segunda-feira, 20 de julho de 2015

MIGUILIM

Receber Miguilim em nossa casa foi uma experiência única e maravilhosa.
Este encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela foi especial pois festejávamos também o aniversário do Juan.
Amigos mais do que amigos chegaram cedo do Rio e a varanda já estava arrumada para o almoço com as mesinhas que alugo cobertas com as lindas toalhas de chitão florido. A varanda fica parecendo um imenso jardim.
Um pão acabava de sair do forno quando chegaram Messias , Kátia e Monique. Fizemos um botequinzinho com café e pão quente com queijo. E logo chegaram Cristiano, Ana e Ronaldo com seu violão para as muitas surpresas. O botequim foi crescendo. Chegaram Norma Estrela e Dirceu. Chegaram César e Fátima.
E finalmente chegaram  Hélio e Fernando, Chico, Gil.
Entramos, nos sentamos.  Quis começar pelo fim, marcando a nova data e indicando os livros:
Dia 10 de outubro. Judas, do Amoz Oz e A Última escala do Velho Cargueiro do Alvaro Mutis. E li a linda carta da professora Zete.
Cristiano que estuda Guimarães Rosa desde a sua juventude, também fez a proposta de começar pelo fim. Mas eu não resisti e quis falar só um pouquinho do começo, quando Miguilim traz para a sua mãe o grande presente: alguém lhe disse, na sua viagem com Tio Terez, que o Mutum é bonito. E como ele queria levar esta frase de presente para a sua mãe! Assim ela não ficaria mais triste suspirando pelos cantos! E ela nem ligou, aprisionada que estava naquele lugar, naquele triângulo amoroso que Miguilim e seu irmão Dito intuíam.
Mas Cristiano puxou o fio para o fim, para o médico que traz os óculos e  finalmente Miguilim pode ver tudo e finalmente pode ir embora, a promessa que fez lá atrás quando Dito havia lhe ensinado que pagar uma promessa antes do pedido ser realizado é muito bom. Os óculos são o seu ritual de passagem. Messias falou um pouco dos rituais de passagem em algumas culturas.
Chico e César falaram que o livro contava a infância deles.
Messias contou que seu tio tinha uma fazenda onde passava a infância que era perto realmente do Mutum. E que ele havia vivido aquelas maravilhas.
Gil falou que o livro também era a sua infância no interior do Maranhão.
Ronaldo cantou uma música que ele fez para um espetáculo que faz a síntese do livro e fala lindamente do Miguilim não é alegre e não é triste. Nos apaixonamos pela música e
cantamos o refrão.  
Maria Clara leu um poema que fez, lindíssimo, sobre o Miguilim.
Falamos um pouco sobre tudo, a sensibilidade das crianças, o amor entre os irmãos, a morte do Dito, o ritual que a preta velha Mãiitina faz com Miguilim, a sensualidade da mãe, a tragédia da família. Seria Miguilim filho do Tio Terez?
Falamos um pouco de cada personagem.
Todos falaram que ninguém no mundo jamais descreveu a natureza como Guimarães Rosa . Cores, cheiros, animais, sensações.
Todos nós vivemos no Mutum enquanto líamos o livro. E eu confesso que jamais sairei de lá. Assim como passei a minha infância no Sítio do Pica Pau Amarelo, agora vivo para sempre no Mutum, dentro das suas matas. Nas suas veredas.
Juan , que passou a sua infância numa aldeia pobre no interior da Galícia , disse que dentro do livro estava em casa, pois foi aquilo que viveu. E lembrou que antigamente as crianças viviam no mundo real. Tocavam as coisas, viam a vida acontecer e morrer e que hoje vivem no mundo virtual. Ainda não temos distanciamento para saber o que é isso. E também disse que ele descreve um mundo que logo acabará, pois 80% da população já saiu do campo para as cidades
Devo dizer que nunca li e reli nenhum livro mais belo na minha vida. E que se alguém não leu corra para ler pois ninguém pode viver sem Miguilim.
Ana e Ronaldo prepararam uma surpresa para o Juan: cantaram Se Todos fossem iguais a Você, do Vinicius. Ana tem uma voz maravilhosa.
Todos leram poemas do Vinicius e fechamos o encontro cantando Uma Tarde em Itapuã. Coral do grupo!
Vanda preparou a melhor feijoada do mundo. Havia empadão de legumes para quem não come carne.
Cantamos parabéns com violão e tudo. E celebrar a vida e a literatura alimenta a nossa chama de vida.

2 comentários:

  1. Olá Roseana Murray. Eu não sou possuidora de belas palavras como você, mas tentarei escrever bem o motivo de ter encontrado seu blog e me deliciado com sua narrativa da leitura de Miguilim. Eu simplesmente estive entre vocês lendo, cantado e me deliciando com a leitura.
    Vou tentar ser breve. Faço parte de uma cia de teatro no DF chamada Semente cia de teatro, localizada no Gama. Há um ano e meio tivemos a proposta de trazer ao palco um espetáculo que fala da vida de um menino humilde e sonhador criado por Guimarães Rosa, o menino Miguilim. Posso dizer que seria uma ousadia. Um texto minuncioso de difícil compreensão para nosso grupo composto de iniciantes no teatro, adolescentes e um garotinho de 11 anos. Enfim encaramos esta leitura e nos entregamos aos braços de Rosa. Visitamos Cordisburgo na semana roseana, fizemos um laboratório de campo na roça. Sentimos na pele o que é ser uma criança dos campos Gerais. E depois de um ano e meio, Nasceu o espetáculo Miguilim Inacabado. Por que Inacabado? Bom não sabemos. Mas como podemos perceber nas obras o Guimarães, tudo continua. Nada acaba definitivamente. Sei que mora longe e não poderá assistir ao nosso espetáculo. Mas a delicadeza de suas palavras me encheu de vontade de te mostrar um pouco do que fizemos. O teatro deve atingir as pessoas e nosso dever para com o teatro e sempre doar. Doar de coração. Eu te covido a visitar nossa página no facebook para ver algumas foto do espetáculo. E se papai do céu abençoar, conseguiremos levar o Miguilim Inacabado para outros lugares do Brasil. Gostaria de terminar falando dos encantos dos personagens. Nos encantados tanto com os personagem da trama mas Mãitina possui papel de grande relevância e trouxemos á tona todas suas mandingas de uma forma Miguilim de enxergar. Mas eu disse que seria breve. Eu me chamo Jussy Nascimento. Interpreto a empregada Rosa. O face da cia é: Semente cia de teatro. O meu é Jussy Nascimento. Meu e-mail: nenyjeny@gmail.com. Será um prazer te receber.

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