luna. Babel enlouqueceu de felicidade numa casa com jardim. Era passeadeira, grande conhecedora de telhados. Viveu imensas aventuras e um dia, já com doze anos, desapareceu. Babel ocupava a nossa vida de uma tal maneira que pensei que não poderíamos carregar tanta dor. Então escreví um poema e agora virou livro, chegou ontem à tarde com ilustrações maravilhosas do Caó Cruz Alves. Tenho alguns livros em parceria com o Caó, adoro o seu trabalho, mas ele me surpreendeu pela simplicidade, lirismo e beleza. Babel está sempre viva. Virou restaurante, escola de cozinha e depois de participar de tantos livros agora ela é um livro que se chama Uma Gata No Coração, da ed. Amarylis. Luna, a gata persa, olha o livro e ronrona, se lembra. Nana, nossa nova gata, lambe o livro e o despreza: ela prefere sardinhas, não é como a Babel, uma gata leitora.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A ARTE DE SER LEVE

Acabo de ler um livro delicioso: A arte de ser leve, da jornalista Leila Ferreira. Ela vai nos contando através de mil historinhas reais como a falta de educação e delicadeza permeia as relações em nossa sociedade . Ela viajou e entrevistou pessoas em todo o mundo, pessoas que se interessam de alguma maneira pelo tema. Ela fala do desconforto que nossa sociedade provoca ao estimular a competição desenfreada, o consumo voraz, ao estimular o individualismo cego, que não nos deixa ver e ouvir o outro. Ela fala das pessoas que mudaram de vida, que escolheram viver com menos, que saíram de empregos que as sufocavam para buscar a felicidade. Ela fala de felicidade, alegria, bom-humor. Fala de amizades verdadeiras. Fala de como a tecnologia que existe para nos ajudar e libertar, nos torna escravos e nos deixa sem tempo, esgotados. Ela fala do perigo que é a gente estar conectado 24 horas por dia. Não percam, é um belíssimo presente de natal. E aproveitem o livro para refletir sobre o natal. Que festa é essa que para comemorar o nascimento do homem mais simples (e sofisticado) do mundo inventou que temos que consumir todo o nosso salário em presentes absurdos? Que tal a gente dar de presente livros, um poema, uma canção, um entardecer, uma palavra mágica?

Aceitei ir a Duque de Caxias. Como poderia perder uma homenagem assim? Uma Sala de Leitura com meu nome! Além disso encontrarei os amigos do Clube de Leitura. Então não vale ficar com medo, dia 2 estarei lá na E.M Pedro Paulo da Silva e depois conto para vocês. Serão entregues 300 livros (Todas as Cores Dentro do Branco) que foram doados pela Ed. Nova Fronteira, pois o livro saiu da editora.

Foi alterada a data para o Sarau de Poesia em Rio das Ostras em homenagem ao Latuf. Será no dia 09/12 às 18hs.

domingo, 28 de novembro de 2010

VOLTEI

Voltei. Foi um grande mergulho em um lugar que é um não mundo. Fiquei 9 dias numa casinha dentro da mata em Visconde de Mauá, sem telefone, internet, televisão. Para tomar banho todos os dias acendia o fogão de lenha . Tucanos, guaxos, sabiás, maritacas, milhares de pássaros teciam uma rede invisível de música . Li muito, pensei muito. Dormir sozinha dentro da mata, abraçada pela escuridão e silêncio é maravilhoso.
Uma vez , na casa do meu filho André, o Babel Restaurante , vi o noticiário: o Rio despedaçado, as Coréias quase em guerra.
A minha casinha é tão escondida que não se vê de nenhum lugar do sítio.
André e Dani fizeram uma festa a fantasia no Babel dia 25 à noite: nunca presenciei nada mais onírico. Muitos amigos da minha juventude em Mauá estavam na festa, fiquei tão emocionada, era como uma viagem no tempo. Todos se fantasiaram da maneira mais linda. Eu me vestí de preto e André comprou para mim um chapéu dourado de bruxa que parecia um chapéu de fada. Assim, fiquei uma fada-bruxa.

Dia 2 de dezembro uma escola em Duque de Caxias inaugura uma Sala de Leitura com meu nome. Eu deveria ir, mas estou com medo. Como se chegou tão longe? Como, ao longo de anos, os governos deixaram que tudo isso acontecesse? Estamos diante de uma oportunidade única para virar o jogo. Vamos torcer. Não se pode viver numa cidade sitiada como se estivessemos na Idade Média.
Guga, meu filho, me conta: na sala de aula do seu sobrinho Pablo, na espanha, leram um poema meu, pois estou numa antologia espanhola. Pablo, de dez anos, disse: é minha tia-avó, todos riram, ninguém acreditou.

Acabo de ler a notícia de que no dia 1 de dezembro a partir das 18hs a Universidade Federal de Rio das Ostras, sob a coordenação da Professora Sonia Maciel promoverá um Sarau e Concurso Literário em homenagem ao nosso amado amigo Latuf Isaias Mucci. Na ocasião será relançado seu belíssimo livro Águas de Saquarema. maiores informações no blog: http://www.cllim2010.blogspot.com

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dez Direitos Naturais das Crianças



Silvana, diretora da E.M.Hermann Müller me enviou os direitos naturais das crianças. É belíssimo.

1. Direito ao ócio: Toda criança tem o direito de viver momentos de tempo não programado pelos adultos.

2. Direito a sujar-se: Toda criança tem o direito de brincar com a terra, a areia, a água, a lama, as pedras.

3. Direito aos sentidos: Toda criança tem o direito de sentir os gostos e os perfumes oferecidos pela natureza.

4. Direito ao diálogo: Toda criança tem o direito de falar sem ser interrompida, de ser levada a sério nas suas idéias, de ter explicações para suas dúvidas e de escutar uma fala mansa, sem gritos.

5. Direito ao uso das mãos: Toda criança tem o direito de pregar pregos, de cortar e raspar madeira, de lixar, colar, modelar o barro, amarrar barbantes e cordas, de acender o fogo.

6. Direito a um bom início: Toda criança tem o direito de comer alimentos sãos desde o nascimento, de beber água limpa e respirar ar puro.

7. Direito à rua: Toda criança tem o direito de brincar na rua e na praça e de andar livremente pelos caminhos, sem medo de ser atropelada por motoristas que pensam que as vias lhes pertencem.

8. Direito à natureza selvagem: Toda criança tem o direito de construir uma cabana nos bosques, de ter um arbusto onde se esconder e árvores nas quais subir.

9. Direito ao silêncio: Toda criança tem o direito de escutar o rumor do vento, o canto dos pássaros, o murmúrio das águas.

10. Direito à poesia: Toda criança tem o direito de ver o sol nascer e se pôr e de ver as estrelas e a lua.”

COZINHANDO PARA OS AMIGOS

Estou em Resende, na casa-escola do meu filho André . Ontem assisti a aula Cozinhando para os Amigos. Era uma aula de massas e a turma animada e lindíssima. Eles fizeram massa fresca com tinta de lula, ervas, pimenta. Os molhos: de truta salmonada com aspargos, queijo de cabra com geléia de amora e cachaça e ossobuco. Fizeram lasanha de espinafre. A aula durou umas 3 horas. Depois todos se sentaram na bela mesa , foram abertos vinhos maravilhosos que não estão incluídos no preço da aula , mas o custo é dividido entre todos. A dinâmica da turma de dez pessoas cozinhando juntas, em equipe, sob a batuta do Chef André, é emocionante. Ficaram todos amigos e dizem que a aula é uma terapia e nunca mais querem parar. Alguns moram longe, em Barra Mansa e a distância não é problema. Há um médico, uma botânica, uma técnica de laboratório, um publicitário, etc...
A Resende de hoje é tão diferente da cidadezinha quase rural da minha juventude. É uma cidade bonita, viva.
Estou louca para subir a montanha . Espero o André e a Dani acordarem. A casa tem cheiro de filho. É muito bom.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CAFÉ, FLOR E POESIA

A poesia de Roseana Murray veio coroar seis anos de reflexões,
inquietações, descobertas, desacomodações e ações que acompanham os
nossos projetos.
A poesia nos convida a trilhar este caminho com muita profundidade,
leveza e alegria.
Acreditamos que é preciso POESIA para que possamos nutrir a esperança
de juntos construirmos um mundo mais saudável e justo.
A Poesia de Roseana, declamada no VI Café, Flor e Poesia, confirma a
nossa crença na capacidade das crianças de utilizar a arte para se
ligar a um lugar de maneira surpreendentemente bela. Sua poesia nos dá
a possibilidade de mergulhar na natureza e observar atentamente,
criando um espaço para a alegria e admiração que o mundo natural pode
evocar. Acredito que as crianças que entendem e amam o lugar em que
vivem, quando crescem, se tornam cidadãos engajados e comprometidos
com a preservação desse lugar.
Uma "sala de aula" pode ser uma horta, uma pequena agro floresta, um
bosque... um jardim!
Uma educação assim estimula tanto o entendimento intelectual da
ecologia como cria vínculos emocionais com a natureza.

A você,minha poetisa inspiradora,
Meu amor e a minha gratidão.
Silvane Aparecida da Silva

Diretora da E.M. Herman Müller

SUBINDO A MONTANHA

Hoje vou para Visconde de Mauá. Minha primeira estação é Resende, Escola de Cozinha Babel Gastronomia. Assisto a uma aula de massas do curso "Cozinhando para os amigos". Depois da aula todos jantam o que cozinharam. Durmo em Resende e amanhã subimos a montanha. Vou ficar dez dias na minha casinha dentro da mata para colocar em dia a minha maternidade. Faz tanto tempo que não vejo meu filho André. Sei que eles prepararam um jardim para a minha casinha e muitas outras surpresas. Estou radiante. No sítio não há internet e a lan house mais próxima fica a 7km. Como não dirijo, nem sei se consigo ir até lá. Todos sabem que as estradinhas entre os vales são péssimas e se não conseguir chegar a uma lan house conversaremos por telepatia. Mas amanhã ainda escrevo no blog para contar a aula do André Murray e da Dani Keiko.

Leio uma entrevista com o sociólogo Alain Touraine em que ele diz que "o único movimento político realmente forte hoje é a ecologia. Pela primeira vez na História abandonamos a velha filosofia de Descartes ou Bacon de que a cultura domina a natureza. Pela primeira vez estamos preocupados em salvar a natureza sem destruir a civilização." Então, todo gesto limpo é necessário. Todo jardim é necessário. Toda árvore, toda planta, todo animal.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

REDE, CAOS CRIATIVO, TOMATES E MEMÓRIA

Hoje abro o blog e encontro um comentário de um professor do Acre. Penso que exatamente neste minuto bilhões de pessoas estão conectadas ao mesmo tempo numa rede tão imensa que dá até uma certa vertigem. Nunca tantos seres humanos se comunicaram de lugares tão diversos em tempo real. E idéias circulam pela rede. Leio uma entrevista com um escritor americano, Steven Johnson, onde ele constesta a tese de que grandes idéias brotam do nada. Diz o autor que grandes idéias nascem do caos. Ele pede que as famílias estimulem seus filhos a cultivarem hobbies e atividades paralelas ao estudo e que todos levem um caderninho para anotar suas idéias. Às vezes uma idéia não faz sentido hoje, mas pode fazer dentro de algum tempo. E que boas idéias devem ser copiadas e que todas as pessoas, empresas, escolas, deveriam dedicar pelo menos 20% do seu tempo para a criação. E que a criação em equipe é muito estimulante e que quanto maior a diversidade entre as pessoas mais interessantes são as idéias. E finalmente que o caos é criativo.

Ainda sobre a E.M.Hermann Muller: na entrada da escola há dois bancos antigos, que eram as carteiras usadas no passado. Silvane, a diretora, as recuperou e colocou ali para os pais se sentarem. Assim, ele liga o passado ao futuro e muitos pais que quando crianças estudaram na escola, se lembram das carteiras e se emocionam.

Recebo um convite de cidade de Paty do Alferes para conversar com os professores. Assim como Joinville possui a festa das flores, Paty possui a festa do tomate. Estou entusiasmada, pois adoro tomate. Todos os dias de manhã ralo um tomate no lado grosso do ralador. Na minha mão fica apenas a casca, é facílimo. Acrescento azeite e uma pitada de sal. É para untar o pão. É uma receita espanhola. Assim, se pode retirar a manteiga do cardápio no café da manhã. É muito mais saudável. E delicioso.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

IPÊS AMARELOS

Esquecí de contar na minha crônica de ontem que Joinville é salpicada de ipês amarelos e estão todos floridos. É uma festa amarela. E também não contei que há um concurso de jardins para as escolas e este ano a E.M.Herman Muller está entre as 3 vencedoras. E também que vi os lírios mais lindos do mundo e que seu nome científico é hemerocallis, palavra difícil que as crianças pronunciam com a maior facilidade. Silvane, a diretora da E.M Hermann Muller me contou que alguém que cultiva as flores estava criando uma flor nova e que daria meu nome, já que adorou os poemas do livro Jardins plantados no jardim da escola. Gostaria que a Silvane me mantivesse informada, já que não imagino nada melhor no mundo do que virar flor.

Ontem vi um programa na Globonews sobre a questão da educação no Brasil. Realmente é uma tragédia, pois há uma carência total de professores de física, química e matemática no ensino médio. A saída, para mim, é tornar o salário atraente e fortalecer o ensino básico , já que uma criança que sai lendo e escrevendo mal, quando chega ao ensino médio não estará apta a aprender. Eles citaram uma cifra terrível, não sei se é verdade, a gente sempre desconfia das cifras: 74% dos alunos que saem do ensino fundamental não entendem o que estão lendo. O que será desta criança no ensino médio? No programa se dizia que não falta trabalho para profissionais especializados no Brasil, mas faltam os profissionais. Adquire muito mais valor então , uma experiência como a da escola Herman Muller, pois as crianças saem da sexta-série (a escola só vai até a sexta) lendo perfeitamente, escrevendo perfeitamente, entendendo tudo e com imensas aptidões para a vida.

domingo, 14 de novembro de 2010

SONHO

Nem nos meus mais desvairados sonhos eu poderia imaginar uma escola como a E.M.Hermann Muller, na região rural de Joinville. Lá as crianças são alfabetizadas com flores e poesia. Há no jardim um alfabeto das flores, cada flor com uma letra de a a z, amor-perfeito, begônia, etc. Aprendem matemática construindo um orquidário, conhecem as ervas medicinais, a horta abastece a cozinha, levam os livros da biblioteca para o Bosque da Leitura.
Explico: quando a diretora Silvane Aparecida da Silva assumiu a escola em 2003, a escola estava desacreditada, os alunos iam para outras escolas ou para a cidade. Então ela criou o projeto Café, Flor e Poesia , arregaçou as mangas e convidou a comunidade para participar. Jardins foram nascendo e a poesia se misturou com os jardins. Os alunos voltaram, e hoje a escola é um modelo de educação ecológica e integrada. Foi feita uma parceria com um orquidário, e as crianças cultivam orquídeas que no futuro serão devolvidas para a mata Atlântica . Cada ano o Café, Flor e Poesia aborda um tema. No ano da Arca de Noé, as crianças e a comunidade se conscientizaram de que animais estão em extinção e não podem ser caçados e levaram para a escola armadilhas e alçapões para cumprir a promessa de deixar em paz os animais em seu habitat. No ano do Passaredo soltaram os passarinhos das gaiolas e é um sem fim de ações e aprendizados. O Jardim Encantado tem um orquidário construído com material de demolição, uma mandala de flores misturadas, o alfabeto das flores e um caminho de pedra que vai desembocar numa miniatura da casa de Monet. Por todo o jardim plantaram a minha poesia, em placas de madeira antiga, os poemas do livro Jardins.
No evento Café, Flor e Poesia, as crianças estavam emocionadíssimas com a minha presença e acho que chorei um rio. Cantaram, declamaram, dançaram. O Secretário de Educação fez um discurso tão lindo, falou da criança que todos temos dentro e que em momentos como o que estávamos vivendo, as crianças trazem a nossa criança de volta. O grande projeto de educação pensado pela equipe Marcos Aurélio Fernandes e Rosânia Campos é humanizar as escolas, o seu espaço físico. Levar jardins para as escolas, criar um bosque de leitura em cada uma, criar uma educação onde a arte não se separe do cotidiano e uma educação que desafie, nestes novos tempos em que o professor não é mais aquele-que-sabe-tudo, mas aquele que vai preparar um ser humano melhor. Em todas as minhas andanças pelo Brasil ñunca vi um projeto de educação melhor. Marcos e Rosânia são uma fábrica de idéias e estimulam os professores a criar , a ousar, não impõem barreiras nem limites , pois entendem que o conteúdo é consequencia da felicidade que reina numa escola criativa. Ainda fizeram um Programa de Alimentação Inclusiva, a escola prepara comidas especiais para crianças com diabetes, alergias alimentares, etc.
Fui recebida com um carinho muito especial, meus desejos eram adivinhados e Alcione , a belíssima coordenadora de bibliotecas, com seu chale vermelho, faz o trabalho mais profissional e impecável do mundo, tornando as bibliotecas espaços vivos, verdadeiras labaredas. Alcione me levou pela mão até a Expoville, a maravilhosa exposição anual das flores, junto com sua filhinha Luiza e enchi os olhos de orquídeas.
Ainda conhecí a E.M Artur da Costa e Silva, de triste memória, (deveriam trocar o nome da escola!) na zona rural com direito a lago e patinhos. Um conto de fadas.
À tarde, na nossa mesa redonda na livraria Midas, quando Silvane contou a sua experiência na E.M.Herman Muller, a Doutora Sueli chorou e disse que já podia morrer feliz, pois estava vendo acontecer, diante dos seus olhos, a escola que sempre sonhou.

Silvane, a diretora da E.M Herman Muller virá ao nosso Clube de Leitura da Casa Amarela com sua filha Amanda. Talvez então eu consiga retribuir um pouco da gentileza e do carinho com que fui recebida em Joinville. Aliás, o hotel Tannenhof onde fiquei hospedada e que me soou como cavalos em galopada quer dizer bosque de pinheiros. Toda a minha estadia esteve embrulhada em cheiro de bosque.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

JOINVILLE II

Cheguei em Joinville e realmente a cidade é linda. Já fui visitar algumas escolas , mas agora estou exausta, já não dou nem mais um passo, preciso descansar. Vi muitos projetos maravilhosos, amanhã conto tudo (ou depois de amanhã). Recebí flores no quarto, e cartas maravilhosas das crianças da escola que vai me receber com o evento Café, Flor e Poesia. O hotel é lindo, em estilo alemão, disseram que é o mais antigo da cidade: Tannenhof. O nome tem som de cavalos em galopada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

JOINVILLE

Arrumo a mala para Joinville. Pressinto que será uma linda viagem. Participo de uma mesa redonda onde tenho que falar por 6o minutos sobre a força da poesia. Nunca escrevo o que vou falar, mas vou arrumando tudo em minha mente como se a fala fosse um jogo. Geralmente dá certo. Acho que quando se fala lendo o texto que foi escrito, é difícil contagiar o público. Levo muitos dos meus livros, eles me darão o suporte. Sempre tento fazer alguma coisa interativa. Talvez leia um conto do meu novo livro no final, pois também tenho que falar de práticas leitoras e quero mostrar o envolvimento do leitor com o personagem.
Fui convidada, ainda informalmente, para a próxima Jornada Literária de Caxias do Sul. Fiquei radiante, pois falam maravilhas da Jornada. Enfim, de mala em mala, lá vou eu e minha mulher cigana, que adora viajar. Nós mulheres, somos muitas mulheres.
Se der, amanhã escrevo do hotel.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

MARTE

Li com espanto que os cientistas pensam mandar uma nave tripulada para Marte. Só de ida. Os homens que pousariam em Marte colonizariam o planeta vermelho preparando o terreno para as póximas naves tripuladas. Fiquei impressionadíssima pois na década de 80 li um dos livros mais preciosos da minha vida: Crônicas Marcianas de Ray Bradbury. Com infinita poesia e delicadeza o autor tece uma história feita de quase contos independentes mas que formam um desenho terrível, assustador. Homens chegam em Marte para colonizar o planeta. Ainda havia alguns marcianos. Mas não vou contar a história.

Hoje fui conversar com Ana Paula, nossa Secretária de Educação que adoro. Redesenhamos a minha participação no nosso projeto Uma Onda de leitura para o ano que vem. Trabalharei apenas com professores e diretores. Fiquei feliz, vou fazer oficinas de sensibilização para a leitura, com algumas maluquices.

Recebí meu novo livro VENTO DISTANTE ,ed. Escrita Fina. Aceitei a encomenda porque me apaixonei pelo nome da editora. São 12 contos belos e estranhos. Eles me deram muito trabalho, mas agora, com o livro pronto, vejo que valeu a pena.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

JANELINHA

Conhecí Gisele no ano 2.000. Chovia muito e ligamos para uma central de táxi, pois íamos almoçar na casa de uns amigos. Eu morava no Rio Comprido. veio Gisele dirigindo. Ela era tão vibrante, risonha, interessante, que ficamos com seu telefone e a chamamos para nos buscar. Juan, meu marido, jornalista que é, fez muitas perguntas sobre como era uma mulher dirigir no Rio de janeiro. Ela disse que a única coisa desagradável era ter que ir ao banheiro. Quando chegamos em casa eu perguntei se então ela queria ir ao banheiro. Ela me disse que sim. Subimos ao apartamento e perguntei se tinha filhos. Dois, ela me disse. Mandei alguns livros para eles. Ficamos desde então muito amigas. Ela é minha fiel escudeira. Por nossa influência ela se mudou para Inoã, terceiro distrito de Maricá. Doei alguns livros para seu caçula Daniel(que eu vi nascer) levar para a sua escola. Outro dia Gisele me pediu que fosse conversar com as crianças. Hoje fui. Ela abriu mão de um dia do seu trabalho para me levar. A escola se chama Vereador Anaceto Elias, mas é conhecida como Escola Janelinha e só vai até o primeiro ano. Fiz um sorteio de livros no final, depois de conversarmos, lermos poemas, etc. As crianças ficaram felizes. Mas quando perguntei para a diretora se as crianças saíam todas alfabetizadas da escola, ela me disse, oitenta por cento. O que acontecerá com os alunos que ficaram dentro dos 20 por cento?

domingo, 7 de novembro de 2010

CLUBE DE LEITURA DA CASA AMARELA

Ontem éramos 14 pessoas . Nos apertamos em volta da mesa da varanda e coubemos todos. Quando criei o Clube pensei nos professores de Saquarema, mas ontem eram minoria. Vieram de Duque de Caxias, Teresópolis, Rio. Discutimos o livro a Distância entre Nós de Thrity Umrigar: toda a tristeza, o sofrimento e a beleza da trama. A grandeza, a força de Bhima, que conduz a história. Muitos acharam o livro pesado demais, desesperado demais. Outros se identificaram com algumas situações, alguns personagens. Uns sentiram ternura, outros, raiva, até ódio. Felipe, Secretário de Leitura de Duque de Caxias disse que nunca mais queria ler um livro indiano na sua vida. Que nunca havia lido um livro tão pesado. Evelyn , minha irmã, falou de nossa babá Eunice, que entregou o próprio filho para outra pessoa criar para nos criar. Assim como Bhima entregou a sua vida a uma família estranha. Discutimos preconceitos, comparamos India e Brasil, acho que foi muito positivo.
Ganhei muitos presentes: Andréia trouxe uma compota de pera, tão linda que dá pena comer. O vidro foi decorado pelo grupo e veio numa linda sacola de pano. Angela, leitora do blog, fez um livro artesanal desenhado por ela, com toda a minha viagem pela Espanha, que ela retirou daqui do blog. Emocionante.
Os depoimentos eram belos: Higor nos contou a sua ternura por Bhima, a personagem do livro que era empregada doméstica, pois sua mãe também era empregada doméstica. Thais nos contou que sua mãe havia falecido uma semana atrás e que durante a doença da mãe o livro a ajudou muito.
Delma fazia anos e fiz um bolo-surpresa para ela, mas a minha surpresa é que ela trouxe um bolo! todo azul, feito pelo namorado. Tivemos dois bolos e ela teve que apagar muitas velas.
Agradeço a todos a presença. Nosso próximo livro : As Travessuras da menina Má, Vargas LLosa e nosso encontro será no dia 5 de fevereiro.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

EDUCAÇÃO

Felizmente a Academia Brasileira de Letras, além do Ministro da Educação, também se posicionou contra a censura ao livro Caçadas de Pedrinho de Monteiro Lobato. Parece que há uma (quase)unanimidade em torno da idéia de que não se pode mutilar uma obra de arte em nome do que é politicamente correto. Com algumas vozes dissonantes.
Assistimos todos com surpresa a afirmação da Presidente eleita Dilma Roussef de que a educação no Brasil está muito bem encaminhada, em sua primeira entrevista coletiva. Mas hoje o Brasil está junto com o Zimbáue em número de anos de estudo. Não é uma boa companhia e claro, o governo contesta a avaliação da ONU. Não contestaria se os números fossem favoráveis ao Brasil. Ao invés de contestar deveria se preocupar.Acho que a situação é alarmante. Quantos talentos se perdem no Brasil? Milhões? A maior riqueza de um país são suas mentes e gostaríamos que chegasse o dia em que a educação ocupasse um lugar privilegiado na agenda dos governantes. O governo deveria investir muito na formação dos professores, pois a base é o ensino fundamental. Tornar o ensino médio obrigatório com uma agenda interessante para que o jovem não fuja da escola. A criança já deveria sair do ensino fundamental falando uma lingua estrangeira, pois é quando criança que se aprende linguas com facilidade. O ensino do espanhol jé é obrigatório mas eu não vejo isso nas escolas. E a LEITURA deveria ocupar um lugar de absoluto destaque, pois quem não sabe ler não pode escolher. Há que saber ler o que está no texto e o que não está no texto, as entrelinhas. Educação é saúde, pois a ignorância literalmente mata.

Amanhã é o almoço do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela. Hoje chega minha irmã Evelyn Kligerman , que faz parte do Clube. O pessoal de Duque de Caxias já confirmou a presença. Teremos alguns convidados: uma leitora do blog, Angela, e sua amiga, minha tia Alice, de 82 anos, também virá de Teresópolis, também quer entrar para o Clube. Já começo os preparativos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O SÍTIO CONTINUARÁ ABERTO

Parece que o Sítio do Pica Pau Amarelo continuará aberto para as crianças do século XXI. O Ministro da Educação pedirá ao CNE que reexamine parecer contrario à distribuição do livro para escolas públicas.
Diz o Ministro : "É incomum a quantidade de manifestações que recebemos de pessoas que são especialistas na área e que não veem nenhum prejuízo em que essa obra de Monteiro Lobato continue sendo adotada nas escolas."
Há a sugestão de uma nota explicativa. Que ponham as notas explicativas mas que a porteira do Sítio continue aberta, rangendo em dias de sol, para receber a criançada.

POESIA

Hoje o dia está perfeito. Azul. O ar perfumado. A poesia ocupa todos os espaços.

POESIA

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Carlos Drummond de Andrade, in Alguma Poesia


Impressionante o discurso do Presidente Obama. Assume toda a responsabilidade sobre o fracasso nas votações. Impressionante a sua tristeza. Nunca se viu nada igual no Brasil, onde ninguém sabe nada, ninguém viu nada e a culpa é sempre dos outros. Tenho muita pena do Presidente Obama. Sai destroçado, mas quem sabe se recupera. Vamos torcer para que não venha algo ainda pior do que o Bush nas próximas eleições. O mundo não merece.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

GRAJAÚ

Nasci no Grajaú, bairro da zona norte do Rio. Na Av.Engenheiro Richard bem pertinho da Praça Edmundo Rego. Tenho alguns flashes desta época tão distante. Na frente do prédio havia flores azuis e as escadas eram meu reino, pois morávamos no terceiro andar. Brincava horas nas escadas, sozinha, com minhas bonecas. Depois fiz amigas, duas: Eliane e Liliane. Adorava a casa delas. O pai era oficial da Marinha e eu o achava lindo com seu uniforme. Ele ficava muito tempo fora e quando voltava era uma festa. Eu o achava misterioso: um homem que vinha do mar. Com uns 5 anos nos mudamos para a R.Barão do Bom Retiro, ao lado da loja do meu pai, uma casa tão pequena que meu irmão dormia na sala. Eu estudava na Escola Cruzeiro do Sul, aí aprendi a ler, no pré-primário.Depois fui para a E.M.Francisco Manoel A primeira palavra que li foi cidade.Finalmente nos mudamos para a R.Caruarú 40 quando eu tinha 9 anos. A casa era linda, toda amarela e posso tocá-la, intacta na minha memória. A casa não existe mais.
O Grajaú da minha infância era um bairro belíssimo, muito parecido com a Urca. Lembro das casas, das árvores, das praças. Tamarindos enchem a minha memória de verde. Minha mãe adorava caminhar e nos levava com ela. Percorri aquelas ruas milhares de vezes. Toda a família morava perto e eu ia sozinha para a casa das tias, para a casa da avó. Lembro que andava para lá e para cá, ia visitar minhas amigas, não havia perigo.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

MULHERES

Uma mulher foi eleita para Presidente do Brasil. Não me emociono tanto porque ela se elegeu não por suas idéias , carisma ou por sua vida, mas pelo desejo do Presidente Lula do alto de sua popularidade. Ela foi imposta. Agora espero que ela não governe na sombra, tutelada, pois estaria perpetuando a idéia de que uma mulher não pode decidir sozinha, precisa de um homem . Espero que mostre independência e que seu governo não seja apenas um intervalo, que ela não esteja apenas guardando o lugar para seu Mestre. Desejo que seu governo seja seu e que abra portas para que as mulheres se afirmem, independentes. Que Dilma enfim seja Dilma, que possamos conhecer a mulher verdadeira e não a que foi criada pelos marqueteiros. Então , nós mulheres, poderemos nos orgulhar.
Enquanto isso no Irã, Sakineh pode ser executada a qualquer momento. Seu filho continua preso. A voz do mundo, todo o clamor não foi ouvido e as autoridades já arrumam a forca. Se a iraniana for executada cada mulher morre um pouco junto com ela.
A ABL fará uma reunião na quinta-feira próxima para discutir a questão levantada pelo MEC sobre o livro Caçadas de Pedrinho do Monteiro Lobato, se Tia Nastácia sofre discriminação ou racismo. Acompanhem.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

NEBLINA

Cai uma chuva fina. Saquarema parece algum remoto lugar cinzento. Parece uma ilha perdida. Mas hoje de manhã, quando fui ao mercado, havia no mar tantos tons de azul que a palavra azul é pequena para conter todas as variações. Do azul esverdeado ao azul-cinza -prata . Este tempo pede um enrodilhar-se, a casa dá uma sensação de ninho. A casa, como que envolta em neblina, parece que deixa os sons abafados e traz um desejo de relógios antigos. Recebo pelo correio a nova edição do meu livro Poesia Essencial, da ed. Manati. A capa mudou. Agora é azul.