sexta-feira, 19 de maio de 2017

FONDAMENTE NUOVE

A ideia de Veneza feito um labirinto era o tecido da nossa manhã.
Saímos apenas com a imagem da escadaria de Rialto e a paz da Fondamente Nuove em mente, sem outros planos.
A vista de cima da ponte de Rialto certamente é a mais conhecida de Veneza.
Da ponte vimos uma instalação curiosa: Duas mãos brancas e imensas segurando um prédio.
Desembocamos na Feira de frutas , verduras e temperos e logo o Mercado do Peixe, antiquíssimo. Novecentos e cinquenta anos!  Mil anos seguidos de pescadores levando seu peixe para ser vendido. A população de pescadores resiste para que continue igual.
Os peixes são tão frescos que espalham um cheiro de mar.
E depois eram becos tão estreitos, prédios que quase se tocavam dos dois lados da rua, que se abriam em praças maravilhosas, indo para a Fondamente Nuove.
Cada praça com seu poço decorado.
No Campo S.Maria Nova vi a exposição iraniana do circuito Bienal.
Um único artista , Binzan Bassani, fez uma instalação curiosa:
Esculturas negras, de um lado pareciam mulheres, em fila, de burka ( assim me parecia) no meio duas esculturas que pareciam homens lendo um livro, e do outro lado a fileira de homens. Entre as figuras um bastão dourado.
Um painel explicava o conceito. Tão complicado que nada entendi. Digo o que senti ao entrar. Senti o silêncio das mulheres. Parecia que estavam sem poder expressar-se. Talvez o bastão dourado simbolizasse o que levavam por dentro.
Continuando a caminhada nos sentamos no Campo Dei Jesuiti. Certamente a Igreja e o que parecia haver sido um convento pertenceu no passado aos jesuítas. Um monge budista em suas vestes passeava solitário.
Já estávamos em Fondamente Nuove, onde há uma vida de gente que mora de verdade no bairro. É belíssimo e calmo e silencioso. As aglomerações que vimos em Rialto já se desvaneceram.
E então encontramos o pequeno e preciosíssimo museu particular de Giani Basso. Uma verdadeira maravilha, com máquinas originais da época da invenção da imprensa. Ao lado do museu ele imprime, como antigamente, cartazes maravilhosos.
Conversamos e ele diz que a Itália acabou. Que o dinheiro prevalece sobre todas as coisas, que nada se faz por prazer ou paixão, que os valores verdadeiros já não existem, que o turismo está destruindo Veneza.
Encontramos um Restaurante maravilhoso onde comem os trabalhadores. Super barato e lindo e bom. Os clientes eram todos italianos.
E na volta vimos uma exposição também do Circuito da Bienal, da Rússia, num Palácio belíssimo, cheio de antiguidades romanas. Ao entrar numa sala de mais de 600 anos, com um sarcófago romano no meio, encontramos uma lua minguante de neon pendurada. O efeito era onírico e tão belo.
A exposição se chama " O homem como pássaro" e é muito bonita. Essa lua vai para muitos lugares insólitos do mundo e o artista fotografa. As fotos estavam expostas.
Instalações simples e emocionantes de vários artistas russos.
E uma outra exposição num outro Palácio, que achei horrivel, só gostei do nome: Diáspora. Coloquei a palavra no bolso. Tão atual.
Então fomos voltando, de ponte em ponte, de beco em beco, de praça em praça.
Hoje sim gastei os pés.

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