Meu ofício é afiar e cortar palavras. O meu destino é a poesia, faça chuva ou sol, tristeza ou felicidade.
Hoje fala por mim o poeta Eugénio Andrade .
AS PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
outras,
orvalho apenas.
Secretas, vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio Andrade
quarta-feira, 13 de abril de 2016
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