quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

FLORES RARAS

Ontem vi pela terceira vez o filme Flores Raras. Acho filme perfeito, mas o que mais amo é a maneira como conseguiram expressar o processo de criação da poeta. Quando Elizabeth Bishop está escrevendo um poema, antes até de passar para o papel, ainda balbuciando , buscando, dizendo as palavras, o movimento das mãos, tudo isso é maravilhoso e o filme consegue mostrar isso.

Às vezes um poema nasce em mim de repente começando por uma palavra, simplesmente pela beleza da palavra, às vezes nasce com uma sensação, uma emoção, algo que sinto dentro do corpo ou pode nascer de uma imagem, ou algo que vi fugazmente, um simples movimento.
Muitas vezes estou quase dormindo, na vigília, e não sei porque dois versos aparecem e brilham e tenho que me levantar para anotar, posso perder o sono e terminar o poema ou posso deixar os dois versos esperando.
Elizabeth Bishop, diz que não se pode ensinar ninguém a fazer poesia, mas sim se pode ensinar a olhar.
O olhar é o instrumento do nosso ofício de poeta.

A ARTE DE PERDER

A arte de perder não é nenhum mistério; 
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia. 
Aceite, austero, a chave perdida, a hora gasta bestamente. 
A arte de perder não é nenhum mistério. 
Depois perca mais rápido, com mais critério: 
Lugares, nomes, a escala subseqüente Da viagem não feita. 
Nada disso é sério. 
Perdi o relógio de mamãe. 
Ah! E nem quero lembrar a perda de três casas excelentes. 
A arte de perder não é nenhum mistério. 
Perdi duas cidades lindas. 
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente. 
Tenho saudade deles. 
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada. 
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

Elizabeth Bishop

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