sexta-feira, 15 de abril de 2016

A TUA PELE E A TUA SOMBRA

Vou escrevendo poemas sem a menor pretensão de publicar. Vou juntando, como a gente juntaria um feixe de trigo, de alfazema, de flores do campo. Quando faço um poema sinto uma alegria diferente como se construísse uma ponte imaginária sobre um rio na beira da floresta.Como os poemas me ajudam a respirar, acho que escrever é uma maneira de não ficar sufocada.

A TUA PELE E A TUA SOMBRA

Para que a poesia venha
e pare na tua porta,
há que deixar a porta
aberta,
há que pescar as estrelas mortas
que se derramam
por sobre os telhados
e as gotas de luz
que habitam os interstícios
da dor.
Há que abrir as tramelas
para que as palavras entrem
e desarrumem
a casa e os pensamentos.
Não se pode tocar nas palavras
com medo ou cerimônia,
e preciso deixar que nos acariciem
ou machuquem
e encontrar a música
para cada objeto,
sentimento ou lugar.
Para que a poesia não faça
cerimônia,
ela tem que ser
a tua pele e a tua sombra.

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